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Dissertacao_RedesSociais_SILVADB

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Redes Sociais Virtuais: 
Um Estudo da Formação, Comunicação e Ação Social 
DANIEL BONFIM DA SILVA 
São Paulo 
2011 
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO 
 
 
 
DANIEL BONFIM DA SILVA 
Redes Sociais Virtuais: Um Estudo da Formação, Comunicação e Ação Social 
Dissertação apresentada à Faculdade de 
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de 
São Paulo para obtenção do título de Mestre em 
Design e Arquitetura 
Área de Concentração: Design e Arquitetura 
Orientador: Prof. Dr. Carlos Roberto Zibel 
Costa 
São Paulo 
2011 
 
 
 
 
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio 
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. 
EXEMPLAR REVISADO E ALTERADO EM RELAÇÃO À VERSÃO ORIGINAL, SOB 
RESPONSABILIDADE DO AUTOR E ANUÊNCIA DO ORIENTADOR. 
O original se encontra disponível na sede do programa 
São Paulo, 19 de outubro de 2011 
 
 
Silva, Daniel Bonfim da 
Redes Sociais Virtuais: Um Estudo da Formação, 
Comunicação e Ação Social / Daniel Bonfim da Silva; orientador 
Carlos Roberto Zibel Costa – São Paulo, 2011. 
119 p. : il. 
Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo - FAU, 2011 
1. Redes Sociais. 2. Comunicação Digital. 3. Ciberespaço. 4. 
Sociedade da Informação. 
I. Costa, Carlos Roberto Zibel, orient. II. Título 
 
CDU 004.77 
 
S586r 
 
 
 
A Gilda Bonfim, minha mãe. 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
Ao Prof. Dr. Carlos Roberto Zibel Costa, pelas orientações, discussões e 
ensinamentos que marcaram a evolução deste trabalho. 
 
À Profa. Dra. Daniela Kutschat Hanns e ao Prof. Dr. Caio Adorno 
Vassão, pelas sugestões fundamentais à estruturação desta dissertação. 
 
À Profa. Dra. Maria Celina Novaes Marinho, pelas instruções sobre o uso 
correto da língua portuguesa. 
 
Aos funcionários da Pós-Graduação da FAU-USP, especialmente à Diná 
e Isa, pela solicitude durante todo o mestrado. 
 
À Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 
pela oportunidade de realização do curso de mestrado. 
 
 
 
 
Com o enfraquecimento da ordem de leitura do Estado contemporâneo face aos 
interesses do capital internacional, e com a emergência do indivíduo e dos dispositivos 
de comunicação, aparece aqui e ali uma reciprocidade entre as redes e as subjetividades, 
como se, ao se retirar, a hierarquização social deixasse ver não apenas uma pluralidade 
de pensamentos, mas o fato de que pensar é pensar em rede. 
 
André Parente 
 
 
 
 
RESUMO 
SILVA, D. B. Redes Sociais Virtuais: Um Estudo da Formação, Comunicação e Ação Social. 
2011. 119 p. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de 
São Paulo, 2011. 
As redes sociais virtuais são um meio de comunicação que se diferencia da mídia 
tradicional por uma razão fundamental: a distribuição entre os usuários da capacidade de 
comunicar. O usuário dessas redes não se limita à posição de espectador, pois ele pode ser 
também autor, produtor e promotor de textos ou outros materiais. Cai, portanto, o modelo top-
down unidirecional, e ganha espaço uma comunicação bidirecional (entre usuários) e difusa, o 
que representa a transição de uma topologia de árvore para outra, oposta, de rizoma. O objetivo 
deste trabalho é compreender a comunicação nas redes sociais virtuais, o que será feito 
analisando-as externa e internamente. Visa-se a formar, dessa maneira, um construto sobre essas 
redes quanto à sua técnica e seus usuários, sua forma e suas identidades, o que delas irradia e 
nelas se desenvolve, e, assim, precisar as características fundamentais da comunicação nesses 
espaços. 
 
Palavras chave: Redes Sociais, Comunicação Digital, Ciberespaço, Sociedade da 
Informação. 
 
 
 
ABSTRACT 
SILVA, D. B. Virtual Social Networks: A Study on the Development, Communication, and 
Social Action. 2011. 119 p. Dissertation (Master Degree) - Faculdade de Arquitetura e 
Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2011. 
Virtual social networks are a means of communication that differs from traditional media 
due to one fundamental reason: the power to communicate is distributed among their users. In 
these networks, the user is not merely the spectator, but also the author, the producer, and the 
promoter of texts or other materials. Therefore, these networks put aside the unidirectional top-
down model, giving ground to the emergence of a bidirectional and diffuse communication, 
which represents a topological transition from tree to rhizome. This research looks for 
understanding the communication in virtual social networks by analyzing them internally and 
externally. It seeks building a construct on these networks' technique and users, their shape and 
identities, what irradiates from them and what grows in them, thus allowing the understanding of 
the fundamental communication characteristics in these spaces. 
 
Keywords: Social Networks, Digital Communication, Cyberspace, Information Society. 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
Figura 1 – Filme M: rede social de gângsters e mendigos .............................................................. 6 
Figura 2 – Ponte ou bridge em um grafo ........................................................................................ 8 
Figura 3 – Social plug-in do Facebook no site do Greenpeace..................................................... 45 
Figura 4 – Comentários de usuários ao final dos artigos do Libération ....................................... 64 
Figura 5 – Tab de comentários do Wall Street Jounal ................................................................... 65 
Figura 6 – Comentário no Wall Street Journal .............................................................................. 66 
Figura 7 – TimesPeople, interação de microblog no jornal The New York Times ....................... 70 
Figura 8 – Amostra de tela do Diaspora ........................................................................................ 73 
Figura 9 – Social Bookmarking no Clarín..................................................................................... 75 
Figura 10 – Iniciativa The Current Cause da Current TV ............................................................ 77 
Figura 11 – Home page da Free Speech TV ................................................................................. 79 
Figura 12 – Home page do Open Source Cinema ......................................................................... 81 
Figura 13 – Ushahidi: controle de incidentes no Quênia após as eleições de 2007 ...................... 83 
Figura 14 – Seção Conversations do site TED ............................................................................. 85 
 
LISTA DE TABELAS 
Tabela 1 – Variação média dos preços de ICT nos Estados Unidos por período (%) ................... 55 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
Gráfico 1 – Esquema de classificação da pesquisa em Comunidades Virtuais ............................ 36 
Gráfico 2 – Percentual de domicílios com acesso à Internet no Brasil ......................................... 52 
Gráfico 3 – Usuários da Internet no Brasil em 2005 e 2008 ......................................................... 52 
Gráfico 4 – Finalidade do acesso à Internet no Brasil .................................................................. 54 
 
 
file:///C:/Users/morgana/Documents/Master/RedesSociais13072011_2.docx%23_Toc298334994
 
 
 
SUMÁRIO 
1 Introdução ..................................................................................................................... 1 
2 Rede - Conceito e Aplicações ....................................................................................... 4 
2.1 A Internet e a World Wide Web .............................................................................. 4 
2.2 Redes Sociais.........................................................................................................5 
2.3 Análise de Redes Sociais....................................................................................... 7 
3 A Sociedade em Rede ................................................................................................. 12 
3.1 Rede, Fluxos e Globalização ............................................................................... 13 
3.2 Virtualização........................................................................................................ 15 
3.3 Determinismo Tecnológico e Racionalização Subversiva .................................. 17 
3.4 Informação na Rede ............................................................................................ 20 
3.5 Dromocracia Cibercultural .................................................................................. 22 
4 Redes Sociais: Rizoma, Espaço e Identidade ............................................................. 24 
4.1 Redes Sociais como Rizoma ............................................................................... 25 
4.2 Espaço de Fluxos ................................................................................................. 27 
4.3 Identidade ............................................................................................................ 29 
4.4 Diluição de Bytes: Sociedade Líquida e a Rede ................................................. 33 
5 Interação em Redes Sociais On-line: Modelos ........................................................... 35 
5.1 Antecessores: Comunidades, Grupos e Times Virtuais ....................................... 38 
5.2 Microblogs .......................................................................................................... 39 
5.3 Sites de Rede Social ............................................................................................ 41 
5.3.1 Incorporação de Sites de Rede Social a outros Sites da Web ......................... 43 
5.4 Redes Sociais para Dispositivos Portáteis ........................................................... 46 
5.5 Crowdsourcing .................................................................................................... 47 
6 Usuários ...................................................................................................................... 50 
6.1 Internet – Crescimento e Usuários ...................................................................... 51 
6.2 Perspectiva Econômica ....................................................................................... 55 
6.3 Participação Política ............................................................................................ 57 
7 Casos de Uso .............................................................................................................. 61 
7.1 Comunidades Virtuais ......................................................................................... 63 
 
 
 
7.1.1 Liberation.fr ................................................................................................... 63 
7.1.2 WSJ.com (Wall Street Journal) ...................................................................... 65 
7.1.3 Fórum Ofchan ................................................................................................ 67 
7.2 TimesPeople ........................................................................................................ 69 
7.3 Diaspora .............................................................................................................. 71 
7.4 Crowdsourcing .................................................................................................... 74 
7.4.1 Social Bookmarking no Clarin.com ............................................................... 75 
7.4.2 Current TV ..................................................................................................... 76 
7.4.3 Free Speech TV ............................................................................................. 78 
7.4.4 Remix Culture ................................................................................................ 80 
7.4.5 Ushahidi ......................................................................................................... 82 
7.4.6 TED Conversations ....................................................................................... 84 
8 Comunicação dos Movimentos Sociais na Rede ........................................................ 86 
8.1 Técnicas, Conhecimentos e Práticas Instrumentais de Ação............................... 87 
8.2 Ações de Resistência e Transformação ............................................................... 88 
8.3 Reconstrução dos Vínculos ................................................................................. 91 
8.4 Propriedade e Controle das Tecnologias de Produção e Transmissão................. 93 
8.5 Tecnocapitalismo e Democracia .......................................................................... 96 
8.6 O Autor Digital como Produtor ........................................................................... 97 
8.7 Novas Mídias: Abertura e Pessoalidade .............................................................. 98 
8.8 Manipulação Invisível: Astroturfs ..................................................................... 100 
9 Conclusão ................................................................................................................. 102 
Bibliografia ..................................................................................................................... 105 
 
