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França e Argentina decidem a Copa fazendo algo que Brasil não soube fazer

Kylian Mbappé comemora na vitória da França sobre Marrocos, pela semifinal da Copa do Mundo do Qatar - Divulgação/Copa do Mundo da Fifa
Kylian Mbappé comemora na vitória da França sobre Marrocos, pela semifinal da Copa do Mundo do Qatar Imagem: Divulgação/Copa do Mundo da Fifa

Bruno Doro e Pedro Lopes

Do UOL, em Doha (Qatar) e São Paulo

14/12/2022 20h19

Classificação e Jogos

Quem assistiu ao jogo da França hoje, a vitória por 2 a 0 sobre Marrocos que valeu uma vaga na final da Copa do Mundo, dificilmente lembrou do poder ofensivo que o time de Didier Deschamps já mostrou em gramados qataris. Apesar do placar, os franceses sofreram forte pressão da seleção africana - mais pragmática e cuidadosa até aqui na competição. No segundo tempo, levou bola na trave e viu os rivais acertarem seis vezes finalizações no gol de Lloris. Foi o maior número que o time sofreu em um jogo em todo o torneio.

Foi mais ou menos a mesma coisa que fez a Argentina ontem, na vitória por 3 a 0 sobre a Croácia. Com média superior a 13 finalizações por jogo na Copa, na semifinal, o time de Messi & Cia. fez apenas dez. Os croatas dominaram a posse de bola, com 54% contra 34% dos sul-americanos. No lugar da bola, mesmo sendo apontada, na teoria, como o time superior tecnicamente, a Argentina resolveu apostar no contra-ataque. O placar mostrou que funcionou.

Em comum nos dois casos, França e Argentina souberam ajustar seus estilos de jogo de acordo com os rivais e com os momentos das partidas. O Brasil de Tite, no seu último jogo, não conseguiu: diante da Croácia, no final da prorrogação e já com 1 a 0, Fred, que entrou para dar mais segurança defensiva, apareceu no ataque. Quando os croatas tomaram a bola, a seleção brasileira, em vantagem no placar, tinha apenas quatro jogadores no campo de defesa. O empate na prorrogação virou derrota nos pênaltis e eliminou o Brasil.

O que levou os dois finalistas do Mundial a essa postura, porém, são caminhos diferentes no Qatar. Ambos com sofrimento.

Os franceses superaram a crise de lesões mais grave da Copa. Após a lista de convocados ser divulgada, foram cortados Kimpembe, Benzema e seu reserva imediato, Nkunku. Além disso, Lucas Hernandez se contundiu no primeiro jogo e não mais jogou no torneio. Lembrando que Deschamps já contava com baixas importantes como Kanté e Pogba.

Com tantos problemas, Deschamps não deve ter se abalado quando, minutos antes do jogo, foi anunciado que dois dos destaques do time no Qatar, o zagueiro Upamecano e o volante Rabiot, estavam fora das semifinais. Seu time abriu vantagem cedo e se fechou, explorando a velocidade de Mbappé. Foi a mesma postura usada por Marrocos contra Portugal, se fechando e aguentando a pressão.

A crise de lesões do Brasil foi parecida. Tite perdeu dois jogadores durante o torneio (Alex Telles e Gabriel Jesus) e outros três temporariamente (Neymar, Danilo e Alex Sandro). Muito por causa desses problemas, o técnico teve problemas na reta final da partida contra a Croácia, especialmente após Militão e Danilo sentirem o cansaço. Alex Sandro precisou entrar mesmo sem estar com 100% de suas condições, e o Brasil sofreu o empate no contra-ataque em um lance em que os laterais estavam mal posicionados.

O sofrimento da Argentina foi outro. Após perder na estreia contra a Arábia Saudita, o técnico Lionel Scaloni sofreu para encontrar um time para a disputa do torneio. Sem um 11 dominante, ele passou a adotar uma formação tática diferente a cada partida do mata-mata. Criou, com isso, um time acostumado a mudanças e que conseguiu, sob a batuta de Messi, se encontrar em campo em qualquer situação.

Nos 30 primeiros minutos contra a Croácia, a equipe de Scaloni não criou, mas também não correu riscos. Estava atenta aos contra-ataques. O primeiro apareceu quando Julian Álvarez apareceu na área, após toque de Messi. Pênalti e gol sul-americano. O segundo, em arrancada do mesmo Álvarez. Scaloni administrou o resultado, deixou a Croácia trocar bolas sem efetividade, e terminou o confronto com três zagueiros em campo - já tinha testado a formação desde o início diante da Holanda, que conta com dois atacantes de presença de área.

O Brasil de Tite, por sua vez, mudou pouco a essência da sua forma de jogar durante o torneio. Contra a Suíça, Tite jogou com Casemiro, Fred e Paquetá em um meio-campo mais pesado. Não deu certo, Tite colocou Rodrygo como meia-atacante e o Brasil foi até o final com o mesmo sistema. As mudanças serviam apenas para dar pernas novas para os jogadores, mantendo sempre as mesmas funções. Fiel às suas características, a seleção não soube recuar e absorver pressão do adversário, nem a quatro minutos de garantir sua vaga nas semifinais.