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Por Tiago Bontempo

Quem foi o melhor jogador japonês na temporada do futebol europeu? Muitos poderiam dizer Shoya Nakajima, que arrebentou no Portimonense e tem atraído interesse de inúmeros grandes clubes, incluindo PSG, Dortmund e os três de Portugal. Outros afirmariam que foi Ritsu Doan, a maior revelação da próxima geração olímpica e que foi o destaque do Groningen, na Holanda. Ryota Morioka, que viveu na Bélgica o ano mais produtivo da carreira, sendo o japonês com mais gols (14) e assistências (13) na temporada da Europa, também merece ser citado. Nenhum deles, porém, está na lista dos 23 convocados do Japão para a Copa do Mundo, anunciada hoje pelo técnico Akira Nishino em Tóquio.

Nishino optou por levar os "medalhões", nomes já conhecidos e testados, mesmo que vários deles não correspondam com a camisa da seleção há tempos, em detrimento dos que realmente têm jogado melhor. Keisuke Honda, Shinji Kagawa e Shinji Okazaki encabeçam a lista dos "veteranos intocáveis", que com Halilhodzic merecidamente perderam lugar, foram para o banco e até deixaram de ser convocados em algumas ocasiões. Está claro que a ausência deles causou a demissão do treinador anterior, e era óbvio que todos figurariam na lista de Nishino.

Nishino dá a impressão de que não acompanha muito futebol europeu. Afinal, não há explicação para ignorar Doan, Morioka e principalmente Nakajima. Mas pelo menos com alguns jogadores ele considerou o desempenho. Takuma Asano e Yosuke Ideguchi, autores dos gols que classificaram o Japão para a Copa, ficaram de fora da lista final depois de temporadas quase sem jogar por seus clubes. Além disso, na J-League Nishino convocou bem, no geral. Vamos a uma análise detalhada posição por posição.

Goleiros

Aqui não tem nem espaço para discussão. Foram os melhores. Eiji Kawashima vem de atuações regulares no Campeonato Francês e tem sido titular absoluto nos Samurais. Entretanto, as falhas no amistoso contra Gana colocam essa posição em cheque. Kosuke Nakamura e Masaaki Higashiguchi ainda estão abaixo de Kawashima, mas um patamar acima dos outros goleiros japoneses da J-League e completam a lista com méritos. O do Kashiwa Reysol foi o melhor de sua posição nas duas temporadas anteriores da J1 e tem tudo para herdar o número 1 no próximo ciclo. Tem se recuperado bem da lesão no pescoço que sofreu na última rodada do Japonês. O arqueiro do Gamba Osaka está em ótima fase, também se recupera de lesão (no rosto, por isso tem usado máscara nos jogos e treinos) e pelo menos pelas últimas atuações, tem passado confiança.

Laterais

Hiroki Sakai e Yuto Nagatomo são incontestáveis e no momento não tem ninguém nem para fazer sombra a eles. Uma posição que o Japão carece de novos talentos, mas pelo menos ainda tem dois bons nomes. Hiroki está no auge da carreira e vem de dois ótimos anos no Olympique de Marselha. Sempre jogou pela direita, mas descobriu que também pode ir bem pela esquerda. Nagatomo recuperou a boa forma no semestre que passou na Turquia emprestado para o Galatasaray e vem cheio de moral pela conquista do Campeonato Turco. O ambidestro Gotoku Sakai tem sido o primeiro suplente em ambas as laterais, mas bem longe de substituir à altura tanto Hiroki quanto Nagatomo. Genki Haraguchi, meia de origem, tem sido testado como alternativa para o lado direito no sistema 3-4-2-1.

Zagueiros

Há vários anos em uma das principais ligas do mundo, Maya Yoshida está em um patamar que nenhum outro zagueiro japonês sequer chegou perto. Apesar do status de intocável, tem falhado em jogos recentes pela seleção. Tomoaki Makino, pelo contrário, fracassou na passagem pelo futebol europeu e nem na J-League é unanimidade. Mas no quesito "raça" provavelmente ninguém ganha dele. Virou titular com Halilhodzic por causa do ótimo desempenho na campanha do título da Liga dos Campeões da Ásia em 2017 com o Urawa Reds e por ter sido o destaque japonês nos amistosos contra Brasil e Bélgica em novembro passado. Gen Shoji, que até então era disparado o melhor zagueiro da liga doméstica japonesa, não vive grande fase e já passou da cota aceitável de falhas este ano. Wataru Endo é o coringa que pode cobrir várias posições. No clube, sempre foi zagueiro, principalmente pelo lado direito, mas na seleção já jogou como volante e até lateral. Naomichi Ueda entra mais pelo potencial do que pela capacidade atual, já que mesmo na J-League ele falha com frequência e tem sido um ponto fraco na defesa do Kashima Antlers. Deve ficar como última opção para o setor.

