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Por Tiago Bontempo

Kaoru Watanabe / Gekisaka

Se o Japão chegou nesta Copa da Ásia entre os favoritos, junto com Irã, Coreia do Sul e Austrália, o otimismo da torcida era minado aos poucos com cada notícia de desfalque por lesão, principalmente Shoya Nakajima. O novo camisa 10 já havia se tornado a estrela da era Moriyasu e foi o melhor em campo em três dos quatro amistosos pós-Copa do Mundo que disputou. Porém, ele se lesionou no último jogo que fez pelo Portimonense antes de se apresentar à seleção e não disputará o torneio continental nos Emirados Árabes Unidos. Da lista de 23 convocados anunciada em dezembro, mais dois cortes: Takuma Asano e Hidemasa Morita - vieram para os lugares deles Takashi Inui, Yoshinori Muto e Tsukasa Shiotani. Sem falar em Yuma Suzuki e Kento Misao, que nem foram convocados porque já estavam lesionados. Assim como Gen Shoji, que não foi chamado nenhuma vez por Moriyasu pelo mesmo motivo e ficou de fora da lista final para se concentrar na adaptação ao seu novo clube, o Toulouse.

De qualquer forma, o primeiro adversário da fase de grupos pouco assustava. Dos 24 participantes da Copa da Ásia, o Turcomenistão é o segundo pior colocado no ranking da Fifa (127º), só atrás do Iêmen (135º). Em preparação para esse jogo, os Samurais Azuis haviam vencido com facilidade o Quirguistão, equipe teoricamente parecida e mais forte que os turcomenos, por 4x0 em amistoso realizado em Toyota dois meses atrás, usando time reserva. Desde que se classificou para o torneio, em março do ano passado, a seleção turcomena, apelidada de "Esmeraldas", fez apenas um amistoso oficial, em dezembro, com vitória sobre o Afeganistão por 2x0.

Só que jogar fora de casa é sempre mais difícil. O Japão não tinha mais um estádio lotado a seu favor, um clima que já estão acostumados e nem um adversário sofrendo de jet lag por várias horas de viagem. Uma das críticas à JFA, reforçada pelo atacante Shinji Okazaki nas redes sociais, é a necessidade de fazer mais amistosos fora de casa.

Copa da Ásia costuma ser um momento de fortes emoções para o torcedor japonês. Quando foi campeão pela última vez, em 2011, teve vitória na prorrogação, nos pênaltis, de virada com um a menos, gol de empate nos acréscimos evitando vexame na estreia... Foi um deus-nos-acuda. Em 2015, uma campanha que começou com três vitórias relativamente tranquilas na fase de grupos terminou de forma trágica no primeiro mata-mata. Talvez seja um bom sinal encontrar dificuldades desde o início.

É fato que Moriyasu subestimou o adversário de hoje. Foi consciente na escalação, ao fazer valer a melhor fase de Gonda no gol, com a mais experiente linha defensiva possível, com o promissor Tomiyasu como volante e Haraguchi como sucessor natural de Nakajima. Porém, o treinador se descuidou da parte tática, achando que encontraria um adversário tão inofensivo quanto o Quirguistão que enfrentou em novembro. O Turcomenistão veio fechadinho em um 5-4-1, mas teve muito espaço para contra-atacar e se aproveitou disso.

O Japão deixou o Turcomenistão jogar. Errava demais no ataque, com jogadas fora de sincronia e cedia espaço demais para contragolpes. Shibasaki até jogava bem, recuperando a bola em várias ocasiões, iniciando ataques e criando chances, mas Minamino e Haraguchi praticamente não apareciam. Doan acertava um ou outro lance, mas também errava além da conta. Errava domínios e passes, e foi com um passe errado dele que começou o contra-ataque em que os turcomenos fizeram o primeiro gol. O capitão Amanov corria com a bola, mas não era pressionado pela defesa japonesa. Yoshida e Sakai apenas observavam e deram todo o espaço para ele pensar e arriscar de longa distância. Uma bomba, mas quase no meio do gol. Gonda aceitou. E não foi um lance atípico, o adversário não jogava por uma bola. Eles já haviam chegado outras vezes e chegaram mais antes do intervalo. Os nipônicos também tiveram chances de empatar, mas não aproveitaram.

No segundo tempo, O Japão voltou melhor postado, com mais intensidade e às vezes até jogando no abafa, levantando a bola na área o tempo todo. A cada gol perdido, vinha aquela sensação de "será que a bola não vai entrar hoje?". Até que, de tanto pressionar, a zaga turcomena finalmente sucumbiu. Em um intervalo de quatro minutos, Osako marcou duas vezes, com assistências de Haraguchi e Nagatomo. Pouco depois, foi a vez de Doan deixar o dele. O jogo parecia decidido, mas ainda teve outro susto no final, com mais uma bola nas costas da defesa que terminou em pênalti de Gonda no atacante Annadurdyyev e convertido pelo volante Atayev.

Este foi o décimo jogo de Copa da Ásia em que o Japão foi para o intervalo perdendo. A boa notícia é que o time costuma reagir; só perdeu duas vezes, buscou o empate quatro vezes e esta foi a quarta virada.

