Times Imortais: Espanha do Tiki-Taka

A história de hoje é de uma seleção que sempre figurou entre as melhores como coadjuvante, até tudo isso mudar e um time mágico surgir e se tornar uma das melhores seleções de todos os tempos, que no melhor estilo tiki-taka conquistou o mundo e duas Euros: A Espanha de 2008, 2010 e 2012.

A necessidade de mudança

Foto: Martin Rose/Getty

Para contar essa história a gente precisa dar uma rebobinada e voltar ao ano de 2004. Hoje a gente está acostumado com a Espanha sendo uma potência no futebol, mas naquela época a coisa era um pouco diferente.

É verdade que a Espanha sempre se situava entre as melhores do mundo, mas ainda assim existia uma enorme desconfiança sobre quão longe esse time pudesse chegar. Sabe essa parada da “Geração Belga”, uma seleção que está no topo, com craques no time, e ainda assim muitos não levam a sério por não ter ganhado nada? Com a Espanha era mais ou menos isso. Claro, eles tinham vencido uma Eurocopa – em 1964 -, só que até aí a Grécia e a Dinamarca também, então nunca ter ganhado uma Copa do Mundo diminuia o peso da Seleção, que ficava abaixo de Brasil, Itália, Alemanha, França e as outras campeãs.

Na Copa de 2002 a Espanha foi uma das decepções do torneio e havia sido eliminada para a Coréia do Sul depois de uma arbitragem muito polêmica, e sua saída da Eurocopa 2004 também foi tratada como um desastre na época: em um grupo com Portugal, Grécia e Russia, não conseguiu se classificar e foi eliminada antes mesmo das oitavas. Hoje dá pra ver com outros olhos: as seleções classificadas Grécia e Portugal chegaram na final, com a azarã Grécia sendo campeã, então o “vexame” da Fúria nem foi tão grande assim, mas na época era um sinal claro de que algo precisava mudar.

E foi por isso que logo depois disso, ainda em 2004, um técnico cascudo e bastante respeitado no país foi contratado para comandar a seleção da Espanha, com a dura missão de mudar o patamar da equipe: Luís Aragonés.

A nova Espanha de Luís Aragonés

Foto: Denis Doyle/Getty

Até então o Aragonés era mais conhecido por ser uma lenda do Atlético de Madrid: foi jogador do clube por uma década, e depois como treinador passou pelo Atleti em diversos momento diferentes, somando entre elas quinze temporadas no comando do clube de Madri, sendo um dos técnicos mais vitoriosos de sua história, hoje só sendo superado mesmo pelo Simeone.

Só que fora isso rodou por diversos clubes da Espanha sem ter muito sucesso, e era visto muito como um cara que chegava pra apagar os incêndios, arrumar a casa, mas depois não tinha muito mais pra oferecer. Tanto que seu último trabalho havia sido no Mallorca, quando pegou o time em uma situação bem complicada e conseguiu levar à 11ª colocação no campeonato: ou seja, resolve os problemas, mas tava longe de ser um técnico de ponta.

Seu impacto não foi imediato, e essa nova Espanha começava a ser montada ainda sem sucesso: na Copa de 2006 o time cheio de jovens foi eliminado para a França de Zidane ainda nas oitavas, e mais uma vez ficava claro que ainda tinha que mexer em muita coisa: nessa época se cogitava até mandar o Aragonés embora depois de menos de dois anos no cargo.

Até então e durante sua carreira a filosofia do técnico era simples: segura a casa e mata o jogo no contra-ataque. Só que com o elenco da Espanha isso não tava dando certo. Assim, ele identificou duas das principais qualidades técnicas do time para escolher uma nova forma de atuar: o controle da posse de bola e o passe apurado; e pensando nessas características “nascia” o Tiki-Taka da seleção da Espanha.  

