TIMES

Por Tiago Bontempo

Kaoru Watanabe / Gekisaka

Em 2018, a torcida do Kawasaki Frontale festejou o bicampeonato da J-League. Com uma arrancada no segundo semestre, o Golfinho deixou os rivais para trás e foi campeão com sobras. O Sanfrecce Hiroshima tinha feito um primeiro turno quase perfeito, mas perdeu o rumo no segundo. O FC Tokyo também ameaçou disputar o título, mas desandou no returno. Kashima Antlers e Urawa Reds passaram por momentos de crise, mas o clube de Ibaraki ainda faturou a Liga dos Campeões da Ásia, enquanto o time de Saitama ficou com a Copa do Imperador. O Hokkaido Consadole Sapporo, que muitos davam como possível rebaixado, surpreendeu com um histórico quarto lugar. Já o Cerezo Osaka, que veio como um dos favoritos, decepcionou.

Tivemos nesta J-League a luta contra o rebaixamento mais acirrada da história da competição, envolvendo 11 dos 18 clubes participantes - dez times diferentes chegaram a ocupar a zona de descenso em algum momento da temporada. Os últimos colocados estavam sempre pontuando, o que tornou a luta contra a degola equilibrada até o final. Teve muito clube tradicional sofrendo na parte de baixo da tabela, como Nagoya Grampus, Yokohama F-Marinos, Gamba Osaka, Kashiwa Reysol (que acabou caindo) e Júbilo Iwata (que só se salvou no playoff).

Liga imprevisível? Antes de começar a temporada, é comum a imprensa japonesa fazer previsões de quem acham que será campeão, vice, terceiro, até o último colocado, o que é importante para medir o nível de expectativa para cada equipe. O jornal Nikkan Sports fez um "bolão" com 18 jornalistas, incluindo os setoristas de cada time. Vamos a alguns números:
- Apenas dois disseram que o Kawasaki seria campeão. Os outros palpites colocaram Kashima (6), Cerezo (5), Urawa (3), Kashiwa (1) e Gamba (1) em primeiro lugar.
- Cinco setoristas apostaram que o time que cobrem seria campeão: os de Kashima, Urawa, Kashiwa, Gamba e Cerezo.
- Sete apostaram que o Hiroshima ficaria no Z-3. As previsões mais otimistas para o Sanfrecce eram um oitavo e um nono lugar.
- Apenas um colocou o Nagasaki fora da zona de rebaixamento (em 15º).
- As piores posições para o Kashiwa eram um 10º e um 11º lugar. Todos os outros colocaram o clube na metade de cima da tabela.
- O único que acreditava em uma boa campanha do Sapporo era o setorista do próprio clube, que arriscou um 9º lugar. Todos os outros colocaram o Consadole lá embaixo - quatro deles até disseram que terminaria no Z-3.

A J1 2018 teve a melhor média de público dos últimos dez anos:
2008 - 19.202
2009 - 18.985
2010 - 18.428
2011 - 15.797
2012 - 17.566
2013 - 17.226
2014 - 17.240
2015 - 17.803
2016 - 17.968
2017 - 18.883
2018 - 19.064

1º - KAWASAKI FRONTALE - Correndo sozinho rumo ao bi

Em 2017: Campeão
Expectativa para 2018: ★★★★ Candidato ao título
Resultado: Excelente - bicampeão com sobras
Campanha: 69 pontos - 34J, 21V, 6E, 7D, 57GP, 27GC, +30SG
Supercopa: Perdeu para o Cerezo Osaka
ACL: Eliminado na fase de grupos
Copa da Liga: Eliminado nas quartas de final (2x4 Kashima Antlers no placar agregado)
Copa do Imperador: Eliminado nas quartas de final (2x3 Montedio Yamagata)
Média de público: 23.218 (5ª) [+5,0%]
Técnico: Toru Oniki

Artilheiros: Yu Kobayashi (15 gols), Akihiro Ienaga (6), Kengo Nakamura (6), Hiroyuki Abe (5)
Líderes de assistências: Akihiro Ienaga (7), Kengo Nakamura (6), Hiroyuki Abe (4), Ryota Oshima (4), Yu Kobayashi (4)
O jogador do ano: Akihiro Ienaga
Outros destaques:
Elsinho, Shintaro Kurumaya, Shogo Taniguchi, Hidemasa Morita, Ryota Oshima, Kengo Nakamura, Hiroyuki Abe, Yu Kobayashi
A revelação: Hidemasa Morita
A decepção: Manabu Saito

O elenco campeão do Kawasaki Frontale posa com o troféu da J-League junto com a torcida — Foto: Kaoru Watanabe / Gekisaka

Faltou concorrência. Se na temporada 2017 o Frontale conquistou seu primeiro título de forma épica, tirando a liderança do Kashima Antlers apenas na última rodada, em 2018 não houve um rival que acompanhasse o ritmo do Golfinho até o final. Sanfrecce Hiroshima e FC Tokyo pareciam bons concorrentes e ficaram à frente do Kawasaki em quase todo o primeiro semestre, mas decaíram demais no segundo. O clube da província de Kanagawa terminou como campeão incontestável, com duas rodadas de antecedência - pela primeira vez desde 2012 o título não foi decidido na última rodada. Teve o melhor ataque, a melhor defesa e dez jogadores indicados para a seleção do campeonato, com sete eleitos. O único titular que não concorreu ao prêmio foi Hiroyuki Abe - e olha que ele também fez boa temporada.

A trajetória de Toru Oniki até agora é parecida com a de Hajime Moriyasu em Hiroshima. Oniki herdou um time forte, mas que nunca havia sido campeão com um técnico renomado, com um estilo de jogo ofensivo demais e desbalanceado na defesa. Dois anos depois de começar a carreira de treinador, já tem dois títulos nacionais. O Frontale de 2018 foi um pouco menos brilhante que o de 2017. Marcou menos gols (57x71) e sofreu menos (27x32), mas ainda assim jogou o melhor futebol do Japão e encantou em lances como na troca de passes que terminou no gol de Oshima contra o Kobe na 30ª rodada, eleito o gol mais bonito do ano na J1, ou no contra-ataque em que a bola foi do goleiro até a rede adversária em 12 toques contra o FC Tokyo na 33ª rodada.

2018 começou em Kawasaki com a expectativa de continuar disputando títulos. A diretoria manteve todos os titulares do ano passado e fez duas grandes contratações. Trouxe de volta Okubo do FC Tokyo e surpreendeu ao assinar com Manabu Saito, até então ídolo do grande rival, Yokohama F-Marinos. Só que nenhum deles brilhou no Todoroki. Okubo, aos 36 anos, sente o peso da idade. Não se acertou na equipe e no meio do ano se transferiu para Iwata. Saito, que só estreou em abril por causa de uma lesão no joelho, passou o ano todo como reserva e pouco fez além de alguns lampejos. Está muito longe de ser o "Kamomessi" que foi até convocado para a Copa de 2014. No fim das contas, a melhor contratação do clube foi um desconhecido. Hidemasa Morita, novato vindo da Universidade Ryutsu Keizai (ele foi campeão e MVP da liga universitária em 2017), encaixou como uma luva na equipe e fez a saída de Eduardo Neto (vendido ao Nagoya no meio do ano) não ser sentida. Foi até convocado para a seleção e impressionou na função que era de Makoto Hasebe.

Com um carregador de piano de alto nível como Morita, o ataque pôde utilizar ao máximo seu talento. Ryota Oshima, Kengo Nakamura (MVP de 2016), Yu Kobayashi (MVP de 2017), todos fizeram ótima temporada. Ainda melhor foi o ano de Akihiro Ienaga, eleito melhor jogador da J-League em 2018 com todos os méritos. Nenhum outro foi tão regular e com tantas atuações acima da média nesta temporada. Aos 32 anos, o meia que era tido como gênio desde criança e fez Keisuke Honda parecer um jogador comum na base do Gamba Osaka, mas decepcionou nas passagens pela seleção e pela Europa, finalmente mostrou do que é capaz e teve o devido reconhecimento.

Akihiro Ienaga: joga de terno o MVP da J-League — Foto: hiroki.38 (@miyahiroki38)

Apesar do fracasso nas competições de tiro curto com a eliminação na primeira fase da ACL sem nenhuma vitória em um grupo com Shanghai SIPG (China), Melbourne Victory (Austrália) e Ulsan (Coreia do Sul), e de cair nas quartas das duas copas nacionais, a equipe foi consistente na maratona da J-League. O bicampeonato é mais um grande passo para o Kawasaki se firmar entre os principais clubes do país e continuar disputando títulos nos próximos anos.

- O Frontale foi o quinto time campeão da J-League em anos consecutivos. Os outros foram Verdy Kawasaki (1993-94), Kashima Antlers (2000-01 e 2007-08-09), Yokohama F-Marinos (2003-04) e Sanfrecce Hiroshima (2012-13).

- Campeões da J-League com melhor ataque e melhor defesa:
Verdy Kawasaki (1993 e 1994), Sanfrecce Hiroshima (2015) e Kawasaki Frontale (2018)

- Ranking de últimos passes com a bola rolando (via @OptaJiro)
59 - Kengo Nakamura (Kawasaki)
57 - Akihiro Ienaga (Kawasaki)
57 - Junya Ito (Kashiwa)
52 - Yoshifumi Kashiwa (Hiroshima)
51 - Chanathip Songkrasin (Sapporo)
48 - Ryuta Koike (Kashiwa)

Nota: As estatísticas mencionadas nesta matéria referem-se apenas aos jogos de J-League.

Time-base do Kawasaki Frontale em 2018 — Foto: Futebol no Japão

2º - SANFRECCE HIROSHIMA - O paredão desmoronou

Em 2017: 15º
Expectativa para 2018: ★★★ Metade de cima da tabela
Resultado: Razoável - Superou as previsões, mas perdeu um título quase ganho
Campanha: 57 pontos - 34J, 17V, 6E, 11D, 47GP, 35GC, +12SG
Copa da Liga: Eliminado na fase de grupos
Copa do Imperador: Eliminado nas oitavas de final (0x2 Kashima Antlers, na prorrogação)
Média de público: 14.346 (15ª) [+2,1%]
Técnico: Hiroshi Jofuku

Artilheiros: Patric (20 gols), Teerasil Dangda (6), Yoshifumi Kashiwa (4)
Líderes de assistências: Kosei Shibasaki (9), Yoshifumi Kashiwa (4)
O jogador do ano: Patric
Outros destaques:
Takuto Hayashi, Sho Sasaki, Toshihiro Aoyama, Kosei Shibasaki, Yoshifumi Kashiwa, Teerasil Dangda
A revelação: Ninguém
A decepção: Masato Kudo

Em processo de se naturalizar japonês, Patric carregou nas costas o ataque do Hiroshima e foi vice-artilheiro do campeonato — Foto: Getty Images

Escapou do rebaixamento em 2017 no sufoco, por apenas um ponto. Em busca de um novo começo e um novo estilo de jogo, anunciou como técnico Hiroshi Jofuku, o que causou mais preocupação do que qualquer outra coisa. Jofuku vinha de uma passagem ruim pelo FC Tokyo em 2016 e desde então não havia treinado mais nenhum time. Conhecido pelo estilo pragmático e retranqueiro, grande parte da imprensa não colocava fé nele. Inclusive, o ex-jogador e hoje comentarista Tsuyoshi Kitazawa cravou que o Sanfrecce seria rebaixado e como lanterna. O fato é que o Hiroshima vinha como uma incógnita.

