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GUERRA DOS MENINOS
Internos estão amontoados, sem tomar banho desde segunda e urinando em garrafas de refrigerante
Três dias após tragédia, situação da
Febem é propícia a novas rebeliões
Promotoria de Justiça da Infância/Folha Imagem
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Menores alojados em uma sala da unidade estão sem tomar banho desde segunda-feira, dormindo apenas em cobertores e são obrigados a urinar em garrafas de refrigerante |
ANDRÉ LOZANO
OTÁVIO CABRAL
da Reportagem Local
Três dias após enfrentar a maior rebelião de sua história, a Febem vive
uma situação ainda
pior, propícia a novas tragédias. Sem nenhum plano
de emergência, menores infratores continuam vivendo no que
restou da unidade Imigrantes
(zona sudeste de São Paulo), praticamente destruída após a rebelião que deixou quatro mortos.
"A Febem pode explodir a qualquer momento porque os menores estão vivendo no limite da dignidade humana", afirmou o promotor Ebenézer Salgado Soares.
A principal proposta do governador Mário Covas para resolver
o problema, a descentralização
das unidades, esbarra da má vontade dos prefeitos e dos vereadores. Na segunda-feira, a Câmara
de Bauru aprovou lei proibindo
construções de unidades da Febem no município. Outras cinco
cidades do interior devem aprovar projetos semelhantes.
A descentralização não é apenas
uma idéia de Covas, mas um dos
princípios básicos do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA).
A intolerância dos prefeitos não
leva em conta que a participação
dos menores vindos do interior
na superlotação das unidades da
Febem na Grande SP é cada vez
maior. "Faço um apelo para que
os prefeitos recebam seus jovens.
Não pode haver rejeição por motivos políticos e eleitoreiros", afirmou o cardeal-arcebispo de São
Paulo, dom Cláudio Hummes.
Outros personagens dessa crise
anunciada da Febem são o Judiciário, acusado de internação excessiva de menores, os funcionários, que ameaçam constantemente entrar em greve, e a crise
política formada em torno do
problema. Ontem, um deputado
do PT apresentou um projeto
propondo a extinção da Febem,
causando uma crise com a bancada governista na Assembléia.
Superlotação
Na manhã de ontem, o promotor Ebenézer Salgado Soares visitou uma das casas do setor profissionalizante da unidade Imigrantes, uma das poucas que não foram destruídas na rebelião.
Numa sala fechada de 300 m2,
havia ontem cerca de 350 adolescentes amontoados, em condições insalubres.
Antes da rebelião, esse mesmo
número de menores ocupava
uma ala muito maior, com banheiros, área de lazer e campo de
futebol.
Nessa sala, os menores estão
sem tomar banho desde segunda-feira, estão dormindo sem colchões, apenas enrolados em cobertores, e são obrigados a urinar
em garrafas de refrigerante.
"Numa situação dessas, mesmo
com os menores sendo vigiados
pela tropa de choque, eles podem
explodir. Lá dentro, há muito psicopata que não sabe nem porque
está internado", afirmou o promotor Soares após deixar o local.
Pelo menos nos próximos dias,
a situação na Imigrantes não deve
se modificar, pois não há plano
emergencial de transferência desses adolescentes.
Intolerância
Para evitar a instalação de unidades da Febem, municípios do
interior começam a copiar um
projeto aprovado em Bauru que
proíbe a instalação da instituição
dentro do perímetro urbano.
Pelo menos cinco municípios
-Sorocaba, Lençóis Paulista,
Guararema, Marília e São José dos
Campos- estão discutindo a votação do projeto, que limitaria a
construção de unidades para menores infratores à zona rural.
A Câmara Municipal de Bauru
aprovou o projeto na última segunda-feira. A idéia, do vereador
pedetista Salvador Afonso, veio a
público desde o anúncio da construção de uma unidade da instituição em um terreno doado pelo
DNER (Departamento Nacional
de Estradas de Rodagem) dentro
da cidade pelo governo estadual.
A aprovação do projeto foi baseada no direito à escolha da utilização do solo pelo município.
Novas internações
O Ministério Público e a Justiça
também são responsabilizados
pelo governo de fomentar a crise
por internar menores que poderiam estar cumprindo outro tipo
de pena. Foi o que aconteceu com
Adriano Dias Brandão, 14, que
morreu na rebelião da Imigrantes, onde não deveria estar. "Se a
Justiça manda, tenho de internar", disse Covas.
Contra esse argumento, o Tribunal de Justiça de São Paulo
apresentou dados que comprovam que o Judiciário aplicou, no
primeiro semestre deste ano,
mais penas alternativas do que de
internação: 4.052 contra 2.354, na
capital.
Entre as medidas alternativas,
estão a semi-liberdade, prestação
de serviço, obras de reparo, liberdade assistida e advertência.
Crise política
O problema na Febem também
está gerando uma crise política no
governo estadual. Na sessão de
ontem da Assembléia, o deputado
Paulo Teixeira (PT) apresentou
uma proposta de extinção da entidade, que causou descontentamento na base governista.
Para Teixeira, a Febem é ilegal
pois é baseada no antigo Código
de Menores, que caducou em
1990, com a entrada em vigor do
ECA. Por isso, ele propõe que o
órgão seja extinto e, em 90 dias,
entidades de defesa do menor discutam com o governo do Estado o
novo modelo a ser implantado.
O líder do PSDB na Assembléia,
Roberto Engler, rebateu, acusando a oposição de se aproveitar do
momento para entrar em evidência. "A decisão sobre a Febem cabe ao Executivo. Se o PT quer ser
governo, precisa primeiro ganhar
a eleição", disse Engler.
Colaborou Kamila Fernandes, da Agência
Folha
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