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Hernanes mira volta à Seleção e
vaga de titular: 'Demoro, mas chego'

Fora da última convocação, reforço do Internazionale acredita que mudança de
clube não o afeta e opina sobre situação de Lucas com Felipão e fase de Pato

Por Milão, Itália

Hóspede em um hotel de Milão há três semanas, com a esposa, os três filhos e a babá, Hernanes não perdeu a tranquilidade com a agitada mudança da "Cidade Eterna" para a capital italiana da moda. O "Profeta" passou de ídolo do Lazio a queridinho do Internazionale em menos de dois dias. Deixou a antiga morada em lágrimas, depois de uma transferência que envolveu até ameaças de morte aos dirigentes do seu ex-clube. Mas a rivalidade não pesou na hora dos fãs nerazzurri acolherem o pernambucano como novo astro do elenco.

Na estreia contra o Sassuolo, Hernanes deu passe para o único gol, de Walter Samuel, e contribuiu para a primeira vitória do Inter em 2014. Em poucos dias no time novo, o meia da seleção brasileira já é apontado como jogador-chave do time pelo técnico Walter Mazzari e pelo presidente do clube, Erick Thohir, que não poupou elogios. Foram três semanas de muita correria e emoção para o pernambucano de 28 anos, que nem se incomodou ao ver o seu nome excluído da última lista divulgada por Luiz Felipe Scolari para o amistoso de 5 de março contra a África do Sul, em Joannesburgo. O "Profeta" está confiante que vai ser convocado para a Copa do Mundo. Em Appiano Gentile, centro esportivo do Internazionale, na região de Como, recebeu o Globoesporte.com e não se esquivou das perguntas sobre a polêmica transferência e a Copa do Mundo.

- Estou muito confiante no trabalho que venho fazendo. Sei que o Felipão é um cara que analisa tudo. Ele é muito observador, tenho certeza que observou meu trabalho. Agora quero me manter bem no Inter, continuar fazendo o que estava fazendo no Lazio e mostrando meu futebol. Não estou preocupado, quero muito estar na Copa, sei que trabalhei muito para isso, mas não depende só de mim. Estou bem confiante e tranquilo.

Samuel Hernanes internazionale gol sassuolo (Foto: Agência AP)Hernanes comemora gol com Samuel na vitória do Inter sobre o Sassuolo: assistência na estreia (Foto: Agência AP)


Do título da Copa das Confederações, Hernanes só guarda boas recordações. O Profeta destaca os momentos de confraternização após o jantar e assegura que só precisa de tempo para assumir a condição de titular da seleção de Luiz Felipe Scolari.

- Só preciso de tempo. Eu sempre consegui as minhas coisas lentamente, dando passo por passo, e acredito que com o tempo consiga atingir mais esse objetivo. Eu demoro, mas chego. Eu cheguei num grande clube com 28 anos agora. Demorou, mas cheguei - afirmou.

Hernanes não considera ter sido um risco mudar de clube a cinco meses da realização da Copa do Mundo, porque, para o meia, também usado como volante, na cabeça de Felipão não importa uma mudança de time ou de país, mas sim a percepção que o selecionador tem de cada jogador no grupo. O volante analisou ainda os casos de Lucas e Pato, que foram muito jovens para a Europa e tiveram dificuldades para se afirmarem. O ex-são-paulino perdeu espaço na Seleção depois de assinar pelo PSG, e o outro ainda tenta uma readaptação ao Brasil, agora no Morumbi. Para o meia, campeão do Brasileirão pelo Tricolor paulista em 2007 e 2008, quem não está em constante evolução perde para a concorrência.

- Cada jogador tem o seu espaço dentro da cabeça do selecionador, não é uma questão de mudar de time ou de país, não é isso. É o treinador que, observando o jogador, muda algumas percepções. Eu acredito que algumas percepções do Felipão mudaram em relação ao Lucas, e ele preferiu outros jogadores. A concorrência é grande e, se a gente não está sempre evoluindo, corremos risco de sair. Para mim, o Pato é um excelente jogador, tem ótimas qualidades, um atacante rápido que finaliza muito bem com as duas pernas e pode perfeitamente se recuperar no São Paulo, que é um clube muito organizado e também reconhecido por recuperar jogadores que passaram por situações difíceis. Acredito que o Pato possa voltar a jogar bem, evoluir e até ter uma chance na Copa do Mundo. Na vida, tudo é possível, e no futebol ainda mais. Está um pouco em cima hora, mas tudo é possível sim.

Confira a entrevista completa.

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de roma a milão


GLOBOESPORTE.COM: De ídolo do Lazio a ídolo do Internazionale mesmo sem tocar na bola. Como é que foi ser recebido como ídolo da torcida?

