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Barcelona, triângulos, o mar e uma questão de natureza

Barcelona, campeão do mundo de 2011 - Foto: Reuters

Barcelona, campeão do mundo de 2011 - Foto: Reuters

Não achei justo escrever logo após Barcelona x Santos. Seria covardia. Preferi parar, pensar, ver, ouvir, enfim, ter uma ideia mais clara antes de dizer que o time espanhol é sensacional, é genial, que deu show. Isso, todo mundo sabe.

Muita gente compara a Holanda de Cruyff à equipe da Catalunha. Por uma questão de logística temporal, vi pouco a “laranja mecânica”, mas li muito mais sobre o “carrossel holandês” do que sobre o Barcelona de Messi e companhia. Aliás, pelo dinamismo, de “carrossel” aquele time não tinha nada. Assim, eu vi e vejo, por uma questão de logística temporal, muito mais o Barcelona atual. É só ligar a TV que, toda semana, tudo que é cronista esportivo enche a bola do time de Guardiola.

Mas o que é essa equipe? Qual é o segredo? Como ela joga? Ver, todo mundo vê, mas ninguém, até hoje (Ok, Mourinho e sua Inter conseguiram), teve capacidade de brecar uma das melhores equipes da história da bola.

Esqueçam o trocadilho óbvio com “Peixe”, mas a partida contra o Santos me ajudou a ver o Barcelona de duas formas, uma mais didática, mais fruto de todo o treinamento que esse time passa desde suas categorias de base, e outra mais lúdica, mais no “estilo Armando Nogueira”.

Santos 0 x 4 Barcelona

De forma prática, é óbvio que o grande diferencial do Barcelona é a movimentação. Mas, não adianta nada você se movimentar se o seu companheiro não tem capacidade de dar um passe de 2 metros. A relação entre linha da bola e movimentação também é de se espantar: ora os jogadores avançam além da linha da bola; em outros momentos, é a bola que recua, abrindo espaços para os avanços dos jogadores.

Vejo até um “quê” de basquete na coisa toda. Vocês se lembram do triângulo ofensivo do Chicago Bulls de Phil Jackson e Michael Jordan. Pois foi o auxiliar do treinador, um senhorzinho simpatico chamado Tex Winter, que lapidou a coisa toda (o esquema foi criado pelo técnico Sam Barry). Basicamente, a movimentação de ataque, com passes curtos e rápidos, criava novas opções de passe e fazia com que surgissem espaços na defesa rival. Parece ou não parece?

Quem joga contra o Barcelona não sabe muito bem quem marcar. “Vou colocar dois caras em cima do Messi”, pode pensar um técnico, mas e aí? O Xavi vai ficar livre? O Iniesta? A marcação rival se perde porque nunca se sabe por onde o time espanhol vai atacar. Daí a visão lúdia: o mar.

Fim de ano, todo mundo vai para a praia e entope as estradas e as águas de todo o país. O melhor para visualizar a coisa é ir enquanto todo mundo trabalha. Aí, sim, o cara chega na areia, com sol ou não, e ele resolve entrar na água. Ao fundo, ele vê aquela marolinha vindo. Curioso que ela não nasce sempre no mesmo lugar, mas surge de diversos pontos no meio daquele mar. Às vezes, não dá em nada, e ela some. Em outras, ela até chega perto, mas desaparece. Enfim, algumas viram ondas, umas mais encorpadas, outras mais leves, ou uma sequência delas… Assim é o Barcelona.

Onda - Foto: Clark Little

Onda - Foto: Clark Little

A jogada que começa lá atrás é uma marolinha, que pode vir por qualquer canto. Às vezes, não dá em nada, mas ela volta aqui e ali até virar uma onda certeira. A onda, aquela forte, muitas vezes atende pelo nome de Messi. Mas não adianta esperar apenas pelas “ondas Messi”. Outras ondas, como Xavi, Iniesta e etc e etc e etc, são tão ou mais letais que a tal Messi. Pior: pode vir uma Messi seguida de um Xavi seguida de um Daniel Alves seguida de um Piqué, e você ali, sem saber de onde veio tudo isso.

Claro que não tem magia nenhuma nesse Barcelona. O técnico não é o “Mister M”, nem ouviremos Cid Moreira anunciar que, no próximo domingo, ele desvendará esse sortilégio. A magia do Barcelona se chama treino, se chama suor. E não é o treino daquele cara de 25 anos, que se tornou profissional sem nem saber acertar o gol direito. É o treino desde moleque, criança, aquele treino que deixa o garoto capaz de realizar o básico de olhos fechados. Vira algo intrínseco, eu diria, até, que se torna é uma questão de natureza. Como o mar.

P.S.: Flavio Gomes dá mais uma aula em seu Blog com o imperdível “A Lição do Japão”.

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O melhor da semana (3): o presidente, o marketing e o impossível

Laor, presidente do Santos, ao lado de Pelé - Foto: Divulgação/Santos FC

Laor, presidente do Santos, ao lado de Pelé - Foto: Divulgação/Santos FC

De Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, presidente do Santos, sobre o seu sonho de inscrever Pelé no Mundial de Clubes da Fifa, em dezembro, durante a semana:

“Vou conversar hoje (quarta) com o Muricy. Ele é quem vai definir. Se topar, a presença do Pelé na final vira história. Vai ter repercussão mundial, como já está tendo”

“Imagine os japoneses no estádio e nas ruas e a audiência da TV no mundo inteiro com o Rei do futebol no banco. A motivação dos atletas santistas também seria outra”

“A inscrição e presença dele já é historia e a não inscrição também, pois o Muricy pode não querer fazer história. O Muricy pode ser o único técnico que recusou Pelé, já imaginou isso?”