O caminho para a Eurocopa

Foto: Getty

Depois de perder para a Suécia e para a Irlanda do Norte nas qualificatórias para a Euro 2008, a mudança de estilo finalmente surtiu efeito e a Espanha não perdeu mais, liderando o seu grupo e se classificando para a competição com certa tranquilidade. Uma das principais mudanças da equipe foi a saída polêmica do Raul, atacante ídolo do Real Madrid e até o momento figurinha carimbada na seleção, mas que o técnico optou por preterir no lugar dos jovens David Villa e Fernando Torres, já mostrando sinais de como pretendia montar seu time, também consolidando na equipe caras como o David Silva e Cesc Fábregas que tavam em um ótimo momento.

Vale a pena ressaltar que naquela época o Barcelona já praticava o Tiki-Taka – uma herança que veio ali desde o comando do Van Gaal, e foi aperfeiçoada pelo Pep Guardiola – por isso fazia também sentido que alguns dos principais jogadores desse time também fizessem parte da seleção: caras como o Puyol, Xavi e o Iniesta, esses dois últimos que já se tornavam dois dos melhores meias do mundo.

Um cara menos falado mas que também era peça chave daquele time merece destaque: o brasileiro naturalizado espanhol Marcos Senna. Ele era aquele volante que fazia o “trabalho sujo” do time, recuperando as bolas e dominando o meio campo, permitindo que os astros do time pudessem brilhar lá na frente. Se você já se perguntou “como pode ter tanto meia que só ataca nesse time?”, ele é um dos motivos.

Euro 2008

Chegando na Eurocopa 2008, a Espanha se encontrava no Grupo D com Rússia, Suécia e Grécia, mas o que poderia parecer um grupo fácil era tido com muita cautela depois do que aconteceu com a Espanha nas competições passadas.

Para o primeiro jogo contra a Rússia, o time da Espanha era: Casillas, o capitão, no gol. Sergio Ramos na lateral direita, Puyol e Marchena na zaga com Capdevila na esquerda.

Aí no meio Marcos Senna e Xavi, com Iniesta pela meia esquerda e David Silva pela direita, se alternando e lembrando que os dois também chegavam toda hora no ataque, que era composto de David Villa e Fernando Torres. Esse era o time que chegou como titular e assim se manteve na competição.

O jogo foi um sonoro 4×1 fora o baile, com hat-trick do Villa e um gol do Fábregas, que entrou no segundo tempo, já mostrando o poder dessa seleção que além de ter um time muito forte também tinha caras como o Fábregas e Xabi Alonso como opção no banco.

Agora pegava a Suécia do Ibrahimović, num jogo que foi muito mais pegado mas mostrou a resiliência da Fúria: Fernando Torres abre o placar, mas logo em seguida o Ibra empata para a Suécia. Mesmo dominando o jogo, foi só no acréscimos que o Villa desempata e basicamente garante a classificação da Fúria.

Contra a Grécia, atual campeã da Euro, mandou um time misto e começou perdendo com gol do Charisteas, mas virou o jogo com de la Red e Güiza, dois caras reservas absolutos da equipe, mas que tavam em campo já que vários titulares haviam sido poupados. Dessa vez sem sustos a Espanha estava então classificada para a próxima fase.

Depois de derrotar a atual campeã da Euro, a próxima adversária era um desafio ainda maior: pegava nas quartas a atual campeã do mundo, Itália.

A primeira taça

Foto: Clive Mason/Getty

E foi um jogo duro: sempre sendo aquele time bem defensivamente, a Itália de Buffon conseguiu conter os avanços da Fúria, que também defendeu bem e viu o jogo terminar 0x0, depois da prorrogação indo para os pênaltis.

O artilheiro David Villa cobra a primeira e marca, mas Fabio Grosso deixa tudo igual para a Itália. Em seguida Santi Cazorla também converte, e aí De Rossi bate para a defesa de Casillas, 2×1 com a Espanha na frente.

