Em meio à cultura escolar do ensino centrado no professor e na técnica de memorização, onde a prioridade sempre foi a capacidade de decorar o conteúdo para “passar de ano”, a aprendizagem experiencial vem como um método de aquisição empírica do conhecimento, proporcionando ao aluno a liberdade de pensar, imaginar, questionar.
“Instruir não é conseguir que uma pessoa aloque conhecimentos na mente. Mas, sim, ensiná-la a participar do processo.”
Jerome Bruner
(Psicólogo, professor de Harvard e Oxford e escritor de obras sobre educação)
Afinal, lidar com as complexidades do mundo moderno e garantir as habilidades profissionais necessárias para o futuro exigem, cada vez mais, transformações no sistema de ensino tradicional. Falamos em outra oportunidade sobre a forte tendência do universo maker nas escolas (Link O que é educação 4.0?), um tema que vai ao encontro do nosso assunto de hoje. Nessa linha, tratamos também sobre outras tendências que se mostram crescentes no segmento da educação, que são a colaboração e a personalização do ensino (Link 5 maneiras de diferenciar a minha escola da concorrência).
Antes de entrarmos no assunto, vale citar que outro defensor ferrenho da teoria da aprendizagem experiencial foi o físico e professor Albert Einstein. Ele desmistificava o papel da educação, alegando que o seu valor não está em proporcionar o ensino de muitos fatos, mas, sim, em treinar a mente para pensar, por meio da prática.
“A única fonte de conhecimento é a experiência”
Albert Einstein
Fundamentos da aprendizagem experiencial
Para começar, vamos esclarecer que a aprendizagem experiencial não limita sua aplicação ao setor educacional, mas também é utilizada no âmbito profissional, em cursos, treinamentos corporativos, negócios, grupos de estudos, gestão, recursos humanos, coaching, entre outros meios. Da mesma forma, cabe informar que a palavra experiencial se trata de um neologismo para o termo experiential do inglês e seu significado é “através da experiência”.
A aprendizagem experiencial tem como base a construção do conhecimento por meio de experiências, levando-se em conta todas as decorrências situacionais e seus efeitos para o aprendizado. Assim, a tradicional posição passiva do educando, que apenas absorve as teorias e conceitos abstratos, dá lugar a dois pontos principais: a reflexão e a prática.
Com a atuação mínima de um supervisor/professor, o indivíduo consegue atuar na resolução de problemas considerando suas percepções, histórico pessoal, bagagem de vida e, assim, conferir sentido àquilo que está sendo aprendido.
“O objetivo da educação é garantir liberdade ao jovem para explorar inclinações pessoais. O professor deve prestar-se como modelo, dando o exemplo, em vez de impor um método. O papel do educador é ensinar os jovens a conduzir a própria vida.“
Françoise Dolto
(Pediatra e psicanalista)
Aprendizagem experiencial de Kolb
Considerado uma referência da aprendizagem experiencial, o teórico educacional David A. Kolb defende que o modelo de ensino impulsionado pela experiência representa a forma como as pessoas desenvolvem o seu aprendizado. A teoria kolbiana enfatiza a interação entre o sujeito e a ação, enaltecendo a experiência como forma de alcançar novos aprendizados, considerando também o contexto e a reflexão.
Entrando mais a fundo no tema, Kolb aborda sobre a influência das estruturas mentais para a elaboração de conhecimentos advindos da experiência. Partindo das dicotomias do concreto/abstrato e do ativo/reflexivo, o professor correlaciona essas dimensões, que resultam na compreensão e na transformação (atividades mentais para reflexão e ação) da experiência. Essa conjugação dá origem a quatro etapas de aprendizagem: Experiência Concreta (EC), Observação Reflexiva (OR), Conceituação Abstrata (CA) e Experiência Ativa (EA).
Sendo assim, Kolb diz que o processo de aprendizagem experiencial deve representar, de fato, um ciclo ou espiral, no qual o aluno passaria por todas as etapas. Ou seja, transita num ciclo de experiência, reflexão, pensamento e ação para, então, criar novas experiências.
“Aprendizagem é o processo pelo qual o conhecimento é criado através da transformação da experiência. O conhecimento resulta da combinação de capturar a experiência e transformá-la.”
David A. Kolb
O diagrama a seguir é uma ilustração do ciclo de aprendizagem experiencial elaborado por Kolb, caracterizado pela associação entre vivências, construção de conhecimento e performances futuras da aprendizagem:
Este ciclo não determina uma etapa inicial, porém, vale dizer que as quatro isoladas não fazem sentido nesse processo e, por isso, elas devem ser combinadas. Kolb orienta que essa junção deve ser feita por uma das dimensões de preensão (apreensão e compreensão) e uma das de transformação (extensão e intenção).
