REVIEW: “Andre Matos: O maestro do heavy metal” (2020)

 


Andre Matos: O maestro do heavy metal

Eliel Vieira & Luiz Aizcorbe

Estética Torta, 2020, 454 p.


Eu não estaria mentindo ou exagerando se dissesse que a biografia de Andre Matos foi o livro relacionado a uma personalidade do rock mais aguardado pelos leitores brasileiros em 2020. Enumerar as razões é chover no molhado, mas vamos lá: em primeiro lugar, a música de Andre – seja à frente do Viper, do Angra, do Shaman ou como artista solo – trouxe muita gente para o metal. Galera dos vinte e poucos aos 50 anos pode chamar as obras-primas “Angels Cry” (1993) e “Ritual” (2002) de “um dos discos da minha vida”. Poucos tiveram tanto alcance vocal, tanto talento e, intelectualmente falando, tanto repertório. Menos ainda tiveram uma carreira tão frondosa, apesar de prematura e inesperadamente encerrada naquele terrível 8 de junho de 2019. 


Escrito por Eliel Vieira em parceria com Luiz Aizcorbe, “Andre Matos: O maestro do heavy metal” enfileira mérito atrás de mérito. Em termos de produto, trata-se de um “tijolão” de 454 páginas – muitas mais que o prometido pela editora Estética Torta à época da pré-venda – em capa dura com sobrecapa de acetato. O miolo, impresso em papel branco, é cem por cento colorido e inclui uma vastidão de imagens; de fotos de família a cliques em estúdio e no palco, sem contar flyers de eventos e capas de revistas que certamente farão a nostalgia pulsar forte nas veias. 


Além da pesquisa iconográfica de primeira, a dupla mobilizou toda uma equipe de jornalistas e profissionais da imprensa musical canarinho para colher depoimentos de familiares, ex-colegas de banda e parceiros musicais diversos de Andre cujos relatos contribuem para um texto que, apesar de oficial/autorizado, não se permite a definição de “chapa branca”. O compromisso dos autores com a humanidade de Andre – e com isso leia-se com suas falhas, apesar de tudo – é sintetizada em fala atribuída ao guitarrista Rafael Bittencourt: “O Andre morreu, virou uma lenda, beleza, mas ele era um cara muito difícil às vezes.”


Do ponto de vista narrativo, nota-se a preocupação com a experiência da leitura. Eliel e Luiz poderiam muito bem ter feito como Jon Wiederhorn e Katherine Turman em “Barulho infernal” ou Ken Sharp em “Nothin’ to Lose: A formação do KISS” e simplesmente ordenado depoimentos como se fossem tópicos. Nada disso – e ainda bem! Temos, de fato, um texto-base como fio condutor, que delega às aspas dos famosos o papel de complemento ou verificação. Há momentos em que os entrevistados dão o tom; e é justamente nesses momentos que se tem a impressão de se estar lendo uma biografia não de Andre, mas de uma das muitas bandas que integrou e deixou para trás. Aliás, eis uma constante da eterna Musa Nissei Sansei do saudoso Rockgol: a tendência de pular fora do barco sem sequer tentar lavar a roupa suja. 


Por fim, para mostrar que estão ligados que o leitor do século 21 lê com um olho no livro e outro no celular, os autores incluem inúmeros QR codes que direcionam para os álbuns nas plataformas digitais Deezer e Spotify e para vídeos de entrevistas, ou mesmo clipes, no YouTube. 


Como editor de livros há dez anos – por essa muitos de vocês não esperavam, hein? –, costumo dizer que o melhor elogio que se pode fazer a um livro é dizer: “Gostaria muito de ter editado ele!” Eis um fato: como eu gostaria de ter trabalhado, qualquer etapa que fosse, nele! E que invejinha (do bem) de todos os profissionais que contribuíram para um resultado tão fantástico e fora da curva.


Com “Andre Matos: O maestro do heavy metal” a Estética Torta estabelece um novo patamar para edições de luxo e se posiciona oficialmente entre as novas lideranças do mercado editorial brasileiro dedicado a títulos sobre música e cultura rock como um todo. Roqueiros que leem não serão órfãos nunca mais!


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