Para muitos jogadores atuar no Irã pode soar um pouco exótico. País sem tradição no futebol, em volta com guerras e censurado pelo governo, são fatores afugentariam qualquer um, mas para o capixaba Edinho, de 32 anos, é uma realização profissional. Nascido em um bairro humilde de Cariacica (ES), o meia-atacante não pensou duas vezes quando o amigo Fábio Januário, com quem jogou em Portugal, o perguntou se poderia indicar por meio de um DVD para o clube Mes Kerman, sediado em cidade próxima a Teerã, capital do Irã.

“Aqui acontecem coisas na minha vida que não tem explicação. É muito gratificante e emocionante ver e sentir o carinho enorme que eles têm por mim. Só tenho a agradecer a todos aqui pelo carinho e respeito”, disse Edinho.

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Edinho em campo pela Liga Iraniana (Foto: Divulgação)

Admirado pelos gols marcados nos campeonatos pelo país, foi chamado de “Ronaldinho” logo que chegou à cidade. Admiração que tomou conta do treinador da seleção do Irã, o português Carlos Queiroz, que queria saber quem era esse “Edinho”.  De tanto se destacar, o capixaba recebeu uma proposta para se naturalizar para jogar pela seleção local, podendo até disputar a Copa do Mundo no Brasil. Porém, sua documentação acabou saindo muito próximo da convocação para Copa do Mundo, e ele acabou ficando fora da lista de Carlos Queiroz.

“Foi uma pena. Mas vou seguir trabalhando para um dia vestir a camisa da seleção do Irã”, contou o brasileiro.  Em relação ao treinador de Portugal da Copa da África do Sul de 2010, o meia espera encontrá-lo.

“Eu nunca trabalhei com o Carlos Queiroz, mas seria um grande prazer. Fico honrado por ser elogiado por um grande treinador como ele”, acrescenta.

Carlos Queiroz

Carlos Queiroz, técnico do Irã (Foto: Divulgação)

Há oito anos no Irã, Edinho passou por clubes brasileiros como Atlético-PR, Vasco, Vitória (ES) e Vilavelhense (ES) no início da carreira. Jogou também em países como Portugal, Coreia do Sul, Bulgária e Itália. Hoje atua pelo Tractor Sazi, da cidade de Tabriz. O clube está em primeiro lugar e ele é o artilheiro da Liga Iraniana, com 10 gols em 15 jogos.

Ronaldinho do Irã

Logo quando chegou ao país, Edinho mostrava muita habilidade e tinha um cabelo comprido, com tranças e com um bandana igual à do craque dentuço.

“Aqui todos me chamam de Ronaldinho do Irã! É muito legal, pois se trata de um elogio carinhoso. O apelido foi ficando e eu gostei porque o Ronaldinho é um craque”, afirmou.

Futebol no Irã

O futebol  é hoje o esporte mais popular entre os iranianos. O país participou das Copas do Mundo de 1978, 1998, 2006 e 2014. Apesar de nunca terem avançado as oitavas de final da Copa, os Persas são respeitados na Ásia, tendo conquistado os torneio continentais de 1968, 1972 e 1976, o que explica a paixão pelo esporte.

“Aqui os torcedores são realmente muito fanáticos. Em todo jogo do meu clube, há cerca de 60 mil torcedores no estádio, sempre lotado”, ressalta Edinho.

Se por um lado há uma idolatria do povo pela bola, de outro há contradições. Segundo a imprensa local, na última Copa houve conflito interno entre os jogadores da seleção e a Federação, que é taxada de muito desorganizada. Esses fatores teriam  atrapalhado o andamento da seleção durante o Mundial, onde tiveram  um empate e duas derrotas  nos três confrontos da primeira fase contra Nigéria, Argentina e Bósnia, respectivamente.

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Edinho se naturalizou iraniano para jogar a Copa do Mundo (Foto: Divulgação)

Segurança no país

Mesmo jogando num país com realidade bem diferente do Brasil, onde sempre é noticiado por ter um governo severo e com restrições à liberdade de expressão, Edinho se sente tranquilo.

“Não tenho medo de nada aqui, graças a Deus vivo muito bem. Nunca tive problemas de segurança”, conta o meia-atacante.

Situações engraçadas

Fatos curiosos não podiam faltar para esse capixaba no Oriente Médio. Num povo que segue à risca o Alcorão (bíblia para eles), a hora da reza é sagrada.

“É impressionante, a fé. O que eles estiverem fazendo, param tudo para poderem orar, tudo mesmo. Faz parte da cultura deles, e eu respeito”, finaliza o Ronaldinho do Irã.