ALÉM DE MERA CORAGEM#1 DROGBA, O HOMEM QUE PAROU UMA GUERRA CIVIL.

O além de mera coragem #1 traz a história de Drogba. A frente de sua seleção, o astro conseguiu parar uma guerra civil que durava 5 anos em seu país natal, Costa do Marfim.

Líder da independência marfinense, estabilidade econômica e social foram os marcos do regime de Félix Houphöet-Boigny nos seus 30 anos a frente da Costa do Marfim. Com sua morte em 1993, o país se deu conta de sua realidade, se dividiu e entrou em conflito. De um lado, o sul. A região mais rica, onde também tinha sua capital. Do outro, o norte. Região mais pobre e dominada pelos rebeldes. Golpes de estado, violência, morte. A realidade tinha se tornado outra. Sem nenhum problema básico resolvido, em 2002 a alternativa mais drástica possível: poder militar. Três anos se passaram, 3.000 mortos, 700.000 refugiados. Sem acordo de paz, a esperança em um final feliz era cada vez menor.

É aí que Didier Drogba entra!

Drogba em ação pelo Chelsea. IMAGEM: Chelseabr.com

Didier Yves Drogba Tébil

Chelsea

  • 341 jogos, 147 gols.
  • Tetracampeão inglês
  • Tetracampeão da Copa da Inglaterra
  • Campeão europeu (UCL)
  • Tricampeão Copa da Liga Inglesa

Costa do Marfim

  • 105 jogos, 65 gols. Maior artilheiro da história da Costa do Marfim.
  • Líder na classificação da Seleção para sua primeira Copa do Mundo.
  • Três Copas disputadas.
  • Futebolista Africano do Ano: 2006, 2009
  • Jogador Marfinense do Ano: 2006, 2007, 2012

Entre outras marcas e títulos importantes que teve, Didier Drogba fez história dentro das quatro linhas. No entanto para ele, não era o suficiente ser importante apenas em campo.

8 de outubro de 2005, o discurso de um herói.

Geração talentosa, trabalho sacramentado. Nessa data, a Costa do Marfim batia o Sudão por 3 a 1 e selava sua primeira classificação para uma Copa do Mundo. Histórico!

Ao fim do jogo, ainda no acanhado estádio de Omdurman, no Sudão, o atacante não esqueceu da causa pela qual estava lutando. De joelhos, Drogba pegou o microfone e em um discurso televisionado para toda a Costa do Marfim, discursou:

Homens e mulheres do norte, do sul, do leste e do oeste, provamos hoje que todas as pessoas da Costa do Marfim podem co-existir e jogar juntas com um objetivo em comum: se classificar para a Copa do Mundo. Prometemos a vocês que essa celebração irá unir todas as pessoas. Hoje, nós pedimos, de joelhos: Perdoem. Perdoem. Perdoem. O único país na África com tantas riquezas não deve acabar em uma guerra. Por favor, abaixem suas armas. Promovam as eleições. Tudo ficará melhor. Queremos nos divertir, então parem de disparar suas armas. Queremos jogar futebol, então parem de disparar suas armas. Tem fogo, mas os Malians, os Bete, os Dioula… Não queremos isso de novo. Não somos xenófobos, somos gentis. Não queremos este fogo, não queremos isto de novo.

Vindas de um vestiário simples, mas com palavras de significado gigantesco para um povo que há anos convivia com a guerra. Após classificar sua seleção nacional pela primeira vez para uma Copa do Mundo, Drogba conseguiu com esse apelo o que muitos por muito tempo tentavam: decretou um cessar-fogo.

2006, a Copa do Mundo.

“Elefantes” prontos para seu primeiro confronto na Copa do Mundo de 2006.

Na Copa do Mundo a seleção não teve muita sorte e acabou caindo no grupo da morte. Holanda, Argentina e Sérvia e Montenegro eram seus adversários. Após derrotas para Holanda e Argentina, e vitória contra Sérvia e Montenegro, os “Elefantes” como é chamada a seleção, foram eliminados ainda na primeira fase; No entanto, para o mundo inteiro e principalmente á nação Marfinense, a seleção conseguiu mostrar que mesmo diante de jogadores de diferentes regiões do país existia união e amor.

Voltando ao Chelsea, foi peça fundamental na conquista da Premier League. O protagonismo o levou ao prêmio individual de jogador africano do ano. Com o prêmio, Drogba pediu ao presidente que autorizasse a ida dele a Bouaké, cidade então dominada pelos rebeldes e em guerra com a capital do país. Como era um região muito pobre as pessoas só viam seus ídolos por TV’s pequenas, a ida até lá gerou muita comoção. Com o microfone, para milhares de pessoas, o jogador escreveu mais uma página em sua história: Prometeu que voltaria lá com a seleção inteira.

2007 e o jogo que ficará marcado para sempre.

A seleção tinha um compromisso pelas eliminatórias contra Madagascar e Drogba entrou em ação para cumprir com sua promessa. O jogador exigiu que o jogo fosse disputado na região norte, dominada pelos rebeldes. O pedido gerou controvérsia, existia muito medo de que existiria um confronto se acontecesse a partida. No fim, o pedido foi acatado e no dia da partida os jogadores foram levados até o estádio de tanque.

O evento parou os dois lados do país, lado sul e norte que por 90 minutos esqueceram suas diferenças e assistiram juntos pacificamente. Vitória dentro de campo também, 5 a 0 para os elefantes.

Drogba comemorando em Bouaké, após o fim da partida. IMAGEM: Le Sport.

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Um tempo após o jogo, o Acordo de Ouagadougou foi assinado pelo então presidente Laurent Gbagbo, pelo líder das Forças Novas Guillaume Soro e pelo presidente burquinense Blaíse Compaoré com o objetivo de trazer a paz à Costa do Marfim e reunificar o país.

Muita gente me diz: “desde que os elefantes vieram a Bouaké eu pude voltar para casa.”

Drogba, em entrevista ao documentário Rebeldes del Fútbol.

Durante os anos seguintes, Drogba não parou. O jogador criou sua própria fundação de caridade, ajudou a levantar verba para construir escolas e hospitais e fez parte da Comissão da Verdade e Reconciliação instaurada após a guerra. Suas atitudes o fizeram se tornar Embaixador das Nações Unidas (ONU) e em 2010 o craque foi apontado pela revista TIME como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.

Drogba, em ação da sua Fundação de caridade, Didier Drogba Foundation. IMAGEM: Facebook.

Drogba mostrou que o futebol é muito mais do que só um jogo. A união o amor e a paz transmitidos pelo esporte foram as chaves para acabar com uma guerra. Dentro das quatro linhas, um craque. Fora delas, uma lenda. No mundo do futebol, admirado. Em seu país, reverenciado. Muito além das quatro linhas, muito além de Mera Coragem.

Fontes

Publicado por João Vitor Dias

Estudante de Gestão, apaixonado por futebol.

2 comentários em “ALÉM DE MERA CORAGEM#1 DROGBA, O HOMEM QUE PAROU UMA GUERRA CIVIL.

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