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QUESTÃO AGRÁRIA
Ex-sem-terra do Pontal têm atividade remunerada externa
Sem recurso para o plantio, assentado vira bóia-fria
Flávio Florido/Folha Imagem
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Mulheres sem terra trabalham na roça do assentamento Che Guevara por R$ 8 por dia |
EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TEODORO SAMPAIO
Sem recursos para o plantio
-principal ponto do embate entre MST e governo no momento- parte das famílias assentadas
no Pontal do Paranapanema (SP)
está virando bóia-fria.
Essa tendência é verificada em
boa parte dos 85 assentamentos
do Pontal, onde está a maior concentração de famílias contempladas pela reforma agrária no Estado de São Paulo.
Censo feito pelo Itesp (Instituto
de Terras do Estado de São Paulo), em 1999, revela que em 25% a
30% das 4.747 famílias assentadas
na região alguém tem atividade
remunerada externa.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) estima que esse índice possa chegar a
50%, em atividades que vão de
bóia-fria a vendedor ambulante,
como forma de assegurar a sobrevivência.
"Se não tiver crédito, eu diria
que 90% dos assentados do Pontal vão se tornar bóias-frias", prevê José Rainha Júnior, principal líder dos sem-terra na região. Ele
aponta o descompasso entre a liberação de recursos e a época de
plantio como principal causa.
O Banco do Brasil diz ter liberado para a região R$ 15,3 milhões
para 3.779 famílias na safra 1999/
2000, entre créditos para investimento e custeio, pelo extinto Procera -atual Pronaf.
A Agência Folha visitou seis assentamentos, em Teodoro Sampaio e Mirante do Paranapanema.
Em todos, constatou a tendência
de migração para fora da propriedade para trabalhar, a maioria como diarista, em atividades rurais.
Os principais empregadores são
os próprios assentados em melhores condições. Mas há casos de
gente trabalhando em usinas de
açúcar e em fazendas que o MST
quer para reforma agrária.
No assentamento Laudenor de
Souza, 16 das 64 famílias assentadas desde 10 de setembro de 1998
não receberam recursos do governo federal para investimento
ou custeio de safra. As 16 estão
trabalhando para fora, segundo o
coordenador dos assentados,
Claudivan Pereira de Souza, 32.
Um deles, José Maria Medeiros,
30, tem quatro filhos e ganha R$ 8
por dia carpindo roça de mandioca para assentados da Gleba 15 de
Novembro, em Euclides da Cunha. Ele mora em barraco de lona.
Aguarda liberação de R$ 2.000 para plantar mandioca, principal
atividade dos assentados.
Na safra 98/99, os assentados do
Pontal do Paranapanema produziram 43.378,81 toneladas de
mandioca para indústria, a um
valor de R$ 2,08 milhões.
O assentado Luiz Paulino dos
Santos, 38, do Laudenor de Souza,
virou vendedor de doces em portas de circo enquanto aguarda
crédito para plantar. No ano passado, ele diz ter recebido R$ 2.000,
via Cocamp (cooperativa do MST
na região). Plantou mandioca,
mas perdeu a roça.
No assentamento Água Sumida,
instalado há 12 anos, Devanir Pedroso de Oliveira, 28, não tem o
que fazer no lote onde vive com o
pai, João Bispo. Por isso, trabalha
no corte da cana.
Ele se levanta às 5h, arruma a
marmita e vai para a usina de ônibus. Considera-se um clássico
bóia-fria. Ganha de R$ 10 a R$ 20
por tonelada de cana que corta.
A Destilaria Alcídia, cercada por
oito assentamentos e que emprega 1.400 cortadores de cana por
safra, não tem controle da origem
dos funcionários, mas admite ter
assentados em seus quadros.
A prática mais comum é o assentado em dificuldade trabalhar
para assentado em melhores condições, geralmente como diarista.
Na semana passada, três assentados carpiram durante três dias a
roça de 5.000 pés de café do lote de
Rainha, no assentamento Che
Guevara, a R$ 8 por dia.
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