No dia 30 de dezembro de 2019, moradores de Florianópolis e turistas de diversas partes do mundo presenciaram a reabertura do principal cartão-postal da cidade: a ponte Hercílio Luz. Depois de 28 anos de interdição total, a estrutura da primeira ligação entre a Ilha de SC e o Continente foi devolvida à população e voltou a fazer parte da rotina dos catarinenses.

Continua depois da publicidade

Nesses dois anos, mais de 25,5 milhões de veículos atravessaram a ponte, também conhecida como Velha Senhora. Segundo informações da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), cerca de 35 mil carros passam todos os dias pelo local e, considerando apenas o transporte coletivo, oito linhas compõem o sistema utilizado por 17 mil pessoas. Durante os fins de semana e feriados, a Hercílio Luz fica totalmente à disposição de pedestres e ciclistas.

Além de ser uma construção de importância no contexto da mobilidade urbana, a ponte também consegue mexer com o orgulho dos catarinenses.

Rodrigo Stüpp, jornalista, guia de turismo e figura conhecida na cidade como “Guia Manezinho”, foi uma das pessoas que atravessou a ponte em dezembro de 2019. Neste dia, centenas de pessoas puderam aprender e entender mais sobre a grandeza da Velha Senhora.

— O primeiro roteiro do tour da ponte foi feito na inauguração e com certeza pelo menos mil pessoas participaram neste dia. No primeiro mês fiz esse roteiro em todos os fins de semana. Foram quase 500 pessoas — relembra.

Continua depois da publicidade

A caminhada, que normalmente acontece no fim da tarde, começa no Parque da Luz e carrega uma forte carga de pertencimento e nostalgia.

— É uma construção muito coletiva, uma relação [das pessoas com a ponte] que está se construindo na cidade. Existe um processo de reconciliação com a ponte e restabelecer isso é muito legal — afirma Rodrigo.

De forma leve e didática, o guia relata aos participantes da caminhada todo o processo para que a ponte, também chamada por ele de Dona Hercília, fosse reformada sem ser desmontada. Durante o caminho, muitos ainda se mostram um tanto incrédulos ao ver a obra finalizada.

— Há sempre um deslumbramento, a sensação de reaproximação é o que eu mais vejo. No início sempre pergunto quem não acreditava muito na reforma da Hercílio Luz e sempre tem pessoas que levantam a mão — conta. 

Continua depois da publicidade

Tour na ponte Hercílio Luz
Caminhada pela Hercílio Luz promove a aproximação dos moradores com o acrtão-postal da cidade (Foto: Arquivo pessoal, cedida)

> Peça que causou interdição da Ponte Hercílio Luz por 28 anos é colocada em exposição

A primeira interdição do trecho aconteceu em janeiro de 1982 por causa da deterioração das barras de olhal da ponte. Oito anos depois, ela foi liberada apenas para pedestres, ciclistas, motos e veículos de tração animal. Em 15/07/1991, houve a interdição total da estrutura, que começou a ser reformada apenas em fevereiro de 2006, com um investimento de cerca de R$ 21 milhões.

A morosidade das ações e o impasse sobre questões relacionadas à Hercílio Luz motivou a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa de Santa Catarina que investigou eventuais irregularidades nas obras.

De acordo com o relatório final, mais de R$ 688 milhões foram pagos desde a década de 1980 para que a ponte fosse reformada.

Continua depois da publicidade

Histórias ligadas à ponte

O cenário que algumas pessoas não conseguem apreciar com frequência é visto diariamente por Cláudio Salvallagio. Natural de Tubarão, ele mora há mais de 15 anos em uma casa localizada embaixo da Ponte Hercílio Luz e conta que a relação de proximidade com a Velha Senhora não é de hoje.

— Quando criança, a gente vinha do interior e passávamos a viagem inteira perguntando “já passou a ponte? Está perto?”. Em Tubarão não tinham muitos especialistas, então as consultas médicas eram todas na Capital e tinham duas coisas que interessavam na viagem para Florianópolis: passar onde moravam os índios e ver a ponte. (…) A gente vinha em um fusca e víamos pelo vidro os ferros passando; dava para ouvir o barulho do pneu na estrutura que era toda de madeira — conta o morador de 54 anos.

Morador observa a ponte Hercílio Luz
Cláudio tem uma vista privilegiada para a Hercílio Luz (Foto: Tiago Ghizoni, Diário Catarinense)

Com formação em Química Industrial, Cláudio, que chegou a morar nos Estados Unidos, decidiu voltar para Florianópolis após a morte da mãe e acompanhou bem de perto toda a reforma da ponte; bastava olhar para o alto.

— A vontade que eu tinha era de colocar uma câmera aqui e acompanhar dia a dia a evolução do trabalho deles. Por mais que não restaurassem, eu sempre via ela como um monumento arquitetônico. Isso é da população — diz.

