O brasileiro que jogou futsal, vendeu roupa e treinou em 'cubículo' antes de virar boxeador olímpico

Guilherme Nagamine, do Rio de Janeiro (RJ), e Rafael Valente, de São Paulo (SP)
Rafael Valente/ESPN.com.br
O paraense Julião Neto durante treino de boxe, em São Paulo
O paraense Julião Neto durante treino de boxe, em São Paulo

Um longa caminhada.

Assim pode ser definida a trajetória do boxeador Julião Neto, que estreia neste sábado nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Aos 34 anos, ele lutará contra o norte-americano Antonio Vargas em seu primeiro combate na categoria mosca (até 52kg) por volta das 11h30 (horário de Brasília).

Um dos mais experientes da equipe nacional, ele começou tarde no boxe e, na verdade, tentou a sorte em um outro esporte antes: o futsal

"Fui jogador federado. Jogava no Multisport, em Belém. Só que não deu certo. Depois fui jogar por uma outra equipe, pois a primeira era muito fraquinha. Só que era muito longe de casa. Não tinha condições de pagar o ônibus. Era um para ir e dois para voltar. Então, eu tinha de pegar um para voltar e depois andar a pé. Dava uma pernada só para chegar em casa. Mas não tinha aquelas condições para prosseguir no salão. Resolvi parar. Não tinha como. Era muito longe. Só minha mãe para me sustentar ao lado de outros seis irmãos. Eu tinha 18 anos nessa época", declarou ao ESPN.com.br.

Para ajudar em casa, Julião ficava ao lado de sua mãe na feira para vender roupas. De lá, tirava o sustento para ter "o pão de cada dia" e os trocados para garantir o almoço do dia seguinte.

"Eu tinha uns 20 anos. Eu ajudava minha mãe na feira. Vendia roupa, brinquedo, ajudava as pessoas. Em 2009 eu passei a viver só do boxe. Em 2010 me firmei como titular da seleção e não sai mais. Já ajudava minha mãe. Mandava dinheiro. Ajudo hoje meus familiares", conta.

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O começo no boxe foi mais ou menos na mesma época. Um de seus irmãos treinava com um amigo que morava na mesma rua que eles. Julião gostava de assistir. Um dia, resolveu treinar juntos com eles. O espaço, porém, era bem pequeno. Acontecer algum tipo de acidente era uma questão de tempo. Como de fato aconteceu.

"Era uma casa pequena, 3x3, não sei ao certo, só sei que era bem pequeno. Um dia que eu fui fazer sparring com ele [amigo do irmão, chamado Guilherme Soares] e ele me deu um soco. Eu bati o rosto em um prego que estava na parede. Abriu meu rosto, mas eu continuei lutando. Disse que não queria parar a luta. Quando terminou eu disse para ele: ‘Não dá para continuar aqui. É muito pequeno. A gente se bate muito. Vamos procurar um lugar'".

Procuraram e acharam a Academia Rocky Balboa, local em que as habilidades no esporte foram desenvolvidas de uma maneira melhor. Julião gosto e seguiu. Seu irmão e seu amigo, não. Ficou só na caminhada dos ringues.

Dado o primeiro passo, seu próximo objetivo passou a ser seleção. Ele tinha aspiração e resultados, mas a recompensa demorou para aparecer. Apesar de se sagrar campeão brasileiro logo em seus primeiros anos, foi preterido. A espera só terminou, enfim, em 2007. "Não foi fácil. Só eu sei".

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Tanta batalha deu resultado em 2012, quando garantiu vaga para os Jogos Olímpicos de Londres. Em sua primeria experiência olímpica, perdeu na segunda luta, mas viu Esquiva Falcão, Yamaguchi Falcão e Adriana Araújo conquistarem medalhas para o Brasil e encerrarem um jejum que perdurava desde a Olimpíada de 1968, no México.

O resultado acima das expectativas reacendeu a chama do boxe brasileiro. A cobrança, também. Para o Rio, Julião sentiu uma diferença. Para ele, a exigência está alta. A expectativa, própria, porém, também está no mesmo nível.

"Tem muita cobrança, cara. Muita cobrança. Todos nos estamos bem preparados. Por ser na nossa casa, ao lado da nossa torcida, a gente tem expectativa de trazer muitas medalhas e bater esse recorde aí de medalhas de Londres. A gente teve mais cobrança, mas também teve mais apoio nesse ciclo também. O pessoal do COB colocou confiança no nosso trabalho. Vamos ver. Estamos treinados para lutar com qualquer um. Vamos ver o que Deus tem para nós. Estamos num caminho bom. Não tem nada igual a disputar uma Olimpíada. É outro mundo. É muito bom. É muito gostoso representar seu país, ainda mais dentro de casa, em que vamos ter a torcida a favor."

O caminho foi construído com força, sacrifício e até pregos pela frente. Resta saber aonde ele vai dar no Rio de Janeiro. 

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