 
 
1 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Hoje é comum que os usuários da Web naveguem por sites como Facebook, Orkut e 
Twitter para mandar mensagens aos amigos, comentar algumas notícias e manter relações 
sociais ativas. À primeira vista, esses sites podem parecer um mero espaço para 
entretenimento e passatempo; no entanto, este trabalho mostra que eles são mais que isso. 
Há mudanças significativas em andamento nas redes sociais virtuais, que também se 
irradiam fora delas. A forma como a informação flui nessas redes desafia o modelo top-down
1
 
da mídia tradicional. A horizontalidade da comunicação
2
 abre espaço para minorias exporem 
suas ideias para toda a sociedade e iniciarem ações transformadoras efetivas
3
. Relativizam-se 
fronteiras geográficas e abre-se espaço para a formação de um ambiente cultural global
4
. 
Quando se pensa em comunicação, alguns elementos mudam com as redes sociais 
virtuais: os agentes, o conteúdo e a topologia do fluxo de dados. Os usuários assumem 
identidades projetadas e de resistência
5
, pois podem usar um avatar
6
 como escudo. O 
conteúdo não passa pelo crivo de um corpo editorial, e sua popularização depende da escolha 
dos usuários em mantê-lo ou não em circulação. As redes sociais virtuais, sem eixo 
centralizador de transmissão, difusas e sem uma estrutura previsível
7
, pois sua expansão 
depende da vontade dos usuários, aproximam-se, topologicamente, do rizoma
8
, e afastam-se 
do modelo arbóreo da mídia tradicional. 
 
1
 Top-down, ou “acima-abaixo”, “de cima para baixo”. Nesse contexto, representa a informação que flui, 
unidirecionalmente, dos detentores do poder de comunicar (e. g. a mídia tradicional) para todo o resto da 
sociedade. 
2
 Dahlgren (2005) destaca que o acesso à Internet, facilitado por avanços tecnológicos e por questões econômicas 
(como redução de custos), viabilizou o crescimento de uma grande rede digital de ativistas, capazes de interagir 
por meio de uma comunicação horizontal. Os resultados dessa horizontalidade são analisados no oitavo capítulo. 
3
 Considerando-se a possibilidade de figuras marginais difundirem ideias por toda a rede, analisada por 
Granovetter (1973, p. 1367), e descrita na seção 2.3. 
4
 José Eduardo Faria (2010) trata da relativização de fronteiras Estatais e da formação de umambiente cultural 
global por meio do uso da tecnologia. Manuel Castells (2000a) ressalta a importância dos fluxos na sociedade 
em rede. Esse tema é tratado no terceiro capítulo. 
5
 Os tipos de identidade são descritos por Castells (2009) e analisados na seção 4.3. 
6
 Avatar é a representação imaginária de si mesmo que o internauta usa em ambientes virtuais (AULETE e 
VALENTE, 2006). 
7
 Aspectos da topologia das redes sociais virtuais são analisados na seção 4.1. 
8
 Estrutura que “estabelece incessantemente conexões entre cadeias semióticas, organizações de poder, e 
circunstâncias relacionadas às artes, ciências e lutas sociais”, definida por seis princípios (DELEUZE e 
GUATTARI, 2000, p. 7-22), tratada em detalhes na seção 4.1. 
2 
 
 
À medida que os agentes de comunicação se desprofissionalizam
9
, as redes sociais 
tornam-se não apenas espaço para circulação de conteúdos alternativos, mas também um 
modo de produção de conteúdo alternativo à mídia tradicional. Nelas, os autores podem se 
tornar produtores e emissores de informação. Assim se produzem vídeos, textos, e outros 
materiais compartilhados nas redes sociais. Reduzem-se nessas redes o controle e os custos da 
produção e da transmissão, que ainda inviabilizam o modelo de autor como produtor
10
 na 
mídia tradicional. 
A própria visão que se pode ter da tecnologia muda face às finalidades que os usuários 
dão às redes sociais virtuais. Os sites que oferecem serviços de rede social pouco seriam se 
não fossem os usuários. Deles depende a maior parte do conteúdo divulgado, os grupos 
formados e os canais de compartilhamento. Até mesmo movimentos sociais podem se 
desenvolver nesses sites, como se verá adiante, o que permite vê-los como um instrumento do 
que Feenberg (1995b) chama de racionalização subversiva. 
Outro fator de mudança social proveniente das redes sociais virtuais é a forma como 
elas se relacionam com o espaço físico. Essa relação causa interferências mútuas. Os espaços 
de fluxos
11
 passam a ser compostos por redes sociais on-line
12
, além de cidades, edifícios e 
outros espaços físicos; os indivíduos vivem parte do seu tempo nesses espaços virtuais, e 
neles se aproximam de pessoas que habitam locais distantes. O que acontece nas redes sociais 
também pode ser influenciado pela forma como seus usuários se relacionam com o espaço 
físico que os cerca
13
. 
Todas as funções das redes sociais virtuais seriam pouco significativas se os usuários 
que delas participassem fossem uma amostra mínima da sociedade. No entanto, como se 
mostrará adiante, considerando a sociedade brasileira, não só o percentual da população com 
acesso à Internet e que usa redes sociais é grande, como também esse número cresce 
rapidamente
14
. Assim, essas redes se tornam um potencial veículo de comunicação de massa. 
 
9
 A simplificação da comunicação na Web e a intensificação do amadorismo na produção e divulgação de 
informações são analisadas por Clay Shirky (2008, p. 55) e estudadas na seção 8.7. 
10
 O “autor como produtor” é um conceito de Walter Benjamin cuja essência é de que a criação de obras radicais 
de arte, literatura, crítica e quaisquer outros tipos não deveria apenas desafiar a dominância do capitalismo de um 
ponto de vista conceitual, mas deveria ativamente trabalhar para transformar suas próprias condições de 
produção (BENJAMIN, 1970). A análise desse tema é aprofundada na seção 8.6. 
11
 Castells (2000a, p. 442) descreve espaço de fluxos como “a organização material de práticas sociais de tempo 
compartilhado que funcionam em fluxos”. Esse conceito será analisado e contextualizado na seção 4.2. 
12
 Usa-se aqui, e no decorrer do texto, a expressão rede social on-line como sinônimo de rede social virtual. 
13
 Nas redes sociais para dispositivos portáteis, analisadas na seção 5.4, a vivência dos usuários no espaço físico 
determina a sua participação no ambiente virtual. 
14
 Vide sexto capítulo. 
3 
 
 
Há, porém, que se ter alguns detalhes em vista quando se pensa nas redes sociais como 
um modelo de comunicação livre de interferências. A Internet e a maior parte dos serviços de 
rede social são propriedades privadas, que visam ao lucro. Há questões sobre a privacidade e 
falsificação de perfis que afastam usuários e levantam, para as redes, a bandeira da 
manipulação de conteúdo e opiniões, que são problemas críticos da televisão. 
Como indicam os parágrafos anteriores, o recorte desta dissertação são as redes sociais 
virtuais, especialmente quanto à comunicação que nelas pode se desenvolver. Entende-se que 
essa comunicação pode ser explicada pela base teórica das redes sociais, e pela influência 
recíproca exercida entre as redes sociais virtuais, a sociedade e o espaço. São esses, portanto, 
os assuntos predominantes nos capítulos iniciais deste trabalho. 
Compreende-se também que a comunicação nas redes sociais virtuais pode se 
desenvolver de modos diferentes. Tais distinções podem resultar dos variados modelos de 
interação dessas redes, que são produtos de sua diversidade de aplicações e aspectos técnicos. 
O quinto e o sétimo capítulos dedicam-se ao aprofundamento do estudo dessas possibilidades 
de comunicação. 
Por fim, trata-se do uso das redes sociais virtuais como meio de formação e divulgação 
de movimentos sociais, inclusive de participação política. Para isso, analisam-se o acesso a 
essas redes, o exercício do controle e de interferências nas comunicações que nelas se 
desenvolvem, além de suas vantagens e desvantagens frente à mídia tradicional. Esse é o tema 
do oitavo capítulo. 
O objetivo aqui é formar um construto que permita a compreensão da comunicação 
que pode se desenvolver em redes sociais virtuais. Para isso, tomaram-se como fonte 
trabalhos que percorreram os campos da matemática aplicada, computação, economia, 
sociologia, política, design e psicologia, que permitiram o entendimento das características 
fundamentais da comunicação que acontece dentro das redes e do impacto fora delas. 
 
