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Por Leo Hamawaki, GloboEsporte.com — Buenos Aires


Trezeguet com a taça Fifa — Foto: Juan Mabromata / AFP

David Trezeguet fez parte da geração mais vitoriosa da França. Ao lado de Zinedine Zidane, Lillian Thuram, Thierry Henry, Didier Deschamps, Patrick Vieira, Fabien Barthez, ganhou a Copa do Mundo de 1998, com apenas 20 anos. Dois anos depois, faturou a Eurocopa disputada na Bélgica e na Holanda. Além do sucesso com a camisa francesa, Trezeguet é idolo da Juventus, onde jogou por dez anos. Filho de pai argentino, o ex-atacante francês viveu parte da vida em Buenos Aires. Começou a carreira no Platense, antes de se transferir para o Monaco. No fim da carreira, voltou à Argentina e vestiu as camisas de River Plate e Newell’s Old Boys.

Com três Copas do Mundo disputadas, ele viveu extremos na competição. Do título em 1998, passando pela decepção com a eliminação na primeira fase em 2002, até a perda do penâlti decisivo na final de 2006, que custou o bicampeonato mundial aos franceses.

Em entrevista ao Globoesporte.com, Trezeguet, que é um dos embaixadores do Tour da Taça da Copa, falou sobre as seleções favoritas na Rússia, sobre a nova geração francesa, a ligação com a Argentina, o penâlti perdido na final de 2006, além de Neymar, Coutinho e a seleção brasileira.

Em 1998, você jogou os seis primeiros jogos, mas não a final. O que você recorda destas partidas memoráveis para os franceses?

TREZEGUET - Para nós é memorável porque fomos um dos poucos países que conseguiram ganhar o Mundial em casa. E sobretudo porque era contra um rival histórico. O Brasil de Ronaldo, Rivaldo, Dunga era o favorito para ganhar a Copa. Nessa final, nós fizemos uma partida extraordinária. Não há dúvida de que fomos superiores ao Brasil, com um resultado contundente. E marcamos uma história não só esportiva, mas também social, cultural, pela situação que a França passava em outros níveis que não o esportivo. Notamos que o futebol uniu muitas coisas. E a partir daí, ganhamos a Eurocopa de 2000 e isso também fez com que tivesse uma troca forte na mentalidade do futebol francês e hoje em dia ter o objetivo de ganhar uma Copa do Mundo e uma Eurocopa.

Copa do Mundo da França: França 3 x 0 Brasil (1998)

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Se Ronaldo estivesse 100%, talvez o jogo poderia ter sido diferente? O Brasil seria campeão em 1998?

- As circunstâncias mostraram que Ronaldo não estava apto para jogar futebol. Mas são circunstâncias da vida que não estava ao alcance da França. E nós estavámos muito concentrados na final.

Em 2006, você entrou durante a prorrogação e foi o único a errar uma cobrança nos pênaltis na final, vencida pela Itália. Você ainda pensa nisso?

- Creio que os jogadores de alto nível têm que assumir suas responsabilidades, sejam positivas ou negativas. É onde se marca a diferença entre um jogador normal e um grande jogador. Assumi minhas responsabilidades com muita serenidade e tranquilidade, lamentavelmente não de maneira positiva, mas nunca vivi como um trauma. Faz parte da nossa vida, faz parte também da vida de um jogador errar. São coisas que passam.

Melhores momentos: Itália vence a Copa do Mundo de 2006 em cima da França

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Quais são as seleções favoritas para a Copa na Rússia?

- Do meu ponto de vista, creio que, no nível europeu, tanto Alemanha quanto Espanha tiveram uma classificação muito mais simples que o restante. Têm jogadores de talento e equipes muito sólidas. Outra candidata interessante é a França, por uma questão de individualidades, de grupo, tem um treinador experiente. E depois, a história marca. O Brasil é um sério candidato pelo que mostrou na classificação e sobretudo porque voltou a encontrar uma identidade de jogo, com um treinador que entende bem das coisas e jogadores que recuperaram um nível internacional muito bom. E depois, seguramente, a Argentina também é uma candidata interessante, mesmo tendo uma classificação difícil e mesmo que nos últimos amistosos tenham deixado dúvidas. Mas contando com o melhor jogador do mundo, Lionel Messi, creio que seria normal pela sua história fazer um bom Mundial.

