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Mentha cf. spicata L.

Família: LAMIACEAE

Nome científico: Mentha cf. spicata L.

Nome popular: hortelã ou menta

 

Mentha spicata - Canto das Flores 9

Foto: Ricardo Cardoso Antonio

Mentha spicata - Organicidade - Canto das Flores 7

Mentha spicata - Organicidade - Canto das Flores 1

Mentha spicata - Organicidade - Canto das Flores 2

Mentha spicata - Organicidade - Canto das Flores 3

Mentha spicata - Organicidade - Canto das Flores 4

Mentha spicata - Organicidade - Canto das Flores 5

Mentha spicata - Organicidade - Canto das Flores 6

Fotos: Alice Worcman - Organicidade

Mentha spicata - Radu Chibzii - Canto das Flores 8

Foto: Radu Chibzii / Creative Commons BY-SA

Barra exsicata

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Mentha cf. spicata - Exsicata

Foto: Matheus Gimenez Guasti

Barra verde - características

Originária da Europa e região mediterrânea, a Mentha spicata, a popular hortelã, também chamada de menta, é uma espécie conhecida e cultivada em todo o mundo pelo seu aroma inconfundível e sabor marcante, utilizada em bebidas, em preparações culinárias doces e salgadas, e em cosméticos. Suas propriedades medicinais, atribuídas à ação farmacológica de seus óleos essenciais, também fazem dela uma ilustre conhecida da medicina tradicional, usada desde a Antiguidade e envolta em crendices.

O gênero Mentha se caracteriza pelas ocorrências regulares de hibridizações interespecíficas, ou seja, cruzamentos entre diferentes espécies de Mentha. Pelo fato de possuírem alta compatibilidade genética, ocasionalmente, esses cruzamentos produzem sementes férteis, gerando híbridos férteis, ou seja, novos componentes da população que se tornam estáveis, diferente do esperado. Além disso, assim como em outros gêneros da família Lamiaceae, ao longo do tempo, espécies, híbridos e variedades de Mentha, provenientes de diversas localidades, foram selecionados pelos distintos aromas que exalavam, devido aos diferentes compostos majoritários contidos no seu óleo essencial. Essas variedades passaram a ser consideradas quimiotipos, cultivados para diferentes finalidades. Assim, além de espécies e híbridos, é comum que as espécies do gênero Mentha apresentem quimiotipos. Daí, a grande dificuldade na sua taxonomia. Por conta disso, manteve-se o nome da espécie Mentha cf. spicata, a abreviação cf. indica que a identificação precisa ser conferida, confirmada.

Mentha spicata é muito confundida com a Mentha x piperita1, também, chamada de hortelã ou hortelã-pimenta em algumas regiões do Brasil. Ambas são do gênero Mentha, e nomes populares variam entre diferentes localidades e culturas. Há quem diga que a Mentha spicata é aquela que popularmente chamam de menta, enquanto a Mentha x piperita é a conhecida hortelã. Considera-se, na verdade, que espécies de Mentha utilizadas como hortaliças, para consumo in natura, são denominadas hortelãs, mas não é uma regra. O certo é que sempre há controvérsias quando se utiliza qualquer outra denominação além do nome científico de uma espécie. 

Mentha spicata se apresenta como uma erva perene, estolonífera, muito aromática, com odor adocicado, penetrante e refrescante, atingindo alturas variáveis, entre de 0,4 a 1,30 m. Sua haste é ereta, com seção transversal quadrangular e com filotaxia decussada. As folhas são simples, de cor verde vivo, concoloresglabras ou quase glabras, sub-sésseislanceoladas ou lanceoladas-ovadas, com ápice agudo, base arredondada e borda serrilhada irregularmente. As flores, usualmente brancas, mas podem ser levemente róseas ou lilases, estão dispostas em verticilastros, que estão em inflorescências tipo espiga, cilíndricas, axilares ou terminais. Cada flor é precedida por uma bráctea, com cálice e corola gamopétalos