4 
 
 
2 REDE - CONCEITO E APLICAÇÕES 
 
 
Uma rede é um conjunto de nós interconectados. Um nó, de modo simplista, é o ponto 
em que uma curva se intercepta, e o que ele representa concretamente depende do tipo de rede 
de que se fala. Redes são estruturas abertas, capazes de se expandirem sem limites, integrando 
novos nós, desde que eles sejam capazes de se comunicar com a rede, ou seja, desde que 
compartilhem os mesmos códigos de comunicação (CASTELLS, 2000a, p. 501). 
Apesar de identificar estruturas contemporâneas, como as redes sociais virtuais, a 
palavra rede já é usada há vários séculos. Na língua francesa, ela apareceu no século XII, 
derivada do latim retilous. Então, essa palavra identificava as redes de caça ou pesca e as 
malhagens têxteis (MUSSO, 2004). 
Neste capítulo, descrevem-se duas aplicações relevantes do conceito de rede: a World 
Wide Web e as redes sociais, cuja base teórica está no campo de estudo da análise de redes 
sociais, tratado na seção 2.3 deste capítulo. 
 
 
2.1 A Internet e a World Wide Web 
 
 
No contexto da computação, o conceito de rede ganhou aplicação e relevância 
particular. Os porquês dessa relevância e a mudança do paradigma de computação massiva 
após o início do uso das redes de computadores são descritos por Andrew S. Tanenbaum 
(2010, p. 2, tradução nossa): 
 
A combinação de computadores com as comunicações teve profunda 
influência na maneira como sistemas de computadores são organizados. O conceito 
de “centro de computação” como uma sala com um grande computador, a que 
usuários traziam seu trabalho pra ser processado, agora é obsoleto. O antigo modelo, 
de um único computador servindo todas as necessidades computacionais de uma 
organização, foi substituído por outro em que um grande número de computadores 
separados, mas interconectados, fazem o trabalho. Esses sistemas sãochamados 
redes de computadores [...]. 
5 
 
 
A Internet não é uma única rede, mas uma rede de redes, e a Web é um 
sistema distribuído que se executa no topo da Internet [...]. 
Em um sistema distribuído, um conjunto de computadores independentes 
aparece para os usuários como um sistema único e coerente. Usualmente, ele tem um 
único modelo ou paradigma que é visível para os usuários. Frequentemente, uma 
camada de software no topo do sistema operacional, chamada middleware, é 
responsável pela implementação desse modelo. Um exemplo bem conhecido de 
sistema distribuído é a World Wide Web, em que tudo parece um documento (página 
da Web). 
 
Algumas das mais populares finalidades da Internet para usuários domésticos são o 
acesso a informação remota, comunicação interpessoal, entretenimento interativo e comércio 
eletrônico (TANENBAUM, 2010, p. 6). Como combinação entre a comunicação interpessoal 
e o acesso à informação remota estão as redes sociais virtuais. Nelas, o fluxo de informação é 
guiado pelos relacionamentos que as pessoas declaram ter entre si. 
Aplicações na Web em que se formam redes de usuários podem ter diferentes modelos 
de interação e finalidades. Além dos sites de rede social, em que usuários criam perfis e 
compartilham informações com amigos, há os microblogs, para troca de mensagens curtas e 
notícias, e as plataformas de crowdsourcing, em que grupos de pessoas contribuem para fins 
específicos. Esses modelos de interação serão analisados adiante, no quinto capítulo. 
 
 
2.2 Redes Sociais 
 
 
O conceito de rede social surgiu com a apropriação de conhecimentos da teoria dos 
grafos e de redes por estudiosos de humanidades, como antropólogos e sociólogos, que 
visavam a compreender fenômenos sociais, analisando-os a partir de relações interpessoais 
(WASSERMAN e FAUST, 1994, p. 4). 
Interpretar a sociedade como uma rede de atores é, portanto, uma abstração que 
viabiliza a análise de sociedades. Nessas redes, os indivíduos, ou atores, são considerados 
como nós, as interações entre atores são consideradas como canais para fluxos de recursos, 
materiais ou imateriais, e conceitualizam-se estruturas (econômicas, sociais, políticas, etc.) 
como padrões duradouros de relações entre indivíduos (WASSERMAN e FAUST, 1994, p. 4). 
6 
 
 
Segundo Barnes (1969), as redes sociais atravessam classes e grupos sociais, ou seja, 
podem se referir a relações inter ou intraclasse. Tendo isso em vista, há um exemplo de rede 
social que vale ressaltar: a rede de espiões do filme M (1931), do diretor Fritz Lang. 
M é um filme de suspense em que um infanticida comete uma série de crimes em 
Berlim, mas a polícia não consegue prendê-lo. Comovidos, mas também preocupados com a 
agitação policial na cidade, os gângsters locais resolvem ajudar nas buscas pelo assassino. 
Com a ajuda da associação dos mendigos da cidade, eles criam uma rede de espiões que 
deveria monitorar cada passo de cada criança, e que vigiaria cada metro quadrado da cidade 
(HERZOG, 2009, p. 126). 
A rede de espiões de M tinha seu código de conduta e de comunicação, e apesar da 
incapacidade de seus membros, ladrões e mendigos, vigiarem individualmente a cidade, a 
grande quantidade de atores e fluxos de informações que constituíam essa rede dava-lhe 
condições para atingir o objetivo de capturar o infanticida. 
 
 
Figura 1 – Filme M: rede social de gângsters e mendigos
15
 
 
 
15
 Fonte: Herzog (2009, p. 131). 
7 
 
 
Apesar de ser uma história fictícia, M ilustra o poder das redes sociais. Herzog (2009) 
delineou uma análise da rede social de M, identificando os seus atores e algumas de suas 
relações, para compreender quais as vantagens que ela teve, em relação à polícia, nas buscas 
pelo criminoso. 
Além de atores e relações, há outros conceitos na análise de rede social que podem ser 
úteis para a compreensão de uma sociedade. Eles são descritos na próxima seção. 
 
 
2.3 Análise de Redes Sociais 
 
 
A análise de redes sociais é um campo de estudo que visa a aplicar conceitos 
matemáticos de redes e teoria dos grafos para medição e compreensão estatística de relações 
sociais. Esta seção será dedicada aos conceitos da análise de redes sociais que são relevantes 
para este trabalho. 
Apesar de este texto ainda não ter se aprofundado nos sites de rede social, o que pode 
causar certa confusão ao leitor quando começar a percorrer os próximos parágrafos, não há 
como mover esta seção para adiante. Os conceitos dela aparecerão pontualmente em todos os 
próximos capítulos, então são passagem obrigatória no trajeto que levará ao conhecimento 
sobre as redes sociais virtuais. 
Para facilitar o percurso do leitor que não tenha conhecimento prévio sobre esse 
assunto, propõe-se aqui um modelo simplificado, baseado na notação de grafos descrita por 
Wasserman e Faust (1994, p. 71-73). Pode se pensar em cada usuário de uma rede social, ou 
seja, qualquer um que tenha um perfil em uma rede, como um nó, identificado pela notação 
 . As conexões entre esses nós (“amizade”) são linhas ou arcos, identificadas por . A 
princípio, as linhas não são orientadas, ou seja, pode representar a conexão de um nó 
 para outro , ou do nó para . Na maior parte das redes sociais on-line, não há 
distinção entre essas duas linhas, o que, já se pode adiantar, implica sua simetria ou não 
orientação. Portanto, o conjunto de nós e conexões, ou usuários e amizades, de uma rede 
social, compõe um modelo de grafo, geralmente não orientado. 
Tendo em vista esse modelo simplificado, prossegue-se agora com o estudo sobre a 
análise de rede social, sua origem, função e conceitos relevantes. 
8 
 
 
O uso das redes de relações interpessoais para análise das implicações macrossociais, 
ou a análise de redes sociais, foi uma ferramenta que permitiu a conexão dos níveis micro e 
macro da teoria social (THELWALL, 2008, p. 1367). O estudo das redes sociais por 
antropólogos foi baseado em noções da teoria dos grafos
16
, cujos termos foram utilizados, e 
ampliados por uma terminologia própria, para a identificação de indivíduos e grupos sociais 
nas redes (BARNES, 1969). 
Alguns itens da terminologia da análise de redes sociais são importantes para este 
trabalho, entre eles o da força de uma relação, que é uma combinação da quantidade de 
tempo, intensidade emocional, intimidade e serviços recíprocos que caracterizam uma relação. 
Cada um desses itens é, de certa forma, independente dos outros, porém o conjunto é 
conectado (GRANOVETTER, 1973, p. 1367). 
O conceito de ponte (ou bridge, no texto original) é o de uma linha, em uma rede, que 
representa o único caminho entre dois pontos (HARARY, NORMAN e CARTWRIGHT, 
1965, p. 198). Uma vez que, em geral, cada pessoa tem muitos contatos, uma ponte entre A e 
B provê a única rota em que a informação ou influência pode fluir de qualquer contato de A 
para qualquer contato de B e, consequentemente, a qualquer pessoa conectada indiretamente a 
B (GRANOVETTER, 1973, p. 1367). 
 
