Em busca da cabeça do bacalhau

Seguindo orientações do mapa do tesouro fornecido pelo empresário Pedro Correia de Oliveira – da importadora Porto a Porto –, o ponto mais indicado para achar uma cabeça de bacalhau seria na região de Aveiro, numa localidade chamada Gafanha da Nazaré. Na região central de Portugal, mais conhecida como Beiras (estendendo-se da fronteira da Espanha até o mar), o litoral da cidade do Porto (ao norte) até Figueira da Foz (ao sul) é pontuado de “fábricas de bacalhau”. Ou seja, indústrias que recebem o peixe dos mares nórdicos para ser processado e distribuído às mesas desse mundo afora.

Em busca da cabeça do bacalhau, fomos conhecer uma das maiores empresas do ramo, a Bacalhau Dias e a Alaska Seafood, um conglomerado luso americano que pesca, armazena e distribui o bacalhau do Alasca. Em um ambiente marinho preservado, é no Golfo do Alasca que se captura o “macrocephalus morhua”, uma das espécies de bacalhau ainda em abundância. Outra espécie é o “gadus morhua”, proveniente da Noruega, onde está cada vez mais raro. Dos barcos frigoríficos para a linha de produção, o bacalhau sem cabeça é classificado (o lombo, as postas e as “migas”, ou lascas) conforme o pedido dos importadores: seco e salgado, ou embalado em postas já demolhadas, produto da Dias que a importadora Porto a Porto fornece aos melhores supermercados do Brasil. 

Se Indiana Jones fosse desafiado a buscar uma cabeça de bacalhau, teria que mergulhar nas águas geladas do mar de Bering, pois em alto mar o peixe é imediatamente limpo e sua cabeça jogada ao mar. Não sobra uma para contar a história das “caras de bacalhau”, uma receita lusitana com origem nos barcos que buscavam o peixe na fronteira norte do fim do mundo. Devido à falta de alimentos frescos, os marujos lavavam e enxugavam as “caras” de bacalhau, a garganta (aqui chamada de língua) e os pequenos discos de carne nas bochechas. Depois temperavam com sal e pimenta, alhos esmagados e levavam à frigideira com pouco azeite.

As “caras”, assim como a “chora do bacalhau”, dois tradicionais pratos da cozinha portuguesa, são bem difíceis de encontrar nos restaurantes de Lisboa. Para degustar essas raridades só mesmo um Indiana Jones pescador de cabeças de bacalhau, com fome suficiente para buscar essa preciosidade entre as sobras dos barcos pesqueiros da Noruega e do Alasca.

Aos comodistas, o bacalhau por inteiro pode ser encontrado no fabuloso Oceanário de Lisboa, por apenas 16 euros o ingressos. O mesmo preço de um bacalhau à Zé do Pipo no restaurante João do Grão, aqui na Rua dos Correeiros.