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Por Leonardo Miranda

Jornalista, formado em análise de desempenho pela CBF e especialista em tática e estudo do futebol


A grande final do Mundial de Clubes, que acontece neste sábado (11), às 16h, é mais um capítulo no eterno debate entre o desequilíbrio entre o futebol europeu e o resto do mundo.

O desequilíbrio fica evidente na competição. O Corinthians teve que suar para vencer o Chelsea, em 2012, e permanece como o último clube latino a vencer um europeu. Com faturamentos altos, Palmeiras e Flamengo jogaram bem contra Liverpool e Chelsea, mas não seguraram o ímpeto dos europeus.

Outro time, pouco lembrado, também fez um excelente jogo e quase venceu o Mundial: o Estudiantes de Alejandro Sabella, que deu um verdadeiro “nó tático” no Barcelona.

Num vídeo resgatado há anos atrás, na ocasião do falecimento do treinador em 2016, Sabella relembra como planejou o jogo e conseguiu o que nenhum time até então tinha feito: travar Messi e Guardiola no auge. A equipe de La Plataformonas abriu o placar e segurou até os 44 min do 2º tempo. Na prorrogação, Messi - como sempre - decidiu o título.

Alejandro Sabella e Clemente Rodriguez Estudiantes 2009 — Foto: Getty Images

Sabella mandou a campo o Estudiantes num 3-4-2-1: Albil no gol, Desabáto, Cellay e Ré na defesa, Clemente Rodríguez e Diáz como alas, com Enzo Pérez, Braña Verón no meio e Boselli e Benítez no ataque.

A primeira mudança tática de Sabella para a final foi jogar com cinco defensores. "Fizemos linha de cinco, mas com uma particularidade: os laterais jogavam avançados. Jogávamos com três defensores centrais", explicou Sabella, no vídeo. Com isso, German Ré colava em Messi pela direita e Desábato e Cellay ficavam na área, criando superioridade numérica sobre Ibrahimovic.

Com três zagueiros, Estudiantes conseguiu impedir Ibrahimovic de jogar — Foto: Reprodução

No meio de campo, Sabella apostou em igualar o número de jogadores: "Onde o Barça era forte? Normalmente os times jogavam em 4-4-2 contra o Barcelona, e no centro do campo ficavam três do Barça contra dois do rival. Assim, não tiravam a bola deles”. Com Verón no meio, o Barcelona perdia o elemento surpresa: Braña colava em Keita, Benitéz marcava Xavi e Verón ficava com Busquets.

Com a bola, Busquets nem sempre retornava e deixava Verón, um dos principais do jogo, livre. Na imagem abaixo, você vê o meia argentino livre para armar o jogo, com Busquets atrás dele. O Barcelona não estava acostumado a enfrentar rivais com três no meio e uma defesa tão colada em Messi assim - o ano era 2009 e Guardiola era uma novidade.

Verón foi fundamental ao se lançar nas costas de Busquets — Foto: Reprodução

Outra mudança foi usar Enzo Pérez (que jogou uma barbaridade) ao lado de Boselli, quase como um atacante. A ideia era marcar a forte saída do Barcelona pela direita, com Daniel Alves, numa marcação dobrada com o ala Díaz. Boselli também recebia a orientação de marcar a saída de Piqué e deixar Puyol, reconhecimente menos técnico, livre.

O que se viu na final foi um Barcelona irreconhecível: chutões, lançamentos, jogo tipicamente de Libertadores numa final de Mundial. Sabella conseguiu anular a criatividade do melhor time do mundo naquela época e obrigou o Barcelona a fazer chuveirinho na área - foi assim que Piqué escorou para Pedro marcar o gol de empate.

Considerado um meio-termo entre Bilardo e Menotti, Sabella foi auxiliar de Daniel Passarela por muitos anos, e se provou ser melhor que o principal em sua curta e intensa carreira como treinador principal. No Estudantes, chegou em 2009 e de cara venceu o favorito Cruzeiro, na famosa final da Libertadores no Mineirão.

Messi e Alejandro Sabella derrota Argentina — Foto: AFP

O trabalho o credenciou a assumir a seleção argentina em 2011, na qual classificou a equipe em primeiro lugar nas eliminatórias e chegou até a final da Copa do Mundo, perdendo para a Alemanha.

José Mourinho nunca falou publicamente, mas fica claro como o jogo influenciou nas estratégias para a Inter de Milão fazer dois confrontos espetaculares contra essa mesma equipe, meses após o Mundial - que por um triz, não foi de um time e um treinador que merecem uma memória maior.

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