Mundial das Arábias

Comecei a escrever  esse texto antes do início do torneio mundial de clubes da FIFA 2010 e faltando apenas uma rodada para o fim do Brasileirão, que parecia já ter um clube carioca como campeão novamente. Como não podia deixar de ser, o Brasileirão dominava o noticiário esportivo, mas, percebendo que essa fonte de renda estava se acabando, os jornalistas já começavam a falar de um assunto “novo”. Sempre que acaba o campeonato e os jogadores entram de férias, a profissão de jornalista esportivo começa a ser dura de desempenhar. Sem notícias, começam a aparecer “manchetes” do tipo: “Jogador X pode ir para o time Y”… “Fontes ligadas ao clube Z dão como certa a transferência milionária do craque B”…

Antes da seca total e da fase das especulações, porém, a mídia ainda tem algo “real” para vender: o Mundial de Clubes da FIFA, no qual o Internacional de Porto Alegre é o representante brasileiro.  O colorado entra na disputa na qualidade de atual campeão sul-americano (xi… agora existem 2… um pela libertadores e um pela copa sul-americana!) Reformulando, o Inter entra como representante da América do Sul e campeão da Copa Libertadores. Bem entendido (mas nem tanto, se considerando que haviam times mexicanos na Libertadores). Entre os times participantes é possível encontrar potências como o “Sol de América” (Paraguay), “Colégio San Augustin” (Peru), e “Oriente Petrolero” (Bolívia).

Por  falar em Oriente,  os japoneses, foram muito importantes para o sucesso desta competição. Além do Japão sediar a disputa do mundial interclubes entre 1970 e 2004, a montadora japonesa Toyota patrocinaram a Libertadores no período de 1998 a 2007. Atualmente os espanhóis do banco Santander são os principais financiadores do torneio.

Desde seu início, em 1960, a Libertadores  foi criada com o interesse explícito de se confrontar os campeões sul-americanos e os europeus (A Copa dos Campeões Europeus, atual Liga dos campeões da UEFA, existe desde 1955).

Em 2000 a FIFA, até então neutra/ausente desta competição, resolveu gerenciar e ampliar a disputa, criando o FIFA Club World Cup (Copa Mundial de Clubes da FIFA). Com regras não muito claras de sede, regularidade e disputa, o torneio reuniu clubes dos 5 continentes. Após essa primeira edição experimental, a FIFA ausentou-se novamente e o mundial voltou a acontecer no Japão, confrontando em jogo único os campeões da América do Sul e Europa, sob os auspícios da Toyota (2001, 2002, 2003 e 2004). Em 2005 a Entidade máxima entra novamente em campo, junta-se à Toyota e organiza o torneio, agora com a participação de times como Saprissa (Costa Rica) e Al-Ittihad (Arábia Saudita). A História, entretanto, vem mostrando que os japoneses estavam corretos em reunir apenas os campeões da America do Sul e Europa, já que até 2009 foram sempre os dois que chegaram à partida final, enquanto os representantes dos outros continentes vêm servindo apenas como sparring. Se a História se repetir, como dizia o historiador inglês Philip Guedala (1889 – 1944), teremos em 2010 um confronto dos Internacionais: o da Itália e o brasileiro. (ps.: Infelizmente para nós, brasileiros, o embate dos Internacionais foi adiado devido a um acidente com uma zebra. Lembra da zebrinha do Fantástico?)

Voltando às sedes, após um inusitado primeiro torneio da FIFA em 2000, inesperadamente sediado no Maracanã, Rio de Janeiro, as trapalhadas de 2001 (em que o torneio aconteceria na Espanha mas foi cancelado devido a “problemas financeiros”), o Japão voltou a ser a capital do torneio entre 2001 e 2008. Em 2009 os petrodólares pesaram e os árabes levaram o Mundial pra lá. Não é de hoje que os esportes, principalmente os futebolistas, são seduzidos pelo chamado do “tapete mágico”. Clubes brasileiros estão acostumados a perder seus melhores atletas e treinadores ( o treinador Abel Braga saiu do Inter  como campeão da Libertadores e foi pro Al-Jazira; outros técnicos que já trabalharam por lá: Toninho Cerezo, Joel Santana e Rinus Michels) não apenas para potências européias, mas também para o mercado japonês e ultimamente para clubes árabes sem expressão. A FIFA apenas corrobora essa tendência ao deslocar o torneio para  Abu Dhabi. (confira aqui)

O futebol na terra do petróleo também não é tão novo. A liga local, UAE Football League, começou em 1973 e é disputada regularmente desde então, excluindo-se a temporada 1990-91, que não aconteceu devido a guerra do Golfo. O Al Ain é o maior vencedor, com 9 títulos.  Atualmente são 12 clubes na primeira divisão, e o atual campeão é o نادي الوحدة الرياضي الثقافي.

Tá bom, sei que ninguém sabe pronunciar o nome do clube… vou ocidentalizar: Al-Wahda S.C.C. de Abu-Dhabi, fundado em 1974. Pelo tamanho do seu Estádio (12.000), dá pra se ter uma idéia do que é o futebol por lá. O cricket , o tênis e as corridas de camelo também atraem multidões nos Emirados Árabes.

Devido aos fatores climáticos (grande amplitude térmica, por exemplo), os eventos ao ar livre acontecem à noite. Mesmo os treinos dos jogadores de futebol são no período da noite, pois durante o dia a temperatura atinge facilmente os 45 graus Celsius.

Voltando ao Mundial, a edição eletrônica do jornal Lance! assim descreve a partida de estréia:

Mesmo sem jogar um bom futebol, o Al-Wahda venceu com facilidade um adversário fraquíssimo. Afinal não poderia se esperar muita coisa de um time de Papua Nova-Guiné. Mesmo que este time, no caso o Hekari United, tenha garantido sua participação no Mundial de Clubes como o campeão da Oceania.

 

O torneiro acontece entre os dias 08 e 18/12/2010. O Internacional de Porto Alegre estreou ontem contra o africano Tout Puissant Mazembe Englebert (Que nome comprido, hein?!) e, deixando escapar seu favoritismo, perdeu de 2 a 0. Agora resta ao colorado disputar o terceiro lugar da competição. Confira a tabela completa (clique na imagem para vê-la em tamanho completo):

Fonte da imagem: Site Oficial da FIFA

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