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Por Tiago Bontempo

Reuters / Aflo

Aconteceu a primeira "zebra" desta Copa da Ásia. É verdade que o Iraque não é uma seleção qualquer. Já foi até campeão em 2007 e vinha como segunda força do Grupo D, mas o favoritismo do Japão era enorme para esse duelo que valia a vaga antecipada nas oitavas de final. Os Leões da Mesopotâmia tizeram uma atuação praticamente perfeita, com um gol no início e outro no final do primeiro tempo, ambos do centroavante Aymen Hussein, e se defenderam bem em toda a partida. Tanto que o único gol japonês, marcado pelo capitão Wataru Endo, só aconteceu por causa de uma saída errada do goleiro Jalal Hassan pelo alto nos acréscimos do segundo tempo.

Assim, terminou em dez a maior sequência de vitórias consecutivas da história da seleção japonesa (e não 11, como reportaram alguns veículos, porque o jogo contra a Jordânia no dia 9 deste mês foi apenas um jogo-treino e não um amistoso, logo não tem caráter oficial e não entra nos registros da JFA). Além disso, foi a primeira derrota do Japão em fase de grupos da Copa da Ásia desde a edição 1988, quando participou pela primeira vez do torneio, com uma seleção de universitários, na época em que a Copa da Ásia não era prioridade para a JFA. A partir de 1992, quando começou a jogar o torneio com a seleção principal, o Japão nunca tinha perdido na primeira fase. E também foi a primeira derrota para o Iraque desde 1982 (!). Depois da Agonia de Doha em 1993 (empate em 2x2), eram sete vitórias japonesas e um empate em oito jogos.

Formações iniciais: Moriyasu escalou quase o mesmo time que venceu o Vietnã por 4x2 na estreia. As mudanças foram Kubo no lugar de Keito Nakamura, jogando centralizado (deslocando Minamino para a esquerda), e Asano na vaga de Hosoya. Mitoma, que já voltou a treinar, continuou de fora até do banco. Já o Iraque treinado pelo espanhol Jesús Casas veio com cinco alterações depois de vencer a Indonésia por 3x1 na primeira rodada — Foto: Futebol no Japão

Se 2023 foi o melhor ano da história da seleção japonesa em questão de desempenho, 2024 começou com muitas dúvidas. A defesa, que vacilou duas vezes contra o Vietnã, voltou a sofrer dois gols no primeiro tempo. E poderia ter sofrido mais, porque chances para isso o Iraque teve. E o ataque, que funcionou bem na estreia com os protocolares quatro gols, hoje foi completamente anulado. O Japão teve apenas duas finalizações certas em toda a partida. A primeira foi só no minuto 60, um cabeceio de Itakura direto nas mãos do goleiro em jogada de escanteio. A segunda foi o gol, aos 90+3'.

Vamos à questão do goleiro. Zion Suzuki falhou nos dois jogos e muita gente está se perguntando se o Japão não tem alguém melhor para a posição. Havia um receio de que poderia ser cedo demais para Zion, que é o principal goleiro da seleção olímpica, assumir a titularidade na principal. Mas a princípio seria a escolha natural, pois nenhum dos três que estavam à frente dele foram convocados. Daniel Schmidt ficou meses sem jogar até se transferir agora para o Gent e no Sint-Truiden perdeu a posição justamente para Zion. Kosuke Nakamura, do Portimonense, também estava sem ritmo porque não atuava desde setembro, quando lesionou o ombro. E Keisuke Osako, do Sanfrecce Hiroshima, está lesionado e já era ausência certa. Alguns vão lembrar de Shuichi Gonda, que foi o titular na Copa do Mundo, mas desde então ele não foi mais chamado e vem jogando na J2 pelo Shimizu S-Pulse. Então a decisão de Moriyasu agora fica entre dar mais um voto de confiança a Zion, que tem potencial para ser o dono da posição pelos próximos anos, ou dar uma chance a Kazuya Maekawa, que está longe de ser um goleiro brilhante, mas vem de uma boa temporada com o Vissel Kobe e a conquista inédita da J.League.

Tão ou mais importante que a situação do goleiro é a lateral esquerda, onde Hiroki Ito continua sendo um elo fraco, por mais que seja um nome bem avaliado na Europa. A sua falta de eficiência nas subidas foi um dos fatores para o ataque japonês ter ido tão mal hoje. Yuta Nakayama, que em condições normais é o titular no setor, acabou de se recuperar de uma lesão que o deixou de fora dos relacionados no primeiro jogo e apenas no banco neste segundo. Quem sabe no terceiro ele já começa jogando.

Na frente, a impressão é que a estratégia inicial de Moriyasu foi por água abaixo depois do primeiro gol sofrido. Asano rende mais jogando em velocidade, correndo no espaço às costas dos zagueiros e em contra-ataques. Com o Iraque naturalmente recuado depois de fazer o gol, Asano ficou perdido no meio da marcação, incapaz de fazer um pivô ou jogadas de passes curtos com os meias. Mas o técnico japonês demorou para fazer mudanças. Voltou do intervalo apenas com Tomiyasu na vaga de Taniguchi e trocas de posição entre os meias. Kubo foi para a direita, Minamino para o centro e Junya Ito para a esquerda. O que até melhorou o ataque, mas só melhorou de "muito ruim" para "ainda não é o bastante", já que o goleiro adversário continuava a não ser testado. Doan, que substituiu Kubo na direita, deu mais dinamismo ao ataque, mas Ueda, que entrou no lugar de Asano, também foi pouco acionado. O tempo passava e aquela pressão mais intensa que se espera de um time que está perdendo não veio até os acréscimos, quando a a defesa iraquiana enfim falhou. O Japão quase empatou, mas pelo conjunto da obra o Iraque mereceu mais.