Não se sabia bem o que esperar da linha de frente ou até mesmo quem iria jogar, com quatro atacantes que começaram o ano em pé de igualdade. Patric, recuperado de uma séria lesão no joelho, voltaria à boa forma dos tempos de Gamba? Kudo poderia reencontrar o futebol de quando estava no Kashiwa que o levou até para a seleção? Watari, vindo de ótima temporada na J2, poderia fazer o mesmo na J1? Teerasil, ídolo na Tailândia, seria capaz de jogar em alto nível também no Japão? As laterais também eram dúvida, e o único reforço que chegou com bastante expectativa foi o volante Kawabe, que fez sucesso em três anos emprestado ao Júbilo e estava de volta ao clube que o formou. Jogador com potencial até de seleção pelo que fez em Shizuoka.

Jofuku havia prometido jogar de forma ofensiva, mas o que se viu quando o campeonato começou foi um time extremamente defensivo, que abdicava da posse de bola para atacar com contragolpes e lançamentos. E dava certo, muito certo. Os placares eram sempre apertados, mas o time ganhava um jogo atrás do outro, quase sempre sem sofrer gol, e disparou na liderança. Virou o turno com 80% de aproveitamento, sete pontos de vantagem sobre o vice-líder FC Tokyo (oito acima do eventual campeão Kawasaki) e apenas oito gols sofridos. Era candidato a superar o Oita Trinita de Péricles Chamusca em 2008 (24 gols sofridos) como melhor defesa da história da J-League.

Todo o sistema defensivo fazia um ótimo campeonato, principalmente o goleiro Hayashi, eleito melhor jogador da liga em fevereiro/março. Sasaki, que praticamente não jogou nos dois anos anteriores por causa de lesões no joelho, tomou conta da lateral pela esquerda e mais tarde foi até convocado para a seleção. Na outra lateral, o mais ofensivo Wada também impressionava. Nogami e Mizumoto faziam uma dupla de zaga de poucos erros. O capitão Aoyama se redimiu do péssimo 2017 e voltou a jogar em alto nível, tanto que até retornou à seleção japonesa. Era ele o responsável pelos lançamentos, por iniciar contra-ataques e fazer o time jogar. O veloz e habilidoso Kashiwa criava as chances e Patric estava sempre lá para finalizar. O brasileiro, aliás, vivia o melhor momento da carreira, decidindo jogos e como artilheiro do campeonato na maior parte do ano. Levou o prêmio de MVP do mês de maio.

Ninguém ameaçava o domínio dos Arqueiros. Tudo estava indo bem até demais. O que poderia atrapalhar o caminho para o tetra? Uma parada de dois meses para a Copa do Mundo poderia. E de fato atrapalhou bastante. A princípio, o time voltou até com um ímpeto ofensivo maior, fazendo mais gols e com algumas goleadas. Chegou a ter o melhor ataque da J1, mas começaram a acontecer erros defensivos. O número de gols sofridos aumentou e os tropeços eram cada vez mais frequentes. Vencer dois jogos seguidos só aconteceu uma única vez depois da Copa. É difícil manter um nível de concentração e desempenho tão alto quanto o do Hiroshima no primeiro semestre. E as limitações de estilo de Jofuku logo ficaram evidentes aos adversários. Patric era o único que de fato resolvia na frente. O ataque era excessivamente focado nele. Quando ele estava bem marcado ou em um dia ruim, o Sanfrecce desmoronava.

A sorte também abandonou a equipe, com lances fortuitos que acabavam decidindo jogos. Mesmo quando o time jogava bem, o resultado não vinha. E teve o fator psicológico na reta final. As coisas começaram a dar errado até virar uma enorme bola de neve. Depois de derrotar o Kashima por 3x1 em setembro, o Hiroshima não ganhou de mais ninguém. Com apenas dois pontos conquistados nas nove rodadas finais, deixou o título nas mãos do Frontale e quase perdeu até a vaga na ACL, decidida com um empate contra o Sapporo na última rodada. O time terminou o ano se arrastando em campo, esgotado e sem ideias, com 31% de aproveitamento no returno. Apesar disso, no geral um resultado muito melhor do que as melhores previsões da pré-temporada. Assim, Jofuku renovou o contrato para 2019.

- Número de jogos sem sofrer gol (via TransferMarkt)
15 - Kawasaki Frontale (Jung Sung-ryong 14, Shota Arai 1)
15 - Kashima Antlers (Kwon Sun-tae 12, Hitoshi Sogahata 3)
14 - Sanfrecce Hiroshima (Takuto Hayashi 14)
12 - Sagan Tosu (Shuichi Gonda 12)
12 - FC Tokyo (Akihiro Hayashi 11, Takuo Okubo 1)
11 - Júbilo Iwata (Krzysztof Kaminski 11)
11 - Gamba Osaka (Masaaki Higashiguchi 7, Mizuki Hayashi 4)

Time-base do Sanfrecce Hiroshima em 2018 — Foto: Futebol no Japão

3 - KASHIMA ANTLERS - Finalmente, campeão da Ásia

Em 2017:
Expectativa para 2018: ★★★★★ Favorito ao título
Resultado: Bom - A ACL salvou a temporada
Campanha: 56 pontos - 34J, 16V, 8E, 10D, 50GP, 39GC, +11SG
ACL: Campeão
Copa da Liga: Eliminado na semifinal (3x4 Yokohama F-Marinos no placar agregado)
Copa do Imperador: Eliminado na semifinal (0x1 Urawa Reds)
Mundial de Clubes: 4º lugar
Média de público: 19.434 (8ª) [-5,0%]
Técnico: Go Oiwa

Artilheiros: Yuma Suzuki (11 gols), Mu Kanazaki (7), Shoma Doi (5), Yasushi Endo (4)
Líderes de assistências: Yuma Suzuki (10), Daigo Nishi (4), Kento Misao (4), Ryota Nagaki (3)
O jogador do ano: Yuma Suzuki
Outros destaques:
Kwon Sun-tae, Daigo Nishi, Kento Misao, Léo Silva, Ryota Nagaki, Shoma Doi, Serginho
A revelação: Hiroki Abe
A decepção: Tomoya Inukai

Pela primeira vez campeão asiático, o Kashima Antlers conquistou o título que faltava — Foto: Getty Images

O Kashima é um clube que vive de títulos. Um ano sem título é um ano de fracasso. Em 2018, a meta era ganhar a ACL pela primeira vez. Com todos os titulares mantidos do time que deixou escapar o enea da J-League por muito pouco no ano anterior e o reforço do ídolo Uchida, o Antlers tinha o melhor elenco do país e começou o ano como principal favorito na J1. Porém, o futebol mostrado no início não fazia jus aos nomes do plantel.

Havia mais de uma boa opção para as laterais, para o meio-campo e para o ataque. A maior preocupação era a zaga. Ueda, mesmo com as frequentes convocações para a seleção, nunca convenceu. Inukai, que ganhou várias oportunidades por causa da transferência de Ueda para a Europa (Cercle Brugge, da Bélgica) e da lesão de Shoji, falhava quase todo jogo. Machida é promissor, mas sua inexperiência ainda pesava. Até Shoji, melhor zagueiro do país nos últimos anos, cometia mais erros que de costume. Só em julho ele ganhou um parceiro à altura, com a chegada de Jung Seung-hyun do Sagan Tosu como moeda de troca na polêmica saída de Kanazaki. O camisa 10 e ídolo da torcida, Kanazaki parecia insatisfeito e não vivia sua melhor fase. Ele já havia rejeitado uma proposta do Kobe, mas não resistiu à oferta do Tosu e foi embora para Kyushu.

O início da campanha do Kashima na J-League foi péssimo, o pior da história do clube. Após 11 jogos, estava em 15º. Oiwa era pressionado e balançava a cada tropeço, mas manteve o emprego porque o time avançava na ACL, mesmo com atuações nada convincentes. Os frequentes erros da defesa, a inoperância do ataque e a insistência do treinador em encher a equipe de laterais e volantes eram as principais críticas. O duelo contra o Shanghai SIPG em maio, pelas oitavas de final da ACL, foi o momento-chave para a manutenção de Oiwa, com um desempenho surpreendentemente bom no jogo de ida - vitória por 3x1 em Kashima, derrota por 2x1 em Xangai e vaga nas quartas.

Depois da parada para a Copa, as coisas finalmente melhoraram e o Antlers começou a se recuperar na J1. Zico chegou em agosto para assumir o cargo de diretor técnico e colocar ordem na casa. Trouxe com ele o meia Serginho, ex-Santos e América-MG, para dar um novo gás ao ataque que, além de Kanazaki, perdeu também Pedro Júnior (Wuhan Zall, da China) e Leandro (lesionado). O brasileiro, jogando no ataque ao lado de Suzuki, logo conquistou a torcida com gols decisivos em todos os confrontos da ACL até o título - contra o chinês Tianjin Quanjian nas quartas de final (5x0 no placar agregado), contra o coreano Suwon Bluewings na semifinal (6x5 no placar agregado) e contra o iraniano Persepolis na final (2x0 no placar agregado). O Kashima ganhou o tão desejado título continental e ainda se classificou para a edição seguinte ao terminar em terceiro lugar na J-League.

Para fechar o ano, veio a participação no Mundial de Clubes, que começou com um susto e vitória de virada sobre o Guadalajara, campeão da Concacaf. Em seguida, na esperada "revanche" com o Real Madrid na semifinal, jogo equilibrado até o fim do primeiro tempo, quando o talento de Marcelo e Bale, combinado com falhas defensivas do time japonês, decidiram o jogo. Restou a decisão do terceiro lugar contra o campeão da Libertadores, River Plate, onde o Antlers não conseguiu se impor, foi goleado por 4x0 e ainda deu azar de acertar o travessão três vezes, além de um lance genial de Hiroki Abe, que saiu fazendo fila na defesa argentina, mas teve o chute bloqueado. O ano terminou com o gosto amargo da decepção no Mundial, mas com o principal objetivo cumprido.

Time-base do Kashima Antlers em 2018 — Foto: Futebol no Japão

4º - HOKKAIDO CONSADOLE SAPPORO - A sensação do campeonato

Em 2017: 11º
Expectativa para 2018: ★★ Zona intermediária / Chances de queda
Resultado: Excelente - Só faltou a vaga na ACL
Campanha: 55 pontos - 34J, 15V, 10E, 9D, 48GP, 48GC, 0SG
Copa da Liga: Eliminado na fase de grupos
Copa do Imperador: Eliminado nas oitavas de final (2x4 Júbilo Iwata)
Média de público: 18.223 (10ª) [-1,0%]
Técnico: Mihailo Petrovic (Sérvia)

Artilheiros: Ken Tokura (12 gols), Jay Bothroyd (9), Chanathip Songkrasin (8), Ryosuke Shindo (4)
Líderes de assistências: Akito Fukumori (6), Jay Bothroyd (5), Koji Miyoshi (5), Yoshiaki Komai (5)
O jogador do ano: Chanathip Songkrasin
Outros destaques:
Gu Sung-yun, Ryosuke Shindo, Akito Fukumori, Hiroki Miyazawa, Ken Tokura, Jay Bothroyd
A revelação: Ninguém
A decepção: Takumi Miyayoshi

Chanathip (esquerda), craque do Consadole, troca camisas com Kengo, estrela do Frontale: um dos melhores meias do campeonato, o baixinho de 1,58 m abriu portas para a Tailândia na J-League — Foto: Divulgação

Muitos duvidaram dele. Acharam que ele estava acabado depois dos sucessivos fracassos no Urawa Reds. Acharam que ele seria rebaixado em Sapporo. Mas Mihailo Petrovic mostrou seu valor e levou o Consadole à melhor campanha de sua história. O clube vivia um dilema no fim da temporada passada. Manter o técnico local Shuhei Yomoda, que vinha fazendo um bom trabalho e cumpriu o objetivo de permanência na elite, ou arriscar e trazer um estrangeiro para tentar levar o time a um patamar mais alto? Escolheram a segunda opção, com Yomoda de volta à posição de assistente e o brasileiro Bruno Quadros pelo terceiro ano na comissão técnica.

