Há dez anos, Brasil era anunciado sede da Copa de 2014; veja alguns personagens daquele dia

ESPN.com.br
Da esq. p/ direita: Paulo Coelho, Dunga, Lula, Romário e Teixeira, na Fifa em 2007
Da esq. p/ direita: Paulo Coelho, Dunga, Lula, Romário e Teixeira, na Fifa em 2007 GettyImages

Há dez anos a CBF bancou a ida de uma pomposa delegação para Zurique, na Suíça, com nomes como o do escritor Paulo Coelho e do ex-atacante Romário, para representar o país. O motivo era nobre. Ao menos, aparentava ser. A Fifa definiria naquele 30 de outubro de 2007 a sede da Copa do Mundo de 2014.


Por uma característica do sorteio, o Brasil aparecia como único candidato da América do Sul, continente ao qual cabia a vez no rodízio pela Fifa. Ou seja, a chance de o torneio desembarcar em outro país era mínima.

Mas isso não impediu que a delegação bancada pela CBF adotasse o discurso de incerteza antes do anúncio. Havia até uma tese de conspiração. O técnico da seleção e o presidente da República acreditavam que o Canadá pretendia minar a condição do Brasil organizar o Mundial e apresentar-se como Plano B para levar a Copa para a América do Norte...

Apesar da chance zero de zebra, a escolha não inibiu a comemoração da delegação bancada pela CBF. No país o clima também não foi diferente. Muitos festejaram. Afinal, após 64 anos, a Copa do Mundo voltaria a ser organizada por aqui.

Lembra quem estava presente naquele dia em Zurique? O ESPN.com.br faz questão de relembrar e mostrar o que aconteceu com cada um. Confira:

  • O homem da CBF

Ricardo Teixeira era o presidente da CBF. Estava no comando desde 1989 e foi um dos articuladores políticos dentro da Fifa para trazer a Copa do Mundo ao Brasil.

E Teixeira chegou a prometer uma Copa sem gastos públicos em estádios.

"A Copa do Mundo será melhor quanto menos dinheiro público for investido. Essa equação é que norteia o projeto desde o início. Ao governo, em todos os seus níveis, caberá os gastos com obras que lhe dizem respeito. O investimento maior terá de vir da iniciativa privada", afirmou Teixeira na época de candidatura.

O discurso caiu por terra antes mesmo da Copa de 2010 acontecer. Em agosto de 2009, Teixeira já reconhecia o uso de dinheiro público.

"Esses estádios [excetuando os privados, Morumbi, Beira-Rio e Arena da Baixada] são do governo. Necessariamente, (a reforma deles) vai ter que envolver governo", disse Teixeira em entrevista reproduzida pelo O Estado de S. Paulo.

Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF
Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF Getty Images

Para citar um exemplo. A Arena de Natal teve 49% de investimento do governo de Rio Grande do Norte contra 51% da iniciativa privada.

Mas não foi apenas o planejamento que mudou. Teixeira perdeu força, foi envolvido em denúncias de corrupção e acabou renunciando à presidência da CBF em 12 de março de 2012, dois anos antes da Copa. No seu lugar deixou José Maria Marin.

Juca Kfouri analisa caso de Nuzman: 'Foi tão fominha que está preso antes do Ricardo Teixeira'

Passados dez anos da escolha do Brasil como sede da Copa, Ricardo Teixeira é investigado pelo FBI (a polícia federal dos EUA), pela Justiça da Suíça e pelo Ministério Público da França por desvio de recursos e participação em um esquema de compras de votos para o Catar ser escolhido sede do Mundial de 2022.

Teixeira também é alvo da Justiça Espanhola. Em julho deste ano, um interlocutor do órgão divulgou uma ordem internacional de captura do ex-presidente da CBF. O motivo? Uma suposta participação para desviar milhões de dólares em amistosos da seleção com Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona.