Marcos Senna e Camaronesi também convertem, 3×2, enquanto o Güiza bate bem mal e o Buffon pega. Só que o Di Natale também cobra mal, o Casillas – herói das cobranças – pega mais um e encaminha a vitória, no que o Fábregas cobra a última e garante a Fúria na semifinal da Euro.

Agora a semifinal parecia ser mais tranquila, já que a Espanha encarava a Rússia, time que goleou na fase de grupos, e nas semis não foi diferente: dominou a partida, com o Iniesta jogando muito, e venceu por 3×0, com gols do Xavi, Güiza e David Silva, chegando agora na final cada vez mais como favorita, mesmo que com um desfalque importante: David Villa se machucou nesse jogo e ficou de fora da decisão.

Chegava então a derradeira final, contra a Alemanha, jogo onde a Espanha precisava exorcizar alguns demônios para quem sabe conquistar seu primeiro título em muito tempo. A Alemanha contava com caras como o Ballack, Lahm, Podolski, Schweinsteiger e Klose e prometia ser dureza para a Espanha.

Só que a gente tá falando de uma seleção imortal, e que começou a ter essa fama muito por causa dessa partida: a Fúria colocou a Alemanha na roda, e mesmo sem o Villa teve o Fábregas a mais no meio campo, que foi dominado pela seleção espanhola que mandou no jogo do começo ao fim. Mesmo tendo vencido apenas por 1×0 com gol do Fernando Torres, em momento algum deixou a Alemanha gostar do jogo e planejar um empate.

O jejum foi quebrado e enfim a Espanha era campeã novamente, em uma campanha histórica onde venceu de maneira invicta, tendo o David Villa como artilheiro com 4 gols e o Xavi sendo eleito o melhor jogador da competição. Mas uma Euro não faz um time imortal, e a verdade é que a história desse time tava só começando a ser escrita.

Tchau, Aragonés. Bem-vindo, del Bosque!

Foto: Cameron Spencer/Getty

Após a Euro, um dos principais responsáveis por esse time se despedia: o técnico Luís Aragonés saiu do comando da seleção rumo ao Fenerbahçe, deixando então uma lacuna no time que logo foi suprida com a chegada do técnico Vicente del Bosque. Será que seria esse o fim do Tiki-Taka, e o início de uma nova filosofia?

Ao contrário do Aragonés, o del Bosque era ídolo justamente do principal rival Real Madrid, tendo sido jogador do time por quase toda sua carreira, vencendo cinco vezes a liga espanhola, e depois como treinador também foi vitorioso, com duas ligas espanholas e duas Champions, e acabou só saindo mesmo por uma briga política que teve na época.

Mas se teve alguma mudança, ela foi positiva: o del Bosque manteve o estilo Tiki-Taka do time e tornou a seleção ainda mais cascuda, vencendo todos os dez jogos nas qualificatórias para a Copa de 2010, marcando 28 gols e sofrendo apenas 5.

Nem tudo são flores, e depois de chegar a um recorde onde venceu 15 partidas oficiais seguidas – e 35 sem perder- acabou sendo eliminada para os Estados Unidos na Copa das Confederações de 2009, num jogo que foi tratado como um apagão, e que dava maus indícios para as chances da seleção na Copa: afinal essa era a história de sempre, de um time que chegava forte e na hora H acabava vacilando, e esse jogo dava sinais dessa história se repetindo.

Copa de 2010 – This time for Africa!

Time que iniciou a competição

A base do time tinha sido mantida, mas para a Copa de 2010 algumas mudanças importantes haviam sido feitas em um processo de renovação: o jovem zagueiro Piqué assumia a titularidade ao lado do Puyol, enquanto os meias Xabi Alonso e Busquets também faziam parte do time titular, que agora muitas vezes alternava entre jogar com um ou dois atacantes lá na frente, com caras como o Pedro e Jesus Navas sempre entrando nas partidas.

