Dinheiro em Jogo

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por Rodrigo Capelo

Atlético-MG na Libertadores

 

O que é mais vantajoso para as finanças: Copa Libertadores ou o Campeonato Mineiro? Uma vez que a primeira é obsessão de nove entre dez clubes brasileiros, e o segundo é o tão mal falado Estadual, a resposta pareceria óbvia, mas não é. A realidade é que, a menos que teu time seja campeão continental, ou pelo menos vá às semifinais, o segundo é mais lucrativo do que o primeiro em diversos aspectos.

 

Considere Atlético-MG e Cruzeiro como exemplos. A Conmebol paga US$ 900 mil pela primeira fase da Libertadores, US$ 300 mil para cada jogo como mandante. Ambos os mineiros já garantiram este dinheiro, pouco mais de R$ 2,5 milhões na cotação atual – favorece o torneio sul-americano o fato de o dólar hoje custar mais de R$ 2,9, maior nível sobre o real desde setembro de 2004.

 

A Conmebol ainda repassa US$ 550 mil pela partida em casa nas oitavas de final, US$ 650 mil pelas quartas de final, US$ 700 mil pelas semifinais, US$ 1 milhão para o vice-campeão e US$ 2,3 milhões para o campeão. Esses são os mesmos valores da Libertadores de 2014, inclusive. Não houve reajuste de um ano para outro. Quer dizer que Atlético-MG e Cruzeiro, se fizerem campanhas razoáveis e caírem só nas quartas de final, receberão US$ 2,1 milhões da entidade sul-americana, ou R$ 6 milhões.

 

No Campeonato Mineiro, se chegarem à decisão (o que, convenhamos, é rotina), Atlético-MG e Cruzeiro irão faturar cerca de R$ 6,5 milhões em 2015, segundo dirigentes consultados pelo blog. Este dinheiro vem da Globo, detentora dos direitos de transmissão dos dois clubes mineiros, e não da Federação Mineira de Futebol (FMF). É o valor mais próximo possível para esta comparação com a Conmebol.

 

A Libertadores só passa a pagar mais do que o Estadual a quem chegar à semifinal ou à final. A quantia sobe para US$ 2,8 milhões (R$ 8 milhões) aos semifinalistas, US$ 3,8 milhões (R$ 10,9 milhões) ao vice-campeão e US$ 5,1 milhões (R$ 14,6 milhões) ao campeão. Isso se a bolha do dólar não estourar antes que a competição continental acabe, em agosto, e murchar os valores por causa da conversão.

 

Cruzeiro x Huracán na Libertadores

 

Libertadores asfixia clubes comercialmente; Mineiro estimula
A Conmebol, no aspecto comercial, sufoca clubes que disputam da Libertadores. A entidade, tal qual Fifa e Uefa, porém sem organizar campeonatos com a mesma qualidade que Copa do Mundo e Liga dos Campeões, é absoluta na venda de espaços publicitários e na realização de ações de marketing.

 

Em 2015, o cerco aumentou. Na Libertadores, não é mais permitido subir do vestiário rodeado de crianças. Não é mais permitido levar mascote a campo – o Cruzeiro tentou para a partida da última quarta-feira, contra o Huracán, mas ouviu da Conmebol que sua raposa não poderia vestir uma camisa celeste que tivesse marcas de patrocinadores. Também não são permitidas ações no estádio de empresas que não patrocinem a competição. Tudo isso tira liberdade comercial dos clubes, além de matar o negócio da Minas Arena, que na Copa do Brasil de 2014 negociou diversas propridades do Mineirão.

 

- Eles cortaram oportunidades, tornaram o espetáculo engessado para os clubes. Ficamos numa camisa de força – define Robson Pires, diretor comercial do Cruzeiro, sem revelar ao blog números de quanto a equipe poderia arrecadar com propriedades comerciais como criançada, mascote e estádio.

 

No Mineiro, a história é diferente. Quando a Globo assinou novos contratos por direitos de transmissão, individuais, com Atlético-MG e Cruzeiro, a FMF estava quebrada. Tinha problemas com recebíveis e não podia movimentar dinheiro em sua conta bancária. Naquele contexto, por esta razão, foi decidido que clubes teriam a responsabilidade de vender placas publicitárias que ficam no campo. Esta é uma peculiaridade de Minas Gerais. No resto do país, quem negocia é a federação local.

 

Os times mineiros acumularam bons resultados na venda dessas placas nos últimos anos. Em 2010 elas renderam em torno de R$ 1,2 milhão para cada um, cifra que cresceu cerca de 15% por ano e, em 2015, deve chegar a R$ 2 milhões aos finalistas. Agora a FMF, com Castellar Neto na presidência desde meados de 2014, quer conversar com Atlético-MG e Cruzeiro para poder participar da venda.

 

Bilheterias e patrocínios favorecem Libertadores, mas...
É evidente que, no todo, para clubes que passam das quartas de final e chegam a semifinais e final, a Libertadores gera dinheiro a mais do que um Estadual. A conta muda de proporção quando entram bilheterias e patrocínios de camisa, embora não se saiba exatamente quanto.

 

Não é possível comparar receitas líquidas com ingressos, depois de descontadas despesas das partidas, pois a Conmebol não publica boletins financeiros como fazem entidades brasileiras. Mas é fato que seus jogos rendem mais. A receita bruta da partida do Cruzeiro com o Huracán foi de R$ 987 mil, enquanto a receita bruta do primeiro jogo cruzeirense no Mineiro, contra a Caldense, no mesmo Mineirão, ficou em R$ 337 mil. As rendas de jogos decisivos da Libertadores, então, são ainda maiores que em Estaduais.

 

Do lado dos patrocínios, há valorização por jogar a Libertadores porque, em primeiro lugar, o clube passa a ter mais partidas transmitidas em TV aberta, e, em segundo, há mais audiência. Logo, há mais argumentos numa negociação, e o clube que disputa a Libertadores com frequência, como é o caso do Cruzeiro ultimamente, leva vantagem na venda de patrocínios de camisa. Não dá para mensurar quanto a mais a competição coloca na conta bancária do clube, mas não se pode ignorar que há este efeito.

 

De qualquer modo, ainda que Libertadores dê mais dinheiro do que Mineiro no total, era de se esperar que a diferença entre um e outro fosse muitíssimo maior, até porque a comparação deveria ser injusta. Uma competição continental tem muito mais apelo entre público, emissoras de televisão e patrocinadores do que uma regional. Do outro lado do oceano, na Liga dos Campeões, finalistas faturam mais de € 50 milhões só com o que a Uefa rateia entre clubes. Só que este paralelo, embora correto, chega a ser covarde.

 

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Rodrigo Capelo

paulistano, 25 anos, jornalista

Jornalista especializado em negócios do esporte e marketing esportivo, foi repórter e editor da Máquina do Esporte e repórter da Época NEGÓCIOS.

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Espaço dedicado a tudo o que envolve dinheiro no esporte. Gestão, finanças, marketing, entre outros assuntos ligados ao mercado esportivo.