Tem sentido realizar ressonância de corpo inteiro, como Kim Kardashian fez?

Famosos dos EUA estão fazendo ressonância magnética de corpo inteiro para "detectar precocemente" doenças como câncer e aneurisma, conforme mostrou uma matéria do The New York Times.

O exame, que custa US$ 2.499 (equivalente a cerca de R$ 12.600), despertou a curiosidade de muita gente após a influenciadora Kim Kardashian fazer uma postagem no Instagram recomendando o procedimento.

No post, Kardashian usou a hashtag "NotAnAd" (não é publicidade, em tradução livre) e disse que a ressonância de corpo inteiro salvou a vida de alguns de seus amigos e pode detectar câncer e aneurismas em estágio inicial, antes dos sintomas aparecerem.

Mas será que faz sentido pessoas saudáveis realizarem esse exame de forma preventiva?

A opinião dos especialistas consultados por VivaBem é unânime: não. A ressonância magnética de corpo inteiro não deve ser um exame de rotina para pessoas saudáveis e não há sentido algum em realizá-la sem que haja indicação médica específica.

É claro que todos nós, médicos, queremos fazer o diagnóstico de patologias como câncer de maneira mais rápida possível, mas na comunidade científica ainda não existe uma recomendação formal da ressonância de corpo inteiro como um exame preventivo Ricardo de Magalhães Sartim, diretor médico radiologista da Alliança Saúde

O que é a ressonância magnética de corpo inteiro?

Trata-se de um exame diagnóstico que fornece imagens detalhadas de diferentes órgãos e tecidos. O procedimento é normalmente realizado em partes específicas, mas também pode ser feito em todos os segmentos do corpo, neste caso, levando em torno de 1 hora.

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Ele é realizado em um equipamento com uma maca, que desliza para dentro de um comprido anel circular. "Dentro do aparelho, o paciente é submetido a um campo magnético, a partir do qual são produzidas imagens para análise médica", explica Paulo Gustavo Maciel Lopes, coordenador médico do setor de Diagnóstico por Imagem do São Luiz.

Realizar o exame sem precisar traz riscos?

Apesar de não fazer uso de radiação ionizante —como a tomografia e outros diagnósticos de imagem— nem ser invasiva, existem ressalvas para a realização da ressonância de corpo inteiro.

"Como o paciente é submetido a um forte campo magnético, alguns tipos de materiais podem apresentar riscos, como alguns modelos de marcapasso cardíaco, clipes utilizados em cirurgias de correção de aneurismas cerebrais, além de tatuagens com pigmentos de ferro", esclarece o diretor médico radiologista da Alliança Saúde.

Mas o principal problema de realizar o exame feito por Kim Kardashian —além do alto custo— é que você corre o risco de levar um susto desnecessário —ou seja, ter um resultado falso-positivo e sofrer durante um tempo achando que está com uma doença que, na verdade, não está.

"Às vezes, podemos não perceber as alterações na imagem produzida ou perceber alterações benignas ou sem significado clínico, que acabam causando ansiedade e levando os pacientes a outros exames com riscos envolvidos, que poderiam ter sido evitados", explica Sartim.

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Imagem: iStock

Impacto social

Além dos danos pessoais, a realização preventiva desse exame pode afetar o sistema de saúde como um todo.

"Se todos correrem para fazer esses exames sem indicação, pacientes que de fato precisam da ressonância de corpo total e outras podem ser prejudicados. Tanto pelo encarecimento, quanto pela indisponibilidade de aparelhos, já que não há estrutura de saúde pública ou privada para que esse exame seja feito preventivamente em toda a população", alerta Paulo Gustavo Maciel Lopes.

Para quem é recomendado?

O exame feito pela Kardashian é indicado para pacientes com tumores ou alto risco de desenvolvê-los, explica Bárbara H. Bresciani, radiologista e coordenadora médica do Centro de Diagnóstico por Imagem do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

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Na mesma linha, Adriano Tachibana, gerente médico de Diagnóstico por Imagem do Albert Einstein. ressalta a importância do exame em alguns casos específicos.

"Essa ferramenta é essencial para pacientes com osteomielite crônica multifocal recorrente, condição óssea rara e desafiadora, que exige acompanhamento próximo, especialmente em crianças, além de pacientes com predisposição genética a cânceres hereditários, como a Síndrome de Li-Fraumeni."

O especialista reforça que a ressonância magnética é uma ferramenta médica valiosa, mas o seu uso deve se dar com cautela, de forma individualizada e em conjunto com médicos experientes.

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