Vindo como favorita para o título, o medo de um apagão só aumentou mais ainda quando a Copa começou. O grupo da Espanha não era visto como difícil, com Chile, Suíça e Honduras, mas o primeiro jogo contra a Suíça foi uma derrota, 1×0 para os suíços num resultado que já ligava o alerta vermelho para a Fúria. Será que vinha aí mais uma decepção da seleção que mais amarelava na história?

O segundo jogo deu uma tranquilizada: Del Bosque lançou um time mais ofensivo e funcionou: 2×0 contra a seleção de Honduras, com o artilheiro David Villa fazendo uma partida incrível e marcando os dois gols da vitória, só não marcou três porque ainda perdeu um pênalti. Deu pra dar uma respirada.

Agora pegava o Chile pelo último e decisivo jogo da fase de grupos, em um jogo bem pegado mas com o artilheiro David Villa abrindo o placar com um golaço, e depois com o Iniesta ampliando o placar, garantindo a vitória mesmo com o gol tomado logo em seguida: 2×1 e estava então classificada para o mata-mata da Copa do Mundo.

Foto: Jaspen Juinen/Getty

Nas oitavas, encarava agora Portugal do Cristiano Ronaldo, em mais um jogo de amplo domínio da Fúria mas com dificuldades de marcar gols. Só que adivinha? David Villa deixou o dele, e com o 1×0 no placar a Espanha avançava para a próxima fase.

O jogo das quartas ia ser contra o Paraguai, então você deve estar pensando que ia ser mais fácil, porém esse duelo foi um teste pra cardíaco e um dos mais difíceis de toda a Copa:

O Paraguai assustou logo no comecinho com um gol que foi anulado, mas fora isso o primeiro tempo foi lá e cá mas sem nenhuma chance muito clara pra qualquer um dos lados.

Só que o segundo tempo foi um absurdo: logo no começo um ataque do Paraguai, Piqué faz falta no Cardozo dentro da área e é pênalti! Nessa hora aquele medo do famoso apagão deve ter passado pela cabeça de todos torcedores e jogadores espanhóis, quando o próprio Cardozo vai para a cobrança, chuta e… o Casillas defende! 

E depois dessa moral toda agora é a vez da Espanha atacar, com David Villa, que é derrubado na área e pênalti pra Espanha! Xabi Alonso bate e marca o gol, mas o árbitro marca uma invasão da área e manda repetir! E na segunda batida… o goleiro Villar defende!

Então eles foram do céu ao inferno ao céu ao inferno, e o jogo pegou fogo. Só que se a Espanha precisa marcar um gol, quem que resolve esse problema? Depois de uma jogadaça do Iniesta, o David Villa aproveita um rebote do Pedro e abre o placar, garantindo a vitória e a classificação para as semis da Copa, feito que não conseguiam desde 1950!

A Espanha campeã mundial

Foto: Laurence Griffiths/Getty

Só que agora pegava a Alemanha, que seria um osso duríssimo de roer: se a Espanha penou pra avançar, a Alemanha nas oitavas goleou a Inglaterra por 4×1 e nas quartas passeou contra a Argentina, goleando por 4×0.

Mas o ataque incrível deles ficou só no papel, já que a Espanha soube dominar o jogo e não deixou a Alemanha atacar como gostaria, mas sem conseguir também abrir o placar. Isso até o final do jogo, quando na hora que precisava o Puyol apareceu na área e garantiu a vitória do time com um gol de cabeça.

Chegava então no dia 11 de Julho a final da Copa do Mundo de 2010, que antes mesmo de começar já era histórica, já que os finalistas eram Espanha e Holanda, duas seleções que nunca haviam conquistado uma Copa, ou seja: teríamos campeão inédito.

Então o confronto entre a Holanda inspirada pela Laranja Mecânica do Cruyff e a Espanha do Tiki-Taka teria lógico que ser uma maravilha técnica, certo? Só que foi a maior porradaria! Foram 14 cartões na partida, com a Holanda tomando 9 e parando a Espanha da única maneira que conseguiu, que foi na truculência mesmo, incluindo um chute absurdo do De Jong na barriga do Xabi Alonso que nem tomou vermelho.

