É, possivelmente, a erupção vulcânica mais famosa da história: o Monte Vesúvio enterrou a cidade de Pompeia sob uma avalanche de detritos vulcânicos no ano 79 d.C. Embora os historiadores ainda discutam a data a data da erupção, esta sido tradicionalmente identificada como 24 de Agosto.

Já muito se disse sobre as vítimas do Vesúvio, cujos últimos gritos de angústia ficaram preservados primeiro em cinzas e depois nos moldes de gesso criados no século XIX.

Mas embora Pompeia seja recordada como uma cidade congelada no tempo, nem todos morreram no desastre. Com efeito, alguns estudiosos descobriram provas sobre sobreviventes que conseguiram escapar de Pompeia – e reconstruíram as suas vidas em comunidades vizinhas.

A cidade na véspera da destruição

Pompeia poderia não ser o centro do mundo romano antigo, mas era um centro importante na Campânia, uma região que faz fronteira com a Baía de Nápoles. A população de Pompeia era entre 6.430 e 30.000 pessoas. A cidade também atraía as elites da antiguidade, que compraram propriedades nos arredores.

Os terramotos faziam parte da vida na Campânia. Com efeito, em 79 d.C., Pompeia ainda estava a recuperar de um forte terremoto que abalara a cidade 17 anos antes, danificando ou destruindo muitos edifícios. Por isso, quando o chão tremeu numa série de terramotos em finais de Agosto, a maioria das pessoas não entrou imediatamente em pânico. No dia 24 de Agosto, porém, tornou-se evidente que o Vesúvio estava em ebulição.

Plínio o Jovem regista as suas opiniões sobre a erupção do Monte Vesúvio
BETTMANN, COlaborador, GETTY IMAGES

Plínio, o Jovem, regista as suas opiniões sobre a erupção do Monte Vesúvio no outro lado da Baía de Nápoles nesta ilustração da artista Suíça Angelica Kauffman. Os escritos de Plínio são uma fonte importante para os historiadores que querem saber o que aconteceu em Pompeia.

Fugindo ao desastre

Plínio, o Jovem, cujos escritos são como janelas para a vida no mundo romano antigo, tinha cerca de 18 anos quando o desastre aconteceu. Estava com a sua mãe na villa do tio em Misenum, uma cidade do outro lado da baía, em frente a Pompeia e cerca de 30 quilómetros a oeste do Monte Vesúvio. Quando a erupção começou, no dia 24 de Agosto, Plínio recorda-se de ter visto uma nuvem de gás e detritos saindo do Vesúvio. Comparou a curiosa pluma com “um pinheiro”.

Os habitantes de Pompeia, situada a dez quilómetros do vulcão, teriam visto a mesma nuvem estranha e inquietante. Mesmo que tivessem menosprezado os tremores dos dias anteriores, não havia como ignorar a pluma. Os que fugiram imediatamente de Pompeia nesta altura ainda tiveram hipóteses de sobreviver; os que hesitaram ou ficaram para trás não.

Nessa tarde, começou a chover pedra-pomes em Pompeia. As pedras destruíram edifícios e feriram todos os que tentaram uma fuga de última hora. Cinzas, gases tóxicos e detritos enterraram Pompeia no início da manhã seguinte.

Plínio e a sua mãe foram algumas dessas pessoas da Baía de Nápoles que fugiram. Relatou que o caos imperava enquanto a escuridão e as cinzas caíam sobre os sobreviventes. “Podiam-se ouvir guinchos de mulheres, berros de crianças e gritos de homens; chamando pelos seus filhos, pais, maridos, tentando reconhecer-se uns aos outros pelas vozes que respondiam.”

A experiência deve ter sido semelhante à das pessoas que fugiram de Pompeia. Quando o vulcão finalmente se acalmou, Plínio e a mãe regressaram a Misenum. Tiveram sorte. Para os sobreviventes de Pompeia, não havia uma casa para onde voltar.

Monte Vesúvio dizimou Pompeia
DAVID HISER, NAT GEO IMAGE COLLECTION

O Monte Vesúvio dizimou Pompeia — incluindo a zona central, visível na imagem – com cinzas, gases tóxicos e detritos. 

Seguindo o rasto dos sobreviventes

Estima-se que 2.000 pessoas tenham morrido em Pompeia durante a erupção. Isso significa que poderão ter sobrevivido muitos mais milhares. Para onde terão ido? Os destinos óbvios para os sobreviventes de Pompeia incluem vilas e cidades na Campânia, onde amigos e familiares possam tê-los acolhido.

Neapolis, a actual Nápoles, foi provavelmente um deles. Podemos encontrar prova disso no altar de um antigo memorial na actual Roménia que homenageia soldados mortos e inclui um oficial, cujo nome foi apagado pelo tempo, mencionando que viveu em Pompeia e em Neapolis, o que sugere que poderá ter-se mudado para essa cidade após o desastre.

Nos últimos anos, o classicista Steven L. Tuck descobriu que, pelo menos, cinco famílias de Pompeia se mudaram para Neapolis após a erupção. Reconstituiu meticulosamente a migração dos prováveis sobreviventes através dos seus nomes de família, que eram exclusivos de Pompeia. Localizou esses nomes em inscrições tumulares em diferentes localidades da Campânia depois 79 d.C. Outras comunidades que se tornaram lares para os sobreviventes de Pompeia incluem Cumae e Puteoli.

Tuck também encontrou provas de casamentos entre famílias oriundas de Pompeia após a erupção. As famílias Licinii e Lucretii, por exemplo, parecem ter-se unido em matrimónio em Cumae, o que sugere que poderiam pertencer a uma comunidade pompeiana local.

Ruínas do antigo templo romano da deusa Ísis
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As ruínas do antigo templo romano da deusa Ísis em Pompeia. Os historiadores ainda estão a descobrir provas de que os sobreviventes ao desastre se instalaram em vilas vizinhas e reconstruíram as suas vidas.

Ajuda humanitária

O governo romano também parece ter intervindo para ajudar os sobreviventes de Pompeia. Tito, imperador entre 79 e 81 d.C. entrou em acção quando a notícia da erupção do Vesúvio chegou a Roma. Segundo o antigo biógrafo Suetónio, Tito mostrou não só a preocupação de um imperador, mas também o amor profundo de um pai, enviando mensagens de solidariedade ou todo o apoio financeiro que podia.” Tuck diz também que Tito financiou projectos de construção para acomodar o influxo de sobreviventes de Pompeia na Campânia. Estes projectos incluíram a construção de templos dedicados aos deuses preferidos de muitos dos residentes de Pompeia, como Vulcano e Ísis.

O fogo do Vesúvio pode posto fim à vida que eles conheciam, mas os sobreviventes de Pompeia encontraram formas de se reerguer após o desastre.

Artigo publicado originalmente em inglês em nationalgeographic.com.