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Brasil e quem mais? Os favoritos para o Mundial do Catar de acordo com dados recentes e históricos

10/10/2022

Por João Pedro Gomes Bernardes

Os favoritos para essa Copa do Mundo: Mbappé, Neymar, Messi e De Bruyne.

Faltando pouco mais de um mês para a abertura da Copa do Mundo do Catar, é comum que já comecem a ser divulgadas as primeiras listas com as equipes mais cotadas para levantar a taça no dia 18 de dezembro. Ainda que cada prognóstico leve em consideração inúmeros fatores técnicos e subjetivos, há um elemento específico que está quase sempre presente em todos eles: a estatística.

Este conjunto de informações precisas sobre o desempenho histórico ou recente de determinado time costuma ser fundamental na formação de opiniões sobre um potencial favoritismo das equipes em competições como o Mundial, sendo utilizado principalmente por jornalistas especializados.

– Por mais que tu tenha a ciência, o conhecimento para trabalhar com números, a base principal para que a gente consiga transformar os números em um conteúdo relevante para o público parte de uma organização nossa – aponta o jornalista Marcos Bertoncello, plantão esportivo da Rádio Gaúcha e referência no uso de dados no jornalismo esportivo gaúcho.

O uso da estatística não se restringe apenas aos comentaristas ou plantões, mas também é essencial para o trabalho daqueles que, muitas vezes, têm o dever de comandar uma transmissão por cerca de três horas ininterruptas: os narradores.

– Não é só a narração do jogo, não são só os lances que estão acontecendo. Tem que preencher todo um espaço – afirma Gustavo Manhago, também da Rádio Gaúcha. – É fundamental que tu esteja bem equipado com informações dos times que estão em campo.

Com base nas conversas com Bertoncello e Manhago e em estatísticas históricas e recentes, montamos uma lista com quatro equipes consideradas favoritas ao título da Copa do Mundo do Catar – e uma quinta equipe com potencial de surpreender:

Brasil: os números avassaladores da única seleção pentacampeã

A não ser por raríssimas exceções, a Seleção Brasileira sempre chega a um Mundial com a responsabilidade – e/ou pressão – de ser considerada pela imprensa e pelos torcedores como uma das grandes favoritas ao título. Logicamente, muito disso se deve ao fato de o Brasil ser a seleção mais condecorada do futebol internacional – afinal, há somente um país pentacampeão do mundo.

O ciclo atual da Seleção foi extremamente consistente. Desde a eliminação para a Bélgica nas quartas de final da Copa da Rússia, o Brasil entrou em campo 50 vezes, vencendo em 37 ocasiões, empatando em 10 e perdendo apenas três vezes. Apesar dos números impressionantes, a preparação brasileira para esse Mundial esbarrou em um inchaço na quantidade de jogos contra equipes sul-americanas devido à realização de duas Copas América no período e na falta de confrontos contra equipes europeias – apenas um jogo contra a mediana República Tcheca em 2019.

– Esse é o único senão da preparação: a falta de adversários europeus que tenham um mínimo de qualidade, não a República Tcheca – critica Manhago. – Fora isso, o Brasil jogou com aqueles que estavam lhe aparecendo e foi vencendo, foi jogando bem, foi revelando novos jogadores. Hoje é uma Seleção diferente do meio para a frente, acho que nos dá uma esperança até de uma conquista.

Bertoncello complementa:

– Seria muito importante para a Seleção ter esse laboratório contra os europeus. Eu não estou nem tentando colocar Inglaterra, Itália, Holanda. Acho que inclusive amistosos contra uma Dinamarca, uma Sérvia, uma Suíça seriam bons.

Richarlison, em partida contra a Tunísia. (Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

Argentina: a crescente da Scaloneta

A Argentina chega para essa Copa do Mundo com um desempenho recente que não demonstrava há muito tempo: fez uma campanha espetacular nas Eliminatórias, terminando a competição em segundo lugar de forma invicta, e quebrou um jejum de 28 anos ao vencer a Copa América do ano passado em cima da Seleção Brasileira em pleno Maracanã.

A campanha recente da Argentina também surpreende devido ao fato de seu técnico, Lionel Scaloni, nunca haver treinado uma equipe profissional antes e ter assumido a seleção interinamente após a Copa de 2018, sendo efetivado em novembro do mesmo ano após uma sequência de seis jogos com resultados relativamente positivos (quatro vitórias, um empate e uma derrota). Desde 2019, quando Scaloni já estava no comando de forma definitiva, foram 26 vitórias, 12 empates e três derrotas, além de uma sequência atual de 33 jogos de invencibilidade.

– É um trabalho feito pelo Scaloni nesses últimos anos que deu uma solidez para essa seleção que não se via há bastante tempo, talvez desde o [Alejandro] Sabella na Copa de 2014 – aponta Bertoncello.