O comandante sérvio mudou completamente a forma da equipe jogar. O estilo defensivo, focado em bolas longas para o ataque, deu lugar à mesma filosofia que Petrovic havia implantado no Hiroshima e no Urawa, baseada em posse de bola e domínio do jogo no campo de ataque. Os primeiros sinais, entretanto, não foram nada positivos. Os jogadores, principalmente os de defesa, sofriam para se adaptar à saída de bola com passes curtos e abusavam dos erros, que fatalmente terminavam em gol. Foram 11 sofridos nos cinco primeiros jogos do ano, três pela J1 e dois na Levain, com quatro derrotas e um empate no total. Depois da primeira vitória, um 2x1 em casa contra o Nagasaki, o time embalou e passou 11 rodadas invicto, a maior sequência de invencibilidade da história do Consadole. Estava em quinto lugar na parada para a Copa do Mundo e passou o resto do ano alternando entre terceiro e sétimo. Faltou pouco para a vaga na Liga dos Campeões da Ásia. Chegou a abrir 2x0 no confronto direto contra o Hiroshima na última rodada, mas cedeu o empate e terminou na quarta colocação.

Os brasileiros não tiveram muito espaço. Jonathan Reis e Julinho, pouco utilizados, foram embora em agosto. A equipe subiu de nível técnico com as contratações de Komai, que Petrovic trouxe do Urawa, e Miyoshi, promessa da seleção olímpica. Sem falar no craque tailandês Chanathip, um armador com talento excepcional que foi até eleito para a seleção do campeonato. O ataque funcionou bem com a imposição física do inglês Jay e com o oportunismo e capacidade de sempre fazer gols decisivos de Tokura. Muitos torcedores, aliás, queriam Tokura na seleção, assim como Fukumori, o zagueiro que está sempre apoiando o ataque e é especialista em bolas paradas.

Pela primeira vez, o Sapporo sobreviveu na J1 por dois anos seguidos. Pela primeira vez terminou na parte de cima da tabela. Tudo isso jogando de forma ofensiva. Alcançou o objetivo de "estabelecer-se na J1" e superou todas as expectativas. Tudo isso valeu a Petrovic o prêmio de técnico do ano na J-League.

- Ranking de últimos passes em jogadas de bola parada (via @OptaJiro)
47 - Akito Fukumori (Sapporo)
39 - Jun Amano (Yokohama)
36 - Kengo Nakamura (Kawasaki)
36 - Riki Harakawa (Tosu)
33 - Kosei Shibasaki (Hiroshima)
33 - Yosuke Kashiwagi (Urawa)

Time-base do Hokkaido Consadole Sapporo em 2018 — Foto: Futebol no Japão

5º - URAWA REDS - Do caos ao título na Tennouhai

Em 2017:
Expectativa para 2018: ★★★★ Candidato ao título
Resultado: Bom - Conquistou uma copa e vaga na ACL
Campanha: 51 pontos - 34J, 14V, 9E, 11D, 51GP, 39GC, +12SG
Copa da Liga: Eliminado no playoff (2x3 Ventforet Kofu no placar agregado)
Copa do Imperador: Campeão
Média de público: 35.502 (1ª) [+5,8%]
Técnico: Takafumi Hori (até a 5ª rodada) / Tsuyoshi Otsuki (da 6ª até a 9ª rodada, como interino) / Oswaldo de Oliveira (da 10ª rodada até o final)

Artilheiros: Shinzo Koroki (15 gols), Yuki Muto (7), Fabrício (6), Tomoaki Makino (4)
Líderes de assistências: Yosuke Kashiwagi (13), Yuki Muto (8), Andrew Nabbout (3), Kazuki Nagasawa (3), Takuya Aoki (3)
O jogador do ano: Yuki Muto
Outros destaques:
Maurício Antônio, Tomoaki Makino, Yosuke Kashiwagi, Shinzo Koroki
A revelação: Daiki Hashioka
A decepção: Naoki Yamada

Contratado pelo histórico vencedor no Kashima Antlers, Oswaldo de Oliveira conquistou a Copa do Imperador no primeiro ano com o Urawa Reds — Foto: Koki Nagahama / Gekisaka

O título asiático de 2017 foi ganho mais na raça do que qualquer outra coisa, pois o time estava em crise e o mau momento na J-League continuou em 2018. A campanha começou com três derrotas e dois empates, e a 17ª colocação ao fim da quinta rodada já foi suficiente para mandar embora Takafumi Hori, independente da conquista continental poucos meses antes. O diretor e técnico da base Tsuyoshi Otsuki assumiu como interino e logo de cara trouxe bons resultados, com três vitórias e um empate que levantaram o Reds para nono lugar. Mas a diretoria queria um comandante mais experiente. O escolhido foi Oswaldo de Oliveira, que a princípio não mexeu na equipe e manteve a escalação e formação com três zagueiros de Otsuki. Os resultados, porém, demoraram a aparecer. Oswaldo venceu apenas uma das seis primeiras partidas de liga e o Urawa ficou em 14º na parada para a Copa do Mundo. Título na J1 já não era mais uma esperança realista.

Em julho, o Reds voltou voando baixo com uma contratação que caiu como uma luva: Fabrício, ex-Kashima e que vinha em ótima fase no Portimonense como companheiro de ataque de Shoya Nakajima. O brasileiro formou um belo trio de ataque com o artilheiro Koroki e o incansável Yuki Muto. Parceria que teve vida curta, pois Fabrício lesionou os ligamentos do joelho em setembro e só deve voltar a jogar em abril de 2019. Outras contratações estrangeiras como o australiano Nabbout e o curaçauense Martinus ainda não mostraram do que são capazes, enquanto a antiga joia do clube, Naoki Yamada, teve mais uma lesão grave - fratura na fíbula - que encerrou sua temporada mais cedo.

O clube de Saitama encerrou a campanha em relativa boa forma, com seis vitórias nas dez rodadas finais, o que rendeu um razoável quinto lugar. A grande glória do ano viria na Copa do Imperador, com eliminação do rival Kashima na semifinal em pleno Soccer Stadium e título decidido em casa diante de um pouco ameaçador Vegalta Sendai. Conquista que valeu uma vaga na ACL e veio com a força de defesa, que só sofreu um gol em seis jogos no torneio. Além disso, seis dos dez gols marcados foram de defensores: três de Maurício, dois de Ugajin (incluindo o gol do título) e um de Makino. O trabalho de Oswaldo foi aprovado e ele continua em 2019.

Yakuza? O interino Tsuyoshi Otsuki fez muito sucesso entre os torcedores pelo seu jeitão sério, com o cabelo todo penteado para trás, parecendo até um ator de cinema dos filmes de gângsters. Muitos o chamavam carinhosamente de "kumichou" (組長), que em japonês significa "chefe", termo geralmente utilizado para os membros da máfia japonesa, a Yakuza.

- Ranking de assistências a partir de cruzamentos (via @OptaJiro)
10 - Yosuke Kashiwagi (Urawa)
6 - Kosei Shibasaki (Hiroshima)
5 - Kengo Nakamura (Kawasaki)
4 - Akito Fukumori (Sapporo)
4 - Riki Harakawa (Tosu)
4 - Ryosuke Yamanaka (Yokohama)

Time-base do Urawa Reds em 2018 — Foto: Futebol no Japão

6º - FC TOKYO - Não passou de ilusão

Em 2017: 13º
Expectativa para 2018: ★★★ Metade de cima da tabela
Resultado: Razoável - O segundo semestre deixou péssima impressão
Campanha: 50 pontos - 34J, 14V, 8E, 12D, 39GP, 34GC, +5SG
Copa da Liga: Eliminado na fase de grupos
Copa do Imperador: Eliminado nas oitavas de final (perdeu nos pênaltis para o Montedio Yamagata)
Média de público: 26.432 (2ª) [-0,2%]
Técnico: Kenta Hasegawa

Artilheiros: Diego Oliveira (13 gols), Kensuke Nagai (5), Keigo Higashi (4), Lins (3)
Líderes de assistências: Keigo Higashi (6), Kensuke Nagai (5), Diego Oliveira (4)
O jogador do ano: Diego Oliveira
Outros destaques:
Sei Muroya, Keigo Higashi
A revelação: Makoto Okazaki
A decepção: Cayman Togashi

Artilheiro do FC Tokyo no ano, Diego Oliveira foi um dos destaques do primeiro turno, mas caiu de rendimento no segundo junto com o resto do time — Foto: Getty Images

Com a contratação do técnico Kenta Hasegawa, vencedor da tríplice coroa com o Gamba Osaka em 2014, e uma linha ofensiva renovada, com Diego Oliveira (emprestado pelo Kashiwa), Togashi (emprestado pelo Marinos) e Omori (ex-Gamba e Kobe), o clube da capital vinha com expectativas bem mais moderadas para não levar um tombo tão grande quanto o fracasso de 2017, mas ainda assim pensando alto. "O que eu espero é levar o título", disse Hasegawa na pré-temporada. Pelo menos no primeiro turno pareceu que o Tokyo poderia sim disputar o título pela primeira vez em sua história.

O início, com um empate e duas derrotas, não impressionou, mas a partir da quarta rodada os resultados vieram, com nove vitórias até o fim do turno. Ganhou do Kashima (2x1 em casa) e do Kawasaki (2x0 fora), goleou Nagasaki e Yokohama (ambos por 5x2) e acabou com a invencibilidade do então líder Hiroshima na 10ª rodada, pulverizando a "defesa que não sofria gols" com dois gols nos primeiros dez minutos e 3x1 no placar final. O Sanfrecce já estava disparado na frente, mas o Tokyo ficou em segundo lugar da nona até a 21ª rodada.

Credenciou-se como um candidato ao título principalmente pelos gols e atuações decisivas de Diego Oliveira, que chegou a ser artilheiro do campeonato em alguns momentos e levou o prêmio de melhor jogador da liga no mês de abril, período em que marcou sete gols em seis jogos. Higashi também fazia grande temporada, mais incisivo que de costume, levando o ataque para a frente e criando chances de gol.