Fora a treta generalizada, teve o Robben comendo a bola e quase marcando em algumas chances, mas ninguém conseguiu marcar e o jogo foi para a prorrogação, que se encaminhava para os pênaltis…

Mas você conhece o tal do Iniestazo? Porque já no finalzinho da prorrogação, o Fábregas toca para Andrés Iniesta, um dos caras mais importantes dessa Espanha, que é decisivo e marca o único gol da partida, o mais importante da história da seleção espanhola, o gol que decide o jogo e o título inédito de Copa do Mundo para a Fúria.

Naquele momento, esse time lindo de se ver jogar, imparável, entrava na lista dos times imortais do futebol, e de quebra o patamar da seleção espanhola era outro, com um recado dado: não vamos parar.

Atacante pra quê? Euro 2012

Se tinham duvidado antes de 2008, e se duvidaram antes da Copa, sobrou agora algum corajoso para duvidar da Espanha depois do que ela conquistou? Talvez a maior pergunta era se o time iria estar motivado para ganhar a Euro logo depois de vencer a Copa, mas o que não faltou em nenhum momento para esse time foi vontade, já que se qualificou para a Euro 2012 ganhando todos os oito jogos que disputou, e chegava na competição como favorita.

O Del Bosque continuou, e a base do time pra essa competição ainda era a mesma, com algumas mudanças importantes: o zagueirão Puyol havia se aposentado da seleção após a conquista da Copa, e no lugar dele agora era o Sergio Ramos que fazia a dupla com o Piqué, com o Arbeloa assumindo a lateral direita e Jordi Alba como titular na esquerda.

No ataque um desfalque importantíssimo: David Villa quebrou a perna e não foi convocado, obrigando o técnico a experimentar mais no ataque: mesmo com centroavantes como Negredo, Llorente e Fernando Torres no banco, ele ousou a colocar em campo em diversas partidas nenhum atacante de ofício. Então por exemplo para a estreia o time tinha seis meio-campistas escalados: Busquets, Xavi, Xabi Alonso, David Silva, Iniesta e o Fábregas ali meio que de falso nove.

Sem nenhum atacante em boa fase e vários meias jogando muita bola a solução foi essa, e ainda assim a Espanha foi a primeira colocada em um grupo com Itália, Irlanda e Croácia: empatou em 1×1 com a Itália, depois goleou a Irlanda com um sonoro 4×0 – com o Torres voltando ao time e marcando um doblete – e finalmente um 1×0 magrinho contra a Croácia, com gol do Navas.

A Espanha do Tiki-Taka

Foto: Laurence Griffiths/Getty

Nas quartas pegava agora a França, que mesmo com Ribéry e Benzema não estava muito forte, e até por isso a Espanha mostrou sua superioridade com aquele esquema dos seis meias e venceu por 2×0, com dois gols do Xabi Alonso.

A semifinal foi o jogo mais difícil para a seleção, que pegava Portugal em mais um clássico ibérico, muito pegado, cheio de cartão amarelo mas dessa vez sem nenhum golzinho, sendo decidido então nos pênaltis.

O cobrador oficial Xabi Alonso bate o primeiro e perde, mas João Moutinho também perde e fica tudo igual. Iniesta, Pepe, Piqué e Nani marcam os seus, aí o Sergio Ramos marca de cavadinha e o Bruno Alves perde o dele, no que o Fábregas cobra o último e garante a classificação, levando a Espanha para mais uma final.

A finalíssima era contra a Itália, e baseado no 1×1 no primeiro jogo dava prever uma final bastante disputada. Mas não foi assim.

