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Por Guido Nunes — Grenoble, França


Dez de junho de 2018 é a data mais importante da história do futebol feminino da Nova Zelândia. A seleção não disputara nenhum título importante nesse dia - na verdade, havia perdido um amistoso para o Japão por 3 a 1. A conquista foi fora de campo. A partir dali, um anúncio da confederação de futebol do país oficializava o que as mulheres neozelandesas buscaram por décadas: receber o mesmo tratamento que o futebol masculino.

Atualmente, na Nova Zelândia, as mulheres ganham os mesmos salários e bonificações que os homens, têm acesso aos mesmos centros de treinamentos e recebem as mesmas regalias - por exemplo, até junho de 2018, somente a equipe masculina viajava na classe executiva pra jogos fora do país .

Nova Zelândia estreou na Copa Feminina com derrota para a Holanda — Foto: REUTERS/Phil Noble

Uma das líderes nessa luta por igualdade foi a zagueira e capitã do time, Abby Erceng. Ela já havia deixado a seleção por duas vezes, mas voltou ao time depois da mudança de tratamento da confederação.

- Por muito tempo a gente jogou de graça, pelo amor ao futebol, mas é preciso entender que isso é um trabalho, uma carreira. Nós temos que ser pagas, e eu acho que as pessoas perceberam isso.

Melhores momentos de Nova Zelândia 0 x 1 Holanda pela Copa do Mundo de Futebol Feminino

Melhores momentos de Nova Zelândia 0 x 1 Holanda pela Copa do Mundo de Futebol Feminino

As neozelandesas não precisaram de títulos nem de vitórias para conquistarem a igualdade, pelo contrário. Na França, a seleção feminina está disputando o quarto mundial e ainda não venceu nenhum jogo na história do torneio. Com a derrota para o Canadá por 2 a 0, no sábado, agora são três empates e onze derrotas, em 14 partidas.

- Obviamente os resultados ajudam, vencer ajudaria muito mais. Mas acho que, no final das contas, o que importa é que isso precisa ser visto como um trabalho, e é o que nós conseguimos fazer - disse Abby Erceng.

Torcedoras de Canadá e Nova Zelândia se cumprimentam antes do jogo pela Copa do Mundo Feminina em Grenoble — Foto: REUTERS/Denis Balibouse

No masculino o retrospecto não é muito diferente. Foram duas participações em Copas, ambas sem vitórias e com eliminações na primeira fase. Em 1983, na Espanha, perdeu seus três jogos. Em 2010, na África do Sul, empatou os três, mas também não conseguiu ir às oitavas.

A discussão por igualdade está muito presente na Copa da França. Na Noruega, Ada Hegerberg, a principal jogadora do país, vencedora da Bola de Ouro, se recusou a jogar pela seleção enquanto as mulheres não receberem o mesmo tratamento que os homens).

Melhores momentos de Canada 2 x 0 Nova Zelândia pela Copa do Mundo de Futebol Feminino

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Na seleção brasileira, Marta mandou uma mensagem ao mundo depois de marcar o primeiro gol, de pênalti, contra a Austália, na última quinta-feira. Ela apontou para a chuteira preta, sem patrocínios, apenas com duas tarjas com as cores azul e rosa misturadas. Um símbolo de igualdade.

- É possível, porque nós conseguimos. Para países como o Brasil, onde as mulheres sempre vão tão bem, eu acho que é possível também. É só uma questão de continuar lutando até conseguir - disse Marta.

A Nova Zelândia enfrenta, na última rodada do Grupo D, a seleção de Camarões, na quinta-feira, em Montpellier. Mesmo com duas derrotas, para Holanda e Canadá, ainda há chances de se classificar para as oitavas de final. A seleção neolezandesa precisa vencer e esperar pelos resultados dos outros grupos para saber se ficará entre as quatro melhores terceiras colocadas.

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