No segundo turno, porém, por mais velho que seja o trocadilho, acabou o gás (para quem não pegou, o clube é patrocinado pela Tokyo Gas, empresa que fornece gás natural para as cidades de Tóquio e províncias vizinhas). Assim como aconteceu com o Gamba de Hasegawa ano passado, o seu FC Tokyo não encontrou solução quando as coisas começaram a dar errado e se arrastou dentro de campo até o fim da temporada, com apenas duas vitórias nas últimas 14 rodadas e um aproveitamento pífio de 31% no segundo turno. Até a 30ª rodada ainda conseguiu segurar a terceira colocação, mas despencou na reta final e, com o sexto lugar, perdeu também a vaga na ACL. Criticado pelo estilo jogo monótono e pragmático, o time teve a segunda defesa menos vazada, empatada com a do Tosu, e o quarto ataque menos efetivo, com o mesmo número de gols marcados que o lanterna Nagasaki.

Time-base do FC Tokyo em 2018 — Foto: Futebol no Japão

7º - CEREZO OSAKA - Não foi o ano da Cerejeira

Em 2017:
Expectativa para 2018: ★★★★ Candidato ao título
Resultado: Ruim - Perdeu o rumo no meio do caminho
Campanha: 50 pontos - 34J, 13V, 11E, 10D, 39GP, 38GC, +1SG
Supercopa: Campeão
ACL: Eliminado na fase de grupos
Copa Suruga: Perdeu para o Independiente-ARG
Copa da Liga: Eliminado nas quartas de final (2x5 Shonan Bellmare no placar agregado)
Copa do Imperador: Eliminado nas oitavas de final (0x1 Ventforet Kofu, na prorrogação)
Média de público: 18.811 (9ª) [-10,2%]
Técnico: Yoon Jung-hwan (Coreia do Sul)

Artilheiros: Toshiyuki Takagi (6 gols), Yusuke Maruhashi (6), Kenyu Sugimoto (5)
Líderes de assistências: Kenyu Sugimoto (3), Toshiyuki Takagi (3), Yasuki Kimoto (3)
O jogador do ano: Souza
Outros destaques:
Yusuke Maruhashi, Matej Jonjic, Toshiyuki Takagi
A revelação: Ninguém
A decepção: Atomu Tanaka

Ainda convivendo com lesões, Kiyotake não recuperou seu melhor futebol desde que deixou o Sevilla para voltar ao Cerezo Osaka — Foto: Kaoru Watanabe / Gekisaka

O Cerezo Osaka conquistou os dois primeiros títulos de sua história em 2017, ao levantar as duas taças nacionais. Reforçado para 2018, com um elenco encorpado, jogadores de nome, um treinador cheio de moral... Muitos apostavam que tinha chegado a hora de finalmente ganhar a J-League. Não foi o que aconteceu.

A temporada até que começou de forma positiva, com título na Supercopa seguido de vitória fora de casa na abertura da ACL contra o coreano Jeju United e empate em casa com o poderoso heptacampeão chinês Guangzhou Evergrande. Mas foi só começar a J-League e vieram tropeços em sequência. Ao invés de tentar decidir logo a parada na ACL e se classificar com antecedência, foi de time misto nos dois jogos contra o tailandês Buriram United e se complicou, saindo desses confrontos com apenas um ponto. Com a corda no pescoço, derrotou o Jeju em casa na sequência e emendou quatro vitórias consecutivas na J1, mas na hora de decidir a vaga no torneio continental, usou um time 100% reserva na última rodada da fase de grupos contra o Guangzhou em Cantão. Foi derrotado por 3x1 e eliminado da ACL.

A Copa Suruga em agosto foi outra chance de título, que seria o primeiro internacional da história do clube, jogada fora. Nesse jogo também Yoon escalou time reserva, e o Independiente, campeão da Sul-Americana 2017, venceu por 1x0 sem maiores problemas. A Cerejeira decepcionou também nas copas nacionais. Na Levain, entrou direto nas quartas e foi embora no primeiro confronto, contra o eventual campeão Shonan. Na Copa do Imperador, caiu nas oitavas diante de uma equipe da J2, o Kofu.

O 2018 ruim do Cerezo foi reflexo da temporada sem brilho de suas estrelas. Kiyotake, Kakitani, Sugimoto, Yamaguchi... todos jogadores considerados de seleção até pouco tempo atrás, que são ídolos da torcida e em uma idade em que deveriam estar no auge da forma. Porém, se uma pessoa de fora assistisse ao Cerezo deste ano sem conhecimento prévio do elenco, poderia pensar que se trata de jogadores comuns. Kiyotake continuou sofrendo com lesões e não recuperou a melhor forma. Kakitani parece aderir à lei do mínimo esforço e não tem mostrado mais que uma fração do seu talento. Sugimoto caiu de rendimento, perdeu espaço na seleção e também a chance de se transferir para a Europa. Yamaguchi, o único a ir para o Mundial da Rússia como representante do Cerezo, também perdeu o lugar na seleção depois de uma temporada em que fez pouco além do feijão com arroz. Definitivamente, a Cerejeira não empolgou seu torcedor. Foi o time com a maior queda de público em relação ao ano anterior (-10,2%).

Time-base do Cerezo Osaka em 2018 — Foto: Futebol no Japão

8º - SHIMIZU S-PULSE - Fazendo as pazes com o bom futebol

Em 2017: 14º
Expectativa para 2018: ★★ Zona intermediária / Chances de queda
Resultado: Bom - Não passou sufoco e terminou na parte de cima da tabela
Campanha: 49 pontos - 34J, 14V, 7E, 13D, 56GP, 48GC, +8SG
Copa da Liga: Eliminado na fase de grupos
Copa do Imperador: Eliminado na 3ª fase (0x1 Ventforet Kofu)
Média de público: 14.991 (14ª) [-0,8%]
Técnico: Jan Jonsson (Suécia)

Artilheiros: Koya Kitagawa (13 gols), Douglas (11), Shota Kaneko (10), Crislan (5)
Líderes de assistências: Koya Kitagawa (8), Hideki Ishige (7), Shota Kaneko (7), Crislan (5)
O jogador do ano: Shota Kaneko
Outros destaques: Hwang Seok-ho, Leandro Freire, Koya Kitagawa, Douglas
A revelação: Yugo Tatsuta
A decepção: Jong Tae-se

Tatsuta, Kitagawa e Kaneko: ascensão das jovens promessas do Shimizu S-Pulse levaram o clube à primeira campanha positiva desde 2010 — Foto: Soccer Digest

A realidade do S-Pulse nos últimos anos tem sido a parte de baixo da tabela. Jan Jonsson, treinador sueco que salvou o Hiroshima da queda em 2017, veio para Shimizu com a missão de dar cara nova à equipe, que queria terminar pelo menos entre os nove primeiros este ano. À primeira vista algo improvável, pois não vieram muitos reforços e o time era quase o mesmo que só escapou da degola na última rodada ano passado, jogando um futebol extremamente defensivo.

2018 começou cheio de altos e baixos - quatro jogos de invencibilidade para abrir a campanha, mas as seis rodadas sem vencer logo na sequência deixaram o alerta ligado. O time alternava bons e maus momentos, mas nunca caiu abaixo de 13º e não correu tanto risco de rebaixamento. Uma melhora e tanto visto que as últimas três temporadas na J1 foram de luta contra o descenso até o final.

O mérito de Jonsson foi fazer o S-Pulse voltar a jogar bonito, no ataque, sempre em busca de gols. Para isso, ele contou com o amadurecimento das promessas do elenco: Kaneko, o baixinho driblador que inferniza defesas na J1; Kitagawa, o "novo Okazaki" que combina velocidade e faro de gol (eleito melhor jogador da liga no mês de outubro, ele ganhou com Moriyasu a primeira chance na seleção); e Tatsuta, zagueiro alto (1,89 m) e que vem dando conta do recado cobrindo a lateral direita. Outro fator crucial foi a contratação de Douglas (ex-Hiroshima) no meio do ano, o que deu ainda mais dinamismo ao ataque e supriu a queda de rendimento de Jong Tae-se. Vale mencionar também o bom trabalho da dupla de zaga estrangeira, Hwang Seok-ho e Leandro Freire.

Um dos times que terminou o campeonato em melhor forma, com 15 dos últimos 21 pontos possíveis, o Shimizu teve o segundo melhor ataque da J1, empatado com o Yokohama. A goleada sobre o arquirrival Júbilo Iwata por 5x1 no Dérbi de Shizuoka em outubro quase valeu por um título. Com o oitavo lugar, o clube comemorou sua melhor colocação na J1 desde o sexto lugar de 2010.

Time-base do Shimizu S-Pulse em 2018 — Foto: Futebol no Japão

9º - GAMBA OSAKA - Santo Miyamoto!

Em 2017: 10º
Expectativa para 2018: ★★★ Metade de cima da tabela
Resultado: Razoável - Miyamoto evitou o desastre
Campanha: 48 pontos - 34J, 14V, 6E, 14D, 41GP, 46GC, -5SG
Copa da Liga: Eliminado nas quartas de final (1x7 Yokohama F-Marinos no placar agregado)
Copa do Imperador: Eliminado na 2ª fase (1x2 Universidade Kwansei Gakuin)
Média de público: 23.485 (4ª) [-3,2%]
Técnico: Levir Culpi (até a 17ª rodada) / Tsuneyasu Miyamoto (da 18ª rodada até o final)

Artilheiros: Hwang Ui-jo (16 gols), Ademilson (5), Shu Kurata (4)
Líderes de assistências: Yasuhito Endo (7), Shu Kurata (5), Kosuke Onose (3), Oh Jae-suk (3)
O jogador do ano: Hwang Ui-jo
Outros destaques:
Masaaki Higashiguchi, Yasuyuki Konno, Yasuhito Endo, Shu Kurata
A revelação: Keito Nakamura
A decepção: Matheus Jesus

Era para ser o último ano de Yasuhito Endo no Gamba Osaka. Mas o volante de 38 anos teve uma temporada tão boa que o clube fez uma proposta para renovar com o maestro, que chegou à marca de 602 partidas na J-League; o primeiro jogador de linha a atingir tal feito — Foto: Koki Nagahama / Gekisaka

Não é sempre que trocar de técnico funciona, mas este ano o Gamba Osaka mudou completamente, da água para o vinho, quando Tsuneyasu Miyamoto assumiu no lugar de Levir Culpi. O time que parecia fadado ao rebaixamento e passou 25 das 27 primeiras rodadas na zona de rebaixamento reverteu a má fase na reta final e, com nove vitórias seguidas (igualando o recorde do clube nesse quesito, que era de 1997), terminou a campanha em um respeitável nono lugar.

Depois de cinco anos com Kenta Hasegawa, Levir Culpi havia sido chamado para fazer em Suita o mesmo trabalho que havia feito no rival Cerezo Osaka. Renovar o elenco, lapidar as joias recém-saídas da base e jogar um futebol ofensivo. Mas deu tudo errado enquanto o comandante brasileiro estava lá. O clube fez poucas contratações, e a única de maior destaque foi Yajima, que vinha para repor a saída de Ideguchi para a Europa. Porém, o meia, que era um dos preferidos de Makoto Teguramori na geração olímpica do Rio 2016, não se firmou. Levir apostou muito nos jovens, e as promessas mostraram que ainda não estavam prontas. Para piorar, as lesões de titulares importantes como Konno e Ademilson pesaram demais. E o reforço que chegou em março por indicação de Levir, Matheus Jesus, também não correspondeu.

