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Troca de nome do Maracanã, de Mário Filho para Pelé, agita o Rio

Projeto de Lei foi aprovado em regime de urgência pela Assembleia Legislativa do Rio, mas aguarda sanção do governador em exercício

atualizado

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Paula Reis / Flamengo
Maracanã-Fla-Flu
1 de 1 Maracanã-Fla-Flu - Foto: Paula Reis / Flamengo

Rio de Janeiro – A proposta dos deputados estaduais do Rio de Janeiro de mudar o nome do Maracanã de Jornalista Mário Filho para Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, está longe de ser um gol de placa do parlamento no mundo do futebol.  O Projeto de Lei é de autoria de 23 parlamentares, entre eles o ex-jogador Bebeto (Pode), tetracampeão com a Seleção Brasileira em 1994.

A nova legislação, votada a jato, ainda tem que ser sancionada pelo governador em exercício, Claudio Castro, flamenguista roxo, cuja torcida costumava gritar nas arquibancadas “O Maraca é nosso”. Nos bastidores, Castro desconversa sobre a polêmica e garante estar focado no combate à pandemia do novo coronavírus.

“A mudança de nome é absurda. Mostra um desconhecimento da história e isso não tem nada a ver com a importância do Pelé. O Mário Filho foi uma figura importante para a construção do estádio. Dono de um jornal de esportes, ele assinava uma coluna chamada ‘Batalha pelo Estádio’. Tinha gente que defendia a ampliação de São Januário, estádio do Vasco. Mudar o nome não faz o menor sentido em uma votação em regime de urgência em meio à pandemia”,  disse o historiador, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luiz Antônio Simas.

No Palácio Guanabara, Claudio Castro tem 15 dias para sancionar ou vetar o projeto que muda o nome do Maracanã. Em caso de veto, a legislação voltará a ser debatida e os deputados podem derrubar ou manter. “O Brasil, em geral, só reconhece os seus ídolos depois que eles morrem. Fazer esse reconhecimento ao Rei Pelé em vida, decerto um dos brasileiros mais reconhecidos e admirados do planeta, é uma demonstração de que o nosso país é tão generoso quanto grandioso”, defendeu o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT).

Para muitos torcedores, contudo, a novidade caiu como uma bomba. “Tanto como historiador quanto como torcedor que frequenta o estádio considero a possível mudança como uma afronta para o que representa o Maracanã como lugar de memória para o futebol brasileiro. Não se trata de saudosismo do que teria sido o Maraca ou qualquer contestação a ser feita mais uma homenagem ao grande jogador Pelé, mas um desrespeito à própria história da construção do estádio e à formação de uma memória coletiva que atravessa geraçōes por mais de 70 anos”, opina o escritor Álvaro Vicente Cabo, pesquisador dos Laboratórios de pesquisa sobre Esporte/UFRJ e Leme/Uerj.

Quem foi Mário Filho

Jornalista e escritor, Mário Filho foi o idealizador da campanha para construção do Maracanã, um estádio para 150 mil pessoas em área mais próxima do Centro do Rio e de acesso mais fácil para os torcedores. O então vereador Carlos Lacerda defendia que o novo projeto fosse no bairro de Jacarepaguá, na zona oeste.

Depois de ganhar a batalha pela opinião pública, Filho foi homenageado com o batismo do estádio construído para a Copa de 1950. Ao lado do irmão, o escritor Nelson Rodrigues, ele popularizou termos como o clássico “Fla-Flu”, entre Flamengo e Fluminense. O jornalista é o autor de “O Negro no Futebol Brasileiro”, um dos livros brasileiros mais importantes sobre o esporte.

O Maracanã é patrimônio do carioca e do futebol mundial. Aos 70 anos, já foi palco de duas finais de Copa do Mundo, as de 1950 e 2014; o milésimo gol de Pelé; finais de campeonatos como o Brasileiro e a Libertadores da América; e shows de grandes artistas, como do cantor americano Frank Sinatra, em 1980, e o da banda Kiss, o primeiro no Brasil, para 137 mil pessoas, em 1983. Tudo isso contribuiu para o Maraca, como os cariocas gostam de chamar, se tornar um dos estádios mais famosos do mundo.

ABI e Acerj

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro (Acerj) enviaram cartas ao governador interino do Rio de Janeiro pedindo que ele não sancione a proposta de mudança do nome do Maracanã — ele tem 15 dias para tomar a decisão.

Na carta, a ABI reconhece o mérito de todas as homenagens a Pelé, mas ressalta a importância do jornalista Mario Filho na viabilização do estádio e na criação da mística do Maracanã. “Para a ABI, independentemente de questionamento jurídico quanto à legalidade de homenagear pessoas vivas, o que importa, neste momento, é não permitir mais uma mutilação no Estádio do Maracanã, com a retirada do nome do Jornalista Mario Filho”, escreveu o presidente da ABI, Paulo Jeronimo.

A Acerj também destaca o papel de Mario Filho na construção do imaginário do futebol carioca e brasileiro, ao criar, por exemplo, a expressão Fla-Flu. A entidade lembra que ele também “colaborou para a popularização da cobertura jornalística do futebol trocando os termos rebuscados da época por expressões mais populares e o Maracanã muito contribuiu para isto”.

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