 
Figura 2 – Ponte ou bridge em um grafo 
 
16
 O estudo de teoria dos grafos ganhou intensidade a partir de 1920, embora o primeiro artigo sobre esse assunto 
seja de 1736. No século XX, a teoria dos grafos ganhou muitas aplicações, em Ciência da Computação, Química, 
Pesquisa Operacional, Engenharia Elétrica, Linguística e Economia (JOHNSONBAUGH, 2001, p. 263). 
9 
 
 
As palavras conexidade ou conectividade (connectedness ou connectivity) podem se 
referir a propriedades de distância entre pessoas, o número de caminhos entre elas, a 
existência de um caminho, ou a proporção de caminhos possíveis em relação a todos os que 
existem (BARNES, 1969). 
Barnes (1969) faz uma análise dicotômica reduzida a uma variável contínua, contando 
o número de relações observadas em uma rede formada porindivíduos e seus amigos, e 
dividindo esse número pela quantidade de relações possíveis; refere-se a essa variável como 
“densidade” da rede. 
Além disso, algumas características do relacionamento entre nós e da difusão nas 
redes são importantes para os capítulos a seguir. Inicialmente, há a hipótese esclarecida 
empiricamente de que, quanto mais forte for a relação entre dois indivíduos, mais similares 
eles serão (GRANOVETTER, 1973, p. 1362). Sendo A, B e C indivíduos integrantes de uma 
rede social, se relações fortes conectam A a B e A a C, e sendo B e C similares a A, eles serão 
provavelmente similares entre si, aumentando a possibilidade de uma amizade caso eles se 
encontrem. Em ordem reversa, quanto mais fracas as relações A-B e A-C, menor a 
probabilidade de uma relação C-B; nesse caso, a probabilidade de C e B serem compatíveis é 
menor (GRANOVETTER, 1973, p. 1364). 
Na análise das redes sociais, outros conceitos relevantes são os graus (degrees). O 
grau de um nó, , é o número de linhas que incidem no nó , equivalente ao número de 
nós adjacentes a . (WASSERMAN e FAUST, 1994, p. 100-126). Pensando-se em uma rede 
social virtual, o grau de um usuário seria o seu número de amigos. 
Também no contexto das redes sociais on-line, é relevante o estudo de (MISLOVE, 
MARCON, et al., 2007). Nele, identifica-se que essas redes seguem leis de potência (power 
laws), ou seja, que a probabilidade de seus nós terem um grau (degree) é proporcional a 
 , com grande e , em que o parâmetro é chamado de coeficiente da lei de 
potência. Isso equivale a dizer que, nas redes sociais on-line, a probabilidade de um usuário 
ter certo número de conexões é uma função inversamente proporcional ao número de 
conexões elevado ao coeficiente da rede. Daí pode-se concluir que o número de usuários de 
uma rede social com muito mais conexões que a média tende a ser pequeno, e a 
homogeneidade do número de conexões dos usuários depende das características da rede, 
nesse caso representadas por . 
Alan Mislove e Massimiliano Marcon (2007) também analisam as redes livres de 
escala (scale free networks). São elas uma classe de rede de lei de potência em que nós de 
10 
 
 
grau alto tendem a estar conectados a outros nós de grau alto. Isso coloca esses nós no centro 
da rede, ou seja, na parte mais densa da rede. Descrito isso, pode-se passar à análise de fluxo 
de informação por figuras centrais (esses nós de alto grau) e marginais da rede. 
Granovetter (1973) analisa a adoção e difusão de idéias novas por figuras centrais, ou 
seja, as mais conhecidas e com conexões fortes, e marginais, menos conhecidas, quanto a sua 
posição na rede social. Ele ressalta que há visões diversas sobre isso; alguns estudos indicam 
que figuras inovadoras pioneiras são marginais, porque elas “não se conformam com as 
normas de tal maneira que são consideradas altamente desviantes do padrão”, pela observação 
de Everett M. Rogers (2003, p. 368). 
Marshall Becker (1970) aprofunda-se na questão da marginalidade ou centralidade dos 
inovadores pioneiros, referindo-se aos riscos percebidos na adoção de uma dada inovação. O 
seu estudo de inovação na saúde pública mostra que, quando um novo programa é 
considerado relativamente seguro e sem controvérsias, figuras centrais lideram a sua adoção; 
quando não, são as marginais. Ele explica a diferença em termos de um desejo maior da figura 
central de proteger sua reputação profissional. 
Granovetter defende que indivíduos marginais, com muitas relações fracas, que na 
análise organizacional das redes são conhecidos como “pessoas liaison” (ou pessoas de 
ligação), são capazes de difundir inovações com sucesso, pois, como as atividades desviantes 
de padrões enfrentam mais resistência que as normais e seguras, um número maior de pessoas 
tem que se expor a elas e adotá-las antes que se difundam por uma reação em cadeia. 
Pelo argumento de Becker, indivíduos centrais e renomados têm maior resistência em 
adotar novidades mais arriscadas; logo, cabe aos indivíduos marginais iniciar a difusão dessas 
novidades. No entanto, uma inovação inicialmente impopular, que se difunde por meio de 
indivíduos com poucas relações fracas, fica mais provavelmente confinada a alguns pequenos 
grupos (GRANOVETTER, 1973, p. 1367). 
Compatível com a proposição de Granovetter, de que pessoas liaison marginais são 
capazes de disseminar inovações por toda a rede, é a ideia de que minorias podem difundir 
mudanças, desde que seus membros estejam densamente conectados. Menos resistentes à 
novidade, como justifica o argumento de Becker, e capazes de atingir mais de um grupo, 
quando têm membros liaison, as minorias podem iniciar fluxos que atingem a maioria da 
sociedade, ou figuras centrais da rede, de acordo com os grupos inicialmente atingidos e a 
densidade de suas conexões. 
11 
 
 
As relações fracas não apenas contribuem com a difusão de novas ideias em redes, 
mas também com a mobilidade de seus nós, conforme descreve Granovetter (1973, p. 1373, 
tradução nossa): 
 
Do ponto de vista individual, então, relações fracas são um importante 
recurso para possibilitar oportunidades de mobilidade. Vistas de uma perspectiva 
macroscópica, relações fracas têm um papel de efetivação da coesão social. Quando 
um homem muda de emprego, ele não só muda de uma rede a outra, mas também 
estabelece uma relação entre elas. Tal relação é frequentemente do mesmo tipo 
daquela que facilitou seu próprio movimento. Especialmente em áreas de 
especialidades técnicas e profissionais que são bem definidas, a mobilidade 
estabelece estruturas de ponte com conexões fracas entre os agrupamentos (clusters). 
Informações e ideias então fluem mais facilmente pela área de especialidade, dando 
a ela um “senso de comunidade”, ativado em reuniões e convenções. 
 
O site de rede social LinkedIn
17
, que tem por objetivo promover conexões 
profissionais entre seus usuários, baseia-se nessa ideia. Nesse site, os profissionais geralmente 
se conectam a seus colegas de trabalho e, quando passam a atuar em uma nova instituição ou 
área, criam contatos novos, mas não descartam os antigos. Essas pessoas passam a ser, 
portanto, pontes entre clusters separados. 
 
 
17
 Disponível em <http://www.linkedin.com>. 
12 
 
 
3 A SOCIEDADE EM REDE 
 
 
Observaram-se até aqui aplicações para o conceito matemático de rede. O uso dessa 
teoria resultou em tecnologias inovadoras, como a World Wide Web, e na compreensão de 
alguns fenômenos sociais. Nesses casos, a ciência aplicou conscientemente o conceito de 
rede, e isso resultou em produtos e conhecimentos novos. Em contrapartida, a sociedade 
também absorveu esse mesmo conceito, possivelmente de modo menos consciente. O que se 
estuda hoje como globalização, em termos gerais, e como sociedade em rede, mais 
especificamente, é a análise dessa absorção pela sociedade. 
À primeira vista, não parece existir uma conexão significativa entre o estudo da 
sociedade em rede e o das redes sociais na Web. O primeiro desses estudos é nitidamente mais 
abrangente; seus atores têm identidades mais variadas e são mais numerosos; seus fluxos são 
de capital transnacional, poder e culturas. O segundo estudo, das redes sociais na Web, quando 
muito, parece tratar de uma simples amostra da sociedade. Essa dedução não é incorreta; os 
sites de rede social, de fato, contêm uma amostra da sociedade. No entanto, essa amostra não 
é insignificante. Só o Facebook, que é o mais visitado desses sites, tem um número de 
usuários que corresponde a 7% da população mundial
18
. 
Não é apenas o tamanho da amostra da sociedade contida nos sites de rede social que 
justifica a relevância entre o tema da sociedade em rede e este trabalho, mas também o 
potencial de crescimento que a existência de uma sociedade em rede representa para as redes 
sociais na Web.Castells (2000a) dedica um livro para descrever como a sociedade caminhou 
para o modelo de rede. Faria (2010) descreve o impacto da nova morfologia social na 
economia, direito e cultura. Em nenhuma dessas obras são mostrados indícios de que a 
sociedade adotou a estrutura de rede por imposição, mas sim de que esse foi um passo 
evolutivo e natural. 
De maneira similar, evoluíram tecnologias, comunicações e mídias, que ganharam a 
forma de redes. Como parte integrante da estrutura social, parece natural que as redes sociais 
virtuais adotem a mesma estrutura em que toda a sociedade se molda. Entender a formação da 
sociedade em rede, portanto, é uma forma possível de se compreender a formação das redes 
sociais na Web. 
 
18
 O Facebook declara ter 500 milhões de usuários (FACEBOOK, 2011b), e a população mundial em 2010 era de 
6,9 bilhões (CENSUS, 2010). 
13 
 
 
Esclarecida a relação aqui visada entre os dois temas, cabe apresentar uma nota para 
que o leitor compreenda a estrutura deste capítulo. Além da descrição da sociedade em rede, 
cuja pertinência já foi explicada, trata-se aqui de alguns elementos que permitem a passagem 
para as próximas seções deste trabalho, mais diretamente conectadas às redes sociais na Web. 
Há neste capítulo uma análise da absorção da tecnologia pela sociedade e a 
virtualização de suas relações (seção 3.2). Em seguida, há um estudo do confronto entre a 
tecnologia e a sociedade, traduzido pelas correntes de pensamento favoráveis e opositoras ao 
determinismo tecnológico (seção 3.3). Nesse ponto, o trabalho chegará ao nível de imersão 
necessário para que se apresentem formas de fluxo de informação na rede (seção 3.4) e uma 
visão concentrada de sociedade, tecnologia, virtualização e velocidade, expressa pelo conceito 
de dromocracia cibercultural (seção 3.5). 
 