A campanha era pior do que a de 2012, ano do rebaixamento. A primeira vitória veio apenas na sétima rodada (2x0 Iwata), o que encerrou um jejum de nove meses sem ganhar de ninguém em casa. E o time não conseguia ser consistente. Sempre que fazia uma boa apresentação e vencia de forma consistente, no jogo seguinte a atuação era um desastre. Ainda teve a vexatória eliminação na Copa do Imperador para uma equipe universitária. Levir tinha muito crédito no início, mas chegou ao ponto em que a diretoria decidiu que não dava mais. Com 29% de aproveitamento, o treinador foi demitido na virada do turno. O ex-zagueiro e ídolo local Miyamoto, que estudou na Europa, treinou a base do Gamba e o time B e estava sendo preparado para assumir o time principal, foi chamado mais cedo que o esperado para resolver a bomba.

Os resultados demoraram, mas vieram. Miyamoto conquistou apenas seis dos primeiros 21 pontos disputados, mas a vitória contra o Kawasaki Frontale em setembro marcou a arrancada que tirou o Gamba do Z-3 e logo deixou o time a salvo. Foram 27 pontos de 30 possíveis na reta final. A sequência positiva coincidiu com o retorno de Konno, que foi até eleito MVP da J1 no mês de setembro e possibilitou ao maestro Endo jogar seu melhor futebol. Em novembro/dezembro, o prêmio novamente foi para um gambino, o artilheiro Hwang Ui-jo, que chegou a marcar por seis jogos consecutivos, terminou em terceiro lugar na artilharia do campeonato e se estabeleceu na seleção coreana. A contratação de Onose, destaque na J2 pelo Yamaguchi, também contribuiu com o bom momento.

Time-base do Gamba Osaka em 2018 — Foto: Futebol no Japão

10º - VISSEL KOBE - Bilhões de ienes para ficar no meio da tabela

Em 2017:
Expectativa para 2018: ★★★ Metade de cima da tabela
Resultado: Ruim - Não fez valer o investimento
Campanha: 45 pontos - 34J, 12V, 9E, 13D, 45GP, 52GC, -7SG
Copa da Liga: Eliminado no playoff (3x5 Yokohama F-Marinos no placar agregado)
Copa do Imperador: Eliminado nas oitavas de final (0x3 Sagan Tosu)
Média de público: 21.630 (7ª) [+18,3%]
Técnico: Takayuki Yoshida (até a 26ª rodada) / Kentaro Hayashi (27ª e 28ª rodadas, como interino) / Juan Manuel Lillo (da 29ª rodada até o final)

Artilheiros: Hirotaka Mita (6 gols), Kyogo Furuhashi (5), Lukas Podolski (5), Wellington Tanque (5)
Líderes de assistências: Lukas Podolski (6), Wellington Tanque (6), Shuhei Otsuki (5)
O jogador do ano: Andrés Iniesta
Outros destaques:
Kim Seung-gyu, Hirofumi Watanabe, Naoyuki Fujita, Hirotaka Mita, Lukas Podolski
A revelação: Yuta Goke
A decepção: Keijiro Ogawa

Iniesta brilhou quando esteve em campo, mas no geral o Vissel Kobe ficou devendo — Foto: Kaoru Watanabe / Gekisaka

Bons jogadores na defesa, no meio e no ataque, alguns com experiência de seleção. Estrelas internacionais. Um patrocinador que não para de injetar dinheiro em contratações. Estádio de Copa do Mundo. Uma torcida que marca presença (time com o maior aumento de média de público em relação ao ano anterior, sem contar os promovidos da J2). O que acontece com o Vissel Kobe, que agora, mais do que nunca, tinha tudo para fazer uma boa campanha, mas terminou como sempre no meio da tabela? No início do ano, o clube deixou claro seu objetivo de se espelhar no Barcelona e de se tornar o "número um da Ásia". Uma vaga na ACL era o mínimo para 2018. Porém, um modesto décimo lugar, só quatro pontos acima do playoff de rebaixamento e 24 pontos atrás do campeão, mostra que ainda há muito para melhorar.

O início da campanha nem foi tão ruim. O Vissel jogava um futebol competitivo e era difícil de ser batido. Passou a maior parte do primeiro turno na metade de cima da tabela. Quando Iniesta chegou, após a Copa do Mundo, o time estava em sexto lugar. O craque espanhol foi bem em quase todas as partidas que atuou, com três gols e três assistências em 14 participações, mas de certa forma o time piorou. Chegou a ocupar a quarta colocação e sonhar com a vaga na ACL, mas cinco derrotas seguidas entre agosto e setembro fizeram a equipe despencar na tabela e custaram o emprego de Takayuki Yoshida. Juan Manuel Lillo, conhecido como o "mentor de Guardiola", foi então chamado para continuar o processo de "barcelonização" do clube, mas o máximo que ele pôde fazer por enquanto foi salvar o Kobe do rebaixamento, evitando um vexame ainda maior.

Salários astronômicos. Lukas Podolski recebe o que era considerado o maior salário da história da J-League: 600 milhões de ienes por ano (R$ 21 milhões na cotação atual), o mesmo valor que Diego Forlán recebia no Cerezo Osaka em 2014-15. Iniesta não só quebrou esse recorde como mais que quintuplicou esse número, com um salário anual estimado em 3,25 bilhões de ienes (R$ 114 milhões).

A magia do gênio. Foi de Iniesta o gol eleito mais bonito de agosto na J1. Também foi dele o passe para o gol mais bonito de novembro, marcado por Podolski.

Time-base do Vissel Kobe em 2018 — Foto: Futebol no Japão

11º - VEGALTA SENDAI - Ainda longe do topo

Em 2017: 12º
Expectativa para 2018: ★★ Zona intermediária / Chances de queda
Resultado: Razoável - Ficou a sensação de que o ano poderia ser bem melhor
Campanha: 45 pontos - 34J, 13V, 6E, 15D, 44GP, 54GC, -10SG
Copa da Liga: Eliminado no playoff (3x4 Shonan Bellmare no placar agregado)
Copa do Imperador: Vice-campeão
Média de público: 15.408 (12ª) [+4,4%]
Técnico: Susumu Watanabe

Artilheiros: Takuma Nishimura (11 gols), Naoki Ishihara (7), Koji Hachisuka (4)
Líderes de assistências: Koji Hachisuka (5), Gakuto Notsuda (4), Ryo Germain (3), Katsuya Nagato (3)
O jogador do ano: Naoki Ishihara
Outros destaques:
Daniel Schmidt, Koji Hachisuka, Takuma Nishimura
A revelação: Ryo Germain
A decepção: Mike Havenaar

A ascensão de Daniel Schmidt (apesar do nome, ele é japonês, filho de pai americano), que agora é goleiro de seleção, ficou como consolo para o torcedor do Vegalta Sendai — Foto: Getty Images

O Vegalta veio para o quinto ano sob o comando de Susumu Watanabe pensando alto. A meta era terminar entre os cinco primeiros. Com poucas mudanças em relação ao ano passado, o início de campanha impressionou, com só uma derrota nas oito primeiras rodadas. O time chegou a ficar na vice-liderança, mas a boa fase não durou. Tentando jogar um futebol ofensivo e de toque de bola, a defesa acabava exposta em muitas ocasiões. De abril até agosto, foram apenas três vitórias em 13 rodadas, que derrubaram a equipe para 12º lugar. Quando enfim começou a se recuperar, com três vitórias seguidas, o clube perdeu sua joia, o atacante Takuma Nishimura, vendido ao CSKA Moscou antes de completar 22 anos.

De agosto até a metade de setembro foram cinco vitórias em seis jogos e o Sendai subiu para quarto lugar, mas a ínfima esperança de uma vaga na ACL logo se extinguiu com apenas quatro pontos conquistados nas oito rodadas finais. O 11º lugar é o melhor resultado das últimas seis temporadas, mas o número de gols marcados foi o mesmo do ano passado, com um gol sofrido a mais. A torcida chegou perto de comemorar o primeiro título desde a conquista da J2 em 2009 com a classificação para a inédita final da Copa do Imperador, mas o ano terminou em decepção, com uma atuação apática diante de um Urawa Reds muito superior.

Não foi uma temporada ruim, mas ficou a sensação de que poderia ter sido bem melhor se Nishimura tivesse ficado até o final. Jogadores como Daniel Schmidt e Hachisuka mostraram evolução, enquanto o novato Ryo Germain foi uma grata surpresa, mas a maioria das contratações para o ataque não deram certo, como Rafaelson, que não disputou nenhuma partida na J1, além dos que chegaram no meio do ano: Havenaar, Ramon Lopes e Yajima, que pouco jogaram. No fim das contas, sobrava para o bom e velho Ishihara ter que resolver as coisas na frente.

- 27% (13 de 54) dos gols sofridos pelo Vegalta nesta J-League saíram contra o Yokohama F-Marinos. Foram duas goleadas a favor do Tricolore: 8x2 em Sendai e 5x2 em Yokohama. Pelo menos nas copas nacionais o time da província de Miyagi se deu melhor, eliminando o Marinos na fase de grupos da Copa Levain (0x0 e 4x2) e nas oitavas de final da Copa do Imperador (3x2).

Time-base do Vegalta Sendai em 2018 — Foto: Futebol no Japão

12º - YOKOHAMA F-MARINOS - Espada de dois gumes

Em 2017:
Expectativa para 2018: ★★★ Metade de cima da tabela
Resultado: Ruim - Só lutou para não cair
Campanha: 41 pontos - 34J, 12V, 5E, 17D, 56GP, 56GC, 0SG
Copa da Liga: Vice-campeão
Copa do Imperador: Eliminado nas oitavas de final (2x3 Vegalta Sendai)
Média de público: 21.788 (6ª) [-9,8%]
Técnico: Ange Postecoglou (Austrália)

Artilheiros: Hugo Vieira (13 gols), Teruhito Nakagawa (9), Sho Ito (8), Jun Amano (5)
Líderes de assistências: Ryosuke Yamanaka (8), Jun Amano (6), Ken Matsubara (5), Olivier Boumal (4)
O jogador do ano: Ryosuke Yamanaka
Outros destaques:
Jun Amano, Teruhito Nakagawa, Hugo Vieira
A revelação: Kota Yamada
A decepção: Yun Il-lok

Uma das ideias de jogo de Postecoglou era "nunca chutar de fora da área, pois as chances de acerto são muito pequenas e na maioria das vezes você só vai devolver a posse ao adversário", mas o potente chute de longa distância de Yamanaka fez o treinador mudar de ideia; com quatro gols e oito assistências na temporada, o lateral do Marinos foi até convocado para a seleção pela primeira vez — Foto: Koki Nagahama / Gekisaka

Do pragmatismo para um estilo ultraofensivo, o Marinos mudou completamente seu modo de jogar em 2018 com a chegada do australiano Ange Postecoglou. Já se imaginava que levaria um tempo para os jogadores se adaptarem à nova filosofia, mas o que a torcida não esperava é que o time ficaria o ano inteiro na metade de baixo da tabela, lutando apenas para não cair. Detalhe que Marinos e Antlers são os únicos que estão na J-League desde sua criação, em 1993, sem nunca terem sido rebaixados.

