O filme conta a história de Victor, uma criança selvagem encontrada na floresta em 1798 e levada a Paris para ser estudada. Inicialmente, Victor comportava-se como um animal, mas o Dr. Itard tentou ensiná-lo a comportar-se como um ser humano. Apesar dos esforços, Victor nunca se adaptou totalmente à sociedade. O filme levanta questões sobre até que ponto se deve "civilizar" crianças selvagens e privar a liberdade natural.
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O Menino Selvagem de Truffaut
1. Opinião: O Menino Selvagem | François Truffaut
Título original: L' Enfant
Sauvage
Realização:François Truffaut
Atores: François Truffaut, Jean-Pierre Cargol
Género: Drama
Classificação: M/12
Outros dados: FRA, 1969, Preto e Branco, 90 min.
Sinopse: Num dia de Verão do ano de 1798, numa
floresta francesa, foi encontrada por caçadores uma
criança selvagem (designação usualmente atribuída a
uma criança que se desenvolveu longe das relações
sociais e dos modelos humanos). Levada para Paris,
foi observada pelo mais célebre
psiquiatra da época, Pinel, que a considerou como um idiota irrecuperável e pelo jovem
médico Itard que, ao contrário, considerou ser possível recuperar o atraso provocado, não por
inferioridade congénita mas pelo seu isolamento total. Para provar a veracidade das suas
razões, Itard pediu a tutela desta criança. Assim, na sua casa em Batignoles, com a ajuda da
governanta, Madame Guérin, iniciou a difícil tarefa de desenvolver as faculdades dos
sentidos, intelectuais e afetivas de Victor, nome pelo qual se passou a chamar esta criança.
Opinião: O filme relata todos os processos que esta criança sofreu desde o dia em que foi
levada à força da floresta, até ao momento em que a rejeitou por vontade própria.
Inicialmente, Victor apresentava uma postura muito semelhante à dos animais. Tal como
eles, não falava, só se movia com os quatro membros apoiados no chão, a sua alimentação
era à base de bolotas, raízes e frutos e repelia o contacto com os humanos. Note-se que era
uma criança insensível a variações térmicas extremas (calor e frio), que não reagia a sons
mais fortes e estridentes, e que era incapaz de se auto-reconhecer quando via a sua imagem
refletida num espelho. Durante a fase inicial do processo de integração no meio humano, o
menino evidenciava agitação e revolta, o que dificultava o trabalho do Dr. Itard. Victor
2. refugiava-se no meio selvagem; recusava-se a tomar banho; não conseguia caminhar
calçado e não se habituava a comer de talheres.
Todavia, dia após dia, com o treino intensivo organizado por Itard, Victor começou a
superar estas dificuldades.
O professor mostrou-lhe como andar de forma ereta, como caminhar ao seu lado quando
passeavam, ao passo que a senhora Guérin o ensinou a comer de faca e garfo, a vestir-se, a
cumprimentar as pessoas. Incutiram no menino hábitos de higiene, de alimentação, de
sentido do horário. Tendo Victor interiorizado todas estas normas de como estar e ser
perante as outras pessoas, este estaria apto a conviver com a sociedade, em geral, como
qualquer outro jovem da sua idade. No entanto, esta autonomia nunca se verificou ao longo
de toda a vida de Victor. É interessante reparar na forma como estes ensinamentos
modificaram a criança, facto que se verifica aquando da sua última fuga. Ao aperceber-se
de que já não consegue sobreviver por si próprio, Victor vê-se obrigado a voltar para os
cuidados da senhora Guérin.
Para finalizar, algo que me marcou particularmente neste filme foi o facto de Victor,
apesar de mostrar alguns sentimentos de homem civilizado, não deixar de se mostrar
sensível aos sentimentos relacionados com a sua vida primitiva,
como a paixão pela vida em liberdade no campo, o êxtase ao ver a lua cheia ou a reação ao
som de um vendaval. Quando chovia, em vez de se abrigar como qualquer outra
criança, ficava alegre, corria e saltava ao som da chuva. Por várias vezes, ao longo do
filme, o médico interroga-se sobre se arrancar a criança do meio em que vivia terá sido
uma opção razoável, pois em certo sentido privou-a da alegria que uma existência simples,
ao nível da animalidade, lhe proporcionava. A violência da educação fica bem patente em
todo este filme, pois a criança nem se tornou definitivamente num ser humano, nem seria
capaz de voltar a sobreviver no ambiente natural. Este dilema atravessa todas as tentativas
de resgatar a humanidade nestas crianças e leva-nos a questionar até que ponto é que,
encontrados tarde demais, teremos o direito a interferir nas suas vidas.
Beatriz Cordeiro, 12º E