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Por Tiago Bontempo

Koki Nagahama / Gekisaka

Ele já havia sido o melhor japonês em atividade no futebol europeu na temporada passada - aliás, a primeira dele na Europa. Ficar de fora da Copa do Mundo veio como um castigo para Shoya Nakajima, mas o craque do Portimonense agarrou com unhas e dentes a chance de impressionar no primeiro amistoso pós-Copa. Os dribles, arrancadas, passes e cruzamentos do novo camisa 10 dos Samurais Azuis foram decisivos na vitória por 3x0 sobre a Costa Rica hoje no Panasonic Stadium Suita, em Osaka. Mas não foi só ele. Ritsu Doan, do Groningen, e Takumi Minamino, do Red Bull Salzburg, também foram fundamentais na convincente atuação japonesa. Um futebol bonito, eficiente, mais agressivo e mais rápido. O cartão de visitas de Hajime Moriyasu foi o melhor possível. O Japão não marcava três gols em uma estreia de técnico desde 1980 - 3x1 contra Hong Kong sob o comando de Masashi Watanabe.

A primeira convocação de Moriyasu deu uma folga (proposital) para a maioria dos jogadores que estavam na Copa da Rússia. Dos 23 daquele elenco, apenas quatro foram chamados agora: o goleiro Masaaki Higashiguchi e os zagueiros Tomoaki Makino, Wataru Endo e Naomichi Ueda. Sete foram convocados pela primeira vez: o goleiro Daniel Schmidt, o lateral Sho Sasaki, o zagueiro Takehiro Tomiyasu, o volante Hidemasa Morita e os meias Jun Amano, Ritsu Doan e Tatsuya Ito. A média de idade, que na Copa era de 28,3, caiu para 25,3.

Temos que fazer a ressalva, porém, que o adversário de hoje também veio praticamente com um time B. O outro amistoso, que seria contra o Chile em Sapporo na sexta-feira passada e possivelmente um teste mais duro, teve que ser cancelado por causa do terremoto de magnitude 6,7 que causou uma tragédia em Hokkaido um dia antes.

A Costa Rica também havia sido presa fácil no outro amistoso que disputou na Ásia. Completamente dominada pela Coreia do Sul, perdeu por 2x0 (e poderia ter sido mais) na última sexta-feira em Goyang. Os Ticos vieram com um elenco cheio de caras novas, sem o goleiro Keylor Navas, os zagueiros Johnny Acosta e Giancarlo González, o volante Celso Borges e o meia Bryan Ruiz, todos titulares na Copa do Mundo. O treinador interino Rónald González, substituto de Óscar Ramírez, havia até testado um 4-2-3-1 contra os coreanos, mas para enfrentar os japoneses voltou para a formação com três zagueiros que tem sido o padrão costarriquenho nos últimos anos. No 11 inicial que entrou em campo em Suita, apenas três jogadores eram titulares na Copa da Rússia: o zagueiro Óscar Duarte, o ala esquerdo Bryan Oviedo e o volante David Guzmán.

Moriyasu é um adepto do sistema de três zagueiros. Ele sempre utilizou um 3-4-2-1 nos cinco anos e meio em que comandou o Sanfrecce Hiroshima e também no início de trajetória na seleção olímpica. Ele já havia tentado implementar esse sistema na seleção principal antes da Copa de 2018, quando era auxiliar de Nishino. Porém, esse modelo de jogo costuma levar tempo para funcionar bem. Na estreia como comandante dos Samurais Azuis, Moriyasu optou por fazer o simples e escalou o bom e velho 4-4-2, com os dois maiores talentos da nova geração como meias extremos e uma dupla de ataque de muita mobilidade. Basicamente, um time de J-Leaguers com alguns jovens do futebol europeu.

O Japão sem a bola, alinhado em um 4-4-2 no amistoso contra a Costa Rica — Foto: Futebol no Japão

Apesar do susto no início, em jogada de Randall Leal aos 11', que passou por Sasaki duas vezes e teve o chute desviado por Makino, a Costa Rica pouco fez no resto do jogo e perdeu a maioria dos duelos contra os defensores nipônicos. Os Ticos não tiveram resposta para as compactas linhas de quatro de Moriyasu, que tinham até Doan e Nakajima marcando com intensidade e recuperando a bola em várias ocasiões. Mais atrás, Makino e Miura ganhavam todas pelo alto.

O ataque tinha um equilíbrio entre cadência e velocidade, passes e lançamentos, tabelas e jogadas individuais. O time soube variar as jogadas para não ser previsível. Com jogadores criativos na frente, o Japão criava espaços e não demorou a inaugurar o placar. Aos 16', Sasaki apareceu na área para desviar de cabeça o escanteio batido por Nakajima e Oviedo, que tentou tirar também de cabeça, enganou o goleiro e colocou para dentro do próprio gol.

A Costa Rica não reagia mesmo com a desvantagem e os Samurais tomaram conta da partida até o final; continuaram martelando, sem diminuir o ritmo no segundo tempo, até ampliar o marcador em uma jogada trabalhada aos 66'. A bola passou por Endo, Nakajima, de novo por Endo, até Minamino receber e chutar cruzado: 2x0. Primeiro gol dele pela seleção. Nos acréscimos, o substituto Junya Ito anotou o terceiro em jogada individual - e também o primeiro dele com a Hinomaru. Ele pegou a bola na linha lateral, partiu para cima do marcador e balançou as redes com um chute cruzado.