Pelo lado positivo, o Yokohama de Postecoglou esbanjou ousadia em 2018. Tinha sempre o controle da bola - segundo o site Football Lab, teve a maior média de posse de bola do campeonato, 59,2% - e terminou com o segundo melhor ataque, com só um gol a menos que o campeão Kawasaki. Visava dominar o campo de ataque com os laterais posicionados fechados, como meias, e os extremos abertos. No meio-campo, um volante de contenção e dois armadores para municiar o centroavante formavam um típico 4-3-3. O "goleiro-líbero" também era peça fundamental do esquema, sempre participando da saída de bola e jogando adiantado, o que virou motivo de muito debate. Iikura tem bom passe e às vezes parava contra-ataques a la Neuer, mas também levou alguns gols por cobertura por estar adiantado.

Pelo lado negativo, a defesa sempre exposta e vulnerável a contra-ataques era um pesadelo que o treinador não conseguiu arrumar. Mesmo quando estava ganhando, o time não se defendia bem. Das 17 derrotas sofridas (um turno inteiro!), sete foram de virada. Ficou com a terceira defesa mais vazada da liga. A equipe ainda perdeu a dupla de zaga titular no meio do ano. Yuji Nakazawa lesionou o joelho e Milos Degenek se transferiu para o Estrela Vermelha, da Sérvia. Vieram então três novos defensores: o sérvio Dusan, do Lens, o brasileiro Thiago Martins, do Palmeiras, e o japonês Hatanaka, do Verdy. Postecoglou testou um sistema com três zagueiros, mas logo voltou para sua formação original. Nos últimos jogos a defesa até melhorou um pouco, mas eram raros os jogos sem sofrer gol.

A Copa da Liga se tornou a grande chance do Marinos encerrar o jejum de títulos que vem desde a Copa do Imperador de 2013, com uma campanha empolgante eliminando Gamba Osaka nas quartas de final por um incrível placar agregado de 7x1 e passando pelo Kashima Antlers na semifinal com 4x3 na soma dos dois jogos. Na decisão em jogo único, porém, o Tricolore caiu diante do rival Shonan Bellmare por 1x0.

No fim das contas, uma temporada decepcionante, pois o time queria chegar entre os quatro primeiros na J1 e só se livrou matematicamente do rebaixamento na última rodada, além de perder uma ótima chance de título na Levain. Com um dos melhores ataques, uma das piores defesas e saldo zerado, o Marinos de 2018 foi uma faca de dois gumes que jogou bonito, mas não deu resultado. Postecoglou terá que armar uma equipe mais balanceada ano que vem se quiser chegar em algum lugar.

New hero. O meia Keita Endo, que é sempre convocado para a seleção olímpica, foi eleito melhor jogador jovem da Copa Levain e faturou o "New Hero Award". Ele disputou nove partidas e fez dois gols na competição. Ficou de fora logo da final, por lesão.

- Ranking de passes e porcentagem de passes certos dos goleiros (via @OptaJiro)
1.502 passes (83% certos) - Hiroki Iikura (Yokohama)
1.197 passes (50% certos) - Kim Jin-hyeon (C. Osaka)
1.109 passes (48,3% certos) - Shuichi Gonda (Tosu)
1.092 passes (68,7% certos) - Shusaku Nishikawa (Urawa)
1.011 passes (53,1% certos) - Yuji Rokutan (Shimizu)

Time-base do Yokohama F-Marinos em 2018 — Foto: Futebol no Japão

13º - SHONAN BELLMARE - Ainda na maré alta

Em 2017: Campeão da J2 (promovido)
Expectativa para 2018: ★★ Zona intermediária / Chances de queda
Resultado: Ótimo - Sobreviveu na J1 e faturou uma copa
Campanha: 41 pontos - 34J, 10V, 11E, 13D, 38GP, 43GC, -5SG
Copa da Liga: Campeão
Copa do Imperador: Eliminado nas oitavas de final (1x3 Kawasaki Frontale)
Média de público: 12.120 (16ª) [+43,3%]
Técnico: Cho Kwi-jae (Coreia do Sul)

Artilheiros: Shunsuke Kikuchi (7 gols), Ryogo Yamasaki (4), Tsukasa Umesaki (4), Takuya Okamoto (3)
Líderes de assistências: Ryogo Yamasaki (2), Takuya Okamoto (2), Toshiki Ishikawa (2), Tsukasa Umesaki (2)
O jogador do ano: Yota Akimoto
Outros destaques:
Miki Yamane, Keisuke Saka, Daiki Sugioka, Takuya Okamoto, Shunsuke Kikuchi, Toshiki Ishikawa
A revelação: Keisuke Saka
A decepção: Alen Stevanovic

O Shonan Bellmare voltou a conquistar uma copa nacional após 24 anos — Foto: Getty Images

O campeão da J2 2017 voltou para a elite com uma equipe modesta, com um histórico de quatro rebaixamentos nas últimas cinco temporadas que disputou na J1 e lutando contra o rótulo de "time ioiô". Sem estrelas no elenco, apostou no jogo coletivo, na continuidade do "Shonan Style" implementado pelo coreano Cho Kwi-jae, que está no cargo desde 2012, e na evolução das muitas promessas jovens. Para quem já estaria no lucro com qualquer resultado diferente de mais uma queda para J2, o Bellmare teve um ano bem positivo.

As contratações estrangeiras (Mikic, Lee Jeong-hyeop e Stevanovic) não deram certo, é verdade. Mas os jovens talentos evoluíram e ganharam espaço, como os novatos vindo do futebol universitário, Keisuke Saka e Temma Matsuda (ambos nascidos em 1995); os revelados pela base, Daiki Sugioka (98), Mitsuki Saito (99) e Hirokazu Ishihara (99); e o recém-saído do futebol colegial, Daiki Kaneko (98). Sugioka, a maior promessa do futebol japonês para a lateral-esquerda nos últimos anos, foi até eleito MVP da Copa Levain e marcou o gol do título na competição, que o Shonan venceu pela primeira vez.

A campanha na Copa da Liga foi o ponto alto da temporada. Comendo pelas beiradas, o time passou pela fase de grupos no sufoco, como segundo colocado atrás do Vissel Kobe e vencendo o confronto direto com o V-Varen Nagasaki na última rodada. No mata-mata, tratou de fazer os resultados em casa. No primeiro playoff, ganhou do Vegalta Sendai em Hiratsuka por 3x0 e perdeu a volta por 3x1. Nas quartas de final, repetiu os 3x0 no Cerezo Osaka como mandante e segurou um 2x2 como visitante. Na semifinal, empatou com o Kashiwa Reysol fora de casa por 1x1 e o placar se repetiu no segundo jogo. Na prorrogação, mais um gol para cada lado e a classificação veio apenas nos pênaltis. Na grande decisão, superou o rival local Yokohama F-Marinos pelo placar único.

Apesar da euforia pelo título de copa nacional que não vinha desde a conquista da Copa do Imperador em 1994, ainda era preciso sobreviver na J1. Para quem era um dos principais candidatos ao descenso, acima mesmo só do Nagasaki, o Shonan fez uma campanha satisfatória. Teve o terceiro pior ataque (aliás, a falta de um centroavante efetivo foi o maior problema do time), a oitava defesa mais vazada, passou o ano inteiro na metade de baixo da tabela e só escapou da queda mesmo no último jogo, mas nunca terminou uma rodada dentro do Z-3 e no geral foi pouco ameaçado.

Time-base do Shonan Bellmare em 2018 — Foto: Futebol no Japão

14º - SAGAN TOSU - Ataque de peso, mas a defesa que salvou

Em 2017:
Expectativa para 2018: ★★ Zona intermediária / Chances de queda
Resultado: Ruim - Lutou contra o rebaixamento até o final
Campanha: 41 pontos - 34J, 10V, 11E, 13D, 29GP, 34GC, -5SG
Copa da Liga: Eliminado na fase de grupos
Copa do Imperador: Eliminado nas quartas de final (0x2 Urawa Reds)
Média de público: 15.000 (13ª) [+5,6%]
Técnico: Massimo Ficcadenti (Itália) (até a 29ª rodada) / Kim Myung-hwi (Coreia do Sul) (da 30ª rodada até o final)

Artilheiros: Yuji Ono (4 gols), Fernando Torres (3), Hideto Takahashi (3), Mu Kanazaki (3)
Líderes de assistências: Riki Harakawa (4), Fernando Torres (2), Kazuki Anzai (2), Yuji Ono (2)
O jogador do ano: Shuichi Gonda
Outros destaques:
Akito Fukuta, Yuji Ono
A revelação: Ninguém
A decepção: Yohei Toyoda

O Sagan Tosu teve a "dupla de ataque dos sonhos" Torres e Kanazaki, mas quem salvou o time foi o goleiro Shuichi Gonda — Foto: Koki Nagahama / Gekisaka

Fernando Torres, Mu Kanazaki, Víctor Ibarbo, Yohei Toyoda... O Sagan Tosu teve nomes de peso na sua linha ofensiva em 2018, o que causaria inveja a qualquer um na J-League. Mesmo assim, foi o pior ataque da liga, com apenas 29 gols marcados, média de menos de um por jogo. No ano em que mais investiu, o clube da província de Saga fez sua pior campanha na história da J1 e só escapou do rebaixamento na última rodada.

A expectativa era alta no terceiro ano sob o comando do italiano Massimo Ficcadenti. Era um time em constante evolução, com um 11º lugar em 2016 e um oitavo lugar em 2017. A meta agora era subir um pouco mais e brigar pelas primeiras posições. Foi o time que menos contratou, mas dois dos quatro reforços se firmaram no onze inicial - o zagueiro Yuji Takahashi e o volante Hideto Takahashi - e todos os titulares do ano anterior foram mantidos.

O início de campanha foi promissor e as grandes atuações de Ibarbo nas vitórias contra Yokohama na terceira rodada (2x1) e Nagoya na quinta rodada (3x2) mostraram que o time tinha tudo para ir longe. O problema é que o colombiano vinha sofrendo com lesões e não teve uma sequência de jogos. Em junho, ele rompeu os ligamentos do joelho em um treino e perdeu o resto da temporada. Se o ponto fraco da equipe era a falta de um segundo atacante para auxiliar Ibarbo, agora faltavam os dois atacantes.

Ficcadenti tentou várias mudanças de formação, com dois meias e um atacante, com dois meias e dois atacantes, com três zagueiros... mas nada dava certo. Sete derrotas seguidas de abril até maio acabaram com o sonho de disputar as primeiras posições e a realidade até o fim do ano foi lutar para não cair. O Tosu passou 18 das 34 rodadas no Z-3 e, assim como no ano passado, foi de novo o time com menos vitórias como visitante (2).

No meio do ano, a patrocinadora CyGames abriu os cofres para trazer Torres e Kanazaki. Só que a "dupla de ataque dos sonhos" não funcionou bem. Havia os craques dentro da área, mas faltava entrosamento e a bola não chegava neles. Jogando de forma defensiva, quase sempre com três volantes e Yuji Ono sobrecarregado na armação, o Sagan era o time que menos criava chances de gol, com média de 8,2 finalizações por jogo. Torres levou oito jogos até fazer seu primeiro gol (guardou um e deu passe para mais dois nos 3x0 sobre o Gamba Osaka na 24ª rodada). Kanazaki precisou de sete partidas para balançar as redes pela primeira vez (no mesmo jogo contra o Gamba). A queda de rendimento de dois pilares da equipe, o lateral Yutaka Yoshida e o volante Riki Harakawa, também pesaram no desempenho.

