Andrés Iniesta Luján acordou no dia 11 de julho já como um jogador internacionalmente consagrado por seus títulos com o Barcelona. Só não esperava que, aos 26 anos, se transformasse em um ídolo, ícone, espécie de mito nacional algumas horas depois. Aos 115 minutos de jogo, fim do segundo tempo da prorrogação da final da Copa do Mundo, o meio-campista deu apenas um toque na bola. Foi o suficiente para garantir o inédito título à Espanha e mudar sua vida para sempre: agora, é um ídolo nacional, que arranca aplausos até das torcidas rivais do Barça.
Iniesta voltou da África do Sul como o primeiro espanhol a a entrar no grupo dos atletas que marcaram em finais de Copa. Em homenagem, o técnico do Barcelona, Josep Guardiola, substitui o meia nas partidas longe do Camp Nou pelo Campeonato Espanhol. Foram quatro até o momento (veja na tabela abaixo). Ele saiu ovacionado em todas.
As substituições de Iniesta | |
---|---|
Racing (29/08) | saiu aos 37 do segundo tempo para a entrada do lateral Adriano |
Atlético de Madri (19/09) | saiu ais 46 do segundo tempo para a entrada de Mascherano |
Athletic Bilbao (25/09) | saiu aos 36 do segundo tempo para a entrada de Thiago Alcântara |
Zaragoza (23/10) | saiu aos 31 do segundo tempo para entrada de Thiago Alcântara |
– Os olhos do mundo em mim agora são diferentes. Fingir que nada aconteceu seria complicado. Estou muito agradecido a essa gente e por viver um momento tão bom. Na Espanha, me sinto querido por todos. E isso é algo raro para um jogador de um clube como o Barcelona – disse.
O jogador tocou em um ponto ainda mais importante. O Barcelona é um clube da Catalunha, uma das comunidades autônomas da Espanha e que defendeu a independência há algumas décadas, o que conteve um pouco o forte sentimento nacionalista na região e alimentou ódio do restante do país. Inclusive de Zaragoza, cidade onde o camaronês Eto’o sofreu atos de racismo em 2005 e Iniesta foi aplaudido de pé apesar de vestir a camisa azul-grená.
– O Barça tem um índice de rejeição grande por causa da torcida do Real Madrid e pelo sentimento anticatalão, que cria ambientes hostis. Não é fácil ser aplaudido com a camisa do Barcelona, mas acaba sendo uma coincidência, pois a força do título mundial que é tão grande – afirmou Joaquim Piera, correspondente do jornal Sport e da revista Don Balon no Brasil.
Para o jornalista, o fato de ser humilde, vindo da pequena cidade de Fuentealbilla, da província de Albacete, também ajudou a construir sua imagem.
– Iniesta nunca teve polêmica com ninguém. O Guardiola já disse que ele é o exemplo de jogador perfeito, não precisa de tatuagem e cabelo esquisito para demonstrar qualidade. É o exemplo claro de jogador profissional, que saiu da base e sofreu para chegar em cima. Não é fácil sair de uma cidade pequena e chegar ao topo – contou.
Iniesta ainda tem outra tarefa a cumprir: repetir Ronaldinho Gaúcho, Maradona e Cruyff e ser aplaudido no Santiago Bernabéu, em abril de 2011. Tarefa que não parece impossível, ainda que não faça chover em campo.
– A torcida do Real Madrid já demonstrou que aplaude jogadores rivais. E o único título que os milhões de torcedores do Real comemoram em dois anos foi o Mundial da Espanha (risos). Como não aplaudir o cara que deu o título a eles? É uma provocação, mas é a realidade – brincou Piera.