Neste domingo, França e Irlanda se enfrentam pelas oitavas de final da Eurocopa, às 10h (horário de Brasília), em Lyon. Da última vez que este encontro ocorreu, há sete anos, o craque Thierry Henry acabou sendo acusado de cometer um "ato criminoso" e foi até declarado "inimigo do Estado" no Eire depois de participar daquele que foi talvez o lance mais polêmico de sua longa e vitoriosa carreira no futebol.
Em 18 de novembro de 2009, França e Irlanda se enfrentavam no Stade de France lotado, pelos playoffs de classificação para a Copa do Mundo de 2010. Os Bleus, que vinham jogando um péssimo futebol sob o comando do contestado técnico Raymond Domenech, haviam vencido o confronto de ida, fora de casa, por 1 a 0, mas perderam pelo mesmo placar em Saint-Denis. Por causa disso, a partida foi para a prorrogação, totalmente aberta.
Até que, aos 103 minutos de jogo, Malouda lançou uma bola para a área, Squillaci desviou, Henry dominou e cruzou para Gallas fazer o gol do empate francês. Explosão de alegria no Stade de France! Só que, imediatamente, os irlandeses correm em direção ao árbitro sueco Martin Hansson e pedem para o tento ser anulado.
Gritam, gesticulam, ajoelham, imploram... Mas em vão.
Mas o que aconteceu de tão errado? Simples: Henry dominou a bola com a mão no lance. Não só dominou, como ainda deu uma ajeitada na redonda antes de cruzar na cabeça de Gallas, que só escorou para as redes. Aquele seria o gol da classificação francesa para o Mundial da África do Sul, que seria realizado no ano seguinte.
Imediatamente, a imagem de Henry, um jogador então admirado em todo o mundo por sua passagens por Juventus, Arsenal e Barcelona, além dos títulos com a França, correram o mundo. A imprensa irlandesa destruiu o jogador, classificando sua atitude como "criminosa", "antiética", "suja" e "imperdoável". Ele foi declarado persona non grata no Eire, e um "inimigo do Estado" pela atitude antidesportiva em campo.
Tudo isso porque o próprio atacante admitiu, após o jogo, ainda no Stade de France, que de fato havia colocado a mão na bola, e optou por não comunicar ao árbitro.
"Sim, houve mão na bola. É duro para a Irlanda. Eu estava atrás de dois jogadores, Squillaci desviou de cabeça, a bola bateu na minha mão e eu cruzei. O árbitro não apitou, então segui a jogada. Depois, quando o jogo acabou, falei para o árbitro", afirmou.
Questionado se não poderia ter admitido ao árbitro que havia cometido uma irregularidade no lance, Henry foi irônico: "Como você queria que eu tivesse feito isso? Parado o lance, avisado o árbitro e só então cruzado a bola? Vocês são engraçados, muito engraçados', sorriu, antes de lembrar um episódio no qual esteve do outro lado.
"Eu perdi uma final da Copa da Inglaterra com um adversário colocando a mão na bola também Todos viram, menos o árbitro. Acontece, é do jogo", finalizou o camisa 12.
Os irlandeses ficaram ainda mais revoltados. O presidente da Federação Irlandesa, John Delaney, e o técnico da seleção, o italiano Giovanni Trapattoni, disseram que iam pedir à Fifa para que aquela partida fosse anulada e disputada novamente.
Até mesmo políticos do país, como o ministro da Justiça, Dermot Ahern, pediram à entidade suíça que ordenasse um replay da polêmica partida, já que a "imagem do futebol foi manchada de forma absurda por uma trapaça", como disse Ahern, à época.
A Fifa e seu então presidente Joseph Blatter, porém, nada fizeram.
O fato é que a França foi à África do Sul e a Irlanda ficou em casa, vendo a Copa do Mundo pela televisão. Só que a praga rogada pelos habitantes da ilha em cima dos Bleus foi tão forte que a equipe comandada por Domenech implodiu em meio à fase de grupos, com brigas entre jogadores e também entre atletas e treinador.
Resultado: vexame e eliminação antes mesmo das oitavas.
No dia seguinte, todos os jornais irlandeses publicaram manchetes irônicas, com fotos de Henry cabisbaixo. "O insulto final", escreveu o Irish Times. "França ficou nas mãos do destino", ironizou o Irish Independent. Era a vingança que estavam esperando.
Sete anos depois disso tudo, o episódio foi esquecido. Pelo menos é o que garante o técnico da Irlanda, Martin O'Neill, antes da partida decisiva deste domingo.
"Isso é algo que decidimos esquecer. E olha que falo dos irlandeses em geral. Claro que muita gente vai falar disso, mas não acho que vai interessar a ninguém quando a gente entrar em campo. Será hora de escrever uma nova história", bradou o comandante.
Resta agora saber quais serão as manchetes na Irlanda na segunda-feira...
Último França x Irlanda transformou Henry em 'criminoso' e 'inimigo do Estado'
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