Na 29ª rodada, em penúltimo lugar e somando seis jogos seguidos sem vitória depois de perder para o Shonan em casa, Ficcadenti foi demitido. O treinador do sub-18, Kim Myung-hwi, assumiu até o final e conseguiu salvar a equipe no saldo de gols. Nos cinco últimos jogos, foram três vitórias e dois empates. No jogo que garantiu a permanência do Tosu na J1, a defesa mais uma vez fez a diferença, com um 0x0 fora de casa com o Kashima e o goleiro Gonda como melhor em campo. Graças e ele, que voltou a ser convocado para a seleção, a defesa do Sagan foi a segunda menos vazada, perdendo apenas para o campeão Kawasaki.

- Porcentagem de chutes defendidos (via @OptaJiro)
73,4% - Shuichi Gonda (Tosu)
73% - Gu Sung-yun (Sapporo)
72,9% - Masaaki Higashiguchi (G. Osaka)
72,7% - Takuto Hayashi (Hiroshima)
71,8% - Akihiro Hayashi (Tokyo)

Time-base do Sagan Tosu em 2018 — Foto: Futebol no Japão

15º - NAGOYA GRAMPUS - Salvos pelo filho de Itaquera

Em 2017: 3º na J2 (promovido)
Expectativa para 2018: ★★ Zona intermediária / Chances de queda
Resultado: Razoável - Escapou por pouco da J2
Campanha: 41 pontos - 34J, 12V, 5E, 17D, 52GP, 59GC, -7SG
Copa da Liga: Eliminado na fase de grupos
Copa do Imperador: Eliminado na 3ª fase (1x4 Sanfrecce Hiroshima, na prorrogação)
Média de público: 24.660 (3ª) [+60,4%]
Técnico: Yahiro Kazama

Artilheiros: Jô (24 gols), Naoki Maeda (7), Gabriel Xavier (6), Takashi Kanai (4)
Líderes de assistências: Gabriel Xavier (9), Jô (4), Naoki Maeda (4), Yuki Kobayashi (4)
O jogador do ano: Jô
Outros destaques:
Mitchell Langerak, Naoki Maeda, Gabriel Xavier
A revelação: Yuki Soma
A decepção: Aria Jasuru Hasegawa

O Nagoya foi saco de pancadas no primeiro turno, mas os gols de Jô levaram o time a uma reação no returno; o ex-Corinthians terminou como artilheiro do campeonato com 24 gols — Foto: Koki Nagahama / Gekisaka

O Nagoya Grampus era uma das maiores incógnitas na pré-temporada. O time que passou sufoco para ser promovido de volta para a J1 trouxe dois reforços de peso - Jô, artilheiro e melhor jogador do Brasileirão 2017 pelo Corinthians, e o goleiro australiano Langerak -, mas ainda tinha um elenco desbalanceado, carente especialmente na zaga. A pretensão do treinador Yahiro Kazama de continuar com seu estilo ultraofensivo, quase suicida, era talvez a maior preocupação da torcida. A poucos dias da rodada de abertura da liga, só havia três zagueiros no elenco e nenhum deles passava confiança. Tanto que a dupla de zaga titular no início da campanha foram dois reforços que chegaram de última hora e quase não treinaram juntos: Willian Rocha, emprestado pelo Guarani, e Yukinari Sugawara, promovido da base ainda com 17 anos.

De forma surpreendente, o Grampus venceu os dois primeiros jogos (3x2 Gamba e 1x0 Iwata), o que levou muitos a pensar se o time poderia até disputar o título. A resposta veio rápido. O Nagoya não ganhou mais nenhum jogo no resto do turno. Sofreu oito derrotas seguidas entre março e abril e caiu da liderança para a lanterna. Virou saco de pancadas, levando dois ou três gols na maioria dos jogos. Parecia que não tinha mais jeito. E não havia qualquer sinal de que Kazama pudesse ser demitido. Rodada após rodada, o rebaixamento estava cada vez mais próximo.

Para reverter essa situação desesperadora, a diretoria contratou em massa na janela de verão. Cinco nomes de uma só vez, todos para ser titulares. Dois zagueiros (Nakatani e Maruyama), um lateral (Kanai), um volante (Eduardo Neto) e um meia (Maeda). E não é que deu certo? O returno começou com sete vitórias seguidas, algumas por placares altos (4x2 Kashima, 4x1 Urawa, 6x1 Iwata). Foi o momento em que Jô mais brilhou. Ele foi o único a fazer dois hat-tricks na temporada: um contra o Gamba na 20ª rodada (vitória por 3x2) e outro contra o Urawa na 24ª rodada, o que garantiu a ele o prêmio de melhor jogador da liga no mês de agosto.

Mas as emoções não pararam por aí. Em setembro, a sequência positiva acabou e, com cinco derrotas em seis rodadas, o Grampus voltou para o Z-3. Sofreu até o fim, mas sete pontos conquistados nas quatro últimas rodadas foram suficientes para salvar o clube no critério do saldo de gols. A goleada em cima do Júbilo fez diferença.

O coringa. Ryuji Izumi jogou nas duas laterais, como zagueiro, volante e meia pelos dois lados e pelo centro. Faltou só ser goleiro e atacante.

O zicado. Aria Jasuru Hasegawa havia sido rebaixado nos três últimos clubes que defendeu no Japão: Cerezo Osaka em 2014, Shonan Bellmare em 2016 e Omiya Ardija em 2017. Com ele em campo, o Nagoya estava no caminho para a queda, mas curiosamente o time melhorou quando Aria perdeu a posição e virou reserva no segundo turno.

Time-base do Nagoya Grampus em 2018 — Foto: Futebol no Japão

16º - JÚBILO IWATA - Salvos pelo novo regulamento

Em 2017:
Expectativa para 2018: ★★★ Metade de cima da tabela
Resultado: Péssimo - Só escapou da queda no playoff
Campanha: 41 pontos - 34J, 10V, 11E, 13D, 35GP, 48GC, -13SG
Copa da Liga: Eliminado no playoff (2x4 Gamba Osaka no placar agregado)
Copa do Imperador: Eliminado nas quartas de final (perdeu nos pênaltis para o Vegalta Sendai)
Média de público: 15.474 (11ª) [-5,1%]
Técnico: Hiroshi Nanami

Artilheiros: Kengo Kawamata (11 gols), Taishi Taguchi (4), Kentaro Oi (3), Takuya Matsuura (3), Yoshito Okubo (3)
Líderes de assistências: Nagisa Sakurauchi (4), Hiroki Yamada (3), Shunsuke Nakamura (3), Takuya Matsuura (3)
O jogador do ano: Hiroki Yamada
Outros destaques:
Krzysztof Kaminski, Kentaro Oi, Taishi Taguchi, Takuya Matsuura, Kengo Kawamata
A revelação: Ninguém
A decepção: Shunsuke Nakamura

Aos 40 anos e às voltas com lesões, o craque Shunsuke Nakamura terminou uma temporada sem nenhum gol pela primeira vez na carreira — Foto: Kaoru Watanabe / Gekisaka

A cada ano, a Celeste de Shizuoka evoluía com o ídolo Hiroshi Nanami como treinador, que está no cargo desde 2014. Por causa disso, a expectativa era alta para 2018. Depois de se firmar novamente na primeira divisão, o objetivo agora era terminar entre os cinco primeiros, algo que o clube não consegue desde 2006. Entretanto, quanto maior a altura, maior o tombo. E o Júbilo quase levou um tombo de proporções épicas, que só não terminou em rebaixamento porque a partir desde ano o antepenúltimo colocado ainda tem a chance de salvar em um playoff contra um clube da J2. Vamos então relembrar tudo que deu errado.

Logo no início da temporada, duas lesões graves em dois titulares importantes: o brasileiro Adailton, o homem da velocidade para os contra-ataques, e o uzbeque Musaev, o cão de guarda do meio-campo, sofreram lesões nos ligamentos do joelho e passaram quase todo o resto do ano em recuperação. O craque Shunsuke Nakamura, com várias pequenas lesões, não teve uma sequência maior que quatro partidas seguidas como titular. Sem ele boa parte do campeonato e com ele fora de forma, o número de gols de bola parada diminuiu bastante (de 27 em 2017 para 11 em 2018). Pela primeira vez na carreira, Nakamura terminou uma temporada sem nenhum gol.

Em maio, o brasileiro Guilherme Santos, lateral-esquerdo de quem se esperava bastante, protagonizou um episódio lamentável ao agredir um jogador e o intérprete do Yokohama F-Marinos depois de ser expulso. Como punição, ele teve o contrato com o clube cancelado. Em agosto, o zagueiro Shinzato, que vinha sendo titular, sofreu uma fratura na fíbula e também perdeu o resto da temporada. As contratações do segundo semestre, o atacante Okubo e o lateral turco Eren Albayrak, também não mostraram a que vieram.

Com tantos desfalques e problemas, seria difícil uma boa campanha. Mesmo assim, o primeiro turno não foi ruim, com algumas rodadas ocupando a sexta colocação em maio. Depois da parada para a Copa do Mundo é que tudo desandou. O ataque, segundo menos efetivo do campeonato, produzia pouco. A defesa, que ano passado tinha sido a menos vazada, agora era uma peneira e foi a sétima com mais gols sofridos. Foram três goleadas sofridas no returno: 0x4 Urawa, 1x6 Nagoya e 1x5 Shimizu (até o arquirrival tirou uma casquinha da má fase do Júbilo). O time esboçou uma reação com vitórias na 28ª (1x0 Shonan) e 31ª rodadas (3x2 Hiroshima), mas continuou caindo na reta final.

Nos acréscimos da última rodada, um gol contra decretou a derrota para o Kawasaki por 2x1, que derrubou o Iwata para 16º. Até ano passado, isso significaria rebaixamento automático. Só que o novo regulamento prevê que o antepenúltimo da J1 ainda faz um jogo contra o vencedor dos playoffs da J2 valendo a última vaga na elite. Com a vantagem de jogar no Yamaha e poder empatar, o Júbilo se impôs diante do Tokyo Verdy e venceu por 2x0, encerrando com certo alívio uma temporada desastrosa.

O gol salvador. Em cobrança de falta ensaiada, Taishi Taguchi chutou a bola no buraco que seus companheiros abriram na barreira do Tokyo Verdy e fez o gol que decidiu o playoff e selou a permanência do Júbilo Iwata na primeira divisão. Foi o único gol da equipe em cobrança direta de falta no ano inteiro. Número assustador para quem tem Shunsuke Nakamura como craque e camisa 10.