Foi um passeio completo da Espanha, que sem centroavantes mostrou que só dominando o jogo com seus meias era capaz de golear uma partida. Começou com o David Silva, depois o Jordi Alba ampliou ainda no primeiro tempo, que foi todo da Espanha. O segundo tempo teve a Itália tentando mais, mas quem marcou de novo foi a Fúria, que no finalzinho amplia com o Fernando Torres e Juan Mata, sacramentando assim a maior goleada de uma final de Eurocopa, 4×0, o bicampeonato da Espanha e a declaração: somos hoje o melhor time do mundo.

A falta de renovação

Foto: Laurence Griffiths/Getty

Mas no futebol, todo time que marca época chega ao fim em algum momento. E existem vários possíveis motivos: o elenco pode ser renovado e o novo time não dá conta, os jogadores ficam acomodados, um novo técnico chega e não dá certo e por aí vai.

No caso da Espanha a renovação não foi o problema, e sim a falta dela.

Isso porque os jovens promissores de 2004 agora chegariam para 2014 como jogadores já experientes e fora do seu ápice. Os melhores meias do mundo por um bom tempo, Xavi e Iniesta, não conseguiram ser substituídos à altura, e o mesmo dava pra dizer do goleirão Casillas e dos atacantes David Villa e Fernando Torres, vivendo momentos muito diferentes do que lá em 2008.

E tem mais: cada vez mais os times sabiam como neutralizar o Tiki-Taka, e era então previsível ver a Espanha jogar e saber como neutralizá-la.

O fim de uma era

Foto: Anadolu Agency/Getty

Ainda assim chegou na Copa das Confederações de 2013 como uma das favoritas, mas na final contra o Brasil já mostrava suas fraquezas: não conseguiu dominar o jogo como das outras vezes e o Brasil goleou por 3×0, com gol do Neymar e dois do Fred.

A Copa de 2014 chegou e a base do time era a mesma, com a exceção do Azpilicueta agora como lateral direito e o Diego Costa titular no ataque. Depois de tudo que a gente viu aqui ninguém ouso não considerar uma das favoritas, só que foi uma das maiores decepções da Copa:

O primeiro jogo da fase de grupos foi contra a Holanda, que tava doidinha para uma vingança e amassou a Espanha sem dó, num sonoro 5×1 com dois gols do Robben e do van Persie, incluindo uma performance desastrosa do Casillas, longe de ser o mesmo que fechou o gol no passado, e Xavi e Iniesta pouco inspirados.

Depois do vexame, o clima tava tão ruim que os próprios jogadores disseram que algo tinha que mudar para o próximo jogo contra o Chile. Fábregas e Xabi Alonso, em entrevista coletiva, criticaram o tiki-taka e deram um “recado” ao treinador:

O que essa equipe fez nos últimos seis anos foi história, mas não se pode viver disso. Temos que vencer o Chile. Dessa vez não se pode ter um futebol tão de posse, de toque de bola, passe, passe e passe… Temos que ser mais dinâmicos

– Fábregas.

Mas nada mudou, e o Chile venceu a partida por 2×0, decretando a eliminação precoce da atual campeã do mundo. Esse era, definitivamente, o fim de uma geração.

O final foi digno de uma despedida: já eliminada, a Espanha goleou a Austrália por 3×0, com gols de David Villa e Fernando Torres, lembrando os bons tempos da dupla, e um do Juan Mata. Mesmo eliminada, a Fúria se despediu da melhor maneira que sabia: com um espetáculo.

Lentamente houve uma renovação, e os mais experientes foram se aposentando enquanto alguns jogadores davam cara nova ao time, como Pedri, Gavi e Ansu Fati para quem sabe trilhar uma nova história.

A Espanha bicampeã da Eurocopa e vencedora da Copa do Mundo já se desfez, mas esse time aí é, sem dúvida alguma, Imortal.

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Rafael Uzunian
Rafael Uzunian
Coordenador do Euro Fut, roteirista no YouTube, sofrendo com Santos e Arsenal.
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