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02.10.2022 | 08h00 Tamanho do texto A- A+

Militar e anticomunista, Dutra foi único cuiabano a ser presidente

Eurico Gaspar Dutra assumiu o poder durante o período de Guerra Fria, pós segunda guerra mundial

Reprodução

O general Eurico Gaspar Dutra, ao centro, que assumiu a presidência em 1946

VITÓRIA GOMES
DA REDAÇÃO

Militar, de direita, conservador e anticomunista, o general Eurico Gaspar Dutra foi primeiro e único cuiabano a ocupar o cargo de presidente do Brasil e marcou seu nome na história e na vida dos mato-grossenses.

 

Muitos podem lembrar do cuiabano ao visitarem o estádio construído em sua homenagem, o Dutrinha, feito com verba federal enviada pelo próprio Eurico quando estava à frente da presidência.

 

Ou como aquele que assumiu um mandato complicado durante um período de Guerra Fria. Ou até mesmo o responsável por trazer a primeira Copa do Mundo ao Brasil, em 1950.

 

Fato é que Dutra fez história no Estado e no País, mas tudo começou com a ascensão de sua carreira militar após o general deixar Cuiabá para ir morar no Rio de Janeiro. Mesmo passando por altos e baixos durante esse período, chegando a ser expulso de uma escola militar, ele conseguiu se destacar no meio.

 

Uma das figuras essenciais para que Dutra conseguisse ocupar a presidência foi o também ex-presidente Getúlio Vargas.

 

O general se destacou ao trabalhar ao lado das tropas federais durante a Revolução Constitucionalista, movimento armado de 1932, liderado pelo estado de São Paulo, que defendia uma nova Constituição para o Brasil e atacava o autoritarismo do Governo Provisório de Vargas.

 

Em entrevista ao MidiaNews, o analista político Vinicius de Carvalho contou que devido ao crescimento do reconhecimento, Dutra acabou se tornando ministro de guerra de Vargas e após o golpe em que o líder criou o Estado Novo, ambos ficaram ainda mais próximos.

 

“Dutra foi um dos ministros mais poderosos durante o Estado Novo, de 1937 a 1945. Era favorável a que o Brasil entrasse na segunda guerra mundial a favor da Alemanha, do Japão e da Itália, famoso Eixo, e contra entrada dos Aliados, que era os Estados Unidos”, afirmou.

 

Quando Getúlio foi deposto da presidência, uma nova eleição foi aberta em 1946 e Dutra entrou como o candidato oficial de Vargas. Apesar de ter aplicado um golpe de Estado, o líder populista era querido pelo povo. Esta, sem dúvidas, foi uma das maiores vantagens de Dutra.

Dutra foi um dos ministros mais poderosos durante o Estado Novo, de 1937 a 1945. Era favorável a que o Brasil entrasse na segunda guerra mundial a favor da Alemanha, do Japão e da Itália, famoso Eixo

 

Mesmo sem nunca ter tentado uma carreira política e sem base de apoiadores, o cuiabano conseguiu ser destaque na eleição daquele ano simplesmente por ter o apoio de Getúlio Vargas.

 

“Vargas saiu muito popular, tanto que houve o movimento Queremista, porque muita gente queria que ele continuasse, mas ai houve essa deposição. Então, realmente, o fator decisivo para a vitória do Dutra foi o apoio do Getúlio, porque ele não tinha nenhum capital próprio”, explicou.

 

Mandato conturbado

 

Após ganhar uma eleição disputada contra o brigadeiro Eduardo Gomes, Dutra precisou lidar com um cenário político de pós-guerra. Mesmo sem ter tido grande participação nos confrontos, o Brasil sofreu consequências econômicas.

 

Vinícius conta que o País conseguiu acumular reservas cambiais durante a segunda guerra, reservas em dólar, mas que no Governo de Dutra este dinheiro foi queimado. Por acharem que ele não fez bom uso do dinheiro, as estratégias econômicas do cuiabano foram criticadas.

 

Apesar disso, a gestão Dutra também ficou marcada por alguns investimentos notórios, como a criação do Plano SALTE, que estimulava o desenvolvimento nas áreas de saúde, alimentação, transporte e energia - nomes que formaram a sigla SALTE.

 

Outro fato marcante foi a proibição dos cassinos. O jogo era legalizado no Brasil até então, mas ele acabou decidindo acabar com as disputas. Vinícius afirma que a decisão foi levada pelo “moralismo e conservadorismo” do cuiabano.

 

“Uma política econômica muito duvidosa, muito criticada e em termos de conteúdo de políticas públicas mais focadas em infraestrutura”, classificou.

 

Combate ao comunismo

 

Outra bandeira que foi veemente defendida por Dutra foi a aversão ao movimento comunista. Durante a Guerra Fria, o cuiabano passou a alinhar-se aos Estados Unidos, que combatia o avanço da União Soviética, atual Rússia, em outros territórios.

 

“O comando, principalmente a partir de 1947, era de combate ao comunismo em escala global. Dutra realmente acabou endossando isso aqui”, explicou o analista.

 

O apoio aos norte-americanos gerou um rompimento das relações diplomáticas com a União Soviética, que iria perdurar até 1962 no Brasil, mais de uma década após o fim do mandato de Dutra.

 

O anticomunismo foi presença frequente no mandato do cuiabano, que em diversos momentos fez discursos para enfatizar a preocupação com a segurança interna no País por conta da “ameaça soviética”.

 

Reprodução

Eurico Gaspar Dutra

Dutra foi criticado por suas políticas econômicas no mandato

Muito desta característica conservadora e de direita de Dutra fez com que ele acabasse rompendo com Getúlio Vargas durante o mandato. O ex-aliado disputou a eleição após o término de mandato de Dutra e conseguiu, mais uma vez, assumir a presidência.

 

A biografia de Dutra, escrita por Mauro Malin, traz inclusive um trecho de como foi tenso o clima entre os dois na cerimônia de posse de Vargas.

 

“Em 31 de janeiro de 1951, Dutra passou o poder a Vargas com um discurso seco, no qual sequer se referiu nominalmente a seu sucessor e antecessor. Como em sua posse, envergava uma farda de gala”, escreveu.

 

Feitos para Cuiabá

 

Natural da Capital mato-grossense, quando o general assumiu a presidência, os cuiabanos questionaram o que ele iria fazer para ajudar a cidade.

 

Sua obra mais marcante foi o estádio com seu nome, construído na mesma época que o Maracanã. No entanto, por ser focado na infraestrutura, Dutra também fez obras que marcaram o desenvolvimento de Cuiabá.

 

Vinícius cita como uma das mais importantes o asfaltamento da estrada que hoje é a Avenida Fernando Côrrea da Costa, que se tornou uma ponte entre a Capital e as regiões que, na época, eram mais remotas do centro da cidade.

 

Dutra também deu verba para a construção do Bairro Popular, que, assim como seu nome sugere, foi o primeiro local dedicado para habitações populares e hoje é um dos locais de maior movimento, principalmente na Praça Popular.

 

Após Dutra, nenhum outro cuiabano ou mato-grossense chegou a disputar e vencer a presidência da República.

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Juliano Prado  03.10.22 07h42
Correção. Quando Jânio Quadros cocorreu e ganhou para Presidente, Mato Grosso ainda não era dividio, portanto, tivemos sim outro mato-grossense na presidencia.
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