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Por Redação do ge — Salvador


"Dever cumprido", diz Allan do Carmo após completar Travessia e se despedir

"Dever cumprido", diz Allan do Carmo após completar Travessia e se despedir

O esporte assistiu, na manhã deste sábado, à despedida de um dos maiores atletas de águas abertas da história. Aos 33 anos, o baiano Allan do Carmo fez sua última prova de maratona aquática nesta manhã e encerrou a carreira, que tem o título de campeão mundial de 2014 e medalhas nos Jogos Pan-americanos Rio 2007 e mundiais de Barcelona e Kazan.

Allan fechou a Travessia Itaparica-Salvador em 4º lugar.

“Dever cumprido. Muito feliz. Prova muito bonita, disputada, estratégica”, disse Allan do Carmo.

- Muito feliz pela disputa acirrada. Digna de uma Itaparica-Salvador. Acho que fiquei em 4º lugar. Hoje descobri que o segredo está na comida de Guta e Valmir [os pais do nadador]. Parabéns pela prova - completou.

Allan do Carmo é homenageado após a prova — Foto: Divulgação/CBDA

Ao deixar a água, o atleta foi recebido com carinho pelos amigos e familiares que aguardavam na areia, no Porto da Barra. Allan contou que procurou aproveitar cada minuto da despedida e destacou a importância de entrar na água e encontrar outros jovens nadadores, que iniciam suas trajetórias.

- Está sendo muito feliz e gratificante, desde que saí do Yatch. Venho aproveitando cada momento até chegar na largada. Estar confraternizando com todos os atletas, que estavam largando. Todo mundo comemorando, me dando parabéns. Muitos falando ‘Essa é minha primeira’. Esse é o gostoso da prova, receber o carinho dos atletas, da torcida, me sentir torcedor, receber mensagens, abraços. Não só como atleta, mas como pessoa. Desde a comida dos meus pais, que é o segredo, até receber o carinho de todos aqui na areia – disse.

Ana Marcela prestigia o amigo

Allan do Carmo e Ana Marcela Cunha falam de amizade de longa data

Allan do Carmo e Ana Marcela Cunha falam de amizade de longa data

Entre os amigos, uma mais que especial: Ana Marcela, conterrânea e amiga de infância.

Em recuperação de uma cirurgia no ombro, a nadadora, que mora no Rio de Janeiro, desembarcou em Salvador para acompanhar o momento especial do amigo. Eles cresceram juntos e compartilham até hoje detalhes de suas vidas e dia a dia. Foi dela, inclusive, o apoio para que Allan fizesse sua primeira (e única até aqui) tatuagem.

- [Vim] Não só pela carreira dele, muito mais pela amizade. Os familiares podem ficar meio tristes, mas vim muito pela despedida do Allan. Não tinha como não estar aqui. A única opção era estar aqui. Por tudo que ele fez, pela maratona aquática, pelo esporte. A maioria da vida dele ele passou aqui na nossa terra. [...] Olho para frente e vejo que, daqui a pouco, serei eu aposentando. Quero chegar numa Olimpíada de novo. Nossa parceria não tem o que falar. É difícil. É duro. Dói bastante. É como um irmão para mim. A hora de todo mundo chega. Estou muito grata por poder estar aqui hoje - afirmou.

Ana Marcela Cunha prestigia despedida do amigo Allan do Carmo — Foto: Reprodução/ge

Promessa paga sobre tatuagem

Sobre a tatuagem, os amigos contaram a história. Allan do Carmo prometeu fazer o desenho dos anéis olímpicos se garantisse vaga na Olimpíada de 2016, disputada no Rio de Janeiro, mas, segundo Ana Marcela, do Carmo deu uma enrolada após confirmar vaga na disputa. Ela precisou cobrar muito.

"Bastante. Até o dia que ele mandou a foto da tatuagem, até ali não sosseguei".

- A gente tentou lá no Rio mesmo, lá na Olimpíada. Mas o cara não tinha horário. Eu falei: "Você não vai me enrolar, essa tatuagem você tem que ter". Não tem como não ter uma tatuagem olímpica - detalhou a baiana.