Time-base do Júbilo Iwata em 2018 — Foto: Futebol no Japão

17º - KASHIWA REYSOL - Sonhou com ACL, acordou na J2

Em 2017:
Expectativa para 2018: ★★★★ Candidato ao título
Resultado: Péssimo - Rebaixado pela terceira vez
Campanha: 39 pontos - 34J, 12V, 3E, 19D, 47GP, 54GC, -7SG
ACL: Eliminado na fase de grupos
Copa da Liga: Eliminado nas quartas de final (3x3 Ventforet Kofu no placar agregado; perdeu no critério dos gols fora)
Copa do Imperador: Eliminado na 3ª fase (0x1 Montedio Yamagata)
Média de público: 11.402 (17ª) [+6,2%]
Técnico: Takahiro Shimotaira (até a 14ª rodada) / Nozomu Kato (da 15ª até a 32ª rodada) / Ken Iwase (33ª e 34ª rodadas)

Artilheiros: Ataru Esaka (9 gols), Yusuke Segawa (9), Cristiano (8), Junya Ito (6)
Líderes de assistências: Junya Ito (10), Cristiano (7), Ataru Esaka (6), Masashi Kamekawa (4)
O jogador do ano: Junya Ito
Outros destaques:
Ataru Esaka, Cristiano
A revelação: Ninguém
A decepção: Quase o time todo

O driblador Junya Ito foi até convocado para a seleção em 2018, mas não foi capaz de salvar o Kashiwa Reysol do rebaixamento — Foto: Koki Nagahama / Gekisaka

Certamente, rebaixamento era algo que nem passava pela cabeça do torcedor do Reysol no início do ano. A diretoria fez muitas contratações, principalmente para o ataque, e tinha um plantel teoricamente forte para disputar títulos. A meta em 2018 era ganhar a ACL, competição que o clube sempre valorizou. Mas o principal objetivo logo foi por água abaixo, com atuações apáticas e uma tendência de sempre sofrer gols nos minutos finais. Vencia o Jeonbuk (Coreia do Sul) por 2x0, mas levou a virada no fim. Vencia o Tianjin Quanjian (China) por 1x0, mas cedeu o empate no fim. Só três pontos conquistados nos duelos contra o modestíssimo Kitchee (Hong Kong), incluindo uma derrota com gol aos 90', decretaram a eliminação precoce na fase de grupos do torneio continental.

Na J-League também o Reysol patinava e não conseguia se aproximar dos líderes. Em maio, após duas derrotas em casa (1x2 Iwata e 1x2 Kawasaki), ambas de virada e com gols sofridos no finalzinho, Shimotaira foi demitido. O time estava em 11º, o que já era uma situação de crise. O assistente e ex-jogador da casa Nozomu Kato assumiu o comando, para sua primeira experiência treinando um time profissional. Ele venceu o primeiro jogo (3x2 Nagoya) e teve os dois meses de parada para a Copa do Mundo para colocar as coisas nos trilhos. Só que o pior ainda estava por vir.

O segundo semestre começou com quatro derrotas seguidas, incluindo uma humilhante goleada por 6x2 diante do arquirrival Antlers. O Kashiwa caiu para 15º e o risco de J2 começou a bater na porta. Alternando vitórias e derrotas, o time até esboçou reação, mas os concorrentes na parte de baixo da tabela estavam em um ritmo mais forte na reta final. O péssimo desempenho de setembro a novembro, com só quatro pontos conquistados em oito rodadas, definiu o terceiro rebaixamento da história do clube, praticamente sacramentado na antepenúltima rodada, com uma derrota em casa, de virada e diante do Kashima.

A diretoria pagou caro pela insistência em continuar com o inexperiente Kato, que só foi demitido faltando dois jogos para o fim. Ken Iwase, que estava na comissão técnica como auxiliar, assumiu para as duas últimas rodadas, mas matematicamente já não havia muita esperança. Mesmo com a vitória sobre o Cerezo por 3x0 em Osaka, a queda para a J2 foi confirmada.

O sistema ofensivo não teve tantos problemas. Cristiano foi menos decisivo que em outros anos, mas ainda assim fez boa temporada. Junya Ito, principal driblador da liga, tornou-se um jogador de seleção. Esaka e Segawa não fizeram feio no ataque. Mas o resto do time não rendeu o que se esperava.

A defesa era uma das virtudes da equipe e com potencial para evoluir ainda mais, focada em três pratas da casa: o goleiro Nakamura e os zagueiros Nakatani e Nakayama. Porém, Nakamura perdeu metade da temporada se recuperando de duas concussões que sofreu em sequência. Nakatani, após um início inconstante, foi vendido ao Nagoya em junho. Nakayama ficou lesionado boa parte do returno e só jogou seu melhor futebol nas duas rodadas finais. Com o sistema defensivo desfigurado no decorrer do campeonato, além de contratações que não vingaram como o zagueiro Nathan Ribeiro e o lateral Toshiya Takagi, o Reysol teve o quarto maior número de gols sofridos. Com o retorno do ídolo Nelsinho Baptista, é desde já um dos favoritos a retornar à elite em 2019, mas do jeito que a J2 tem sido disputada e imprevisível, todo cuidado será pouco.

- Do meio do campo, Cristiano marcou o gol que foi escolhido mais bonito de dezembro na J1. Junya Ito também ganhou o prêmio de gol do mês, em maio.

- O Reysol igualou o recorde de maior pontuação para um rebaixado (39), que era do Vissel Kobe de 2012. Ano passado, por exemplo, o Hiroshima se salvou com apenas 33.

- Número de dribles e porcentagem de dribles certos na temporada (via @OptaJiro)
160 (46,9%) - Junya Ito (Kashiwa)
149 (57,1%) - Diego Oliveira (Tokyo)
102 (67,7%) - Chanathip Songkrasin (Sapporo)
92 (34,8%) - Patric (Hiroshima)
89 (41,6%) - Yuma Suzuki (Kashima)

Time-base do Kashiwa Reysol em 2018 — Foto: Futebol no Japão

18º - V-VAREN NAGASAKI - Um ano de estágio na J1

Em 2017: 2º na J2 (promovido)
Expectativa para 2018: ★ Favorito ao rebaixamento
Resultado: Ruim - Rebaixado como último colocado
Campanha: 30 pontos - 34J, 8V, 6E, 20D, 39GP, 59GC, -20SG
Copa da Liga: Eliminado na fase de grupos
Copa do Imperador: Eliminado na 3ª fase (perdeu para o Shonan Bellmare nos pênaltis)
Média de público: 11.225 (18ª) [+88,9%]
Técnico: Takuya Takagi

Artilheiros: Musashi Suzuki (11 gols), Keita Nakamura (7), Juanma (6)
Líderes de assistências: Juanma (5), Takashi Sawada (5), Hijiri Onaga (4), Ryutaro Iio (4)
O jogador do ano: Musashi Suzuki
Outros destaques:
Kenta Tokushige, Hijiri Onaga, Keita Nakamura, Takashi Sawada, Juanma
A revelação: Ninguém
A decepção: Ben Halloran

Desencantou: Musashi Suzuki tinha nove gols em oito anos de carreira. Só em 2018, fez 11 — Foto: Getty Images

Só o fato do Nagasaki ter disputado a J1 este ano já foi um milagre, tendo em vista as dificuldades que o clube passou em 2017, incluindo uma quase falência. Estreante na elite, com um dos menores orçamentos e nenhuma grande contratação, já se sabia que seria preciso um novo milagre para sobreviver na J1. O resultado foi o que já se esperava: rebaixamento e como último colocado. O V-Varen, porém, fez uma campanha digna. Passou a maior parte do primeiro semestre fora da zona de descenso. Nas 20 primeiras rodadas, só em quatro ficou no Z-3. Com 30 pontos, teve a maior pontuação de um último colocado na história da J-League em pontos corridos. Já teve até time que se salvou com 30 pontos, como foi o caso do Albirex Niigata em 2016.

O Nagasaki pelo menos conseguiu ser competitivo. Levou sete rodadas até vencer pela primeira vez na J1 (1x0 Shimizu), mas emendou quatro vitórias seguidas e, ao fim da décima rodada, estava em nono. Venceu só mais uma vez nos cinco jogos seguintes até a parada para a Copa do Mundo, mas até aí tudo estava bem. O problema é que no segundo semestre os times da parte de baixo da tabela começaram a reagir (Gamba, Tosu e Nagoya estavam atrás do Nagasaki na virada do turno, mas todos deram um jeito de se salvar), e o V-Varen não teve forças para acompanhar o ritmo. Ficou para trás, caiu para a lanterna na 23ª rodada e não saiu mais da última colocação.

Entre os estrangeiros, o espanhol Juanma (ex-UCAM Murcia) e o holandês Jordy Buijs (ex-Sydney FC) deram conta do recado e se firmaram como titulares, mas o australiano Ben Halloran (ex-Heidenheim) e o espanhol Jairo Morillas (ex-Espanyol) decepcionaram e quase não entraram em campo.

Mesmo de volta à J2, a experiência de um ano na elite pode ter sido um primeiro passo para o clube almejar voos mais altos. Este ano, o presidente Akira Takata anunciou o projeto de construção de um novo estádio, na região central da cidade de Nagasaki, com capacidade para 23 mil pessoas e que deve ficar pronto em 2023. Makoto Teguramori, ex-seleção olímpica do Japão, assume o comando a partir de 2019.

Dérbi da Paz. Pela primeira vez na história do futebol japonês, os times das cidades de Hiroshima e Nagasaki se enfrentaram, no que ficou conhecido como o "Dérbi da Paz". O Hiroshima se deu melhor e venceu o duelo nos dois turnos, ambos por 2x0.

Time-base do V-Varen Nagasaki em 2018 — Foto: Futebol no Japão

Números da J1 2018:
Artilheiro:
Jô (Nagoya), 24 gols
Líder de assistências: Yosuke Kashiwagi (Urawa), 13
MVP: Akihiro Ienaga (Kawasaki)
Melhor jogador jovem: Hiroki Abe (Kashima)
Melhor técnico: Mihailo Petrovic (Sapporo)
Maior público: 55.689 - Urawa Reds 4x0 Vissel Kobe - 27ª rodada
Menor público: 6.193 - Shimizu S-Pulse 0x1 V-Varen Nagasaki - 7ª rodada
Total de gols: 813 (média de 2,66 por jogo)
Média de público: 19.064
Jogadores estrangeiros: 104 - Brasil (39), Coreia do Sul (24), Austrália (6), Espanha (5), Tailândia (5), Coreia do Norte (2), Croácia (2), Sérvia (2), Albânia/Kosovo (1), Alemanha (1), Camarões (1), Catar (1), China (1), Colômbia (1), Curaçao (1), Eslovênia (1), Filipinas (1), Holanda (1), Inglaterra (1), Líbano (1), Macedônia (1), Polônia (1), Portugal (1), Quênia (1), Rússia (1), Turquia (1), Uzbequistão (1)

Resumo de cada rodada dos torneios de 2018:
Supercopa
J-League:
- - - - - - - - - 10ª - 11ª - 12ª - 13ª - 14ª - 15ª - 16ª - 17ª - 18ª - 19ª - 20ª - 21ª - 22ª - 23ª - 24ª - 25ª - 26ª - 27ª - 28ª - 29ª - 30ª - 31ª - 32ª - 33ª - 34ª
Liga dos Campeões da Ásia: Playoff - - - - - - - Oitavas (ida) - Oitavas (volta) - Quartas (ida) - Quartas (volta) - Semifinal (ida) - Semifinal (volta) - Final (ida) - Final (volta)
Copa da Liga: - - - - - - Playoffs - Quartas (ida e volta) - Semifinais (ida e volta) - Final
Copa do Imperador: 1ª e 2ª - - Oitavas - Quartas - Semifinal - Final
Copa Suruga
Kashima Antlers no Mundial: Quartas de final - Semifinal

Classificação final da J1: Kawasaki, Hiroshima e Kashima classificaram-se para a ACL junto com o Urawa Reds, campeão da Copa do Imperador. Kashiwa e Nagasaki foram rebaixados para a J2, enquanto o Iwata se salvou no playoff — Foto: J.League.jp

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