 
3.1 Rede, Fluxos e Globalização 
 
 
A morfologia das redes dominou a sociedade nas últimas décadas e foi fonte de uma 
dramática reorganização das relações de poder. Comutadores
19
 conectando as redes (como, 
por exemplo, fluxos financeiros controlando impérios de mídia que influenciam o processo 
político) passaram a ser instrumentos privilegiados e detentores do poder (CASTELLS, 
2000a, p. 501). Assim, pode se concluir que, na sociedade em rede, o poder geralmente não 
está em nós, mas nos fluxos que eles estabelecem. 
No plano econômico, consolida-se um sistema de corporações mundiais, cujas redes 
formais e informais de negócios tendem a enfraquecer o poder dos Estados, e no plano 
institucional esgota-se a ideia de hierarquia como princípio ordenador da vida social (FARIA, 
2010, p. 3). 
Como há muitas redes, os códigos e comutadores interoperantes tornam-se as fontes 
fundamentais da formação, orientação ou desorientação das sociedades (CASTELLS, 2000a, 
p. 502), o que reforça a proposição de Granovetter sobre a análise de redes sociais, de que é 
 
19
 Comutadores são dispositivos que podem interromper ou permitir o fluxo de corrente elétrica num sistema 
(AULETE e VALENTE, 2006). Nesse caso, o uso do termo é por comparação, já que os nós de uma rede são 
capazes de dar continuidade ou interromper os fluxos dessa rede. 
14 
 
 
possível compreender aspectos macrossociais a partir de relações diádicas 
(GRANOVETTER, 1973, p. 1360). 
Como uma tendência histórica, funções e processos dominantes na sociedade da 
informação estão crescentemente organizados em redes. Essa forma de organização social 
existiu em outros tempos e espaços, mas o novo paradigma da tecnologia da informação 
fornece base material para sua penetração na estrutura social. Castells (2000a, p. 500) 
argumenta que essa lógica de rede leva a uma determinação social de nível mais alto que a 
dos interesses sociais específicos expressos pelas redes: o poder dos fluxos tem precedência 
sobre os fluxos de poder, e há preeminência da morfologia social sobre a ação social. Castells 
chama esse novo modelo de Sociedade em Rede. 
Nessa sociedade, empresas, Estados e investidores internacionais conectaram-se e 
fortaleceram-se. Reinventaram-se as formas de geração de capital. Surgiram nas últimas 
décadas novos produtos financeiros, derivados dos tradicionais títulos e ações, além de novas 
atividades produtivas, comerciais e financeiras, que levaram a proporção de ativos financeiros 
mundiais em relação à produção de 109% para 316% entre 1980 e 2005 (FARIA, 2010, p. 2). 
Nesse caso, o acesso global a atividades econômicas que já existiam localmente foi 
determinante para um crescimento significativo dos investimentos; sem a conexão entre 
investidores e produtores espalhados pelo mundo, esse crescimento da relação entre ativos 
financeiros e produção possivelmente não seria tão significativo. 
Para a reestruturação que culminou na sociedade em rede, foi fundamental a 
conjunção entre a sociedade, a tecnologia e, especialmente, a comunicação mediada por 
computadores (CMC)
20
. Trata-se, na próxima seção, de um dos resultados dessa combinação: 
a virtualização das interações humanas. 
 
 
 
 
20
 De computer-mediated communication (RHEINGOLD, 2000, p. xviii). 
15 
 
 
3.2 Virtualização 
 
 
Com a intensificação do uso da CMC, ganharam notoriedade a partir da década de 
oitenta do século XX as comunidades virtuais, como espaços de discussão e colaboração 
intermediada por computadores, que serão tratados em detalhes adiante (vide seção 5.1). 
Essas comunidades foram precursoras das redes sociais virtuais e puseram em discussão a 
questão da virtualização em ambientes da Web. 
“Virtual” é um termo usado cotidianamente para indicar algo que não é real ou físico. 
Isso parece, a princípio, adequado para qualificar o tipo de comunidade descrito acima, já que, 
nelas, há computadores entre os usuários, os quais não necessariamente têm uma relação de 
proximidade física. No entanto, a virtualidade tem, na visão acadêmica, um significado mais 
preciso, que ajuda a entender alguns aspectos dos sistemas baseados em CMC. Com esse fim, 
trata-se nesta seção do conceito de “virtualidade”, pela definição de Pierre Lévy. 
A palavra virtual vem do latim medieval virtualis, termo proveniente de virtus, ou 
seja, força, potência. Na filosofia escolástica
21
, o virtual é o que existe em potência, e não em 
ato. O virtual tende a se atualizar, sem passar, entretanto, à concretização efetiva ou formal de 
algo previamente definido. Por exemplo, a árvore é virtualmente presente na semente (LÉVY, 
1998, p. 13), pois, ao se plantar a semente, não se sabe de antemão qual a forma exata da 
árvore que se desenvolverá. 
“Possível” e “virtual” são também conceitos diferentes. O possível já está constituído, 
e pode se realizar sem que nada mude na sua determinação nem em sua natureza. É um real 
latente. O possível é exatamente como o real, apenas lhe falta a existência. A realização de um 
possível não é uma criação, no sentido pleno desse termo, pois a criação implica também a 
produção inovadora de uma ideia ou forma (LÉVY, 1998, p. 13-4). 
Para Lévy (1998, p. 14-5), o conceito oposto à virtualização é a atualização, que é 
como a solução para um problema, uma solução que não estava contida antecipadamente no 
enunciado. A atualização é a invenção de uma forma a partir de uma configuração dinâmica 
de forças e de finalidades. 
Na atualização, ocorre uma produção de qualidades novas, uma transformação de 
ideias, uma verdadeira formação que alimenta o virtual ao redor. Por exemplo, se o 
 
21
 Filosofia escolástica é a designação da filosofia medieval ensinada na “Escola”, ou seja, em instituições de 
ensino eclesiásticas e universidades europeias, entre os séculos IX e XVI (DUROZOI e ROUSSEL, 1997). 
16 
 
 
desenvolvimento de um programade computador é puramente lógico, criado pela dupla 
possível/real, a interação entre humanos e sistemas é criada pela dialética entre o virtual e o 
atual (LÉVY, 1998). Daí as comunidades on-line poderem ser consideradas, formalmente, 
virtuais, pois a forma como elas evoluem depende da interação de seus usuários, e é 
indefinida até que se atualize. Não são, tampouco, possíveis, porque o que delas resulta não é 
apenas a realização de algo latente, mas sim resultado de interações imprevisíveis. 
O conceito oposto, da virtualização, consiste em uma passagem do atual ao virtual. De 
acordo com Pierre Lévy (1998, p. 15-16, tradução nossa): 
 
A virtualização não é uma desrealização (a transformação de uma realidade 
em um conjunto de possibilidades), mas uma mutação da identidade, do centro de 
gravidade ontológico do objeto considerado: no lugar de se definir principalmente 
por sua atualidade (uma “solução”), a entidade encontra sua consistência essencial 
em um campo problemático. Virtualizar uma entidade qualquer consiste em 
descobrir a questão essencial à qual ela corresponde, a fazer mudar a entidade na 
direção dessa interrogação, e a redefinir a atualidade de partida como resposta a uma 
questão particular [...]. 
A atualização vai de um problema a uma solução. A virtualização passa de 
uma dada solução a outro problema. Ela transforma a atualidade inicial em caso 
particular de uma problemática mais geral, sobre a qual é colocado um acento 
ontológico. Assim fazendo, a virtualização fluidifica as distinções instituídas, 
aumenta os graus de liberdade, cria um motor vazio. Se a virtualização não fosse 
mais que a passagem de uma realidade a um conjunto de possibilidades, ela seria 
desrealizante. 
 
Nas comunidades virtuais, a partir de um conjunto de infraestrutura e interfaces, 
desenvolvidos e apoiados em tecnologias computacionais, pessoas iniciam e desenvolvem 
interações cujos resultados não são previsíveis. O que se discute em uma comunidade, os 
tópicos criados, o tipo e o tom das respostas dependem dos usuários, seus interesses e sua 
identidade. 
Não se sabe o que uma comunidade se tornará alguns meses depois da sua criação. As 
comunidades virtuais não são, tampouco, um retrocesso ou uma desrealização das 
comunidades físicas; geralmente os temas que se colocam em discussão nas comunidades são 
aqueles sobre os quais os usuários querem aprender, ou fatos novos sobre os quais querem 
ouvir outras perspectivas. Não existe uma transferência total das relações físicas para essas 
17 
 
 
comunidades, principalmente porque o tipo de relação que se estabelece nelas é diferente, 
geralmente de muitos para muitos em um universo de comunicação assíncrona. 
Usando o conceito de virtualização de Lévy, pode-se pensar ainda nas comunidades 
virtuais como um retorno às bases conceituais de comunidades, fundadas pela necessidade de 
indivíduos interagirem e pela posse e valorização de uma identidade coletiva, dando-se uma 
nova perspectiva à forma de comunicação, à necessidade de se respeitarem fronteiras 
geográficas e a proximidade física. Seguindo esse raciocínio, as comunidades virtuais são a 
virtualização de comunidades físicas, e não a sua desrealização. 
 