- Depois de 2016, eu prometi para ela e para Diogo e falei: "Se eu classificar eu faço". E aí, depois da Olimpíada, a gente foi fazer a tatuagem e não tinha (horário). Aí, cheguei aqui [em Salvador] e fui macho, paguei a promessa - contou Allan do Carmo.

- Vou contar as histórias das tatuagens dela. Falo que essa aqui é meu signo. Ela tem o oito aqui, falo que é o mês do meu aniversário. Ela vai fazer 89 tatuagens. Tem o três aqui, três do oito de 89 - brincou do Carmo.

Ciente do amor que o cerca, Allan destacou a importância de ter esse apoio na areia e lembrou que é a partir dessa conexão que ele consegue dar cada passo de sua caminhada.

- Acho que a gente fazer tudo aquilo com carinho, amor, simpatia, humildade. Que a gente vai conquistando não só as pessoas ao nosso lado, que vão fazendo um andaime para a gente subir. E mostrar isso nas águas e em tudo que a gente faz - afirmou.

Agora, Allan do Carmo se prepara para dar outras braçadas na vida. Ao lado da amiga Ana Marcela e de outros companheiros da natação, ele vai assessorar novos atletas que iniciam suas carreiras nas águas abertas pelo mundo afora.

Diogo Villarinho conquista Travessia

O nadador goiano Diogo Villarinho venceu, na manhã deste sábado, a Travessia Itaparica-Salvador. A prova marcou a despedida das águas de Allan do Carmo, que bateu a mão em quarto lugar.

Pódio masculino

  1. Diogo Villarinho
  2. Matheus Evangelista
  3. Ronaldo Zambrano
  4. Allan do Carmo
  5. Henrique Figueirinha

Pódio feminino

  1. Viviane Jungblut (Brasil)
  2. Racheli Bruni (Itália)
  3. Candela Giordanino (Argentina)
  4. Maria Luiza Lopes Oliveira
  5. Victória Beatriz Rosário

A largada ocorreu por volta das 7h30, da Gameleira, na Ilha de Itaparica. Até a chegada, na praia do Porto da Barra, os atletas nadaram cerca de 12 quilômetros.

No total, 180 atletas disputaram a prova principal, após classificação no Circuito Baiano de Águas Abertas. Alguns deles, no entanto, foram convidados por critérios técnicos. Além de Allan do Carmo, participaram da prova o baiano Evaldo Valério e a italiana Racheli Bruni, ambos medalhistas olímpicos.

Os nadadores foram divididos nas categorias Elite, com 50 participantes; Masculino Geral, com 90; e Feminino Geral, com 40. Também há provas para todas as idades, como a de 400 m, a Sprint 1 km e a Challenge 2 km.

História da prova

Conhecida como Travessia Mar Grande-Salvador e atualmente chamada de Travessia Itaparica-Salvador, a prova é um evento de natação em águas abertas que ocorre nas águas da Baía de Todos os Santos, na Bahia.

Organizado pela FBDA, em parceria com Yacht Clube da Bahia, Prefeitura de Salvador e colaboração do Comando do 2º Distrito Naval e Capitania dos Portos, a prova tem largada da Praia de Gameleira, em Vera Cruz-BA, e chegada ao Porto da Barra, em Salvador, após 12 mil metros de braçadas.

A prova foi criada pelo jornalista Genésio Ramos e teve a primeira edição realizada em 1955. Allan do Carmo conquistou cinco títulos e se igualou a Lourival Quirino. Em 2014, o atleta venceu a prova pela última vez e bateu o recorde com 1h34m08. Antes, o menor tempo era de 1h34min23s, de Fábio Lima, em 2001.

Ana Marcela Cunha venceu a Itaparica-Salvador em seis oportunidades — Foto: Marcel Merguizo

No feminino, destaque para Marília Barreiros, primeira mulher a concluir a prova, em 1957, e Ana Marcela Cunha, a mais jovem a vencer a prova, aos 13 anos, em 2006.

Além disso, Ana Marcela, que também é campeã olímpica e hexacampeã mundial, possui seis títulos da Itaparica-Salvador, dois deles, em 2008 e 2012, conquistados à frente tanto de mulheres quanto de homens.

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