Japão corre contra o tempo

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A equipe do Japão para a Copa de 2018 é uma interrogação

Pode parecer loucura, e é. O Japão trocou de técnico dois meses antes da Copa do Mundo. O atual comandante, Akira Nishino, terá apenas um jogo (amistoso com gana dia 30/5) antes de definir sua lista de 23 jogadores para o torneio. Motivos realmente não faltavam para demitir o bósnio Vahid Halilhodžić, mas será que não foi tarde demais? O desempenho japonês no mundial vai nos dizer.

Os “Samurais azuis” (fugimos das águias!) vão disputar a sexta Copa do Mundo de sua história. Eles estrearam em 1998 e de lá pra cá não ficaram mais de fora. Neste período chegaram, no máximo, às oitavas de final. A primeira em 2002, quando sediaram o torneio, e a segunda em 2010 na África do Sul. No Brasil, em 2014, o time caiu na primeira fase sem ganhar de ninguém: perdeu o primeiro jogo para a Costa do Marfim por 2 a 1; empatou com a Grécia em 0 a 0; e foi goleado pela Colômbia em Cuiabá por 4 a 1.  A estreia na Rússia será justamente contra os colombianos num grupo que tem ainda Polônia e Senegal.

O ciclo japonês para este mundial começou com o mexicano Javier Aguirre, que assumiu o comando logo após o a Copa de 2014. Ele dirigiu a equipe em 10 jogos e teve bom aproveitamento até que, acusado de ter participado de um esquema de manipulação de resultados no Campeonato Espanhol anos antes, foi demitido em fevereiro de 2015. Aí veio Halilhodžić, que vinha de um bom trabalho na seleção da Argélia (assustou a Alemanha nas oitavas de 2014).

O bósnio chegou chegando. Se propôs a mudar o padrão de jogo japonês. Determinou que o time, acostumado ao toque de bola, passasse e marcar forte e sair em velocidade no contra-ataque. Ao mesmo tempo, esvaziou jogadores tradicionais da seleção como Honda, Kagawa e Okazaki, tirando-os do time. Chegou a escalar como titular um jogador da segunda divisão japonesa.

A equipe nunca teve um bom desempenho sob este padrão, mas conseguiu se manter competitiva para as Eliminatórias asiáticas. Apesar de algum sofrimento (maior do que o normal) conseguiu a vaga para a Copa. O torcedor japonês, que já olhava torto para o trabalho de Halilhodžić, ficou louco quando viu o time ser impiedosamente goleado pela grande rival Coreia do Sul na final da Copa do Leste da Ásia, em dezembro do ano passado. Ninguém estava preocupado com o fato de as equipes serem formadas por jogadores dos clubes locais. Perder daquela forma para a Coreia queimou o filme do treinador. Antes disso, o time principal tinha perdido para Brasil (3 a 1) e Bélgica (1 a 0) em novembro. Nos primeiros amistosos de 2018, mais dois fracassos selaram a demissão do treinador: um empate com Mali (1 a 1) e uma derrota para a Ucrânia (1 a 0).

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Akira Nishino assumiu a dois meses da Copa. 

O novo técnico é um veterano do futebol japonês. Akira Nishino dirigia a seleção olímpica de 1996 quando os nipônicos derrotaram o Brasil de Zagallo. Depois daquilo teve uma longa carreira nos clubes japoneses, em especial no Gamba Osaka onde ficou 9 temporadas e ganhou muitos títulos. Desde 2016 Nishino, que está com 63 anos, era Diretor Técnico da Federação japonesa. Trabalhava diretamente com seu antecessor, demitido. Seu desafio tem prazo de validade. Ao término da Copa um novo treinador será contratado. Nishino manteve um dos auxiliares técnicos de Halilhodžić, que estaria sendo trabalhado para assumir o cargo no futuro.

Impossível dizer como os “Samurais azuis” vão jogar. A primeira partida sob o comando da atual Comissão Técnica será dia 30 de maio. Um amistoso contra a seleção de Gana. Servirá para testar jogadores. No dia seguinte sairá a lista dos 23 inscritos na FIFA. Para este compromisso foram convocados 27 atletas.

Nishino já sinalizou que pretende dar protagonismo aos três figurões desprezados pelo bósnio. Ele acredita que precisa de jogadores que não sofram com a pressão de grandes partidas. Antes, entretanto, quer saber como anda o nível de Honda – que está jogando no México – e sentir como está a evolução da lesão sofrida por Kagawa, que o afastou dos campos nos últimos três meses (voltou no final da temporada alemã). Okazaki é outro que vem de lesão, mas esta é considerada menos grave. Uma novidade na lista foi a volta do experiente Aoyama, que esteve no Brasil, mas não era chamado há três anos. Ele vem jogando muito bem pelo Sanfrece Hiroshima.

O atacante Kubo, constante nas listas do técnico anterior, não foi chamado. Ele estaria liberado para se concentrar na reta final do campeonato belga, onde defende o Gent (fez gol no final de semana), e ainda pode aparecer na lista final.

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Kagawa segue como principal articulador ofensivo do futebol nipônico.

Depois que definir o elenco para o mundial Nishino terá dois jogos para “acertar” o time. Fará amistosos contra a Suíça e o Paraguai, ambos em solo europeu. Pelo que especula a imprensa japonesa, Kawashima deve continuar sendo o goleiro titular. A linha de defesa provavelmente seria formada por Hiroki Sakai, Maya Yoshida, Tomoaki Makino e Yuto Nagatomo. A dupla de volantes não deve fugir de Makoto Hasebe e Hotaru Yamaguchi. Se estiver em forma, Shinji Kagawa é nome certo na criação. As dúvidas no ataque são muitas. Há várias opções e poucos jogadores com rendimento satisfatório. Neste cenário Honda e Okazaki podem reconquistar espaço.

Confira os jogadores convocados para o amistoso contra Gana:

Goleiros: Eiji Kawashima (Metz); Masaaki Higashiguchi (Gamba Osaka); Kosuke Nakamura (Kashiwa Reysol).

Defensores: Yuto Nagatomo (Galatasaray); Tomoaki Makino, Wataru Endo (Urawa Reds); Maya Yoshida (Southampton); Hiroki Sakai (Marseille); Gotoku Sakai (Hamburg); Gen Shoji, Naomichi Ueda (Kashima Antlers).

Meio de campo: Makoto Hasebe (Eintracht Frankfurt); Toshihiro Aoyama (Sanfrecce Hiroshima); Keisuke Honda (Pachuca); Takashi Inui (Eibar); Shinji Kagawa (Dortmund); Hotaru Yamaguchi (Cerezo Osaka); Genki Haraguchi, Takashi Usami (Fortuna Dusseldorf); Gaku Shibasaki (Getafe); Ryota Oshima (Kawasaki Frontale); Kento Misao (Kashima Antlers); Yosuke Ideguchi (Leonesa).

Atacantes: Shinji Okazaki (Leicester); Yuya Osako (Werder Bremen); Yoshinori Muto (Mainz); Takuma Asano (Stuttgart).

É pouco provável que um trabalho feito tão em cima da hora renda bons frutos. O Japão perdeu a mão na sua preparação para a Copa. Embora o seu grupo não tenha nenhuma das chamadas potências, pelo menos Polônia e Colômbia parecem bem à frente do que o Japão tem mostrado. O futebol japonês estagnou sua evolução. Não revelou uma nova geração e ainda depende de atletas que já passaram do auge na carreira. Precisa repensar seus critérios para voltar a crescer.

 

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