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Por Tiago Bontempo

Getty Images

Não havia margem para erro. Era preciso uma atuação perfeita. O Kashima Antlers teria que ser impecável na defesa e cirúrgico no ataque para enfrentar de igual para igual o Real Madrid durante os 90 minutos da mesma forma que fez em 2016. Não foi. Teve chances de gol que não aproveitou. Teve falhas na defesa que custaram caro. Perdeu a "revanche" com o campeão europeu por incontestáveis 3x1, mas este Mundial mostrou que os clubes asiáticos podem aspirar a ser mais do que meros figurantes do torneio, com o Kashima na semifinal e o Al Ain na grande decisão. A mentalidade também influencia no desempenho.

O Antlers passou anos sonhando com a Liga dos Campeões da Ásia, até levantar o troféu continental no mês passado. O único título que faltava ao maior campeão japonês. Ou não. Ainda falta mais um. Se o Mundial sempre foi visto como uma espécie de bônus para os clubes asiáticos, onde bastava chegar na semifinal e o que viesse depois era lucro, o Kashima tem tudo para mudar essa mentalidade. É possível sim ser campeão, por que não? O futebol da Ásia está crescendo e seus times melhoraram tecnicamente e taticamente. Já é possível bater de frente com sul-americanos. Em um dia ruim dos europeus, tudo pode acontecer.

O representante japonês não veio para este Mundial nos Emirados Árabes Unidos apenas para participar. Vencer o mexicano na fase anterior era o mínimo que se esperava. Na semifinal diante do Real Madrid, o objetivo era um só: ganhar. Os jogadores estavam motivados e acreditavam que era possível. A torcida acreditava que era possível. E pareceu possível mesmo, pelo menos no primeiro tempo.

Go Oiwa não tinha muita escolha na escalação. Sem poder contar com o atacante Yuma Suzuki, de longe o destaque do time em 2018, e com o volante Kento Misao, dois jogadores de seleção que estão lesionados e vão perder também a Copa da Ásia em janeiro, as principais armas para o segundo tempo acabaram indo para o time titular: o polivalente Shoma Doi formando a dupla de ataque com Serginho e Ryota Nagaki fechando o meio-campo ao lado de Léo Silva. Com Leandro ainda sem ritmo de jogo após se recuperar de uma lesão no joelho que o deixou vários meses em recuperação, a revelação Hiroki Abe voltou para o onze inicial. Daigo Nishi, eleito para a seleção do campeonato na J-League, começou jogando na lateral direita no lugar de Atsuto Uchida.

O início de jogo foi promissor. O Kashima começou melhor, mais organizado e criando mais chances que o campeão europeu. Saía jogando sempre no toque de bola, sem se intimidar com o tamanho do adversário que enfrentava. Poderia ter aberto o placar nos primeiros três minutos, mas a bola não entrou por pouco. O Real levou mais dois sustos e quase não incomodava. Só a partir do minuto 27 começou a mandar no jogo e sufocar os japoneses em seu campo, sempre atacando pela esquerda com a dobradinha Marcelo-Bale. Os nipônicos estavam no lucro com o placar zerado, mas o talento da dupla merengue desequilibrou a um minuto do intervalo. Quando Bale tabelou com Marcelo e recebeu a bola de frente para o gol aos 44', não teve jeito.

No segundo tempo, o Kashima voltou com Uchida no lugar de Nagaki. A ideia era fechar mais o lado direito da defesa colocando Uchida na lateral e deslocando Nishi para a meia defensiva. Não adiantou. Apesar de ter mais poder de marcação que Nishi, Uchida também não conseguiu segurar Bale. O Real pressionava pela esquerda, e Benzema quase marcou após cruzamento do galês. A bola passou por Kwon Sun-tae, mas Yamamoto tirou em cima da linha. O momento de herói do lateral esquerdo, que já teve atuação desastrosa contra o Guadalajara, durou pouco.

Três minutos depois, em um recuo errado dele, saiu o segundo gol. Jung Seung-hyun, desesperado na tentativa de cortar, fez pior que o companheiro e entregou a bola de presente para Bale, deixando o goleiro no meio do caminho: 2x0. Erro defensivo clamoroso, que praticamente decidiu o jogo. Dois minutos depois, mais um ataque e mais um gol. De novo com passe de Marcelo e finalização de Bale. Desta vez, Uchida estava fora de posição e deixou o galês livre para fazer o hat-trick que matou o jogo e também o ímpeto do time japonês. O Kashima até conseguiu um gol de honra no final. Créditos para o lançamento de Léo Silva, a ajeitada de cabeça de Endo e a conclusão de Doi, superando a marcação de Casemiro dentro da área. Mas não havia mais forças para uma pressão final. O Real dominou até o último minuto.

Era possível. Mas hoje não foi possível para o maior campeão do Japão superar o clube mais poderoso do mundo. Surge, porém, um novo sonho para os times da Ásia: vencer um Mundial. Quem sabe um dia?

Notas e formações iniciais de Kashima Antlers e Real Madrid: Marcelo e Bale desequilibraram e decidiram o jogo pelo lado esquerdo — Foto: Futebol no Japão

Mundial de Clubes da Fifa - Semifinal
Kashima Antlers
1x3 Real Madrid
Zayed Sports City Stadium, Abu Dhabi - Público: 30.554
Gols: Gareth Bale (44', 0x1), Gareth Bale (53', 0x2), Gareth Bale (55', 1x3), Shoma Doi (78', 1x3)

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