Descrição de chapéu
O que a Folha pensa Auxílio Brasil

Sobe e desce da miséria

Auxílio gera guinadas na pobreza extrema; melhora duradoura depende da economia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ocupação Jardim Julieta, na zona norte de São Paulo (SP) - Lalo de Almeida/ Folhapress

Em 2020, quando se experimentava o pior do impacto da pandemia sobre a atividade econômica, o percentual de brasileiros vivendo na miséria recuou ao menor patamar da série histórica do Banco Mundial, iniciada em 1981.

Já no ano passado, enquanto o Produto Interno Bruto do país se recuperava, as taxas de pobreza e extrema pobreza foram as maiores já medidas pelo IBGE, em levantamentos a partir de 2012.

A explicação óbvia para movimentos tão bruscos e aparentemente paradoxais é a intervenção do governo —mais precisamente o auxílio emergencial de R$ 600 mensais instituído em 2020 para minorar os danos sociais da Covid-19 e descontinuado em 2021.

As mesmas reviravoltas nas condições de vida das famílias mais carentes ajudam a entender, aliás, a ofensiva tardia e atabalhoada de Jair Bolsonaro (PL) para restabelecer o valor do benefício, agora chamado Auxílio Brasil, durante a campanha frustrada à reeleição.

Pela métrica do Banco Mundial, a fatia da população na extrema pobreza caiu a 1,95% no ano retrasado, ante 5,39% no pré-pandemia. Já o IBGE, com outra metodologia, apontou que os miseráveis passaram de 5,7% para 8,4% em 2021.

Os critérios mudam de uma instituição para outra, mas não as trajetórias. É cristalino que o auxílio então temporário, mesmo com falhas consideráveis em sua concepção, proporcionou ganhos inéditos na baixa renda. Depois, a interrupção do pagamento foi agravada pela escalada da inflação.

Ainda não se conhecem dados mais atualizados, mas é razoável estimar que hoje, após a volta dos R$ 600 ao mês e a queda expressiva do desemprego ao longo deste 2022, as taxas de pobreza e extrema pobreza sejam menores.

Os números evidenciam a importância do programa de seguridade, mas será ilusório imaginar que desembolsos ilimitados bastarão para pôr fim às chagas sociais do país.

Uma transferência de renda que passa da casa da centena de bilhões em um ano tem, sem dúvida, um grande efeito imediato na redução da miséria. Para uma melhora mais duradoura, entretanto, é essencial que o emprego se mantenha em alta e o poder de compra da população seja preservado.

O desequilíbrio orçamentário, cedo ou tarde, resulta em mais juros, retração econômica e perda de vagas no mercado de trabalho. Em cenários assim, não há despesa assistencial que baste.

editoriais@grupofolha.com

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.