Artes visuais

Cândido Portinari é revisitado

Redação O Tempo

Por CARLOS ANDREI SIQUARA
Publicado em 17 de novembro de 2012 | 20:24
 
 
 
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Nascido em Brodowski, pequena cidade da região Nordeste de São Paulo, o pintor Cândido Portinari (1903- 962) encontrou cedo o caminho das artes. Embora aos 14 anos seu comportamento não fosse muito diferente dos outros garotos, o talento para o desenho e a pintura se fez notável, o que lhe motivou, com o incentivo dos pais, a viajar aos 15 para o Rio de Janeiro, onde estudou na Escola Nacional de Belas Artes. Iniciava-se ali uma trajetória ascendente de reconhecimento e admiração que alçou o nome do artista entre os mais importantes e, certamente, o mais emblemático do movimento modernista brasileiro.

No ano em que se recorda o cinquentenário de sua morte, Portinari tem o seu trabalho e vida revisitados no documentário "Portinari do Brasil", dirigido por Rozane Braga. Concebido dentro de uma série nomeada "Os Grandes Brasileiros", o filme é o oitavo projeto da diretora.

Para narrar essa história, que em breve será acolhida em DVD, a ser distribuído gratuitamente em escolas, universidades e bibliotecas, Braga se valeu de um vasto acervo de imagens cedidas pelo filho do artista, João Cândido Portinari. Coordenador de um projeto pioneiro que visa preservar a obra e a memória do pintor, João Cândido, segundo Braga, contribuiu com fotos e vídeos pessoais que testemunham momentos significativos do percurso de Portinari.

"Nós pesquisamos outros trabalhos produzidos em vídeo sobre o artista e mergulhamos em sua vasta obra com a ajuda de João Candido. Ele nos mostrou um rico material com cerca de 5.000 pinturas, das quais selecionamos umas 600 que acreditamos representar muito bem a trajetória de Portinari, acompanhando, assim, as mudanças de estilo percebidas no conjunto do trabalho dele", relata Rozane Braga.

São apresentadas telas dos primeiros anos de produção do biografado até aquelas que consolidaram o olhar do artista para os temas sociais frequentemente ilustrados pela figura de camponeses, trabalhadores das lavouras de café, dentre outros personagens ligados à cultura brasileira conhecida em sua época. "No filme, nós passamos em revista muitos dos quadros que ele criou inspirados em sua infância em Brodowski, além de sua atração pelo futebol, até a forte presença da temática social que é retratada com grande sensibilidade", detalha Braga.

Além das pinturas, a diretora trouxe para o filme alguns escritos deixados por Portinari nos quais ele registra algumas reflexões sobre o seu ofício. No documentário, esses pensamentos foram incorporados com a interpretação do ator Herson Capri, o que, por sua vez, agrega um tom confessional à narrativa. "Enquanto viveu, Portinari começou a escrever sua própria biografia. Então, nós usamos esses relatos que criam uma atmosfera intimista. O Herson Capri faz uma interpretação maravilhosa, emocionada, e isso serve como fio condutor de todo o projeto", explica ela.

Ao ressaltar o olhar engajado do artista por meio da produção, Braga considera que essa foi uma consequência inevitável, uma vez que o próprio pintor afirmava jamais conseguir afastar-se de suas origens. Ela rememora, por exemplo, a fala dele em que justifica a imagem constante dos camponeses em seus quadros.

"Ele dizia que toda vez que tentava fazer um novo desenho, ganhava forma um camponês. Isso tinha uma relação muito forte com sua família, pois ele mesmo lembrava que seus pais eram camponeses, por isso ele retratou como ninguém essa temática. Não há outro pintor que tenha dado tanta ênfase ao povo do nosso Brasil quanto ele".

Ainda sobre a repercussão desse aspecto de sua obra, a diretora recorda um fato que sintetiza a postura crítica de Portinari.

"Quando ele expõe suas obras em Paris, em 1946, ele é aclamado como um pintor do Novo Mundo. Muitas pessoas o elogiavam e um deles, o Duque de Windsor, apesar de gostar dos trabalhos perguntou: ‘O senhor não teria algumas flores?’. E Portinari respondeu: ‘Flores, não. Só a miséria’, diz.

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