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Ana Beatriz Nogueira brilha em novela após curar câncer: 'Sorte danada'

Após gravar "Todas as Flores", Ana Beatriz se prepara para voltar ao teatro em 2023 - Globo/Estevam Avellar
Após gravar "Todas as Flores", Ana Beatriz se prepara para voltar ao teatro em 2023 Imagem: Globo/Estevam Avellar

De Splash, no Rio

25/11/2022 04h00Atualizada em 25/11/2022 13h00

O amor pela atuação é combustível para Ana Beatriz Nogueira, de 55 anos, mesmo nos momentos desafiadores. Ela gravava "Um Lugar ao Sol" quando a pandemia obrigou o isolamento social em março de 2020. As gravações foram interrompidas por dez meses, mas ela não ficou parada por muito tempo. De forma segura, ela fez teatro online na sala da própria casa durante o auge da pandemia para os fãs.

Após se despedir das gravações da trama global em 2021, passou a se dedicar ao teatro enquanto a produção de "Todas as Flores", em exibição no Globoplay atualmente, não começava. O que ela não esperava é que um exame para entender uma gripe iria diagnosticar um câncer no pulmão. Felizmente, o tumor ainda estava em estado inicial e foi retirado em uma cirurgia bem-sucedida em março deste ano.

Apenas dois meses depois da cirurgia, em maio, ela começou a se preparar para viver Guiomar. Em julho, começou gravar suas cenas "feliz da vida". A personagem se tornou uma das mais queridas da trama e deu as caras durante os 14 primeiros capítulos da novela de João Emanuel Carneiro, mas as gravações de Ana se estenderam por quatro meses.

"Tive uma sorte danada. Descobri (o câncer) cedo, estava encapsulado, pude tirá-lo e não passar pelo processo de quimio e radioterapia, que teria me impedido de trabalhar. Dois meses depois (da cirurgia), eu estava experimentando roupa de 'Todas as Flores' no Projac. Comecei a gravar com duas costelas quebradas, mas não ficava reclamando, não. Estava feliz da vida. Você ter uma novela, um trabalho, algo que você ama, isso te deixa boa mais rápido, não?", diz a atriz.

"Foi uma experiência dura. Tem a parte dos remédios, não pode fazer exercício, a gente ganha peso, é muita cortisona, mas isso tudo diante do fato de dois meses depois você está querendo ir gravar, você fala: 'gente, maravilha'. Cheguei com mais vontade ainda de trabalhar. Tem que obedecer aos médicos, claro, mas fico doida para sair e ir trabalhar. Quando a gente é muito apaixonado pelo que faz, não é brincadeira, não. Quantas peças eu já entrei em cena gripada. Você pensa: 'meu Deus, não sei se vou conseguir fazer o monólogo' e, de repente, você está pulando e, depois, sai para jantar porque se animou. Para mim, meu trabalho é tudo", completa, animada.

Guiomar (Ana Beatriz Nogueira) morre em incêndio de "Todas as Flores" - Reprodução/Globoplay - Reprodução/Globoplay
Guiomar (Ana Beatriz Nogueira) morre em incêndio de "Todas as Flores"
Imagem: Reprodução/Globoplay

Para fazer a elogiada Guiomar, ela se atentou ao texto de João Emanuel Carneiro, as próprias experiências da vida e a troca com os colegas em cena, seja a equipe de direção de Carlos Araújo ou atores como Fábio Assunção e Regina Casé. Eles, aliás, protagonizaram uma das cenas mais comentadas da novela: o incêndio na empresa Rhodes, responsável por matar Guiomar e o seu irmão, Raulzito (Nilton Bicudo).

Minutos antes da morte, Guiomar havia flagrado o marido Humberto (Fábio Assunção) com a amante Zoé (Regina Casé) e revelado que já sabia dos crimes cometidos pela vilã de Casé. Os três começam a discutir na casa de máquinas e Zoé derruba Guiomar. Ela não consegue sair do lugar, enquanto Humberto e Zoé fogem sem ajudá-la. Ana conta que a cena levou três dias para ser gravada.

