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Por Jorge Natan — Rio de Janeiro


Campeão mundial na Rússia e vice-campeão no Catar, o técnico Didier Deschamps começa nesta sexta-feira seu terceiro ciclo pré-Copa do Mundo à frente da seleção da França. O primeiro rival desde a dolorosa derrota nos pênaltis para Argentina, na final do Mundial, em dezembro, será a Holanda, pelas eliminatórias para Euro 2024. Os times se enfrentam às 16h45 (de Brasília), no Stade de France - o SporTV transmite o jogo ao vivo, e o ge acompanha em tempo real com vídeos.

Com feitos de sobra para contar com a confiança da torcida e da federação, Deschamps também tem uma missão clara: colocar em prática um novo processo de renovação do time. Ou a segunda etapa da missão que teve entre 2018 e 2022, buscando jogadores jovens que pudessem chegar à Copa seguinte como peças importantes e/ou como alternativas aos medalhões vitoriosos no Mundial anterior.

O treinador conseguiu manter a espinha dorsal entre as duas Copas, mas, comparando a lista final de convocados de 2018 e a de 2022, percebe-se a renovação promovida por Deschamps em quatro anos e meio. Dos 23 campeões mundiais na Rússia, apenas 10 permaneceram no grupo e foram até a final no Catar: os goleiros Lloris, Areola e Mandanda, o zagueiro Varane, os laterais Pavard e Lucas Hernández e os atacantes Griezmann, Giroud, Mbappé e Dembélé.

Didier Deschamps observa Mbappé apontando: técnico vai para o terceiro ciclo na França — Foto: AFP

Essa lista, é verdade, poderia ser maior se Kimpembe, Mendy, Kanté e Pogba não tivessem se lesionado pouco antes da Copa do ano passado. Mas o cenário deixa claro como Deschamps conseguiu, em quatro anos, achar opções para oxigenar um time que havia alcançado a glória - e o permitiu não deixar o nível cair no Catar mesmo com tantos desfalques.

Jogadores que disputaram as Copas de 2018 e 2022 com a França: Lloris, Areola, Mandanda, Varane, Pavard, Lucas Hernández, Griezmann, Giroud, Dembélé e Mbappé.

A média de idade elenco que disputou a Copa de 2018 era de 25,56 anos e foi basicamente mantida, com leve queda, para 2022, quando esteve em 25,53. Mesmo com a manutenção de parte do elenco, já mais velho, e com chegada do veterano Benzema, de 34 anos (que não foi cortado do elenco, mas não atuou em nenhum jogo). Sem Benzema, a média caiu para 25,2 anos.

Griezmann é um dos jogadores que disputou as duas últimas Copas e segue na seleção da França — Foto: AFP

Entre os atletas que apareceram entre 2018 e 2022 estavam o zagueiro Upamecano (24 anos, na época), Konaté (23), Koundé (24) e Saliba (21), os meias Camavinga (20), Tchouaméni (22), Guendouzi (23) e Youssouf Fofana (23), e os atacantes Kolo Muani (23) e Marcus Thuram (25), além de Nkunku (25), que foi cortado.

Para 2026, o tempo para peneirar e lapidar talentos é mais curto, de apenas três anos e meio. E os primeiros compromissos já carregam uma dose de tensão por serem válidos pelas eliminatórias para a Eurocopa. Não à toa, o técnico chamou quase todo o elenco que foi ao Catar para os confrontos contra Holanda e Irlanda. Mas não deixou de dar um toque de frescor, convocando três novatos que nunca haviam sido chamados: o zagueiro Fofana, o meia Khephren Thuram e goleiro Samba.

- Isso vai demandar um novo balanço com o grupo. Com o mesmo objetivo, mas não necessariamente as mesmas peças e as mesmas responsabilidades. E com a constante necessidade do time por ter líderes expressivos, que, quando mais novos, ouviam a todos. E no fim das contas é, também, pelo mesmo objetivo, de atuar bem com essa convocação. Temos 18 jogadores da Copa do Mundo também, e temos jogadores que estão aqui por um longo tempo, com bagagem - disse Deschamps ao canal oficial da seleção.

Capitães se aposentam, e Mbappé vira líder

Mas entre dezembro de 2022 e março de 2023 surgiu um desafio importante, que será o ponto de partida para a renovação "2.0" de Didier Deschamps na França: a aposentadoria de Lloris e Varane. O goleiro do Tottenham era o capitão da equipe desde 2018, e o zagueiro do Manchester United, o vice-capitão. E ambos decidiram pendurar as chuteiras após o Mundial do Catar, criando para o treinador um primeiro problema a ser resolvido no novo ciclo.

- Obviamente, são jogadores que ocupavam muito espaço, que eram muito importantes. Houve aposentadorias, claro, e haverá outros que vão assumir as responsabilidades, com menos experiência. Mas foi o mesmo com Hugo (Lloris), Rapha (Varane), eles também começaram quando ainda eram jovens e tiveram que assumir mais responsabilidades depois - comentou o treinador.

A solução não foi conservadora e indicou que o técnico não hesitará em dar uma nova cara ao time até 2026. Deschamps deu a faixa de capitão ao astro Mbappé, que, apesar de já ser uma das maiores estrelas do futebol mundial e ter feito uma atuação histórica na final contra a Argentina, ainda é um jovem de 24 anos recém-completados.

O favorito para ficar com a faixa era Griezmann, de 32 anos, segundo a imprensa francesa. E a escolha de Deschamps demandou uma conversa entre as duas estrelas na concentração para deixar tudo às claras.

- Ele quer que eu seja um unificador, para trazer meu time comigo. Meu trabalho como capitão da França é unir gerações. É uma nova responsabilidade. Vou assumi-la naturalmente, não vai mudar a forma como jogo, mas talvez a forma como me comporto - disse Mbappé após a escolha.

O tom de renovação logo no primeiro compromisso após a Copa do Catar pode ficar claro com a escalação de Kolo Muani no ataque. A imprensa francesa indica que Deschamps está pensando em dar uma chance entre os titulares ao atacante - autor do famoso chute defendido por Emi Martínez nos acréscimos da prorrogação da final da Copa. Giroud ficaria no banco de reservas. Konaté deve ganhar o lugar na zaga titular após a aposentadoria de Varane.

Kolo Muani e Khephren Thuram podem ser símbolos da renovação "2.0" de Deschamps — Foto: AFP

França x Holanda - eliminatórias para a Eurocopa 2024

  • Local: Stade de France, Saint-Denis, França
  • Horário: 24/03, 16h45 (de Brasília)
  • Árbitro: Maurizio Mariani (Itália)
  • Onde assistir: SporTV

Escalações prováveis:

França: Maignan, Koundé, Konaté, Upamecano e Theo Hernández (Camavinga); Tchouaméni, Rabiot e Griezmann; Coman, Mbappé e Kolo Muani (Giroud). Técnico: Didier Deschamps.

Holanda: Cillessen, Dumfries, De Ligt, Van Dijk e Aké; Wijnaldum, De Roon e Berghuis; Depay, Gakpo e Weghorst. Técnico: Ronald Koeman.

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