 
3.3 Determinismo Tecnológico e Racionalização Subversiva 
 
 
Os sites de rede social são um reflexo do feedback e da interação dos seus usuários 
interconectados; eles são uma amostra da sociedade em rede, em que se podem observar 
alguns dos fluxos dela. Esses sites são, virtualmente, ambientes para comunidades e 
relacionamentos, mas a atualização disso, ou seja, a transformação desses sites como meios de 
comunicação em espaços de colaboração e relacionamento interpessoal, depende dos 
usuários. 
Pierre Lévy (1998, p. 15) afirmou que a interação de usuários com um software é um 
processo de atualização, ou seja, de criação. Em parte, essa criação pode acontecer na própria 
estrutura lógica do software. Nos sites de rede social, por exemplo, as informações e os 
avatares que se veem dependem das conexões e ações de cada usuário no site. O usuário 
interage, portanto, com pessoas e informações que dependem dele e de suas conexões com 
outros usuários. São os próprios participantes (nós) da rede que decidem a quem querem se 
conectar e quais conteúdos querem compartilhar; tais ações são executadas, mas não 
decididas, pelo software. 
Essa visão, de que a tecnologia pode ser adaptada pela sociedade, encontra oposição. 
Há, por exemplo, a corrente de pensamento do determinismo tecnológico. Ela surgiu no 
mundo acadêmico no século XX, e baseia-se na aceitação de que as tecnologias têm uma 
lógica funcional autônoma que pode ser explicada sem referência à sociedade, mas que é 
determinante para a evolução social. Na visão dos deterministas, como descreve Andrew 
18 
 
 
Feenberg (1995b, p. 5), o destino da sociedade seria ao menos parcialmente dependente da 
tecnologia, um fator não social que influencia a sociedade sem ser influenciado por ela. 
Mencionar o determinismo tecnológico nesse momento é relevante para analisar a 
possibilidade de as ações de cidadãos que se desenvolvem on-line serem de fato fenômenos 
sociais, ou ainda simples casos de utilização da tecnologia. 
Para Thorstein Veblen, pioneiro estudioso do determinismo tecnológico, a tecnologia 
moldou a sociedade; ele aponta a máquina como o que diferenciou a sociedade moderna do 
antigo regime (VEBLEN, 2005, p. 144). Para Veblen, pode-se dizer que a sociedade responde 
à máquina (ou tecnologia), e não o contrário. Transportando essa ideia para o contexto dessa 
pesquisa, pode-se pensar que o desenvolvimento de um movimento que se inicia na Web está 
limitado pela própria tecnologia, e até mesmo que o movimento se inicia só porque há 
tecnologia disponível. 
Para analisar-se a capacidade de resposta dos sites de rede social às necessidades dos 
usuários, pode-se considerar um de seus aspectos – o volume de armazenamento de dados. Se 
um movimento se desenvolvesse com mensagens registradas em um banco de dados, por 
exemplo, com um limite de armazenamento inalterável, que possibilitasse a inclusão de 1000 
mensagens, esse movimento poderia se extinguir no momento em que os usuários fizessem 
sua milésima postagem. Se os sites de rede social fossem assim, poderia se pensar neles, ao 
menos sob essa perspectiva, como um tipo de tecnologia incapaz de responder às 
necessidades dos usuários. 
Sabe-se, no entanto, que não é esse o funcionamento de tais sites. Toda a informação 
armazenada neles é mantida em data centers
22
 capazes de guardar uma quantidade de dados 
de magnitude muito superior à capacidade humana de produzi-los. Além disso, há 
redundâncias que impedem que os dados sejam completamente perdidos, mesmo que haja 
uma catástrofe que destrua um dos data centers. Os dados são alocados de forma inteligente – 
não é necessário manter um espaço fixo para cada usuário, já que a alocação pode ser 
dinâmica, ou seja, atribui-se mais espaço a um usuário à medida que ele produza novas 
informações. 
Da mesma forma que alguns autores dizem que o determinismo tecnológico é uma 
teoria reducionista, como Strobel e Tillberg-Webb (2009, p. 79), seria também um 
 
22
 Data centers (ou centros de dados) são centrais de servidores (server farms) conectados entre si por redes 
locais e a computadores externos por VPNs (virtual private networks), WANs (wide area networks) privadas ou 
pela Internet. Para que o conjunto funcione, também são necessárias aplicações de software e protocolos de rede 
específicos (ARREGOCES e PORTOLANI, 2004, p. 7-8). 
19 
 
 
reducionismo aqui limitar a oposição a essa teoria com o único argumento, segundo o qual os 
sites de rede social armazenam tanta informação quanto os usuários quiserem, logo 
respondem às necessidades dos usuários. Há, no entanto, pesquisas que se contrapõem aodeterminismo tecnológico, como, por exemplo, a de Andrew Feenberg
23
. O trabalho desse 
autor é relevante porque foi produzido nas últimas duas décadas, portanto durante o 
desenvolvimento das redes sociais na Web, e porque sua produção se enquadra no campo da 
Filosofia da Tecnologia, e assim tem mais mecanismos formais para se contrapor ao 
determinismo. 
Feenberg não considera que a sociedade seja aprisionada pela tecnologia, mas sim que 
a tecnologia influencia e é influenciada pela sociedade. Nesse ponto, o autor faz uma crítica 
ao determinismo tecnológico, que se reflete em seu artigo “Racionalização Subversiva” 
(FEENBERG, 1995b). Esse título, conforme explica o autor, implica uma provocativa 
oposição às conclusões de Max Weber, que apontam efeitos nocivos da democracia industrial 
na sua teoria de racionalização. Weber definiu a racionalização como um crescente papel da 
automação no controle na vida social, uma tendência levando ao que se chamou “gaiola de 
ferro” da burocracia (WEBER, 2003, p. 181). “Racionalização subversiva” seria, então, um 
paradoxo (FEENBERG, 1995b, p. 4). 
Na visão de Feenberg, a tecnologia, como objeto social, pode ser sujeita à 
interpretação como qualquer outro artefato cultural, mas é geralmente excluída de estudos 
humanistas. No entanto, ela merece mais atenção nesse campo de estudo. 
Nos pilares deterministas, assegura-se que a essência da tecnologia está na função 
tecnicamente explicável, ao invés de ter um significado hermeneuticamente definido. Nesses 
mesmos pilares, métodos humanísticos podem iluminar apenas aspectos extrínsecos da 
tecnologia, como a embalagem e a publicidade, ou reações populares a inovações 
controversas, como energia nuclear e barrigas de aluguel. Portanto, o determinismo 
tecnológico minimiza as conexões entre a tecnologia e a sociedade e considera que a 
tecnologia é autogenerativa (FEENBERG, 1995b, p. 8-9). 
Ao interpretar a tecnologia, Feenberg considera que os objetos tecnológicos têm duas 
dimensões hermenêuticas: o sentido social, que é o desenvolvimento da tecnologia controlado 
em primeira instância pelo debate de interpretações, e o horizonte cultural, que representa o 
 
23
 Prof. Dr. Andrew Feenberg é membro do comitê de pesquisa em Filosofia da Tecnologia na escola de 
comunicação da Simon Fraser University. Em 1982, liderou o Text Weaver Project, uma das primeiras 
plataformas de educação on-line (SFU, 2011). 
20 
 
 
desenvolvimento tecnológico limitado pelas normas culturais originadas na economia, 
ideologia, religião e tradição (FEENBERG, 1995b, p. 9). 
Existe compatibilidade entre a análise interpretativa da tecnologia proposta por 
Feenberg e o tema aqui tratado, tendo em vista, conforme uma observação anterior, a 
conjunção entre a sociedade em rede e a tecnologia, bem como o exemplo dos sites de rede 
social, em que a tecnologia viabiliza fluxos, mas também é moldada pela vontade social, ou 
seja, ganha sentido social e cultural à medida que os usuários se conectam e se comunicam. 
 
 
3.4 Informação na Rede 
 
 
Em alguns aspectos analisados neste trabalho, como o esgotamento da ideia de 
hierarquia à medida que a sociedade se estrutura em redes (FARIA, 2010, p. 3), ou a 
capacidade de figuras marginais atingirem toda a rede a que pertencem (GRANOVETTER, 
1973, p. 1367), alterou-se a forma de divulgação de informação na sociedade em rede, que 
passou de um modelo unidirecional (top-down) a outro bidirecional ou multidirecional. 
Os sites de rede social são um contraponto ao modelo de difusão de informações 
centralizador da mídia de massa tradicional, cujo eixo são a televisão, o rádio e os jornais, 
pois, nesses sites, a escolha dos temas discutidos depende dos usuários. Neste capítulo, trata-
se da evolução do sistema de mídia tradicional para o modelo bottom-up
24
 possibilitado por 
novas tecnologias. 
Castells (2000a) analisa o crescimento da cultura da mídia de massa, movido pela 
difusão da televisão nas três décadas que sucederam a Segunda Guerra Mundial. Nesse 
período, as mídias existentes (principalmente rádio, jornais impressos e cinema) 
reestruturaram-se em um sistema cujo coração era a TV. 
O sistema dominado pela TV poderia ser facilmente caracterizado como mídia de 
massa (CASTELLS, 2000a, p. 358-9). Nesse sistema, poucos emissores de informação 
centralizadores são capazes de atingir milhões de espectadores com a mesma mensagem e 
 
24
 Bottom-up, oposto de top-down. Literalmente “abaixo-acima”, ou, contextualmente “de baixo para cima”. Um 
caso de comunicação bottom-up aqui descrito é o fluxo de informação de figuras marginais para figuras centrais 
de uma rede social. 
21 
 
 
conseguem, assim, dominar a cultura popular. De acordo com Castells (2000a, p. 365, 
tradução nossa): 
 
Esse sistema, em que imagens atrozes de guerras reais podem ser absorvidas 
quase como parte de filmes de ação, tem um impacto fundamental: o nivelamento de 
todo conteúdo no conjunto de imagens recebidas por cada pessoa. É um sistema de 
feedback entre espelhos distorcidos: a mídia é a expressão da cultura popular, e essa 
cultura forma-se principalmente com material fornecido pela mídia. 
 
