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Por Tiago Bontempo

Intervalo de partida no Ajinomoto Stadium, em Tóquio. O lendário apresentador Jon Kabira pergunta ao comentarista Shinji Ono: "Qual jogador te impressionou mais nesse primeiro tempo?" Ligeiramente desconcertado, o ex-meia da seleção responde: "O goleiro, né? O Kosuke Nakamura."

O Japão jogava em casa e tinha a posse de bola na casa dos 70%, mas não conseguia criar uma chance de gol sequer contra uma modesta seleção norte-coreana que trazia três jogadores da J2 no elenco: o volante Ri Yong-jik (Kamatamare Sanuki), que foi titular, e o zagueiro Kim Song-gi (Machida Zelvia) e o atacante An Byong-jun (Roasso Kumamoto), que estavam no banco. O time japonês era praticamente uma seleção da J-League sem os estrangeiros, mas não conseguia se impor no ataque sem a presença de um armador central. Além de passar vários apuros na defesa.

Só para recapitular, na Copa E-1 (antigamente conhecida como Copa do Leste Asiático) são utilizados apenas jogadores locais, por não ser uma competição da Fifa. É um torneio organizado pela EAFF, a Confederação de Futebol do Leste Asiático. Assim, Japão e Coreia do Sul participam com seus times B, enquanto China e Coreia do Norte levam praticamente força máxima. Quatro países que jogam entre si em três rodadas; quem somar mais pontos é campeão.

O Japão, país-sede da vez, sofreu com lesões e perdeu três jogadores que certamente seriam titulares: Daigo Nishi, do Kashima Antlers, e a dupla do Cerezo Osaka, Kenyu Sugimoto e Hiroshi Kiyotake. Dentre os convocados restantes, dez nunca haviam jogado pela seleção. Kosuke Nakamura e Sei Muroya estrearam como titulares, enquanto Hiroyuki Abe e Junya Ito entraram no segundo tempo para colocar no currículo o primeiro jogo com a Hinomaru.

Notas e formações iniciais: Nakamura foi o melhor em campo, com boas atuações também de Ideguchi e Konno — Foto: Futebol no Japão

Halilhodzic anunciou um onze inicial com três volantes, mas na prática a formação foi um 4-2-3-1, com Takahagi como armador à frente de Ideguchi e Konno. O problema é que Takahagi não se achou nos 56 minutos que ficou em campo. Não havia opção de jogo pelo meio. Os japoneses só avançavam pelos lados e abusavam dos cruzamentos, que a defesa adversária afastava um atrás do outro. Os norte-coreanos eram mais organizados e jogavam melhor no geral. Jong Il-gwan, curiosamente o único desse torneio que joga na Europa (Luzern, da Suíça), sempre criava perigo pelo lado esquerdo.

O Japão só melhorou quando Junya Ito entrou no lugar de Takahagi. O atacante do Kashiwa Reysol jogou pela ponta direita, deslocando Yu Kobayashi para o meio. Porém, as chances mais perigosas ainda eram da Coreia do Norte. Nakamura fez quatro defesas difíceis, viu Pak Myong-song acertar uma bola na trave e, em outro lance, cresceu frente a frente com o mesmo Pak, que chutou por cima na chance mais clara dos Chollima.

Os dois times tiveram oportunidades nos minutos finais, mas tudo indicava que ia terminar no zero a zero. Até que, no quinto e último minuto de acréscimo (o árbitro havia assinalado só três minutos adicionais, mas deu um pouco a mais de tempo porque um jogador coreano caiu em campo e precisou ser atendido), veio a vitória inesperada. Muroya interceptou passe ainda no campo de defesa e a bola passou por Kobayashi e Abe até chegar em Kawamata, o centroavante que estava aberto pelo lado esquerdo. Ele cruzou para a segunda trave, onde Konno ajeitou de cabeça para trás e Ideguchi chutou com força e precisão. 1x0, vitória dramática no apagar das luzes.

