Reinaldo Rueda Rivera não está entre os indicados a melhor técnico do ano no prêmio "The Best" da Fifa. No entanto, o colombiano de 59 anos merece uma medalha de honra.
O treinador do Atlético Nacional, da Colômbia, é atualmente o maior "papa títulos" do continente.
Desde que assumiu a equipe alviverde, no ano passado, após passagens pelas seleções sub-20 e principal da Colômbia e pelas seleções principais de Honduras e Equador, ele disputou oito torneios e ganhou quatro.
Ao todo, faturou um Colombiano (2015), uma Superliga da Colômbia (2016), uma Copa da Colômbia (2016) e, o mais importante deles, a Copa Libertadores da América (2016).
Tudo isso jogando um futebol bonito, ofensivo, moderno, arrojado, de encher os olhos de todos.
Rueda só não faturou a Copa da Colômbia de 2015 (caiu nas oitavas de final para o campeão Junior Barranquilla) e o Colombiano I de 2016 (foi eliminado novamente pelo Junior Barranquilla, desta vez nos pênaltis, na semifinal).
Além disso, o comandante levou o Atlético à final da Copa Sul-Americana desta temporada, em que sua equipe chegou como grande favorita contra a surpreendente zebra Chapecoense.
No entanto, devido ao trágico acidente de avião com o time brasileiro, o clube colombiano cedeu o título da competição aos catarinenses, ganhando um prêmio de fair play (além de US$ 2 milhões de premiação) como reconhecimento da Conmebol.
A ideia de dar o título à Chape como forma de homenagem, inclusive, passou pelo comandante, que contou com o apoio dos jogadores na empreitada. Uma demonstração enorme de humanismo e fair play, marcas da carreira do treinador.
"O Atlético foi o primeiro a oferecer isso, sendo coerente com o que nós (comissão técnica e jogadores) queríamos, mas também sabendo que eles vinham fazendo um lindo torneio e que vinham disputar essa final conosco", disse Rueda, no mesmo dia em que a Conmebol outorgou o título continental à agremiação de Chapecó.
"Creio que seja o melhor para o futebol mundial", completou Reinaldo, ressaltando também a importância da atitude para a estima de seu próprio país.
"O povo colombiano está mostrando a qualidade da nossa raça. Sempre fomos assim e creio que é muito importante para as gerações que estão por vir na Colômbia demonstrar essa solidariedade para todo o mundo", salientou El Profe.
Ainda neste fim de ano, Rueda tem chance de erguer mais duas taças. A primeira delas será o Colombiano II, em que seu time está na semifinal e joga nesta quarta-feira a ida contra o Independiente Santa Fe, às 22h (horário de Brasília) - a volta será domingo, também às 22h.
Depois, os "Verdolagas" disputam o Mundial de Clubes da Fifa, cuja estreia na semifinal está marcada para o dia 14, contra um adversário ainda indefinido. O esperado é que o clube de Medellín faça a final contra o poderoso Real Madrid, campeão da Uefa Champions League.
A viagem ao Japão, aliás, acabou gerando um "problema" aos atleticanos, que terão que jogar o Colombiano com equipes B e C, já que os titulares embarcarão na quinta para o Oriente em busca do troféu inédito.
Até hoje, Rueda disputou 100 partidas pelo time de Medellín, com 57 vitórias, 30 empates e apenas 13 derrotas. Foram 167 gols a favor e somente 69 contra.
Mas, afinal, de onde surgiu o treinador que é a sensação de 2016?
Professor de verdade e fã de Telê Santana
Nascido em Cali, Rueda, hoje com 59 anos, nunca foi jogador profissional e se dedicou aos estudos esportivos desde cedo.
Formado em educação física e pós-graduado na Escola Superior de Esportes na Alemanha (onde aprendeu a falar alemão fluente), ele foi instrutor na Escola Nacional de Treinadores da Colômbia, licenciada pela Fifa.
O profundo conhecimento da modalidade permitiu passagens importantes pela seleção colombiana, em 2006, e dois trabalhos de respeito ao classificar Honduras para a Copa do Mundo de 2010 e o Equador para a de 2014.
Rueda chegou ao Atlético em 2015, após Juan Carlos Osorio assinar com o São Paulo.
O desafio de substituir um técnico considerado "revolucionário" no país não foi nada fácil, mas o trabalho surtiu efeito. Em pouco tempo, o treinador manteve o clube forte e fez uma campanha sólida até a final da Libertadores, jogando o fino da bola.
Como todo estudioso sul-americano, Rueda tem vasto conhecimento sobre o futebol brasileiro e seus treinadores mais marcantes. Apesar de ter o ex-técnico da seleção espanhola, Vicente Del Bosque, como principal influência, o colombiano tem um carinho especial por Telê Santana.
O trabalho feito pelo ídolo são-paulino na Copa do Mundo de 1982 foi marcante na vida do comandante do Atlético.
"Telê Santana é a maior referência do futebol brasileiro. Aquela seleção brasileira da Copa do Mundo de 1982, na Espanha, é uma das melhores que vi jogar", disse.
Em julho deste ano, aliás, o próprio São Paulo chegou a sondar Rueda, visto que o argentino Edgardo Bauza encaminhava sua saída para a seleção Albiceleste.
Pouco depois, no entanto, o próprio Tricolor virou vítima do treinador colombiano.
Na semifinal da Libertadores, o Atlético venceu a equipe paulista duas vezes, tanto no Morumbi quando em Medellín, e carimbou sua vaga na decisão, na qual derrotaria o Independiente Del Valle, do Equador, sagrando-se bicampeã da Libertadores.
Já escapou de acidente fatal
Muito elogiado pela atitude de ceder o título da Copa Sul-Americana à Chapecoense, Reinaldo Rueda escapou por muito pouco da morte enquanto comandava o Equador.
Aconteceu em dezembro de 2009, enquanto o treinador viajava pela Suíça em busca de um campo de treinamento nos Alpes para que sua equipe se preparasse para a Copa do Mundo da África do Sul, adaptando-se ao clima frio do país africano no meio do ano.
"Estávamos perto de Annecy, voltando de viagem, e em uma curva veio um carro em alta velocidade. Nosso motorista conseguiu evitar o choque frontal, e o outro carro acertou nosso lado esquerdo e nós capotamos. Graças a Deus terminamos somente com lesões leves", contou Rueda, em entrevista dada 2014 ao jornal Blick.
O treinador ficou com uma cicatriz no pulso, que precisou ser operado, como marca do acidente.
Isso também explica em boa parte sua nobreza em dar o título da Sul-Americana à Chape.
"Creio que era o mínimo fazer um tributo a estes homens que morreram cumprindo seu trabalho, sua profissão", ressaltou o comandante do Atlético Nacional.
Fair play e papa títulos: quem é o técnico que faz A. Nacional gigante dentro e fora de campo
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.