Esquistossomose: conheça o ciclo evolutivo e manifestações da doença

Professora alerta que, em alguns casos, doença não apresenta sintomas


03 de setembro de 2018


Doença pode não apresentar sintomas em alguns casos. Saúde com Ciência apresenta série “Doenças Infecciosas e Parasitárias”

Nathalia Braz*

A esquistossomose, doença infecciosa também conhecida como xistose ou barriga d’água, é transmitida em águas que têm a presença do parasita Schistosoma mansoni. Esse parasita tem como hospedeiro intermediário o caramujo do tipo Biomphalaria, que pode ser encontrado em rios, riachos, lagoas e até caixas d’água no país. A doença pode não apresentar sintomas e, caso não seja detectada precocemente, pode se tornar grave se não for devidamente acompanhada pelo profissional da saúde.

A penetração do parasita na pele do indivíduo, especialmente nos membros inferiores, ocorre pelo contato com águas contaminadas. A infectologista e professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Marise Fonseca, resume o ciclo evolutivo da esquistossomose: “Quando o indivíduo infectado defeca e os ovos estão presentes nas fezes, se houver contato com essas áreas de risco com a presença do caramujo, o ovo perto da superfície de água libera uma larva, que passa pelo hospedeiro intermediário (caramujo) e se desenvolve, sendo liberado novamente na água”. A larva que se desenvolve penetra na pele do ser humano, que é seu hospedeiro definitivo, cai na corrente sanguínea e circula pelo pulmão até chegar ao fígado e intestino, onde há o amadurecimento da sua forma adulta.

Com o acasalamento dos vermes adultos, as fêmeas depositam os ovos no intestino do ser humano, de modo que o ciclo se completa quando o indivíduo defeca nessas regiões. Quando há exposição à água contaminada, os primeiros sinais da esquistossomose tendem a surgir em um período de 24 a 48 horas, por meio de coceiras e vermelhidão intensa nos locais onde houve a penetração da cercária, especialmente pés e pernas.

Foto: Grupo de Helmintologia e Malacologia Médica / Site da Fiocruz Minas

Depois de quatro a seis semanas, pode haver a manifestação do quadro agudo da doença, com febre, mal-estar, dor muscular intensa, tosse e diarreia. “Toda vez que o indivíduo vai a algum lugar e se expõe a locais de risco, tem que se lembrar de quando tiver alguma manifestação, contar ao profissional de saúde tudo que fez nesse período de um, dois ou até três meses atrás”, pontua Marise Fonseca.

Já na fase crônica, a professora cita três formas que podem se apresentar. A intestinal, com possíveis episódios de diarreia, presença de muco, sangue, dor abdominal e até momentos alternados de diarreia e constipação; a hepatointestinal, quando há também o aumento do volume do fígado; e a hepatoesplênica, forma mais grave da doença em que são acometidos esse órgão e o baço, com a dilatação do abdome e extravasamento de líquido nesse local, motivo pelo qual ela é chamada de barriga d’água.

A professora resume a esquistossomose hepatoesplênica. “Quando o parasita acomete o fígado, causa danos em uma região perto dos vasos hepáticos. Ela fica fibrosada, endurecida, o que vai alterar a pressão dos vasos portais e alterar todo o sistema de vasos do sistema digestivo. Pode levar a varizes de esôfago, que é o grande risco, já que elas podem sangrar. Aí a pessoa pode morrer pelo sangramento ou a quantidade de sangue para o fígado diminui e tem uma lesão importante do órgão, podendo levar à falência hepática”, afirma.

Prevenção

Cuidados individuais e coletivos são importantes na prevenção da esquistossomose. Cada pessoa deve ter atenção redobrada ao entrar em contato com riachos, lagos e regiões mais propícias à presença do caramujo, e não defecar em locais públicos, especialmente nessas áreas de risco. Na região Sudeste, a transmissão da doença ocorre de forma endêmica em Minas Gerais e no Espírito Santo.

Dentre as medidas coletivas, o saneamento básico adequado é fundamental nessa prevenção. Marise Fonseca lembra que ainda existem muitas áreas com saneamento precário ou inexistente no Brasil. Em áreas endêmicas, mais propícias ao desenvolvimento da doença, os profissionais da saúde devem requerer exames de fezes regulares à população, além de priorizarem medidas de controle e eliminação dos caramujos, hospedeiro intermediário do parasita.

Sobre o programa de rádio

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.

O programa também é veiculado em outras 187 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.

*Redação: Nathalia Braz – estagiária de Jornalismo

Edição: Lucas Rodrigues