Mentha spicata é utilizada desde a Antiguidade pelas civilizações greco-romana, egípcia, hebraica e mesopotâmica. Na Bíblia, há citação de seu uso indevido como dízimo, nos Evangelhos de Matheus e de Lucas2. Na Grécia Antiga, era usada juntamente com o alecrim em rituais fúnebres, para amenizar odores, e na esperança de vida após a morte. Os árabes utilizavam-na, devido ao seu alto potencial aromático, para a limpeza do ambiente antes de cerimônias festivas, no intuito de despertar o apetite nos convidados. Ainda hoje, no Oriente Médio, é comum oferecer chá de menta ao receber visitas. Os romanos usavam-na para preparar balas que eram espalhadas em festas e banquetes como um símbolo de boas-vindas aos convidados. Foram também os romanos que a levaram para a Bretanha, no século I, e lá passou a ser cultivada e muito apreciada. Da Grã-Bretanha chegou aos EUA somente em 1620, a bordo do navio que levou os primeiros colonos ingleses à América. Em 1870, o Japão, que já a utilizava para a obtenção de seus óleos essenciais, foi o primeiro país a produzi-la comercialmente. Após a Segunda Guera Mundial, Brasil, China e Índia também tornaram-se grandes produtores.

Mentha spicata é muito utilizada na culinária, estando presente em várias cozinhas, principalmente da Turquia, Vietnã e Oriente Médio, onde é indispensável em pratos tradicionais, como quibes, esfihas, tabules e kebabs. Por possuir sabor suave, adocicado e refrescante, é usada no preparo de bebidas, como sucos, drinks e licores caseiros; e em pratos salgados, como carnes, aves, sopas, saladas, maioneses, patês, molhos, recheios, temperos e no acompanhamento de legumes. Também é usada para dar um toque refrescante em pratos doces, como sobremesas, sorvetes, geleias e mousses, e para aromatizar chocolates e bombons. Mentha x piperita também é muito utilizada na indústria alimentícia e cosmética; por possuir sabor mais forte, intenso e ardido, é utilizada na aromatização de bebidas, como chás, xaropes, sucos e licores, e de confeitos, principalmente balas e gomas de mascar. O mentol e o limoneno, componentes do óleo essencial de várias espécies de Mentha, podem ser facilmente encontrados na composição de perfumes, cremes dentais, enxaguatórios bucais, cremes e loções de barbear, e pastilhas para alívio de irritação na garganta. 

Medicinalmente, a Mentha spicata, assim com a Mentha x piperita e várias outras espécies de Mentha, são usadas há séculos, tanto na Ayurveda como na medicina popular e aromaterapia. São indicadas para tratamento de distúrbios digestivos e hepáticos, dores de cabeça, resfriados, febres, sinusites e problemas buco-faríngeos. Possuem propriedades vaso-constritoras, antiespasmódicas, analgésicas, antioxidantes, calmantes, bactericidas, fungicidas, antialérgicas, anti-inflamatórias e bio-pesticidas. Às hortelãs ou mentas são ainda atribuídas supostas propriedades mágicas: a crendice popular afirma que são capazes de afastar energias negativas e atrair prosperidade, sendo muito usadas em banhos de ervas. No Candomblé, são consagradas a Oxalá, orixá associado à criação do mundo e dos seres humanos. 

O nome do gêneroMentha, origina-se do grego antigo μίνθη (mínthă ou minthe). Na mitologia grega, Minthe era uma náiade, uma ninfa das águas, que habitava o Rio Cocito, um dos rios que banhava o submundo. Há duas versões muito parecidas relacionando o nome do gênero Mentha com a ninfa Minthe. Numa delas, Minthe era amante de Hades, deus do submundo e dos mortos, bem antes dele raptar Perséfone, a deusa da agricultura, das ervas, flores, frutos e perfumes, para torná-la sua esposa. Revoltada por ter sido trocada, Minthe tentou reconquistar Hades, convencendo-o de ser mais bela, gabando-se de que ele voltaria a ser seu amante e que expulsaria Perséfone do submundo. Deméter, a mãe de Perséfone, não gostou de ver sua filha ameaçada e transformou Minthe em uma planta que foi batizada com seu nome, Mentha.

Na outra versão, Minthe se tornou amante de Hades após ele ter se casado com Perséfone. Quando esta descobriu a traição de Hades com tão bela ninfa, ficou deveras enciumada e transformou Minthe em uma planta, a Mentha. Em ambas as versões, Minthe é atacada com chutes e pisões, seja por Deméter ou Perséfone, sendo transformada em uma frágil erva que se ramifica sobre a terra, delicadamente. Inconformado em não ser capaz de desfazer o feitiço, Hades então resolveu colocar um aroma maravilhoso na sua ex-amante agora transformada em planta, aroma este que se tornaria cada vez mais forte cada vez que a planta fosse pisoteada ou esmagada com as mãos. Há ainda versões onde o próprio Hades transforma Minthe em erva para que ela não morra ao ser espezinhada pela esposa ou sogra, mas para que deixe seu aroma inesquecível nos pés de suas agressoras e possa encantar aqueles que não deslumbraram sua beleza enquanto ninfa. O epíteto específicospicata, é derivado do latim spica, e significa espiga, uma referência à inflorescência dessa espécie.