A França tem jovens talentos como Griezmann, Dembele, Mbappé, Mendy, Kimpempe. É uma das melhores gerações francesas? Para essa Copa é favorita ou é uma seleção que deve dar resultados concretos nos próximos anos?

- A França teve uma competição muito importante que colocou a equipe à prova: a Eurocopa de 2016 em casa. Perdeu a final, mas manteve um nível interessante e mostrou uma experiência sobretudo dos jogadores jovens. A França é uma candidata porque tem jogadores de grande prestígio, porque mostrou que é um país importante e acredito que tem as armas para poder ser protagonista neste Mundial. É verdade que a França passa por uma troca de gerações, tem um presente bom e um futuro com jogadores de um valor muito forte. Mas é verdade que a França tem o objetivo, assim como outras nações, de querer ganhar essa Copa do Mundo.

E a Argentina, muitos torcedores falam que a seleção argentina não se encontra em campo. Não tem uma identidade de jogo como equipe. Você concorda?

- É um fato concreto. A Argentina se classificou no último respiro. Muitas trocas na federação, de treinadores. Perdeu a identidade que refletia o que era o futebol argentino. E também dá a entender que mesmo tendo um dos melhores jogadores do mundo como Lionel Messi não basta. Nos últimos amistosos, a Argentina não deixou uma ideia clara e é verdade que nesse momento a Argentina é uma incógnita, é preciso ver se ela estará à altura. Eu creio que a equipe tem grandes jogadores individuais, porque eles jogam nos melhores times da Europa, mas é verdade que é preciso encontrar um grupo forte e sólido para disputar o Mundial.

Trezeguet recebe homenagem da Juventus em 2014 — Foto: Getty Images

A sua relação com a Argentina é forte. Seu pai é argentino de origem francesa. Chegou algum convite durante o início da carreira pra jogar na seleção argentina?

- Não teve uma possibilidade por conta de questões burocráticas de passaporte, não pude escolher outra nacionalidade porque sou francês. Mas, é verdade que as circunstâncias da vida me deram a possibilidade de ganhar uma Copa do Mundo e uma Eurocopa, os objetivos mais importantes para qualquer jogador. Eu cresci com essa imagem do Batistuta, do Crespo e bom, seguramente, eu poderia ter vestido a camisa da seleção argentina, teria sido um objetivo importante, mas as coisas seguiram de outra maneira. E uma boa maneira porque tive a chance de ganhar o troféu mais importante para um jogador de futebol.

Tem alguma arrependimento na carreira?

- O único arrependimento é não ter ganho a Liga dos Campeões. Faz parte dos objetivos dos grandes jogadores e, depois de ter vencido uma Copa e uma Eurocopa, esse é o troféu que me faltou. Joguei uma final com Milan (em 2003, pela Juventus) e perdemos.

Neymar e Coutinho são os principais nomes da seleção brasileira no momento. Eles têm a possibilidade de serem melhores do mundo?

- São jogadores extraordinários que tiveram a possibilidade de jogar contra esses dois fenômenos que são Cristiano Ronaldo e Messi. O parâmetro é muito alto e os objetivos desses jogadores é chegar nesse nível de Cristiano Ronaldo e Messi. Isso é importante para eles, para demonstrar que são também jogadores de valor. Nos últimos dez anos, a Bola de Ouro ficou dividida e dominada entre Ronaldo e Messi. É um objetivo muito importante para esses jogadores. Acredito que eles estão em um bom caminho. São jogadores diferentes, que marcam uma tendência, ganhadores. É isso que apreciamos.

Você estava jogando na Argentina no fim da carreira. Gostaria de ter jogado no futebol brasileiro?

- Sempre gostei da paixão do Brasil. Tive a oportunidade de jogar contra o Grêmio pelo Newells na Copa Libertadores. A verdade é que o futebol brasileiro reúne características de bom jogo, técnica e paixão. O futebol brasileiro para mim era um modo de se espelhar, porque revela jogadores sempre. Não tive a possibilidade, mas sempre assisti ao futebol brasileiro.

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