Aos 70 anos, ele mora no Rio de Janeiro e, em junho deste ano, afirmou para a Folha de S.Paulo estar muito tranquilo.

"Tem lugar mais seguro que o Brasil? Qual é o lugar? Vou fugir de quê, se aqui não sou acusado de nada? Você sabe que tudo que me acusam no exterior não é crime no Brasil. Não estou dizendo se fiz ou não", disse o ex-presidente da CBF.

  • O técnico da seleção

Dunga era o técnico da seleção em outubro de 2007. E não gozava de apoio popular. A crítica mais recorrente era a de que o ex-volante, campeão como capitão da Copa do Mundo de 1994, não tinha experiência como treinador.

Mas ele foi bancado pela CBF e comandou o Brasil na Copa de 2010, na África do Sul. A campanha não foi tão ruim. Chegou até as quartas de final, sendo eliminado pela Holanda com derrota por 2 a 1, de virada. 

Dunga foi demitido pela CBF após o Mundial. Chegou a treinar o Internacional, em 2013, e só. Nenhum outro clube o contratou.

Dunga trata saída da seleção com 'normalidade' e se diz de 'férias'

Após a Copa de 2014 foi chamado novamente pela CBF para ser o treinador da seleção. Dessa vez a passagem foi mais curta. Foi demitido em julho do ano passado por conta do fracasso na Copa América Centenário e da péssima campanha do Brasil na eliminatória para a Copa de 2018.

Hoje, aos 53 anos, está desempregado. 

Vale lembrar que em 2007 o discurso dele foi bastante empolgado.

"Será a Copa de um povo que tem sabedoria, simpatia e criatividade. O mundo conhecerá outro país, além daquele das praias, do futebol e do carnaval. Conhecerá um país em pleno desenvolvimento de sua agricultura e indústria. E essa Copa ajudará ainda mais a acelerar o crescimento do país", disse Dunga.

  • O presidente do Brasil

Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, era o presidente do Brasil. Ele já estava no segundo mandato, tendo vencido a reeleição em 2006. Foi talvez um dos que ficou mais entusiasmado com a vinda da Copa do Mundo para o país.

"O mundo terá a oportunidade de ver o que o povo brasileiro é capaz de fazer. O futebol para nós, brasileiros, não é apenas um esporte, mas uma verdadeira paixão. Vamos realizar uma Copa para argentino nenhum botar defeito. Estejam certos de que o Brasil saberá orgulhosamente fazer a lição de casa", disse o presidente.

Lula deixou a presidência da República ao final de 2010, passando o bastão para Dilma Rousseff. Mesmo assim continuou ligado ao futebol. Foi homem chave ao convencer a Odebrecht a construir o estádio do Corinthians, em Itaquera, palco de abertura do Mundial.

Lula conversa com Ricardo Teixeira sob os olhares de Sérgio Cabral e Aécio Neves
Lula conversa com Ricardo Teixeira sob os olhares de Sérgio Cabral e Aécio Neves GettyImages

Desde o início de 2016, contudo, o ex-presidente tem convivido com acusações de corrupção e é investigado pela Operação Lava Jato por crimes de tráfico de influência, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e ocultação de patrimônio. 

O golpe mais duro foi dado em 12 de julho de 2017, quando foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a nove anos e seis meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e recebimento de propina. O processo não foi julgado em segunda instância e por isso Lula responde em liberdade.

Muitas pessoas indicam que Lula deve ser candidato à presidência em 2018. Algo que ele mesmo jamais confirmou. Por enquanto ele aguarda o novo julgamento.

  • O homem dos esportes no Brasil

Orlando Silva Júnior era o ministro do Esporte quando o Brasil foi escolhido sede da Copa do Mundo. Foi dele uma das frases mais citadas até hoje (quando se fala de promessas não cumpridas, é claro).

"Cada centavo gasto será registrado. Haverá transparência. O governo não assumirá encargos estaduais e municipais, nem dos estádios. O Brasil estará unido pelo sonho de realizar a Copa", disse Orlando Silva Júnior naquela ocasião.