Formações iniciais de Japão (4-4-2) e Costa Rica (3-5-2) — Foto: Futebol no Japão

Os próximos amistosos, que acontecem em outubro, também em território japonês, estão confirmados: dia 12/10 contra o Panamá em Niigata e dia 16/10 contra o Uruguai em Saitama.

Amistoso: Japão 3x0 Costa Rica
Panasonic Stadium Suita, Osaka - Público: 33.891
Gols: Bryan Oviedo (gol contra, 16'), Takumi Minamino (66'), Junya Ito (90+3')

Notas:
Masaaki Higashiguchi - 6,0 -
Só fez uma defesa difícil, quando espalmou para escanteio o chute de longa distância de Oviedo aos 28'. Aos 35', ele se atrapalhou em uma saída pelo alto em escanteio, mas de resto foi seguro.
Sei Muroya - 6,0 - Perfeito na defesa, a Costa Rica não ameaçou pelo seu lado. Faltou acertar um cruzamento.
Genta Miura - 6,5 - O menos exigido dos zagueiros, mas tirou todas as bolas que foram na sua direção. Não cometeu erros.
Tomoaki Makino - 7,0 - O mais experiente da linha de defesa, ganhou todas as disputas pelo alto. Limpou a barra de Sasaki ao bloquear um chute aos 11', no que foi o lance de maior perigo da Costa Rica no jogo. O único porém foi um passe para Aoyama na fogueira aos 15'. Usou a braçadeira de capitão nos minutos finais.
Sho Sasaki - 7,0 - Começou nervoso e foi duas vezes driblado por Randall Leal no mesmo lance, aos 11', mas atuou bem no resto da partida e não perdeu mais duelos defensivos. Ainda teve participação decisiva no primeiro gol, com o cabeceio que terminou em gol contra de Oviedo.
Toshihiro Aoyama - 6,0 - No primeiro minuto de jogo, já encontrou Kobayashi livre na área adversária. Fez bons lançamentos, mas também errou passes perigosos do campo de defesa. O mais velho japonês em campo (32 anos), carregou a braçadeira de capitão.
Wataru Endo - 7,0 - Não foi bem no início. Era driblado e errava passes na defesa. Melhorou demais no decorrer da partida e foi cirúrgico não apenas na marcação, mas também quando subia para ajudar o ataque. Deu o passe para o segundo gol aos 66'. Mergulhou para fazer um corte providencial na defesa aos 89'.
Ritsu Doan - 7,0 - Muito ativo desde os primeiros minutos, sempre criava perigo pelo lado direito do ataque e participou de algumas das melhores chances do Japão na partida. Só não fez seu primeiro gol logo na estreia com a Hinomaru porque o defensor Luis Hernández tirou em cima da linha depois que seu chute passou por cima do goleiro. Também se dedicou à marcação, com algumas roubadas de bola. Revelado pelo Gamba Osaka, ele foi ovacionado pela torcida local ao ser substituído.
Shoya Nakajima - 8,0 [Melhor em campo] - O protagonista do primeiro capítulo da era Moriyasu. Fez jus à camisa 10 e mostrou toda sua habilidade partindo para cima da defesa pelo lado esquerdo, driblando, sofrendo faltas e criando chances. Foi o homem das bolas paradas e participou da jogada dos dois primeiros gols.
Takumi Minamino - 7,0 - Com liberdade para movimentar-se pelo meio-campo e também na frente, tornou-se peça-chave no ataque japonês, que graças a ele ganhou mais velocidade e eficiência. Minamino evoluiu no aspecto físico e dificilmente era desarmado ou perdia uma dividida. Tentava finalizar sempre que possível. Perdeu uma chance clara de cabeça aos 57', mas se redimiu e coroou a boa atuação com o segundo gol do jogo aos 66'.
Yu Kobayashi - 6,0 - Foi um centroavante nada fominha, que atuou mais como um garçom, em prol do time. Movimentou-se bastante, sempre buscando alguém para tabelar, e fez bem o pivô. Seu melhor lance foi a ajeitada de peito para o chute de Minamino, que o goleiro costarriquenho fez grande defesa.
Takuma Asano - 5,5 - Um dos "queridinhos" de Moriyasu, que o lançou na época de Sanfrecce Hiroshima, Asano não se destacou nos 22 minutos que ficou em campo e não ameaçou a defesa adversária.
Jun Amano - 5,5 - Sua entrada no lugar de Nakajima mudou a formação para um 4-2-3-1. Amano jogou como meia centralizado (deslocando Minamino para a esquerda) e passou a ser o responsável pelas bolas paradas. Porém, faltou precisão nos cruzamentos e lançamentos.
Junya Ito - 7,0 - Entrou faltando só cinco minutos para acabar, mas fez um bonito gol em jogada individual, fechando o placar em 3x0.
Shintaro Kurumaya - Sem nota - Substituiu Sasaki a 12 minutos do fim e praticamente não foi exigido.
Hidemasa Morita - Sem nota - Sete meses atrás, começava a carreira como um desconhecido e reserva no Kawasaki Frontale. Hoje, estreou pela seleção. O volante revelação da J1 entrou a oito minutos do fim e jogou na sua função secundária, lateral direito.
Kento Misao - Sem nota - Último a sair do banco, já aos 88', teve pouco tempo para mostrar serviço.
Hajime Moriyasu - 7,0 - Surpreendeu e mostrou repertório ao utilizar uma formação diferente do que vinha usando em toda a carreira de treinador. Deu vigor ao ataque com o trio Doan, Minamino e Nakajima, que funcionou muito bem. Mesmo sem os principais nomes que estiveram na Copa, o Japão teve ótima atuação tanto no aspecto ofensivo quanto no defensivo.

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