Na próxima quarta-feira, dia 24, o Japão fecha a fase de grupos enfrentando a Indonésia (que derrotou hoje o Vietnã e vai fazer o jogo da vida para se classificar). Caso não aconteça uma zebra maior ainda, o mais provável é uma classificação em segundo lugar no grupo, o que tiraria o Japão do lado teoricamente mais fácil do chaveamento (o primeiro do Grupo D joga nas oitavas contra um dos melhores terceiros colocados e só poderia pegar um vencedor de grupo nas semifinais) para um possível duelo contra a Coreia do Sul já nas oitavas, pois o segundo colocado do Grupo D vai jogar contra o primeiro do Grupo E, que tem, além da Coreia, Jordânia, Bahrein e Malásia.

Copa da Ásia - Grupo D - 2ª rodada
Iraque 2x1 Japão
Education City Stadium, Al Rayyan - Público: 38.663
Gols: Aymen Hussein (5', 1x0), Aymen Hussein (45+4', 2x0), Wataru Endo (90+3', 2x1)

Notas:
Zion Suzuki - 5,0 -
Mais uma vez falhou ao rebater errado uma bola, dando um gol de presente ao adversário. Não teve culpa no segundo gol, mas mostrou insegurança em outros momentos.
Yukinari Sugawara - 5,0 - Mais uma partida ruim defensivamente, com uma falha crucial no lance do segundo gol. Apareceu bem em algumas jogdas de ataque.
Ko Itakura - 5,5 - Teve dificuldade na marcação principalmente nos duelos contra Aymen Hussein.
Shogo Taniguchi - 5,5 - Mais um que não passou segurança na defesa e ainda deu susto na saída de bola.
Hiroki Ito - 4,5 - O pior do Japão em campo. Desperdiçou inúmeras jogadas e errou quase todos os cruzamentos nas tentativas de apoio pelo lado esquerdo. Também foi mal na defesa e chegou atrasado na marcação de Hussein no segundo gol.
Wataru Endo - 6,5 - Não começou tão bem o jogo, mas foi presença importante no meio-campo como de costume. Perdeu uma chance de gol em uma tentativa frustrada de meia-bicicleta, mas marcou de cabeça o gol do Japão nos acréscimos.
Hidemasa Morita - 6,0 - Mais um que começou abaixo do que costuma jogar, mas foi melhorando no decorrer da partida e participou de boas trocas de passe no ataque.
Junya Ito - 6,0 - Apareceu bem com alguns dribles e jogadas pela linha de fundo, mas também teve dificuldades contra a marcação de Ahmed Yahya. Algumas das melhores jogadas do Japão saíram dos pés dele.
Takefusa Kubo - 6,0 - O que mais deu trabalho à marcação iraquiana no primeiro tempo, mas teve pouco apoio dos companheiros, que não o ajudaram nas jogadas e desperdiçaram seus passes.
Takumi Minamino - 6,0 - Fez um primeiro tempo apagado na meia esquerda. Melhorou no segundo quando foi jogar pelo centro e só aí conseguiu participar de algumas boas jogadas, mas faltou um lance decisivo.
Takuma Asano - 5,0 - Foi o que menos tocou na bola entre os titulares e ainda desperdiçou duas boas chances, aos 32' quando recebeu passe de Kubo na área e chutou torto e aos 56' no pênalti anulado pelo VAR.
Takehiro Tomiyasu - 5,5 - Não mostrou o ritmo de jogo ideal e não foi melhor que Taniguchi. Perdeu duelos contra Mohanad Ali que levaram perigo e, quando apareceu de surpresa na área adversária nos acréscimos, errou o cruzamento.
Ritsu Doan - 6,0 - Jogou a última meia hora, pelo lado direito do ataque, e foi bastante participativo, aparecendo na maioria dos lances de perigo do Japão. Poderia ter deixado o dele em cobrança de falta ou em um bate-rebate na área em que a bola sobrou com ele, mas mandou por cima nas duas oportunidades.
Ayase Ueda - 5,5 - Assim como Asano, acabou engolido pela marcação iraquiana, que ainda reforçou a defesa com a entrada de um terceiro zagueiro, e praticamente não apareceu em campo. Não recebeu uma única bola em condições de finalizar.
Reo Hatate - 6,0 - Jogou os 16 minutos finais no lugar de Morita e demorou um pouco para se acertar, mas ajudou a deixar o Japão mais incisivo no ataque. Foi dele a assistência do gol japonês.
Daizen Maeda - 5,5 - Seu único momento positivo foi ao recuperar uma bola no campo de defesa e iniciar contra-ataque. De resto, não ameaçou muito jogando pela ponta esquerda e ainda desperdiçou uma chance de gol ao cabecear para fora um bom cruzamento de Minamino aos 83'.
Hajime Moriyasu - 4,5 - As apostas em Zion Suzuki no gol, Hiroki ito na lateral esquerda e Asano na frente não deram certo e a sua estratégia inicial desmonorou logo no início. Demorou a mexer depois do péssimo primeiro tempo e só nos acréscimos o time ensaiou uma pressão mais intensa em busca do empate. Foram apenas duas finalizações certas na partida. A pior atuação do Japão desde a derrota para a Costa Rica na Copa do Mundo.
(Peso das notas: 5,0 = Muito ruim; 5,5 = Ruim; 6,0 = Razoável; 6,5 = Bom; 7,0 = Muito bom)

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