Se Minthe era mais bela que Perséfone, jamais saberemos... Mas as folhas de Mentha, até hoje, continuam perfumando as mãos de quem as toca e enfeitiçando o paladar de quem as prova...

 

Autoria: Aíres Cavalcante dos Santos e Sandra Zorat Cordeiro (2020)

 

NOTAS

 

1 -  Mentha x piperita L. é um híbrido botânico interespecífico que se originou do cruzamento de outras espécies de Mentha, chamadas, neste caso, de espécies parentais: M. aquatica M. spicata, ambas originárias da Europa e região mediterrânea. A presença do sinal de multiplicação (x) entre o nome do gênero e o epíteto coletivoé regra obrigatória para, justamente, indicar sua condição de híbrido interespecífico entre as outras espécies. O epíteto piperita deriva do latim, piper, que significa pimenta, indicando seu sabor picante e ardido. Abaixo, (AMentha x piperita em uma ilustração botânica do final do séc. XIX, (B) touceira na Reserva da Universidade de Indiana (EUA) e (C) detalhe da inflorescência. 

Mentha x piperita BHL A

Foto: BHL

Mentha x piperita - Patrick Alexander B

Foto: Patrick Alexander / CC

Mentha x piperita - Patrick Alexander 2 C

Foto: Patrick Alexander / CC

 

- No Novo Testamento, há uma passagem nos Evangelhos de Matheus e de Lucas onde é citado que os rabinos realizavam a cobrança do dízimo até mesmo sobre ervas aromáticas, prática esta considerada abusiva, uma vez que, no Antigo Testamento, a prescrição da lei do pagamento do dízimo era apenas sobre os principais produtos da terra como o trigo, vinho e azeite, indispensáveis para a alimentação. Matheus 23:23 - “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas.” Lucas 11:42 - "Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas; e não deixar as outras."

 

* Nossos agradecimentos à Alice Worcman, do Organicidade, pelas belas fotos de Mentha cf. spicata

 

Barra verde - referências bibliográficas

A Bíblia. Uma janela sobre o mundo bíblico. Disponível em: https://www.abiblia.org/ver.php?id=9392. Acesso em: 24 Nov. 2020.

Anwar, F.; Abbas, A.; Mehmood, T.; Gilani, A.-H.; Rehman, N.-U. Mentha: A genus rich in vital nutra‐pharmaceuticals - A review. Phytotherapy Research332548 - 2570, 2019.

Battistin, A.; Fermino, M.H.; Gonçalves, R.S.; Pasquetti, M.V.; Santos, A.C.; Gabriel, L.R.; Banri, P.V. Espécies de Mentha com propriedades medicinais, aromáticas e condimentares. Circular Técnica. Porto Alegre: FEPAGRO. 2011

Douay, S. Menthe verté - Mentha spicata. Disponível em: http://galerneau.pierre.free.fr/Labo_Ouvert/pdf/mentha_spicata.pdf. Acesso em: 16 Nov. 2020.

GBIF - Global Biodiversity Information Facility. Menta spicata L. Disponível em: https://www.gbif.org/species/2927175. Acesso em: 21 Nov. 2020.

Harley, R.M.; Brighton, C.A. Chromosome numbers in the genus Mentha L. Botanical Journal of the Linnean Society, v. 74, p. 71-96, 1977.

Hsi-wen, L.; Hedge, I.C. Lamiaceae. Flora of China, v. 17, p. 50–299, 1994.

Kokkini, S. Vokou, D. Mentha spicata (Lamiaceae) Chemotypes Growing Wild in Greece. Economic Botany, v. 43, n. 2, p. 192-202, 1989.

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Missouri Botanical Garden. Plant Finder - Mentha spicata L. Disponível em: https://www.missouribotanicalgarden.org/PlantFinder/PlantFinderDetails.aspx?taxonid=257307&isprofile=1&basic=mentha%20spicata. Acesso em: 21 Nov. 2020.

Moreno, M.R.; Chaves, S. Resultado da Experimentação Agronômica com o Gênero Mentha no Distrito Federal. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Agronomia). Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária. Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal. 

Quattrocchi, U. CRC World Dictionary of Medicinal and Poisonous Plants: Common Names, Scientific Names, Eponyms, Synonyms, and Etymology. Reimpressão. Boca Raton: CRC Press. 2012.

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