Volantes

Makoto Hasebe vai para a terceira Copa como capitão e ainda é um jogador-chave para os Samurais. Nas duas últimas temporadas pelo Eintracht Frankfurt, tem jogado também como líbero em uma defesa de três zagueiros e recebido muitos elogios. Deve fazer essa função também na seleção. Hotaru Yamaguchi tem jogado bem pelo Cerezo Osaka e fica como o principal marcador no meio-campo, além de também ser bom distribuidor. Ele deve ter a companhia de um volante mais passador do que marcador, que pode ser Ryota Oshima, revelação do Kawasaki Frontale que já havia sido convocado em algumas ocasiões, mas nunca se firmou na seleção por causa de lesões, ou o mais famoso Gaku Shibasaki, ídolo no Kashima Antlers e que já marcou gol nos dois gigantes espanhóis, Real Madrid e Barcelona. Ambos fazem o estilo do maestro Yasuhito Endo, titular do Japão nas últimas duas Copas. Caso opte por uma estratégia mais defensiva, Nishino pode escalar Wataru Endo ao lado de Yamaguchi. Gotoku Sakai também é opção para o setor, pois atuou como volante pelo Hamburgo em algumas ocasiões. Yosuke Ideguchi, autor do gol da classificação para a Copa e maior revelação entre os meias defensivos, vive a consequência do desastroso empréstimo para o Cultural Leonesa na Segundona da Espanha. Praticamente sem jogar neste semestre, perdeu ritmo de jogo e, de titular na seleção até ano passado, acabou ficando de fora da lista final. Toshihiro Aoyama foi cortado por lesão e Kento Misao, promessa para o próximo ciclo, deve ficar só na lista de espera.

Meias

A posição mais delicada e a mais controversa. Afinal, os três meias de melhor desempenho na temporada do futebol europeu - Shoya Nakajima, Ritsu Doan e Ryota Morioka - não foram chamados nem para a pré-lista. Se Nishino continuar com o 3-4-2-1, apenas dois meias serão utilizados. Se voltar para o 4-2-3-1 de Halilhodzic, abre mais uma vaga. Keisuke Honda, um dos que se rebelaram contra o treinador bósnio, ainda é o principal nome aqui. Ele teve um bom ano no futebol mexicano, mas na seleção está devendo há muito tempo. Está há 13 jogos sem marcar, seu maior jejum em dez anos com os Samurais Azuis. Shinji Kagawa, então... Há pelo menos quatro anos ele não se destaca em nenhum jogo importante pelo Japão. No Dortmund, tem sido apenas sombra do que foi na primeira passagem por lá. Não muito diferente é a situação de Takashi Usami, que sempre brilhou no Gamba Osaka, mas ainda não vingou na Europa e só foi bem mesmo na Segundona Alemã pelo Fortuna Dusseldorf. Genki Haraguchi pode atuar pelos dois lados como armador. Takashi Inui, pela ótima temporada que fez no Eibar, tem futebol para ser titular absoluto nesta seleção, mas conhecendo a política de Nishino, é mais provável que fique apenas como reserva por enquanto.

Atacantes

Mais uma posição complicada. Qual atacante fez mais gols na temporada? Yuya Kubo (11). Ele foi convocado? É claro que não! Geralmente ele joga mais aberto (tanto que havia tomado o lugar de Honda na seleção), mas Nishino não parece tão empenhado em melhorar a finalização, grande problema do Japão desde... sempre. Nenhum dos três centroavantes chamados está em grande fase. Yuya Osako tem sido o titular nos últimos amistosos e sua capacidade de fazer o pivô, jogando de costas para o gol e ajudando nas jogadas em conjunto, é seu maior trunfo. Mas a baixa produtividade na hora de converter as chances criadas pesa contra ele. Precisa ser mais decisivo. Shinji Okazaki seria titular absoluto se estivesse em boa fase, mas é o atacante que vive o pior momento. Tem status de estrela e é o terceiro maior goleador da história dos Samurais, com 50 gols em 112 jogos. Porém, só marcou um gol pelo seu país nos últimos dois anos. Yoshinori Muto teve a temporada menos pior entre os três, mas ainda não se firmou na seleção. O fato dele ter sido sempre escalado pelos lados, e não como um nove de verdade, quando era chamado por Halilhodzic, contribuiu também. Há quem defenda que ele é a melhor opção para centroavante na Copa, mas os gols perdidos no amistoso contra Gana não ajudam a reforçar este argumento. Takuma Asano não conseguiu um lugar no time, mas o péssimo ano no Stuttgart acabou com as chances do "Jaguar".

Elenco do Japão para a Copa do Mundo — Foto: Futebol no Japão

Calendário:
08/06 - Japão x Suíça - Amistoso
12/06 - Japão x Paraguai - Amistoso
19/06 - Japão x Colômbia - Copa do Mundo
24/06 - Japão x Senegal - Copa do Mundo
28/06 - Japão x Polônia - Copa do Mundo

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