"A festa lá embaixo foi gravada em um dia; a festa no telhado, onde acontece o flagra, foi em outro dia; já a parte do incêndio dentro da sala de máquinas foi em um outro momento, muito tempo depois. Três vezes sem juros. As pessoas não imaginam esse quebra-cabeça. Os atores envolvidos têm de estar muito atentos a essa continuidade. Televisão é feita por cenário, a gente tem uma continuidade interna nossa", explica.

"A parte da briga foi num túnel no subsolo de um estúdio. Era mesmo um negócio apertadinho. Foi ótimo fazer, bem acompanhada dos meus amigos de cena, do Carlinhos Araújo e a equipe que estava ali. Essa equipe, em particular, eu conheço quase todos há anos. É mais gostoso ainda. Você se sente muito confortável", completa ela, feliz com a repercussão da personagem.

Muitas mães

Com quase 40 anos de carreira, a trajetória de Ana Beatriz é marcada por muitas personagens que são mães. Se em "Todas as Flores", ela deu vida a empresária Guiomar, uma mãe equilibrada, sensata e inteligente, as mães de outras novelas recentes eram conhecidas por serem "fora da curva". Alguns exemplos são Elenice, de "Um Lugar ao Sol" (2021), e Eva, de "A Vida da Gente" (2011), duas mães possessivas.

"Peguei muitas mães fora da curva (risos). As pessoas comentam que elas são fora da curva, mas todas diferem em suas particularidades... Essas mães têm drama, têm comédia, muitas nuances. Aí entra o meu trabalho, que espero fazer bem", diz.

Já fiz tantas mães e muitas ainda virão, até pela minha faixa de idade. Há uma tendência de me chamarem novamente. Não tenho problemas em fazê-las. Pode me chamar que recebo com alegria. Nenhuma mãe é igual a outra.

Desde "Celebridade" (2003), quando viveu a primeira mãe na telinha, já foram pelo menos 12 personagens com essa característica, mas sempre uma diferente da outra, ela garante.

"Em 'Celebridade', fiz minha primeira mãe. Na vida, eu já tinha dois filhos pequenos e, na novela, era mãe da (atriz) Juliana Knust. Me lembro muito bem... Eu pensei: 'nossa, tenho uma filha desse tamanho?'", lembra, aos risos.

Ela acredita que Guiomar se parece com a Clarice, de "Insensato Coração" (2011). A personagem era casada com Horácio (Herson Capri), o marido que a matou para ficar com Natalie (Deborah Secco).

"Era uma personagem suave e bonita. A Guiomar é a mais próxima da Clarice, só que muitos anos depois e com mais experiencia. A gente melhora com o tempo. Além de afinar os instrumentos no trabalho, a gente vive pessoalmente. Tudo o que você faz na vida, tudo o que ouve, tudo o que lê é material de pesquisa que você acessa quando está trabalhando", pontua.

Ana Beatriz Nogueira montou um teatro em casa durante a pandemia - Dalton Valério - Dalton Valério
Ana Beatriz Nogueira montou um teatro em casa durante a pandemia
Imagem: Dalton Valério

Partiu teatro

Sempre que termina uma novela, Ana Beatriz Nogueira corre para os palcos do teatro. E não seria diferente desta vez. Após terminar as gravações da novela do Globoplay, a atriz se prepara para estrear duas novas produções em 2023, a inédita "Senhora Klein" e a já conhecida "Um dia a menos", monólogo elogiado pela crítica.

"Começo a ensaiar 9 de janeiro meu novo espetáculo, 'Senhora Klein', inspirada na vida de Melanie Klein, a mulher que inventou a psicanálise para crianças. Somos três atrizes. 'Senhora Klein' estreia pelo Sesc. Graças a Deus existe o Sesc, porque ficamos sem lei, nem nada durante a pandemia. O homem (Bolsonaro) tirou qualquer possibilidade de apoio. É uma peça de autor estrangeiro. Estreia em março", diz.

"Enquanto ensaio, estreio um solo, no dia 7 de janeiro, e convido as pessoas. Será nos sábados e domingos aqui em São Paulo, no Teatro Renaissance. É um texto da Clarice Lispector. Nem preciso dizer o quanto é bom. 'Um dia a menos' é um conto adaptado para o teatro", completa.

Cena da peça "Um dia a menos", que reestreia em 2023 - Divulgação - Divulgação
Cena da peça "Um dia a menos", que reestreia em 2023
Imagem: Divulgação