El Loco Abreu — Um Jogador Místico
Jogador do Nacional-URU, do Botafogo, da Seleção Uruguaia e da sorte
Loco Abreu é um jogador diferenciado. Não que seja um grande craque. O elogio máximo — e ainda sendo muito gentil — talvez seja apenas craque mesmo. Apesar disso, ele detém certa peculiaridade. É supersticioso: precisa ser o último a voltar do intervalo nas partidas; gosta do número 13, pois lhe dá sorte; e utiliza uma segunda pele remendada com homenagens a clubes que passou, familiares e ao Uruguai. Outra característica é a forte identidade com alguns clubes em que jogou de forma que virou não só ídolo da torcida, mas também torcedor. Foi assim no Botafogo, por exemplo.
Destaco outro ponto: é um jogador de times latinos. Olhando o seu currículo, percebemos apenas quatro clubes de fora — Deportivo La Coruña e Real Sociedad (Espanha), Beitar Jerusalem (Israel) e Aris Salônica (Grécia) — , sendo a maioria passagens apagadas (embora elas também existam em clubes latinos).
Foram as passagens gloriosas, no entanto, que permitiram que o quarentão chegasse ao Bangu no final de 2016 como “campeão e artilheiro”. Tais glórias, todas em times latinos ou na Seleção.
Histórico
Washington Sebastián Abreu iniciou a carreira no Defensor-URU, seguiu para o San Lorenzo até que chamou atenção do espanhol La Coruña.
Pelo clube espanhol, mal jogou e foi frequentemente emprestado. Passou discretamente por Grêmio e América-MEX. Foi artilheiro no Tecos-MEX e no Cruz Azul, clube no qual atingiu sua maior média de gols: 0,88 gol/jogo. Foi durante esta série de empréstimos que defendeu pela primeira vez o seu clube do coração: o Nacional, o qual foi também seu destino quando encerrado o contrato com La Coruña.
Depois disso, foram passagens medianas pelo futebol mexicano, uma escala no River Plate e no Beitar-IL. No segundo, o ápice foi a disputa das eliminatórias para a Champions League.
Emprestado pelo River Plate ao Real Sociedad, fez a sua única boa participação em um clube fora da América. Foram 11 gols em 18 jogos, mas isso não foi suficiente para que equipe conquistasse o acesso à primeira divisão.
Da Espanha, foi com seus 33 anos para o futebol grego. Falando assim pode parecer o fim decadente de uma carreira, mas, tratando-se de Loco Abreu, as coisas não são lógicas.
O Botafogo
No Botafogo, Loco Abreu teve sua melhor fase. Foram dois anos no Rio de Janeiro. Taça Rio e Taça Guanabara de 2010 (sendo, assim, campeão carioca daquele ano) e Taça Rio de 2012. Títulos de menor expressividade, devemos admitir. Contudo, no time da estrela solitária que ele conseguiu ser alçado a ídolo — ao lado de outras estrelas — , sendo o segundo maior artilheiro estrangeiro do clube, com 63 gols.
Nesse período que o brasileiro conheceu a “locura” de Abreu. Imagine (ou relembre): final da Taça Rio 2010. Por já ter vencido a Taça Guanabara, caso o Botafogo ganhasse a partida, era campeão carioca. Clássico contra o Flamengo de Adriano e Vágner Love. Herrera, de pênalti, abriu o placar para o Fogão. Love deixou tudo igual no último minuto do primeiro tempo.
26 minutos do segundo tempo, novo pênalti para o Botafogo. Loco Abreu tinha a chance de marcar o gol que daria a o título carioca ao Fogão. Eis que El Loco cobra com a sua famosa cavadinha, a bola dá um selinho no travessão e cai dentro do gol. O gol do título. A torcida foi à loucura. Quando chegou lá, encontrou Sebástian Abreu.
Curiosamente, esse foi o 13º gol dele pelo Botafogo. E o milésimo do clássico Botafogo x Flamengo.
Loco Abreu saiu do Botafogo não só como ex-jogador do clube. Agora era também torcedor, inclusive parabenizando a conquista da Taça Guanabara em 2013.
Seleção Uruguaia
Pela Seleção, Loco Abreu também se destacou. Foram 71 jogos e 31 gols. Chegou a ser o segundo maior artilheiro, atrás de Diego Forlán e empatado com Héctor Scarone. Hoje é o sétimo da lista.
Em 2009, contra a Costa Rica pela repescagem das eliminatórias, fez o gol que colocou o Uruguai na Copa do Mundo depois de oito anos fora. Já na Copa, foi protagonista de um dos jogos mais marcantes da década: Uruguai x Gana.
Jogo empatado. Prorrogação. Luis Suárez coloca a mão na bola, impedindo-a de entrar no gol como quem impedia uma bala de acertar uma vítima. Pênalti marcado e perdido. Um pênalti não foi necessário para decidir aquela quarta-de-final. A disputa de pênaltis seria. Estava 3x2 para os uruguaios e bastava converter a quinta cobrança. Tudo podia ser decidido pelos pés de Loco Abreu. Do Campeonato Carioca a Copa do mundo, manteve sua convicção: cavadinha no meio do gol. Uruguai classificado pela locura.
Ainda pela Seleção, venceu a Copa América de 2011, mesmo jogando pouco. Na festa, ainda no gramado, comemorou envolto em duas bandeiras de seus clubes do coração: Nacional e Botafogo.
Atualmente
El Loco ainda passou por Deportivo Aucas-EC e Sol de América-PAR. Em 2016, jogou pelo Santa Tecla, no menor país latino-americano: El Salvador. Sua despedida do clube foi sendo campeão do Torneio Apertura, marcando dois gols na final vencida por 3x2 contra o Alianza FC.
No país, há uma facção criminosa conhecida como MS13. Para evitar qualquer referência a ela, Loco usou o número 22. Porém, a sua superstição se mostrou forte: foi o artilheiro do campeonato com 13 gols.
Agora chega ao Bangu para disputar o Campeonato Carioca e a Série D do Campeonato Brasileiro. Vestirá a 113, em alusão à idade do clube. Não é a Seleção do Uruguai na Copa do Mundo, tampouco um clube da elite, mas Loco Abreu não parece se dedicar menos por isso. Falou que tem “muita esperança de fazer o Bangu voltar a ser aquele time dos anos 70, 80”. Há quem ainda possa duvidar. Ou só pensar que isso é coisa de Loco.