Jogos de Copa da Ásia em que o Japão foi para o intervalo perdendo:
1988 - vs Coreia do Sul (0x2 no intervalo, terminou 0x2)
1992 - vs Coreia do Norte (0x1 no intervalo, terminou 1x1)
1992 - vs China (0x1 no intervalo, terminou 3x2)
1996 - vs Síria (0x1 no intervalo, terminou 2x1)
1996 - vs Kuwait (0x1 no intervalo, terminou 0x2)
2000 - vs Catar (0x1 no intervalo, terminou 1x1)
2004 - vs Bahrein (0x1 no intervalo, terminou 4x3)
2011 - vs Jordânia (0x1 no intervalo, terminou 1x1)
2015 - vs EAU (0x1 no intervalo, terminou 1x1)
2019 - vs Turcomenistão (0x1 no intervalo, terminou 3x2)

Copa da Ásia - Grupo F - 1ª rodada

09/01 - Japão 3x2 Turcomenistão - Al Nahyan Stadium, Abu Dhabi
Gols: Arslanmurat Amanov (27', 0x1), Yuya Osako (56', 1x1), Yuya Osako (60', 2x1), Ritsu Doan (71', 3x1), Ahmet Atayev (79', 3x2)

09/01 - Uzbequistão 2x1 Omã - Sharjah Stadium, Sharjah
Gols: Odil Akhmedov (34', 1x0), Muhsen Al Ghassani (72', 1x1), Eldor Shomurodov (85', 2x1)

Próximos jogos:
13/01 - 11h30 - Omã x Japão
13/01 - 14h00 - Turcomenistão x Uzbequistão
17/01 - 11h30 - Japão x Uzbequistão
17/01 - 11h30 - Omã x Turcomenistão

Formações iniciais de Japão (4-4-2) e Turcomenistão (5-4-1) — Foto: Futebol no Japão

Notas:
Shuichi Gonda - 5,0 -
Fez três defesas importantes, mas o primeiro gol era defensável. Demorou para reagir e aceitou um chute que veio forte e alto, mas perto do meio do gol. No final do jogo, ainda cometeu pênalti ao ser driblado por Annadurdyyev e não conseguiu defender a cobrança de Atayev.
Hiroki Sakai - 6,0 - Bem nos duelos um contra um, mas poderia ter pressionado Amanov no lance do primeiro gol. Ficou só olhando o turcomeno ajeitar, pensar e chutar. Pode fazer melhor no apoio ao ataque.
Maya Yoshida - 4,5 - Atuação desastrosa do capitão. Errava passes na saída de bola, não pressionava e marcava mal. Foi mal nos lances dos dois gols e quase fez um contra.
Tomoaki Makino - 6,0 - Estava mal posicionado no lance do pênalti aos 78', mas de resto teve boas intervenções.
Yuto Nagatomo - 6,5 - O primeiro lance de perigo do adversário, aos 17', foi um lançamento nas costas dele. Não fez um bom primeiro tempo, mas melhorou no segundo e foi decisivo no lance da virada, com o passe para o gol de Osako.
Takehiro Tomiyasu - 6,5 - O promissor zagueiro mostrou que é polivalente e fez uma boa partida como volante. Ganhou a maioria das disputas e até apareceu no ataque algumas vezes.
Gaku Shibasaki - 6,5 - Único no ataque que fez um bom primeiro tempo, com várias roubadas de bola e iniciando as jogadas ofensivas. Errou alguns passes que deixaram a equipe exposta, mas no geral um desempenho positivo.
Ritsu Doan - 6,5 - Parecia que a bola queimava no pé dele. No início, chamou a atenção pelos domínios errados e um passe mal calculado que terminou no primeiro gol sofrido. Mas ele estava sempre lá participando dos lances de ataque. Melhorou no segundo tempo e marcou o terceiro gol japonês na partida. Com 20 anos, ele é o jogador mais jovem a fazer um gol nesta edição da Copa da Ásia.
Genki Haraguchi - 6,0 - Fez um péssimo primeiro tempo e quase não foi visto em campo. Só entrou no jogo no segundo tempo, com o passe para o gol de empate de Osako e algumas boas jogadas pelo lado esquerdo.
Takumi Minamino - 5,5 - Mais um que não se encontrava em campo. Não conseguia dar sequência nas jogadas e quase sempre perdia a bola. Aos 71' deu o passe para o terceiro gol, marcado por Doan, mas no geral uma atuação decepcionante.
Yuya Osako - 7,5 (melhor em campo) - Mais um exemplo de sua importância para o time como centroavante. Ajudou a criar espaços na defesa adversária, fez bem o pivô em alguns lances e, apesar da boa chance desperdiçada no primeiro tempo, foi decisivo no segundo com os dois gols que viraram o jogo para o Japão.
Koya Kitagawa - 5,5 - Entrou no lugar de Minamino, mas só apareceu mesmo no lance em que perdeu a bola no campo de defesa, originando o segundo gol turcomeno.
Hajime Moriyasu - 5,5 - Apesar de ter escalado o time que se esperava, subestimou o adversário com uma postura imprudente. Deixou espaços demais para o contra-ataque, a defesa pressionava pouco na marcação e o ataque demorou para se encontrar. Taticamente, ainda precisa fazer muitos ajustes.

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