El Loco Abreu — Um Jogador Místico

Leonardo Catto
5 min readJan 26, 2017

Jogador do Nacional-URU, do Botafogo, da Seleção Uruguaia e da sorte

(Foto: Stanley Chou)

Loco Abreu é um jogador diferenciado. Não que seja um grande craque. O elogio máximo — e ainda sendo muito gentil — talvez seja apenas craque mesmo. Apesar disso, ele detém certa peculiaridade. É supersticioso: precisa ser o último a voltar do intervalo nas partidas; gosta do número 13, pois lhe dá sorte; e utiliza uma segunda pele remendada com homenagens a clubes que passou, familiares e ao Uruguai. Outra característica é a forte identidade com alguns clubes em que jogou de forma que virou não só ídolo da torcida, mas também torcedor. Foi assim no Botafogo, por exemplo.

Segunda pele usada por Loco Abreu embaixo do uniforme de jogo (Foto: Buda Mendes)

Destaco outro ponto: é um jogador de times latinos. Olhando o seu currículo, percebemos apenas quatro clubes de fora — Deportivo La Coruña e Real Sociedad (Espanha), Beitar Jerusalem (Israel) e Aris Salônica (Grécia) — , sendo a maioria passagens apagadas (embora elas também existam em clubes latinos).

Foram as passagens gloriosas, no entanto, que permitiram que o quarentão chegasse ao Bangu no final de 2016 como “campeão e artilheiro”. Tais glórias, todas em times latinos ou na Seleção.

Histórico

Washington Sebastián Abreu iniciou a carreira no Defensor-URU, seguiu para o San Lorenzo até que chamou atenção do espanhol La Coruña.

Pelo clube espanhol, mal jogou e foi frequentemente emprestado. Passou discretamente por Grêmio e América-MEX. Foi artilheiro no Tecos-MEX e no Cruz Azul, clube no qual atingiu sua maior média de gols: 0,88 gol/jogo. Foi durante esta série de empréstimos que defendeu pela primeira vez o seu clube do coração: o Nacional, o qual foi também seu destino quando encerrado o contrato com La Coruña.

Sua primeira passagem no futebol brasileiro foi no Grêmio ao lado de Ronaldinho Gaúcho

Depois disso, foram passagens medianas pelo futebol mexicano, uma escala no River Plate e no Beitar-IL. No segundo, o ápice foi a disputa das eliminatórias para a Champions League.

Emprestado pelo River Plate ao Real Sociedad, fez a sua única boa participação em um clube fora da América. Foram 11 gols em 18 jogos, mas isso não foi suficiente para que equipe conquistasse o acesso à primeira divisão.

Da Espanha, foi com seus 33 anos para o futebol grego. Falando assim pode parecer o fim decadente de uma carreira, mas, tratando-se de Loco Abreu, as coisas não são lógicas.

O Botafogo

No Botafogo, Loco Abreu teve sua melhor fase. Foram dois anos no Rio de Janeiro. Taça Rio e Taça Guanabara de 2010 (sendo, assim, campeão carioca daquele ano) e Taça Rio de 2012. Títulos de menor expressividade, devemos admitir. Contudo, no time da estrela solitária que ele conseguiu ser alçado a ídolo — ao lado de outras estrelas — , sendo o segundo maior artilheiro estrangeiro do clube, com 63 gols.

Nesse período que o brasileiro conheceu a “locura” de Abreu. Imagine (ou relembre): final da Taça Rio 2010. Por já ter vencido a Taça Guanabara, caso o Botafogo ganhasse a partida, era campeão carioca. Clássico contra o Flamengo de Adriano e Vágner Love. Herrera, de pênalti, abriu o placar para o Fogão. Love deixou tudo igual no último minuto do primeiro tempo.

26 minutos do segundo tempo, novo pênalti para o Botafogo. Loco Abreu tinha a chance de marcar o gol que daria a o título carioca ao Fogão. Eis que El Loco cobra com a sua famosa cavadinha, a bola dá um selinho no travessão e cai dentro do gol. O gol do título. A torcida foi à loucura. Quando chegou lá, encontrou Sebástian Abreu.

Curiosamente, esse foi o 13º gol dele pelo Botafogo. E o milésimo do clássico Botafogo x Flamengo.

Loco Abreu saiu do Botafogo não só como ex-jogador do clube. Agora era também torcedor, inclusive parabenizando a conquista da Taça Guanabara em 2013.

Seleção Uruguaia

Pela Seleção, Loco Abreu também se destacou. Foram 71 jogos e 31 gols. Chegou a ser o segundo maior artilheiro, atrás de Diego Forlán e empatado com Héctor Scarone. Hoje é o sétimo da lista.

Em 2009, contra a Costa Rica pela repescagem das eliminatórias, fez o gol que colocou o Uruguai na Copa do Mundo depois de oito anos fora. Já na Copa, foi protagonista de um dos jogos mais marcantes da década: Uruguai x Gana.

Jogo empatado. Prorrogação. Luis Suárez coloca a mão na bola, impedindo-a de entrar no gol como quem impedia uma bala de acertar uma vítima. Pênalti marcado e perdido. Um pênalti não foi necessário para decidir aquela quarta-de-final. A disputa de pênaltis seria. Estava 3x2 para os uruguaios e bastava converter a quinta cobrança. Tudo podia ser decidido pelos pés de Loco Abreu. Do Campeonato Carioca a Copa do mundo, manteve sua convicção: cavadinha no meio do gol. Uruguai classificado pela locura.

Ainda pela Seleção, venceu a Copa América de 2011, mesmo jogando pouco. Na festa, ainda no gramado, comemorou envolto em duas bandeiras de seus clubes do coração: Nacional e Botafogo.

Atualmente

El Loco ainda passou por Deportivo Aucas-EC e Sol de América-PAR. Em 2016, jogou pelo Santa Tecla, no menor país latino-americano: El Salvador. Sua despedida do clube foi sendo campeão do Torneio Apertura, marcando dois gols na final vencida por 3x2 contra o Alianza FC.

No país, há uma facção criminosa conhecida como MS13. Para evitar qualquer referência a ela, Loco usou o número 22. Porém, a sua superstição se mostrou forte: foi o artilheiro do campeonato com 13 gols.

Em El Salvador trajou o número 22 (Foto: Agencia de Prensa Salvadoreña)

Agora chega ao Bangu para disputar o Campeonato Carioca e a Série D do Campeonato Brasileiro. Vestirá a 113, em alusão à idade do clube. Não é a Seleção do Uruguai na Copa do Mundo, tampouco um clube da elite, mas Loco Abreu não parece se dedicar menos por isso. Falou que tem “muita esperança de fazer o Bangu voltar a ser aquele time dos anos 70, 80”. Há quem ainda possa duvidar. Ou só pensar que isso é coisa de Loco.

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Leonardo Catto

Histórias de verdade e mentiras, mas o principal é que preciso contá-las