Este Mundial também deve ser marcado pela despedida de um dos maiores jogadores que o país e o mundo já viram. Lionel Messi já anunciou que esta será sua última Copa com a camisa da Seleção Argentina, o que adiciona uma motivação extra a esse time que aguarda desde 1986 pelo terceiro título mundial.

Messi comemora gol contra a Jamaica. (Foto: Getty Images)

França: os atuais campeões

A França entra nesta lista por dois fatores primordiais: o fato de ser a atual campeã do mundo e a presença do craque Kylian Mbappé, um dos melhores jogadores em atividade e vice-artilheiro da Copa passada.

– Para mim a grande favorita é a França por ser a atual campeã, mas também por ter um grupo de jogadores que parece mais homogêneo em termos de qualidade em todas as posições – afirma Manhago.

Além do título mundial, o time de Didier Deschamps conquistou também a Liga das Nações da UEFA no ano passado ao derrotar a Espanha por 2 a 1 na final. Por outro lado, os franceses passam por um 2022 muito turbulento, vencendo três dos oito jogos que disputou e quase sendo rebaixada na Liga das Nações após uma campanha pífia na fase de grupos (três derrotas, dois empates e apenas uma vitória).

Um critério mais subjetivo que pesa contra a Seleção Francesa é o fato que, desde a Copa de 2002, apenas um campeão do Mundial anterior não foi eliminado na fase de grupos – a própria França passou por isso ao cair na primeira fase em 2002 em campanha marcada pela derrota para o Senegal no jogo de estreia. Veremos se os Bleus conseguirão superar esta “maldição”.

Mbappé, em jogo contra a Áustria. (Foto: Getty Images)

Bélgica: a última chance da Geração Belga

A famigerada Geração Belga chegou na Copa do Mundo de 2018 como a terceira colocada do ranking da FIFA e vinda de uma excelente sequência de resultados nos jogos que precederam o último Mundial. Contando com craques como Courtois, De Bruyne, Hazard e Lukaku, os Demônios Vermelhos eliminaram o Brasil nas quartas de final e terminaram a competição em terceiro lugar, sua melhor campanha na história dos Mundiais.

O time da Bélgica, nos últimos anos, tornou-se um grande exemplo de seleção que nunca conquistou nenhum título de expressão, mas que passou a ser respeitada como uma das mais fortes do mundo devido a qualidade técnica de seu elenco. O narrador Gustavo Manhago comenta:

– A gente pode colocar nesse bloco a Bélgica como uma seleção que nunca ganhou nada, mas vem tendo bons jogadores nas últimas Copas e nas grandes ligas. A Bélgica hoje, apesar de não ter títulos, ela já é uma camisa pesada.

Desde a última Copa, a Seleção Belga venceu 35 dos 49 jogos que disputou, empatando sete e perdendo outros sete – o que, de forma geral, mostra a continuidade do trabalho sólido que o técnico Roberto Martínez tem feito desde 2016. Entretanto, nos quinze jogos disputados após a eliminação para a Itália na Euro do ano passado, o desempenho belga foi muito menos satisfatório: oito vitórias, três empates e quatro derrotas, muito em virtude da queda de rendimento de jogadores como Hazard e Lukaku.

Tielemans e De Bruyne, em jogo contra o País de Gales. (Foto: AFP)

Dinamarca: os azarões nórdicos

Aqui temos o que deve ser a presença mais controversa desta lista. A Dinamarca está aqui pelo alto nível que seu futebol tem mostrado de 2021 para cá. E se colocarmos na balança o critério histórico, poderia estar até na frente da Bélgica devido aos títulos da Eurocopa de 1992 – quando se classificou de última hora devido a exclusão da Iugoslávia – e da Copa Rei Fahd (futura Copa das Confederações) de 1995.

O futebol dinamarquês vive hoje o maior momento de sua história desde a década de 1990. Na Euro do ano passado, foi eliminada apenas na semifinal mesmo tendo perdido seu camisa 10, Christian Eriksen, no jogo de estreia devido a uma parada cardíaca sofrida durante o duelo contra a Finlândia.

Nas Eliminatórias, venceu em nove das dez vezes que entrou em campo, perdendo apenas para a Escócia na última rodada. E mesmo sendo eliminada na primeira fase da Liga das Nações, ficou a apenas um ponto da Croácia, líder do grupo, vencendo a França nas duas ocasiões em que se enfrentaram.

– Nesse retrospecto recente, a gente vê uma Dinamarca que empolga pelos jogadores que tem – diz Bertoncello. – E esses atletas sendo destaque, e a seleção também conseguindo resultados importantes, isso mostra a partir dos dados como a gente pode transformar uma seleção que não tem tanta história e tanta camisa em uma seleção que é badalada.

Kasper Schmeichel, em jogo contra a França. (Foto: Getty Images)
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