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Mãos ao alto - a ola vem aí

Mãos ao alto - a ola vem aí

Em jogo enfadonho, olas, selfies e vinte minutos de futebol salvam a torcida no Itaquerão

RODRIGO TURRER
26/06/2014 - 19h37 - Atualizado 26/06/2014 19h39
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A torcida do Bélgica x Coreia do Sul - animação em um jogo ruim (Foto: AP Photo/Felipe Dana)

O melhor termômetro para medir a ruindade de uma partida em Copas do Mundo é observar a quantidade de olas durante a peleja. A coreografia em que todos os torcedores se levantam para fazer uma onda de braços ao ar foi inventada por canadenses em uma partida de hockey. Não se sabe como, a ola foi adotada por mexicanos e se popularizou mundo afora depois da Copa de 1986, no México. Como é preciso olhar para a arquibancada para saber a hora certa de levantar e jogar os braços para cima, os torcedores esquecem o jogo e ficam de olho nas olas. Nos jogos da Copa na Arena Corinthians, que acompanhei em pessoa, na abertura da Copa, entre Brasil e Croácia, ensaiou-se uma ola que acabou não vingando. No jogo seguinte, entre Uruguai e Inglaterra, no dia 19, nada de olas. Em Holanda X Chile, dia 23, tampouco. Todos foram bons jogos. Pois em Coreia do Sul e Bélgica, foram nada menos do que cinco olas em 90 minutos, um recorde na Copa no Brasil.

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Natural que os torcedores estivessem preocupados com a ola. Bélgica e Coreia do Sul entrou para o rol dos poucos jogos enfadonhos da Copa do Mundo. Não chegou a ser medonho como um Irã X Nigéria ou Japão X Grécia, mas ficou bem abaixo da média da Copa. As estatísticas da partida provam isso – não as convencionais, mas as estatísticas paralelas. Foram quatro furadas clamorosas, 11 lançamentos longos do goleiro (os famosos chutões pra frente), oito recuos de bola para os goleiros, e inacreditáveis três matadas de  bola com a canela (a boa prática jornalística adverte que tais estatísticas foram medidas a caneta e papel, na tepidez da partida, e podem ser passíveis de correções).

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Diante de tamanha inanição futebolística, Bélgica e Coreia do Sul pode ter batido o recorde de bocejos em um jogo da Copa no Brasil. Eu, por exemplo, bocejei cinco vezes. O colega britânico ao meu lado direito, sete. O belga à minha esquerda, oito. Claro, é um jogo de Copa do Mundo, e não dava para pescar – as cadeiras do estádio são anatomicamente inviáveis para tanto. Talvez nos camarotes tenham ocorrido roncos e dormitadas. Mas pela primeira vez em São Paulo, ouviram-se vaias da torcida no intervalo.

O segundo tempo, principalmente os vinte minutos finais, depois que a Bélgica fez o gol e a Coreia do Sul teve de correr atrás, recompensou quem veio ao Itaquerão. Mas a maioria dos torcedores – a não ser, talvez, belgas e coreanos - sabia que o jogo não seria a partida dos sonhos da Copa no Brasil. Ainda mais diante dos outros jogos que São Paulo sediou: a abertura, entre Brasil e Croácia, um clássico do futebol entre Uruguai e Inglaterra, e uma partida que decidiu o grupo B, entre Chile e Holanda. A Bélgica, uma das seleções mais badaladas antes da Copa do Mundo começar, apresentou de novo um futebol burocrático e insosso - suficiente para vencer três jogos e terminar em primeiro no grupo. A Coreia, conformada com a sua eliminação, não apresentou sequer um lampejo de bom futebol. O placar do jogo merecia ser um 0x0.

Mas, só tem tu? Vai tu mesmo. Com a disputa acirrada para comprar ingressos para as partidas no Itaquerão, muitos torcedores seguiram essa lógica e aproveitaram para assistir a única partida da Copa do Mundo a que conseguiram ter acesso.  Foi o caso dos amigos Anderson Vianna, Analice Albuquerque e Ricardo Saint Claire, que trabalham juntos em uma multinacional. Eles compraram ingressos para o jogo e foram ao estádio juntos, de metrô. “Tentei comprar ingresso para jogos mais emocionantes, como Uruguai e  Inglaterra e Holanda e Chile, mas não consegui”, afirma Anderson. “Então resolvi comprar para esse jogo mesmo. Ruim não vai ser”.
 

Só tem tu? Vai tu mesmo -  Os amigos Anderson Vianna (em pé, com a camisa do Brasil,à esq), Analice Albuquerque (centro) e Ricardo Saint Claire (agachado), só conseguiram ingressos para a partida entre Bélgica e Coreia do Sul (Foto: Rodrigo Turrer/ Época)

O casal Analice e Ricardo até gostou de estar em um jogo menos disputado. “Foi super fácil chegar no estádio, não tinha transito na cidade, não houve problema entre torcedores”, diz Analice. “É bem melhor ver um jogo mais  B como esse do que enfrentar a muvuca para ver os jogões”. O trio até aproveitou para fazer amizade com um grupo de belgas. “Eles pediram para tirar fotos com a gente, e até ofereceram cerveja”, diz Ricardo.

Pois foi assim entre a maioria dos torcedores presentes ao Itaquerão no fim da tarde de quinta-feira: um misto de empolgação e conformismo. Empolgação por estar em uma partida da Copa do Mundo. Conformismo por estar em uma partida pouco significativa da Copa do Mundo. A torcida nas arquibancadas estava mais preocupada em tirar selfies, fotografar o estádio, registrar a presença em uma partida de Copa e, claro, não perder a oportunidade de entrar na próxima ola.








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