Ele ocupou o ministério do Esporte até outubro de 2011, sendo substituído por Aldo Rebelo. Depois disso virou vereador de São Paulo, entre 2013 e 2015, e atualmente é deputado federal do Estado de São Paulo pelo PC do B.

Orlando Silva Júnior e Ricardo Teixeira em coletiva, em 2007
Orlando Silva Júnior e Ricardo Teixeira em coletiva, em 2007 Arquivo GazetaPress
  • O representante dos jogadores

Deveria ter sido Pelé, mas o Rei do Futebol informou que estaria em um evento, na Alemanha, no dia da cerimônia e declinou o convite. A imprensa noticiou na época que o mais famoso jogador do Brasil estava brigado com Ricardo Teixeira e não pretendia emprestar seu rosto para o cartola capitalizar.

Sem ele, Romário foi escolhido pelos cartolas para representar o Brasil na Fifa. E com isso acabou sendo presenteado. No vídeo de apresentação da campanha do país, muitos gols deles foram exibidos, enquanto Pelé só apareceu no lance em que dá um passe para Carlos Alberto Torres marcar o gol na final da Copa de 1970.

"Vamos fazer a maior Copa do Mundo. O Brasil vai cumprir tudo aquilo que for determinado pela Fifa", disse ao final da festa na Fifa.

Romário comenta trabalho de CPI do Futebol e acredita em fim da podridão: 'Não é utopia, é realidade'

Naquele ano Romário ainda estava jogando futebol e, ao mesmo tempo, tentava engrenar como técnico. Foi nesta carreira dupla que defendeu o Vasco.

Despediu-se do futebol em 2009. Em 2011, virou deputado federal pelo Rio de Janeiro. Desde 2015 é senador pelo Rio de Janeiro. 

Romário presidiu nos dois últimos anos a CPI do Futebol em uma guerra contra os cartolas da CBF. E chegou a publicar um livro - "Um olho na bola, outro no cartola - o crime organizado no futebol brasileiro" - contando os bastidores do trabalho. Prometeu punições ainda neste ano...

  • O representante do mundo das artes

O escritor Paulo Coelho foi convidado pela CBF por representar "o brasileiro mais famoso no mundo depois de Pelé". E ele discursou a favor da Copa do Mundo no país utilizando uma comparação que acabou "viralizando"...

"Já vi brasileiros discutindo cinco horas uma partida de futebol, mas nunca vi eles discutindo uma relação sexual o mesmo tempo. Não estou dizendo que um é melhor que o outro, mas o futebol dura mais", disse Coelho, arrancando risadas.

  • E os políticos

Não faltaram políticos na cerimônia. Dois ministros e nada menos do que 12 governadores foram convocados pela CBF para representar o Brasil na Fifa. É bom que se lembre que os governadores tinham interesse de colocarem seus estados como sedes. Alguns conseguiram. Outros nem passaram perto.

A lista de presentes era formada por:

- Marta Suplicy, ministra do Turismo
- Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores

- E os governadores:
Sérgio Cabral (Rio de Janeiro)
José Serra (São Paulo)
José Roberto Arruda (Distrito Federal)
Aécio Neves (Minas Gerais)
Jacques Wagner (Bahia)
Blairo Maggi (Mato Grosso)
Eduardo Braga (Amazonas)
Eduardo Campos (Pernambucano)
Binho Marques (Acre)
Alcides Rodrigues (Goiás)
Ana Júlia Carepa (Pará)
Cid Gomes (Ceará)

Encontro que definiu o Brasil como sede da Copa, em 2007
Encontro que definiu o Brasil como sede da Copa, em 2007 GettyImages
Comentários

Há dez anos, Brasil era anunciado sede da Copa de 2014; veja alguns personagens daquele dia

COMENTÁRIOS

Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.