Brasil e quem mais? Os favoritos para o Mundial do Catar de acordo com dados recentes e históricos
Por João Pedro Gomes Bernardes
Faltando pouco mais de um mês para a abertura da Copa do Mundo do Catar, é comum que já comecem a ser divulgadas as primeiras listas com as equipes mais cotadas para levantar a taça no dia 18 de dezembro. Ainda que cada prognóstico leve em consideração inúmeros fatores técnicos e subjetivos, há um elemento específico que está quase sempre presente em todos eles: a estatística.
Este conjunto de informações precisas sobre o desempenho histórico ou recente de determinado time costuma ser fundamental na formação de opiniões sobre um potencial favoritismo das equipes em competições como o Mundial, sendo utilizado principalmente por jornalistas especializados.
– Por mais que tu tenha a ciência, o conhecimento para trabalhar com números, a base principal para que a gente consiga transformar os números em um conteúdo relevante para o público parte de uma organização nossa – aponta o jornalista Marcos Bertoncello, plantão esportivo da Rádio Gaúcha e referência no uso de dados no jornalismo esportivo gaúcho.
O uso da estatística não se restringe apenas aos comentaristas ou plantões, mas também é essencial para o trabalho daqueles que, muitas vezes, têm o dever de comandar uma transmissão por cerca de três horas ininterruptas: os narradores.
– Não é só a narração do jogo, não são só os lances que estão acontecendo. Tem que preencher todo um espaço – afirma Gustavo Manhago, também da Rádio Gaúcha. – É fundamental que tu esteja bem equipado com informações dos times que estão em campo.
Com base nas conversas com Bertoncello e Manhago e em estatísticas históricas e recentes, montamos uma lista com quatro equipes consideradas favoritas ao título da Copa do Mundo do Catar – e uma quinta equipe com potencial de surpreender:
Brasil: os números avassaladores da única seleção pentacampeã
A não ser por raríssimas exceções, a Seleção Brasileira sempre chega a um Mundial com a responsabilidade – e/ou pressão – de ser considerada pela imprensa e pelos torcedores como uma das grandes favoritas ao título. Logicamente, muito disso se deve ao fato de o Brasil ser a seleção mais condecorada do futebol internacional – afinal, há somente um país pentacampeão do mundo.
O ciclo atual da Seleção foi extremamente consistente. Desde a eliminação para a Bélgica nas quartas de final da Copa da Rússia, o Brasil entrou em campo 50 vezes, vencendo em 37 ocasiões, empatando em 10 e perdendo apenas três vezes. Apesar dos números impressionantes, a preparação brasileira para esse Mundial esbarrou em um inchaço na quantidade de jogos contra equipes sul-americanas devido à realização de duas Copas América no período e na falta de confrontos contra equipes europeias – apenas um jogo contra a mediana República Tcheca em 2019.
– Esse é o único senão da preparação: a falta de adversários europeus que tenham um mínimo de qualidade, não a República Tcheca – critica Manhago. – Fora isso, o Brasil jogou com aqueles que estavam lhe aparecendo e foi vencendo, foi jogando bem, foi revelando novos jogadores. Hoje é uma Seleção diferente do meio para a frente, acho que nos dá uma esperança até de uma conquista.
Bertoncello complementa:
– Seria muito importante para a Seleção ter esse laboratório contra os europeus. Eu não estou nem tentando colocar Inglaterra, Itália, Holanda. Acho que inclusive amistosos contra uma Dinamarca, uma Sérvia, uma Suíça seriam bons.
Argentina: a crescente da Scaloneta
A Argentina chega para essa Copa do Mundo com um desempenho recente que não demonstrava há muito tempo: fez uma campanha espetacular nas Eliminatórias, terminando a competição em segundo lugar de forma invicta, e quebrou um jejum de 28 anos ao vencer a Copa América do ano passado em cima da Seleção Brasileira em pleno Maracanã.
A campanha recente da Argentina também surpreende devido ao fato de seu técnico, Lionel Scaloni, nunca haver treinado uma equipe profissional antes e ter assumido a seleção interinamente após a Copa de 2018, sendo efetivado em novembro do mesmo ano após uma sequência de seis jogos com resultados relativamente positivos (quatro vitórias, um empate e uma derrota). Desde 2019, quando Scaloni já estava no comando de forma definitiva, foram 26 vitórias, 12 empates e três derrotas, além de uma sequência atual de 33 jogos de invencibilidade.
– É um trabalho feito pelo Scaloni nesses últimos anos que deu uma solidez para essa seleção que não se via há bastante tempo, talvez desde o [Alejandro] Sabella na Copa de 2014 – aponta Bertoncello.