“A presença do Pelé atrairia os olhares do mundo inteiro para o Santos e a simpatia da torcida japonesa para o nosso time”

“Ainda é uma brincadeira, um sonho que queremos realizar. Temos que seguir uma rotina. Primeiro o Muricy, depois o Pelé e depois a Fifa, não podemos colocar os carros antes dos bois. Vou falar com o Muricy antes do jogo contra o Vasco e vou mandar ele pensar”

“O Pelé eu falei com ele em homenagem do Conselho Deliberativo, na última quinta. Ele deu risada e disse que começaria a treinar”.

“Me ocorreu que o Pelé é tricampeão mundial pela seleção (1958, 62 e 70), mas é bi pelo Santos (62 e 63). E agora, 48 anos depois, nada mais justo do que ser tricampeão com a camisa do Santos também”

“O elenco do Santos é de qualidade e é versátil. Além do mais, o Santos faria apenas dois jogos. Concordo que se fosse uma competição longa, haveria perda, mas não é o caso”

“O treinador é a autoridade máxima. Se o Muricy vetar, vamos estudar outras formas de usar a imagem do Pelé”

“É claro que ele, mesmo dizendo que vai treinar para entrar em forma, não teria condições de jogar por muito tempo. Mas já imaginou ele entrando no fim de um jogo para bater um pênalti?”

Com essas palavras, Laor tirou o foco do lado futebolístico e deixou o marketing falar mais alto na semana santista. Mal se falou de Neymar e companhia, pouco se disse da derrota para o Vasco. A jogada de mestre foi colocar Pelé nos holofotes e dar tempo para o time se restruturar.

Para mim, essa é a única explicação plausível. Pelé, em campo, jogando pelo Santos, é algo impossível, inacreditável, uma verdadeira falácia. Defendo Pelé no Mundial, mas como uma espécie de embaixador santista, nada além disso.

De qualquer forma, só se falou em Pelé e Mundial nos últimos dias. Sem entrar em campo, Laor conseguiu ser o melhor da semana, mas ainda está longe de ser o melhor do mundo. Para isso, precisa esquecer o sonho (marketeiro), repito, impossível de rever Pelé em campo.

***** As frases usadas neste post foram retiradas de matérias veiculadas por UOL, Globo.com, iG, Terra e Lance! *****

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Por que eu defendo Pelé no Mundial de Clubes

Pelé, o eterno "Rei" do futebol - Foto: Divulgação/Santos FC

Pelé, o eterno "Rei" do futebol - Foto: Divulgação/Santos FC

Defendo arduamente Pelé no Mundial de Clubes da Fifa. Seria algo antológico para o Santos, para o Barcelona, para o Mundial, para o futebol. O maior e melhor jogador da história desse esporte merece, sim, uma homenagem como essa. O futebol merece essa homenagem. Nós, torcedores, idem.

Defendo, sim, Pelé, no Mundial, de terno e gravata, como embaixador do Santos na competição. O “Rei” deveria ser o primeiro a descer do avião, aquele cara que puxaria a fila do Santos em tudo que é evento no Japão. Seria algo antológico abrir a portinha do avião e aparecer o eterno camisa 10.

Defendo que Pelé não seja inscrito como jogador no Mundial. Seria uma bela jogada de marketing, mas o esporte ainda é superior ao marketing, não? Esportivamente falando, ele não tem condições de mais nada. É um gênio, foi e sempre será o “Rei” do futebol, isso está escrito, está na história, não há mais nada a ser provado. Inscrever Pelé significa colocar o marketing à frente (ou seria acima?) do lado esportivo.

Defendo que Pelé dê zilhões de entrevistas no Japão, seja tema de inúmeros programas de TV, apareça em infinitas propagandas. Ter Pelé como embaixador é tirar Neymar e companhia dos holofotes. Pelé fica com a fama, com os flashs, com as câmeras, enquanto o Santos, o time, os jogadores, pensa unicamente na bola, no jogo, no Mundial.

Defendo que Pelé entre em campo para bater uma bolinha com Neymar e companhia depois de um treino qualquer. Imagine a troca de passes entre o “Rei” e seu súdito mais famoso na atualidade? É de cegar só de pensar na quantidade de flashs que seriam batidos. Imagens como essas ganhariam capas de jornais e invadiriam TVs no mundo inteiro. Seria genial.

Defendo que Pelé ainda visite um treino do Barcelona e bata uma bolinha com Messi e companhia depois de um treino qualquer. Imagine o “Rei” e o súdito de Maradona trocando passes de cabeça, com o próprio “Rei” fez com o “Dios” na estreia de “La Noche Del 10”? Flashs infinitos e, outra vez, o mundo inteiro estaria sob os pés de Pelé.

Enfim, defendo Pelé no Mundial. Claro, como não. Mas como “Rei” do futebol, superior aos mortais que estarão em campo brigando pelo título, pelo Olimpo. Pelé em campo, para mim, soa como brincadeira. E os deuses do futebol não gostam muito disso. Como diria o filósofo, “a bola pune”. Mazembes estão aí para não ser esquecidos.

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