Continua depois da publicidade

> Iluminação cênica da Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, tem novo impasse após contrato cancelado

Por falar em câmeras, o cartão-postal da cidade também serve de cenário para momentos muito importantes, como casamentos. Essa escolha foi feita pela Tábata e pelo Vítor. Eles oficializaram a união no dia 30 de outubro e fizeram fotos na Ponte Hercílio Luz após a cerimônia. Mesmo com muita chuva, o casal não abriu mão da paisagem e o registro acabou viralizando nas redes sociais.

— Decidimos tirar as fotos na ponte e não pensamos em outra alternativa. Quando chegamos lá a chuva apertou e o Bruno, o fotógrafo, perguntou se queríamos seguir com a ideia. Estávamos muito felizes e nem nos questionamos sobre manter o cenário. Nós queríamos que o casamento tivesse referências com Florianópolis. As fotos do pré-wedding foram tiradas na praia da Armação, nas casinhas açorianas do Ribeirão e na igreja de Nossa Senhora da Lapa, que foram ideias do Vítor. Já as fotos na ponte foram escolha minha e desde o início concordamos com o cenário para o dia do nosso casamento. A chuva veio para abençoar o grande dia! — relata Tábata Yami.

As fotos do casal tiveram Florianópolis como cenário
As fotos do casal tiveram Florianópolis como cenário – (Foto: Bruno Vieira, Arquivo pessoal, cedida)
A chuva não foi obstáculo para o registro de um dia tão importante
A chuva não foi obstáculo para o registro de um dia tão importante – (Foto: Bruno Vieira, Arquivo pessoal, cedida)
Tábata e Vítor casaram em outubro deste ano
Tábata e Vítor casaram em outubro deste ano – (Foto: Bruno Vieira, Arquivo pessoal, cedida)

Letícia e Matheus também escolheram a ponte Hercílio Luz como cenário. A cerimônia, que aconteceu em novembro, foi feita em um estabelecimento aos pés da estrutura e o casal de Chapecó quis eternizar o momento como símbolo de uma nova fase na capital catarinense.

Continua depois da publicidade

— Eu e o meu marido morávamos em Chapecó e abrimos uma clínica em Florianópolis; o meu sonho era morar aqui. A gente casou em um restaurante que tem visão para a ponte e quando eu fui ali, pensei: que lugar fantástico! A ponte é o cartão-postal da cidade e Florianópolis significa muito para nós. A ponte significa um novo começo, uma nova trajetória, uma nova jornada em Florianópolis, por isso que eu quis casar ali para registrar essa nova fase que eu e o meu marido estamos vivendo aqui — conta Letícia Cardoso.

Letícia ficou encantada com a paisagem e decidiu que iria casar aos pés da ponte
Letícia ficou encantada com a paisagem e decidiu que iria casar aos pés da ponte – (Foto: Xande Freitas, Arquivo pessoal, cedida)
O casal de Chapecó oficializou a união em novembro deste ano
O casal de Chapecó oficializou a união em novembro deste ano – (Foto: Xande Freitas, Arquivo pessoal, cedida)
A cerimônia de Letícia e Matheus teve a ponte como cenário
A cerimônia de Letícia e Matheus teve a ponte como cenário – (Foto: Xande Freitas, Arquivo pessoal, cedida)
Letícia conta que sempre sonhou em morar em Florianópolis
Letícia conta que sempre sonhou em morar em Florianópolis – (Foto: Xande Freitas, Arquivo pessoal, cedida)

Investimentos em manutenção

Pelos próximos três anos, a manutenção da ponte Hercílio Luz será feita pela empresa Técnica de Engenharia Ltda. O valor total do investimento é de R$ 5,5 milhões, mas os trabalhos ainda não foram iniciados.

De acordo com o Governo do Estado, estão previstos serviços de vistoria e manutenção diárias, mensais e trimestrais, retoques na pintura, substituição de parafusos, substituição de defensas danificadas, colocação de novas tachas e delineadores de sinalização, colocação e substituição de itens das redes de segurança, substituição de componentes do sistema de iluminação e reparos também na manutenção da iluminação funcional da ponte.

> Cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz terá área comercial; saiba os detalhes

No último mês de novembro, o edital para a colocação de iluminação cênica na ponte foi relançado. Segundo a Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade, a obra está orçada em R$ 8,5 milhões e a iluminação deve ser integralmente em tecnologia LED RGB (Red, Green, Blue), que é o padrão para esse tipo de obra. A expectativa é que as luzes sejam instaladas por toda a ponte.

Continua depois da publicidade

Uma das barras de olhal da estrutura original, responsável por uma das interdições da Hercílio Luz, também deve ficar exposta em um espaço de convivência na cabeceira insular. No local também deve ser instalado um posto da PMRv e uma central de informações turísticas, segundo o Governo do Estado.  

Leia também

Gean pede caminhão nas redes sociais para testagem de Covid e governo de SC responde

Bilionário de SC faz festa de pré-réveillon com show surpresa

Navio de cruzeiro barrado em SC com casos de Covid-19 vai passar o Réveillon em Copacabana

Destaques do NSC Total