Assim, existem diversas ligações possíveis, denominadas estilos de aprendizagem, que na prática podem variar conforme a bagagem pessoal, profissional e as situações experienciais que cada pessoa é exposta, atingindo diversos níveis de complexidade.
Ao combinar as etapas do ciclo, duas a duas, Kolb desenvolveu quatro estilos (ou tipos) de aprendizagem, que correspondem aos estímulos de preferência e/ou inclinações do indivíduo para o ato de aprender:
- EC/EA: Adaptador (fazer e sentir) – Movido mais pelo instinto do que pela lógica, o adaptador (ou “fazedor”) é adepto à praticidade. Porém, gosta de desafios e novas experiências, em especial, fazer acontecer. Pessoas que se identificam com esse estilo de aprendizagem preferem trabalhos em equipe que exijam ação e iniciativa e experimentam diversas formas para alcançar um objetivo.
- EC/OR: Divergente (sentir e observar) – Pessoas com maior sensibilidade, os divergentes são capazes de enxergar sob diversas perspectivas. Utilizam da imaginação para a resolução de problemas. São ótimos geradores de ideias e, por isso, se destacam em brainstormings, por exemplo. Se interessam por assuntos diversos e por pessoas, além disso, são emocionais e tendem a se destacar nas artes. Preferem trabalhar em grupo com a mente aberta e receber feedback.
- OR/CA: Assimilador (observar e pensar) – Ao contrário do adaptador, o assimilador não se contenta com a praticidade. Esse estilo tem uma abordagem mais concisa e lógica, no qual conceitos e ideias se sobrepõem às pessoas. Assim, preferem teorias sólidas e conceitos abstratos a valores práticos e/ou humanos. Os assimiladores combinam com áreas ligadas a informação e ciências. Na atividade de aprendizagem, dão preferência a leituras, palestras e modelos analíticos que permitam refletir.
- CA/EA: Convergente (fazer e pensar) – Esse estilo de aprendizagem se sai melhor em tarefas técnicas, porém, não lida muito bem com pessoas e aspectos interpessoais. O convergente é adepto a usar da praticidade para ideias e teorias. Dessa forma, podem resolver problemas e encontrar soluções. Pessoas que se identificam com esse estilo podem apresentar habilidades especializadas e tecnológicas. Gostam de experimentar novas ideias, simular e trabalhar com aplicações práticas.
Para complementar o assunto e facilitar o seu entendimento, resumidamente, vamos elencar as principais proposições da teoria kolbiana na aprendizagem experiencial:
- A aprendizagem é baseada num processo e não em resultados finais.
- Todo aprendizado é um reaprendizado e tem importantes implicações na educação.
- A aprendizagem requer a resolução de conflitos entre modos de adaptação ao mundo dialeticamente opostos.
- A aprendizagem é um processo holístico de adaptação, envolvendo as funções integradas do pensamento, sentimento, percepção e comportamento.
- A aprendizagem envolve transações sinérgicas entre as pessoas e o meio ambiente
- A aprendizagem é o processo de criar conhecimento (social e pessoal).
Falamos em outra oportunidade sobre a forte tendência do universo maker nas escolas, um tema que vai ao encontro do nosso assunto de hoje. Nessa linha, tratamos também sobre outras tendências que se mostram crescentes no segmento da educação, que são a colaboração e a personalização do ensino.
“As crianças não são meros aprendizes passivos da cultura à sua volta, mas sujeitos ativos que participam das rotinas culturais oferecidas/impostas no e pelo meio ambiente. Nesse sentido, elas se apropriam de seus elementos, reinterpretando-os e contribuindo ativamente para a produção cultural e para a transformação da sociedade em que se inserem.”
Angela Meyer Borba
(Doutora em Educação)
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Excelente explanação.
Muito obrigado Pedro, que bom que gostou.
Um abraço!
Hello a essa equipe com o foco de van-guarda. Os idealizadores desta instituição tiveram a visão de águia, para reinventar os modelos que já estavam obsoleto, e não tinha mas espaço para as escolas progressivista modelo falido, os períodos das revoluções foram bem paulatinos e agora no século XXl, as mudanças chegaram com bastante inovação, temos por exemplo a tecnologia de informática, as células troncos, as robóticas e um grande avanço na ciência,e na educação não seria diferente tinha que haver essa revolução, pois a geração é outra, crianças bem pequenas dominando um celular, tablete e também informática. Agora para parabenizar a instituição ” YOU “, ela está de parabéns com seu método de escola do futuro.
Ficamos felizes que tenha gostado do artigo, Haroldo! 😃
Muito obrigada!