Este Mundial também deve ser marcado pela despedida de um dos maiores jogadores que o país e o mundo já viram. Lionel Messi já anunciou que esta será sua última Copa com a camisa da Seleção Argentina, o que adiciona uma motivação extra a esse time que aguarda desde 1986 pelo terceiro título mundial.
França: os atuais campeões
A França entra nesta lista por dois fatores primordiais: o fato de ser a atual campeã do mundo e a presença do craque Kylian Mbappé, um dos melhores jogadores em atividade e vice-artilheiro da Copa passada.
– Para mim a grande favorita é a França por ser a atual campeã, mas também por ter um grupo de jogadores que parece mais homogêneo em termos de qualidade em todas as posições – afirma Manhago.
Além do título mundial, o time de Didier Deschamps conquistou também a Liga das Nações da UEFA no ano passado ao derrotar a Espanha por 2 a 1 na final. Por outro lado, os franceses passam por um 2022 muito turbulento, vencendo três dos oito jogos que disputou e quase sendo rebaixada na Liga das Nações após uma campanha pífia na fase de grupos (três derrotas, dois empates e apenas uma vitória).
Um critério mais subjetivo que pesa contra a Seleção Francesa é o fato que, desde a Copa de 2002, apenas um campeão do Mundial anterior não foi eliminado na fase de grupos – a própria França passou por isso ao cair na primeira fase em 2002 em campanha marcada pela derrota para o Senegal no jogo de estreia. Veremos se os Bleus conseguirão superar esta “maldição”.
Bélgica: a última chance da Geração Belga
A famigerada Geração Belga chegou na Copa do Mundo de 2018 como a terceira colocada do ranking da FIFA e vinda de uma excelente sequência de resultados nos jogos que precederam o último Mundial. Contando com craques como Courtois, De Bruyne, Hazard e Lukaku, os Demônios Vermelhos eliminaram o Brasil nas quartas de final e terminaram a competição em terceiro lugar, sua melhor campanha na história dos Mundiais.
O time da Bélgica, nos últimos anos, tornou-se um grande exemplo de seleção que nunca conquistou nenhum título de expressão, mas que passou a ser respeitada como uma das mais fortes do mundo devido a qualidade técnica de seu elenco. O narrador Gustavo Manhago comenta:
– A gente pode colocar nesse bloco a Bélgica como uma seleção que nunca ganhou nada, mas vem tendo bons jogadores nas últimas Copas e nas grandes ligas. A Bélgica hoje, apesar de não ter títulos, ela já é uma camisa pesada.
Desde a última Copa, a Seleção Belga venceu 35 dos 49 jogos que disputou, empatando sete e perdendo outros sete – o que, de forma geral, mostra a continuidade do trabalho sólido que o técnico Roberto Martínez tem feito desde 2016. Entretanto, nos quinze jogos disputados após a eliminação para a Itália na Euro do ano passado, o desempenho belga foi muito menos satisfatório: oito vitórias, três empates e quatro derrotas, muito em virtude da queda de rendimento de jogadores como Hazard e Lukaku.
Dinamarca: os azarões nórdicos
Aqui temos o que deve ser a presença mais controversa desta lista. A Dinamarca está aqui pelo alto nível que seu futebol tem mostrado de 2021 para cá. E se colocarmos na balança o critério histórico, poderia estar até na frente da Bélgica devido aos títulos da Eurocopa de 1992 – quando se classificou de última hora devido a exclusão da Iugoslávia – e da Copa Rei Fahd (futura Copa das Confederações) de 1995.
O futebol dinamarquês vive hoje o maior momento de sua história desde a década de 1990. Na Euro do ano passado, foi eliminada apenas na semifinal mesmo tendo perdido seu camisa 10, Christian Eriksen, no jogo de estreia devido a uma parada cardíaca sofrida durante o duelo contra a Finlândia.
Nas Eliminatórias, venceu em nove das dez vezes que entrou em campo, perdendo apenas para a Escócia na última rodada. E mesmo sendo eliminada na primeira fase da Liga das Nações, ficou a apenas um ponto da Croácia, líder do grupo, vencendo a França nas duas ocasiões em que se enfrentaram.
– Nesse retrospecto recente, a gente vê uma Dinamarca que empolga pelos jogadores que tem – diz Bertoncello. – E esses atletas sendo destaque, e a seleção também conseguindo resultados importantes, isso mostra a partir dos dados como a gente pode transformar uma seleção que não tem tanta história e tanta camisa em uma seleção que é badalada.