Durante a década de 1980, novas tecnologias transformaram o mundo da mídia; os 
jornais passaram a ser escritos, editados e impressos por subsidiárias, permitindo que edições 
simultâneas do mesmo jornal fossem produzidas para diversas áreas; equipamentos como o 
walkman criaram ambientes de áudio portáteis com músicas que podiam ser selecionadas 
pessoalmente; o rádio tornou-se crescentemente especializado, com estações temáticas e 
subtemáticas; equipamentos de videocassete popularizaram-se em todo o mundo, e tornaram-
se, em muitos países em desenvolvimento, uma alternativa ao broadcast
25
 oficial. 
O desenvolvimento da tecnologia da TV a cabo, promovida nos anos 1990 pela fibra 
ótica e a digitalização, e o broadcast direto por satélite aumentaram o espectro de transmissão, 
e colocaram pressão nas autoridades para desregulamentação das comunicações em geral e da 
televisão em particular (CASTELLS, 2000a, p. 365-367). Castells remete-se a McLuhan ao 
escrever que nesse novo sistema, com a diversificação da mídia e a possibilidade de atingir a 
audiência precisamente, o meio é a mensagem (CASTELLS, 2000a, p. 368). 
Os canais de TV passaram a transmitir programas diferentes para cada região, mais 
adequados às realidades locais. Surgiu também a CNN, em 1980, que produzia conteúdo 
noticioso em vídeo e o compartilhava em sua totalidade com subsidiárias. Esse evento alterou 
o modo como a informação flui na mídia (JOHNSON, 2003, p. 107). Ainda não se tratava de 
uma rede, já que a informação vinha da cadeia principal de TV e era adaptada pelas 
subsidiárias, sem feedback ou interação dos usuários, mas a CNN deu um passo importante 
para aproximar do usuário o controle da mídia. 
 
25
 Usa-se aqui o termo inglês broadcast (literalmente, difusão), que se refere à emissão e transmissão regular por 
meio de rádio ou televisão de programas noticiosos, recreativos, educativos, mensagens publicitárias, oficiais, 
etc. (AULETE e VALENTE, 2006). 
22 
 
 
Esse processo continuou a passos largos. Em seguida, com o surgimento dos pontos de 
encontro on-line, na década de 80 do século XX, notadamente a WELL
26
, em 1985, com suas 
comunidades autorreguladas (RHEINGOLD, 2000, p. XV), depois comunidades de notícias e 
discussão temáticas, como o Slashdot.org, criado por Rod Malda (JOHNSON, 2003, p. 113), e 
finalmente a ascensão dos sites de rede social, que se consolidaram como centros de atração 
de usuários da Web, sendo o Facebook, atualmente, o segundo site mais visitado nos Estados 
Unidos (ALEXA, 2011b). Essa não foi apenas a ascensão de um modelo de site, mas de umaforma de fluxo de informação, em que o usuário pode optar por aquilo que quer ver, e com o 
que pode interagir. 
 
 
3.5 Dromocracia Cibercultural 
 
 
A velocidade do fluxo de informações na sociedade em rede, a relativização de 
fronteiras nacionais e o surgimento de fronteiras eletrônicas globais compuseram a análise de 
Eugênio Trivinho (2007) sobre um novo contexto social: a dromocracia
27
 cibercultural. Nesse 
contexto, a cibercultura aparece como categoria de época, substituta do conceito de sociedade, 
reino do interativo e do virtual. 
“A dromocracia cibercultural surge como o processo civilizatório fundado e articulado 
pelo usufruto da tecnologia digital em todos os setores da experiência humana” (TRIVINHO, 
2007, p. 23), e esse usufruto, resultado do “acoplamento corporal e simbólico-imaginário 
entre o ser humano e a máquina”(TRIVINHO, 2007, p. 248), quebra a barreira do local, pois 
em posse de seu computador, e ligado a sua rede, o usuário torna-se membro de um espaço 
único. Local é a conexão, e globais os vínculos da Internet, sendo que a civilização midiática 
atual é glocal
28
, ou glocalizada, participante de “um universo macrossocial de circulação em 
 
26
 Whole Earth “Lectronic” Link, ou Ligação Eletrônica de Toda a Terra, detalhada na seção 5.1. 
27
 Dromocracia é um termo cunhado pelo arquiteto Paul Virilio, que representa a supremacia da velocidade na 
formação da estrutura social contemporânea e na comunicação. Do grego dromos (corrida) e kratía (força, poder) 
(VIRILIO, 1977, p. V; VIRILIO, 1996, p. 122). 
28
 De acordo com Roland Robertson (1995, p. 28), o conceito de glocalização refere-se à simultaneidade e 
interpenetração do local e global, ou do particular e universal. O autor descreve que o conceito de glocalização 
pode substituir, em algumas circunstâncias, o de globalização, com a vantagem de enfatizar a problemática do 
espaço, à medida que pessoas e nações do mundo interconectam-se. Para Eugênio Trivinho (2007), o glocal 
surgiu com a tecnologia de telefonia, que permitiu a troca simultânea de informações por pessoas espacialmente 
separadas. 
23 
 
 
excesso de sentidos fragmentários como paisagens tecnoculturalmente monopolistas, 
fragmentadas pelos e alicerçadas em mercados regionais, nacionais e internacionais, e nas 
quais se joga e se enreda, de maneira original e insólita, a vida social” (TRIVINHO, 2007, p. 
287). 
A cibercultura glocalizada, sem fronteiras, veloz e excessiva, é um efeito da Web para 
a sociedade, e pode ser intensificada com algumas ações sociais on-line, de que podem 
participar simultaneamente agentes espalhados pelo globo. Tais ações podem contribuir com 
mudanças locais ou globais. 
Um caso de ação social com participação global foi o SuperPower Nation29 , um 
projeto organizado pela BBC
30
, em que internautas puderam discutir problemas que afetavam 
seus países ou questões econômicas, sociais e políticas globais. Por um curto período, esses 
internautas formaram uma rede de discussão intensiva. A comunicação podia acontecer em 
vários idiomas, já que os usuários tinham as mensagens do chat traduzidas para a sua própria 
língua em tempo real. Os resultados do projeto ficaram registrados no site da BBC. 
 
 
29
O site do projeto SuperPower está disponível em <http://www.bbc.co.uk/worldservice/ 
specialreports/superpower.shtml>. Acesso em: 10 set. 2010. 
30
 BBC (British Broadcasting Corporation) é a maior organização de broadcasting no mundo, financiada por 
uma taxa paga pelos cidadãos ingleses (BBC, 2011). 
24 
 
 
4 REDES SOCIAIS: RIZOMA, ESPAÇO E IDENTIDADE 
 
 
Neste capítulo, serão tratadas duas características das redes sociais on-line. A primeira 
é a forma, que se refere à maneira de associação dos nós da rede social, onde eles estão no 
espaço físico, como a rede se expande e como uma rede social pode ser comparada a um 
rizoma. Em seguida, trata-se da identidade dos usuários, os próprios nós da rede, o que eles 
são ou representam. 
Ressalta-se que uma rede deve ser entendida como uma lógica de conexões, e não de 
superfícies (KASTRUP, 2004), logo a forma de uma rede pode mudar sem que se altere a 
capacidade de seus nós de difundir informações. No entanto, no caso das redes sociais on-line, 
a distribuição global é significante, pois possibilita a existência de fluxos globais e novas 
formas de interação locais e interlocais. Assim, quanto maior a superfície atendida por uma 
rede social virtual, tende a ser maior a variedade cultural e o número de fluxos presentes nessa 
rede. 
Neste trabalho, o uso do conceito de rizoma associado às redes sociais tem duas 
finalidades. A primeira delas é ressaltar que essas redes, por seu caráter topológico, 
aproximam-se do rizoma (COSTA, 2010, p. 104), e podem penetrar as fissuras do discurso do 
capital e promover infiltrações desconstrutoras, assim como afirma Verônica Bernardi (2001) 
sobre a literatura, a arte e a psicanálise. 
A segunda finalidade é ressaltar a diferença entre o modelo de comunicação nas redes 
sociais on-line e o que caracteriza a televisão, o rádio e a mídia impressa. Esse último modelo 
é arbóreo, pois, a partir de um eixo principal (a emissora de TV, ou rádio, ou a redação do 
jornal), a informação ramifica-se até chegar aos espectadores ou leitores, que não são 
interconectados. 
Quando se analisam redes sociais virtuais, é significativo verificar a distribuição 
espacial dos nós. Distribuídos no espaço físico, mas unificados no meio digital, os usuários de 
redes sociais virtuais ganham novas capacidades. 
Uma dessas capacidades é a de alterar o espaço de vivência. Os usuários das redes 
sociais virtuais podem conviver com pessoas de outros países. Quando interagem com o seu 
25 
 
 
espaço físico, esses usuários podem gerar dados para pessoas de qualquer lugar do mundo que 
façam parte de seu círculo de amizade, como acontece com os usuários do Foursquare
31
. 
Assim, as redes sociais virtuais podem integrar, ou mesmo ser, o que Castells (2000a, 
p. 442) define como espaços de fluxos. O conceito de Castells, em associação com as redes 
sociais on-line, será descrito na seção 4.2 deste capítulo. 
 
