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reportagem

A incrível história do "Cocozão" de Ponta Grossa

Relembrando o monumento que abalou o tecido social da cidade paranaense e virou um trauma de proporções municipais.
O Cocozão de Ponta Grossa, no Paraná. Imagem: reprodução/ Facebook/ Cocozão de Ponta Grossa

A vida como um estudante ponta-grossense tinha seus altos e baixos. Minha primeira aventura pós-cursinho envolvia três ônibus até a sala de aula. E era lá, na entrada do campus da Universidade Estadual de Ponta Grossa, que eu cruzava todo dia com uma das maiores bizarrices que já vi na vida.

"Cocozão” foi o apelido carinhoso entre os habitantes de Ponta Grossa, Paraná, para o Monumento Campos Gerais, fundado em 2004 como uma homenagem do ex-prefeito Péricles de Holleben Mello (PT) às formações rochosas da cidade – localizada a 100 km da capital Curitiba. A tal arte era composta por uma haste de oito metros sustentando uma escultura que se inspirava nos arenitos de Vila Velha — um ponto turístico local com pedras moldadas pelo vento e pela água. A forma total queria lembrar um pinheiro ou uma araucária; mas não foi exatamente o que aconteceu.

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Imagem: reprodução/ Facebook/ Cocozão de Ponta Grossa

"O jogo de luz queria dar um efeito, mas, no final, alguém, acho que algum radialista, passou ali de longe e falou que aquilo parecia um grande cocozão", relembrou Claudinei Azevedo Silveira, empresário de 55 anos. "E aí isso pegou, foi se espalhando pela cidade e não tinha mais como evitar" — o estrago no imaginário popular já estava feito.

Os cinco anos seguintes de existência foram cercados de curiosidades e mistérios entre os habitantes de Ponta Grossa. Uma das perguntas sem resposta, por exemplo, é quem foi o artista responsável pela obra: não há registros formais sobre a construção no site oficial da Prefeitura e os boatos que corriam pela cidade é que ele não era da região e quis se manter anônimo quando o assunto foi jogado ao ventilador.

A popularidade cresceu e repercutiu a ponto de celebridades se interessarem sobre o que realmente era o ambíguo “cocozão de Ponta Grossa”. Claudinei conseguiu puxar da memória um caso em particular. "Eu lembro que a Sabrina Sato uma vez foi entrevistada por um radialista e ela disse que queria vir para cá porque queria conhecer o Cocozão. E teve outros que vieram com o tempo. Ele ficou famoso e as pessoas queriam conhecer o 'tar' do Cocozão", reforça.

Há quem ironicamente lembre de algumas “merdas” acontecendo na região: em um dos casos, um cidadão voltava de um bar quando resolveu literalmente deitar um barro no local. "Só que tinha uma casinha de cachorro lá na época e um deles avançou nele", recorda um morador que preferiu não ser identificado. A situação não poderia ser mais constrangedora: o infeliz saiu correndo com as calças abaixadas no meio da noite.

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"Eu mostrei a bunda na janela de um carro para os padres dos arautos", citou o mesmo. "Estávamos correndo com a galera do karatê e eles estavam no cocozão", completa.

Todo cocozão tem seu fim

A descarga do monumento foi decretada em fevereiro de 2009. Alguém da Prefeitura foi retirar abelhas e marimbondos do local e acabou literalmente tacando fogo na coisa toda. A ideia forçou a retirada da obra de R$ 90 mil e rendeu uma composição fotográfica que poderia ser narrada com a voz de Fausto Silva.

O Cocozão pegando fogo, bixo! Imagem: reprodução/ Facebook/ Cocozão de Ponta Grossa

A saída também não passou em branco. "Eu entrei na UEPG e pensei 'aee, vou ver o Cocozão todo dia', e daí quando eu fui para as aulas já tinham tirado ele…", compartilhou Thiago Oliveira, que na época entrou para o curso de Informática e já ouvia comentários de amigos de fora do Paraná sobre a fama da peça única.

Em nota na ocasião, a prefeitura disse que “já havia recebido outras solicitações para a retirada do monumento, que alegavam que ele depunha contra o município, por ser um símbolo negativo do município”.

“Virou motivo de chacota”, relembrou Claudinei. Inclusive, vários amigos e conhecidos com quem conversei concordavam com a solução. Mas a internet já estava aí para o mundo inteiro saber que tamanho arenito realmente existiu no Paraná e que esse era o monumento mais bizarro que o Brasil já teve. Até hoje uma fanpage preserva sua memória no Facebook e com um pouco de gambiarra dá para revisitar a comunidade do Cocozão no Orkut.

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Dentro do Cocozão. Imagem: reprodução/ Facebook/ Cocozão de Ponta Grossa

O curioso é que, entre banheiros públicos com parede transparente e um chafariz com mil e uma utilidades, esta é apenas uma das “atrações” que chamaram a atenção das pessoas para a cidade paranaense.

O ponto final na história foi que, sete anos depois da remoção, a Câmara Municipal de Ponta Grossa aprovou um pedido para que o Google retirasse do ar todas as imagens referente ao monumento. A Moção de Aplauso 224/2016 foi proposta pelo Deputado Maurício Silva (PSD) e, apesar de tudo, ainda não teve muito resultado. Basta fazer uma pesquisa rápida para ver que o termo “cocozão de Ponta Grossa” continua firme e forte na memória da internet; e pelo visto a VICE continuará seguindo com essa lembrança. Nos desculpem.

A VICE entrou em contato com a assessoria do ex-prefeito e atual Deputado Estadual Péricles de Mello sobre a construção da obra, mas não obteve resposta até a publicação da matéria.

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