Um James Bond negro e uma Bond-girl cinquentona?

por RTP
Idris Elba, com Graça e Jozina Machel (à dir.) Siphiwe Sibeko, Reuters

O mais famoso espião de Sua Majestade já não é o que era. Depois de Monica Belucci, a mais veterana Bond-girl de sempre, veio a notícia de Idris Elba, um actor negro que supostamente substituiria Daniel Craig no protagonista. Para já, era só boato. Mas os tempos estão a mudar.

A notícia sobre Monica Belluci foi de finais de Fevereiro e surgiu em primeira mão no Sunday Times: a actriz teria sido abordada pelo realizador Sam Mendes para contracenar com Daniel Craig.Bond e gerontocracia na espionagem
A sua primeira reacção teria sido incrédula, pensando que a queriam para substituir Judi Dench, uma octogenária que até há pouco representava a chefe do MI6.

Depois de lhe ser explicado que a queriam para um papel de "Bond-girl", Bellucci exclamou: "Eu não sou uma miúda, sou uma mulher, sou uma mulher madura. Tenho 50 anos. O que é que vou fazer num filme de Bond?"

Mendes convenceu-a, finalmente, com o argumento de que, "pela primeira vez na História, James Bond vai envolver-se com uma mulher madura. O conceito é revolucionário".

Foi convincente, mas não inteiramente verdadeiro: não era "a primeira vez na História", porque em "007 contra Goldfinger" Honor Blackman já tinha, aos 39 anos, contracenado com um Sean Connery mais jovem do que ela. E Diana Rigg fez o mesmo em "No serviço secreto de Sua Majestade" com George Lazenby.

Claro para repetir a façanha de ambas face a um Daniel Craig com 46 anos, Bellucci precisava mesmo de ser uma cinquentona. O deslizamento etário dos heróis e heroínas acompanha o envelhecimento da sociedade. De actores e actrizes espera-se que suscitem reflexos de identificação entre o público.
Etnocentrismo na personagem de Bond
Para além da idade, há agora uma discussão sobre o etnocentrismo de James Bond. Correu, nomeadamente, o boato de que o realizador, Mendes, estaria a ponderar substituir Craig, numa aposentação deste que se prevê para breve, pelo conceituado actor negro Idris Elba.

O boato logo deu aso a uma acesa controvérsia: vários actores de versões fílmicas anteriores sobre a personagem de Ian Fleming manifestaram-se com veemência contra a ideia. Roger Moore, nomeadamente, considerou-a interessante mas irrealista, porque o protagonista da série deve continuar a ser "inglês-inglês".

Na discussão interveio também Yaphet Kotto, o primeiro actor negro a assumir um papel importante num filme de James Bond, o "Viver e deixar morrer", de 1973. Segundo Kotto, "James Bond não pode ser negro. Ao diabo a correcção política, temos de manter-nos literalmente fiéis ao que é correcto". Isto porque, explicou, "este papéis não foram escritos para negros".

Kotto lembrou que Ian Fleming criou uma personagem branca e que um espião negro pode "ser um 003 ou 006, mas não um 007". E deu o exemplo: "Se eu disser que quero fazer o papel de JFK [o presidente Kennedy], mereço que se riam de mim".

No entanto, toda a discussão parece girar em torno de um mal-entendido. Em declarações ao diário Hollywood Reporter, Idris Elba afirmou que, "honestamente, esse é um boato que começa a desmontar-se a si próprio. Se alguma vez houve alguma hipótese de eu ficar com o papel de Bond, ela desapareceu".

Elba desmentiu que tivesse sido contactado pelos produtores da série e explicou: "Na verdade, foi Daniel Craig quem pôs o boato em circulação. Há cercade quatro anos, ele disse que Idris Elba seria um excelente e [o boato] começou a insinuar-se. Eu atribuo as culpas a Daniel.".
pub