EAFF E-1 Football Championship (Copa E-1) - Resultados da 1ª rodada:

Coreia do Sul 2x2 China - Ajinomoto Stadium
Wei Shihao (9', 0x1), Kim Shin-wook (12', 1x1), Lee Jae-sung (19', 2x1), Yu Dabao (76', 2x2)

Japão 1x0 Coreia do Norte - Ajinomoto Stadium
Yosuke Ideguchi (90+5')

2ª rodada (12/12):
5h30 - Coreia do Norte x Coreia do Sul - Ajinomoto Stadium
8h15 - Japão x China - Ajinomoto Stadium

Notas:
Kosuke Nakamura - 7,5 -
Finalmente estreou pela seleção, e justificou toda a expectativa criada em cima dele. Seguro durante o jogo inteiro, fez quatro defesas difíceis, duas em cada tempo, que manteve o Japão vivo até o final.
Sei Muroya - 5,5 - Principal promessa na lateral direita da geração Rio 2016, vem de uma temporada ruim no FC Tokyo e a má fase se refletiu no jogo de hoje. Errava cruzamentos e marcava mal, mas pelo menos não desistiu de tentar. Persistiu até o final e foi com uma roubada de bola dele que começou o contra-ataque do gol da vitória no último minuto.
Shogo Taniguchi - 6,0 - Um dos jogadores mais regulares do campeão Kawasaki Frontale, foi também o mais seguro na linha defensiva japonesa, apesar de alguns sustos. Também ajudou na saída de bola, com passes e lançamentos.
Gen Shoji - 5,5 - Capitão no jogo de hoje, salvou o time em certos momentos, mas alguns dos lances mais perigosos da Coreia do Norte surgiram em cima dele. Teve erros de posicionamento.
Shintaro Kurumaya - 6,0 - Pouco efetivo no ataque, não mostrou o dinamismo que o fez ser escolhido para a seleção do campeonato da J1. Na defesa, não comprometeu.
Yasuyuki Konno - 7,0 - Um dos poucos que se destacou no primeiro tempo. Marcou bem e se sobressaiu nos desarmes e interceptações. Ainda apareceu no último lance do jogo com a assistência para o gol da vitória.
Yosuke Ideguchi - 7,0 - Em meio aos rumores de uma transferência para o Leeds United, o fato é que ele pode cumprir os requisitos para obter o visto de trabalho na Inglaterra caso participe dos três jogos da Copa E-1. Sempre jogando com intensidade, fez uma partida correta. Mostrou que tem estrela e marcou o gol da vitória no minuto 95.
Yu Kobayashi - 5,0 - O MVP da J-League esteve discreto tanto na meia direita quanto ao jogar centralizado. Não se entendeu com os companheiros de ataque e praticamente não produziu.
Yojiro Takahagi - 4,5 - Parece ter se esquecido como se joga como armador. Não se apresentava para receber a bola dos volantes e vagava, perdido, no meio dos zagueiros norte-coreanos. Halilhodzic esbravejava na linha lateral, gritando "Yojiro! Yojiro!", mas não conseguiu tirar algo do jogador, que foi o primeiro a ser substituído.
Shu Kurata - 6,0 - Jogando pelo lado esquerdo do ataque, fez um primeiro tempo discreto. Mostrou técnica nas trocas de passe e quando se movimentava pelo meio do campo. Ajudou a criar algumas boas jogadas.
Mu Kanazaki - 5,5 - Atuando como centroavante, quase não recebia a bola no ataque. Sem apoio dos companheiros, teve que recuar e se movimentar mais para ver a bola chegar. Tentou jogadas individuais, mas a maioria sem sucesso.
Junya Ito - 6,0 - O Japão melhorou e ficou mais ofensivo depois da entrada dele. Com seus dribles e velocidade, deu trabalho pelo lado direito do ataque. Faltou só participar de um lance decisivo.
Kengo Kawamata - 6,0 - Entrou a 19 minutos do fim no lugar de Kanazaki. Não atuava pela seleção desde a última Copa do Leste Asiático, há dois anos e meio. Vinha aparecendo pouco, mas participou de dois bons lances nos acréscimos. Primeiro em um cabeceio que Ri Myong-guk rebateu e a bola ainda bateu no travessão antes de sair para escanteio. Depois, no último lance do jogo, recebeu a bola na ponta esquerda e fez o cruzamento que resultou no gol da vitória.
Hiroyuki Abe - Sem nota - Entrou já no minuto 81 e teve poucas chances de mostrar algo, mas participou do contra-ataque do gol decisivo.
Vahid Halilhodzic - 5,5 - Escalou mal o time, que sofreu sem um armador de fato. Mesmo em casa, o Japão jogou pior que um time tecnicamente inferior e criou menos chances de gol. O bósnio conseguiu melhorar a equipe com as substituições e teve sorte de sair com a vitória no final. Apesar do resultado positivo, o desempenho ficou abaixo da média.

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