 
4.1 Redes Sociais como Rizoma 
 
 
Os sites de rede social permitem que seus usuários troquem informações, definam os 
assuntos que serão discutidos e sobre os quais dados serão compartilhados. Como são os 
usuários que optam por dar sequência ao fluxo de divulgação de informações, por meio das 
funcionalidades de retweet, tags e like
32
, ou usando outras formas de divulgação nos sites de 
rede social, alguns assuntos ganham notoriedade e outros ficam restritos a pequenos grupos; 
entretanto, em redes densas, um único usuário geralmente não é suficiente para bloquear-se 
um fluxo de informação. 
Em uma rede social não se pode saber de antemão o que atingirá muitos ou poucos nós 
da rede, e as únicas maneiras de impedir que um fluxo iniciado em uma sub-rede atinja outras 
são (1) que elas não estejam conectadas, ou (2) que estejam conectadas por pontes (bridges) 
em que um dos nós decida interromper o fluxo. Nesse aspecto, a divulgação pelos sites de 
rede social é diferente do modelo de broadcast, em que divulgar significa atingir a maior parte 
dos espectadores, e não divulgar para todos é geralmente uma escolha feita por poucos. 
Deleuze e Guattari (2000, p. 15-22) analisam a árvore e o rizoma, que podem ser 
conceitualmente associados, respectivamente, ao modelo de comunicação broadcast e das 
redes sociais. Esses autores detalham a descrição do rizoma em cinco princípios: da conexão, 
 
31
 Rede social em que usuários registram sua presença em lugares de uma cidade, como bares e restaurantes 
cadastrados, para divulgá-la a seus amigos e, assim, promoverem-se encontros (FOURSQUARE,2011). 
32
 Retweet é a funcionalidade do site Twitter para enviar-se, ou redistribuir-se, a todos os contatos de um usuário 
algo que foi comentado por um de seus contatos; a inclusão de tags (em português etiquetas) é uma função do 
site YouTube para que usuários classifiquem vídeos, que se tornam mais facilmente encontráveis em buscas; a 
função Like do site Facebook é similar ao retweet, ou seja, equivale a mandar uma mensagem para todos os 
contatos de um usuário, com a diferença de que, no Facebook, isso pode ser feito para mensagens de outros e 
também para divulgar notícias, aplicativos (apps), imagens, vídeos, etc. Na versão em português do Facebook, a 
funcionalidade like chama-se curtir. 
26 
 
 
da heterogeneidade, da multiplicidade, da ruptura a-significante, da cartografia e 
decalcomania: 
 
Por princípio da conexão entende-se que qualquer ponto de um rizoma pode 
ser conectado a qualquer outra coisa, e deve ser, o que os diferencia da árvore ou 
raiz, que fixa uma ordem [...]. 
Pelo princípio da heterogeneidade, um rizoma indefinidamente estabelece 
conexões entre cadeias semióticas, organizações de poder, e circunstâncias relativas 
às artes, ciências e lutas sociais [...]. 
Uma multiplicidade não tem nem sujeito nem objeto, mas somente 
determinações, grandezas, dimensões que não podem crescer sem que mudem de 
natureza. Multiplicidades são rizomáticas, e expõem pseudomultiplicidades 
arborescentes. Todas as multiplicidades são planas, uma vez que elas preenchem, 
ocupam todas as suas dimensões: falar-se-á, então, de um plano de consistência das 
multiplicidades, de dimensões crescentes segundo o número de conexões que se 
estabelece nele. As multiplicidades planas a n-dimensões são a-significantes e a-
subjetivas [...]. 
Pelo princípio da ruptura a-significante, um rizoma pode ser rompido, 
quebrado em um lugar qualquer, e ainda retomar o seu desenvolvimento segundo 
uma ou outra de suas linhas ou segundo outras linhas. Todo rizoma compreende 
linhas de segmentaridade segundo as quais ele é estratificado, territorializado, 
organizado, significado, atribuído, etc., mas corresponde também a linhas de 
desterritorialização pelas quais ele foge sem parar. Há ruptura no rizoma cada vez 
que linhas segmentares explodem numa linha de fuga, mas a linha de fuga faz parte 
do rizoma. Faz-se a ruptura, traça-se a linha de fuga, mas corre-se sempre o risco de 
reencontrar nela organizações que reestratificam o conjunto, formações que dão 
novamente o poder a um significante, atribuições que reconstituem um sujeito. Os 
grupos e os indivíduos contêm microfascismos sempre à espera de cristalização [...]. 
 
Com relação ao princípio da ruptura a-significante, Carlos Zibel Costa (2010, p. 105) 
analisa, em associação com a interpretação de Virgínia Kastrup (2004), que o rizoma se 
diferencia da estrutura por ser composto de linhas que figuram o movimento, o tempo 
inventivo. Em contraste, as estruturas são definidas em um conjunto de pontos e posições. 
 
Pelo quinto e sexto princípios, da cartografia e decalcomania, um rizoma não 
pode ser justificado por nenhum modelo estrutural ou gerativo. Ele é estranho a 
qualquer ideia de eixo genético ou de estrutura profunda. Um eixo genético é como 
27 
 
 
uma unidade pivotante objetiva sobre a qual se organizam estados sucessivos; uma 
estrutura profunda é, antes, como que uma sequência de base decomponível em 
constituintes imediatos, enquanto que a unidade do produto se apresenta numa outra 
dimensão, transformacional e subjetiva. Não se sai, assim, do modelo representativo 
da árvore ou da raiz pivotante ou fasciculada, já que o eixo genético ou a estrutura 
pivotante são como modelos de decalque [...]. 
O rizoma é como mapa, e não decalque. O mapa é aberto, e conectável em 
todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível a receber modificações 
constantemente. Ele pode ser rasgado, revertido, adaptar-se a montagens de qualquer 
natureza, ser preparado por um indivíduo, um grupo, uma formação social. Pode-se 
desenhá-lo numa parede, concebê-lo como obra de arte, construí-lo como ação 
política ou como uma meditação. Uma das características mais importantes do 
rizoma talvez seja a de ter sempre múltiplas entradas. 
 
Como os rizomas, as redes sociais são heterogêneas em suas conexões, que podem ser 
interpessoais, de pessoas a objetos (vídeos, instituições), e nelas a conexão entre nós é 
determinante para que a rede se desenvolva. A rede é múltipla, não subjetiva, pois não 
representa um único tema, sujeito ou assunto; todo o seu desenvolvimento, que não segue um 
padrão de decalque, é resultado da complexidade das conexões voluntárias de cada usuário. 
Além disso, ainda que os nós sejam iguais como entidades da rede, e as 
funcionalidades da rede social sejam as mesmas para todos os nós, não há decalcomania, já 
que as finalidades que se pode dar à rede são imprevisíveis. Essa característica também faz 
com que nenhum nó possa controlar a rede sozinho. 
 
 
4.2 Espaço de Fluxos 
 
 
As redes sociais on-line permitem que usuários localizados em espaços separados 
interajam simultaneamente – comuniquem-se, vejam-se. Uma pessoa pode mudar para outro 
país e manter todas as suas amizades on-line. As redes sociais fazem parte do espaço de 
vivência desses usuários. Castells captura essa ideia no conceito de espaço de fluxos. 
Nesta seção, visa-se a estudar a disposição das redes sociais on-line no espaço físico, 
como integrantes e constituintes de espaços de fluxos. Esse estudo é complementar à análise 
das redes sociais online on-line como grafos, e não exclui seus princípios e constatações. 
28 
 
 
Pela definição de Castells (2000a, p. 442), espaço de fluxos é a organização material 
de práticas sociais de tempo compartilhado que funcionam em fluxos. É uma nova forma de 
organização espacial, possibilitada pelas tecnologias da informação, em que processos 
síncronos podem se desenvolver em diversos espaços físicos, conectados eletronicamente. 
Partindo-se da definição de Castells, serão analisados a seguir os sites de rede social como 
parte dos espaços de fluxos. 
Na descrição do autor, espaço não é um reflexo da sociedade, é uma expressão dela. 
Formas e processos espaciais são criados pela dinâmica global de toda a sociedade. Isso inclui 
tendências contraditórias derivadas de conflitos e estratégias entre atores sociais 
demonstrando interesses e valores opostos. Além disso, processos sociais influenciam a 
construção de ambientes herdados de estruturas sócio-espaciais prévias. Para Castells (2000a, 
p. 442), espaço é tempo cristalizado. 
Com os sites de rede social, o espaço de vivência social e relacionamento pode se 
expandir a diversas regiões físicas do mundo. A escolha de amigos não depende 
necessariamente de eles estarem fisicamente próximos, mas sim da presença dessas pessoas 
na rede social virtual. 
Sobre a relação entre o espaço e a sociedade, é explicitado por Castells (2000a, p. 440, 
tradução nossa) que: 
 
[...] do ponto de vista da teoria social, espaço é o suporte material de práticas 
sociais de tempo compartilhado. Imediatamente adiciono que qualquer suporte 
material tem um significado simbólico. Por práticas sociais de tempo compartilhado, 
refiro-me ao fato de que o espaço une essas práticas que são simultâneas no tempo. 
É a articulação material dessa simultaneidade que dá sentido ao espaço vis à vis a 
sociedade 
 
É nesse aspecto que o espaço virtual também ganha sentido social. Nele, pessoas 
encontram-se, dialogam e manifestam-se, e suas ações se articulam, geralmente, em uma 
mesma página Web. Os sites de rede social compõem os espaços de fluxos de seus usuários e, 
como tal, pela definição de Castells, têm sentido social. 
Os fluxos são a expressão dos processos que dominam nossa vida econômica, política 
e simbólica (CASTELLS, 2000a, p. 442), que dependem de um suporte

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