HERNANES: Uma experiência nova, não esperava que os torcedores me recebessem dessa maneira, porque é uma equipe rival do Lazio. Eu esperava os torcedores um pouco mais apreensivos e na expectativa das minhas atuações. Mas eles me acolheram como se eu já tivesse jogado aqui, e isso foi interessante. Eu me senti muito bem com a recepção.

Foi uma transferência complicada, envolveu lágrimas e ameaças de morte, você pode explicar como é que tudo aconteceu?

A torcida do Lazio e o presidente já têm problemas há muito tempo entre eles, e eu fui envolvido no meio disso tudo. Eles pensaram que ele queria me vender e que eu não queria sair, mas não foi nada isso. As lágrimas aconteceram porque eu estava muito feliz com a transferência para o Inter, mas me emocionei porque ao mesmo tempo me sentia muito bem em Roma. Quis mudar por desejos e ambições profissionais. Escolhi o Inter de Milão, mas sabia naquele momento que estava renunciando a tudo aquilo que tinha construído em Roma: aos torcedores, à cidade e a tantos amigos que fiz durante esses quatro anos.

hernanes internazionale (Foto: Getty Images)Hernanes e a sua camisa 88: duas vezes mais forte no Internazionale (Foto: Getty Images)


Porquê o número 88?

Eu não considero 88, mas duas vezes 8. Oito é o meu número preferido, que estava acostumado a usar e do que eu mais gosto. Mas aqui já tinha um jogador que usava esse número, não estava disponível, então eu escolhi não o 88, mas é duas vezes o 8, e duas vezes mais forte.

Você se arrepende de não ter dado uma explicação pública sobre a transferência, porque algumas pessoas na Itália interpretaram as suas lágrimas como lágrimas de alegria?

Entrei e saí do Lazio de maneira honrosa, acho que a minha saída foi elegante como eu queria que tivesse sido"
Hernanes

Algumas pessoas entenderam mal e quiseram passar essa imagem, mas a maioria das pessoas entendeu que foi uma emoção do momento. Eu tentei me explicar através da minha página do Facebook. Eu nunca quis criar confusões ou polêmicas. Entrei e saí do Lazio de maneira honrosa, acho que a minha saída foi elegante como eu queria que tivesse sido.

Você sente receio de voltar a Roma para enfrentar o Lazio ou acha que vai ser bem recebido pela torcida?

Não, nenhum receio. Dei tudo o que tinha a dar com a camisa do Lazio. Abri o meu coração e tenho um carinho enorme pela torcida do Lazio. Não tenho nenhum receio em voltar com o meu novo clube.

Aqui no Inter você já encontrou outros brasileiros, tem o Jonathan, Wallace e Juan. Mas no Milan, você pode reencontrar o Kaká e o Robinho e também tem o Gabriel. Vai ser uma amizade entre brasileiros de Inter e Milan ou vão ficar na rivalidade mesmo?

Eu acredito que pode rolar uma amizade aqui em Milão, sim, porque já nos conhecíamos antes. Conheço o Robinho, conheço o Kaká, e como eles vivem aqui há muito tempo, podem me indicar vários lugares, mas ainda não falei com eles. Só com o Júlio César, que me desejou muita sorte no Inter.

Os filhos de Kaká e Robinho vão na escolinha de futebol juntos. Você vai inscrever o Ezequiel com eles, e quem sabe ajudar a criar uma nova geração de craques da Seleção aqui em Milão?

Eu já me informei e, assim que eu estiver mais organizado, vou inscrever o Ezequiel na escolinha. Mas vai jogar na escolinha do Inter. Ele também quer jogar no Inter. Vamos ver se eles abraçam esse sonho do futebol. Quem sabe um dia veremos os três na seleção.

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CONFIANÇA E ALEGRIA NA SELEÇÃO


Com a mudança para o Inter de Milão você contava ter ainda mais credibilidade na seleção, mas na primeira convocação de Felipão desde que você mudou de clube o seu nome foi excluído da lista. Tem receio de não ir para a Copa?

Estou muito confiante no trabalho que venho fazendo. Sei que o Felipão é um cara que analisa tudo. Ele é muito observador, tenho certeza que observou meu trabalho. Agora quero me manter bem no Inter, continuar fazendo o que estava fazendo no Lazio e mostrando meu futebol. Não estou preocupado, quero muito estar na Copa, sei que trabalhei muito para isso, mas não depende só de mim. Estou bem confiante e tranquilo.

A competição por uma vaga no meio de campo da seleção está ficando cada vez mais lotada, com Paulinho e Luiz Gustavo como titulares. Felipão já testou você, Lucas Leiva, agora vai testar o Fernandinho também. Você teme a concorrência?

A seleção brasileira sempre foi muito disputada, sempre teve e vai ter muitos bons jogadores. E a disputa é assim, acirrada. Mas eu estou num momento muito bom da minha carreira e confio no meu potencial. Sei que a disputa é grande, mas eu confio em mim.

hernanes seleção brasileira treino (Foto: Jefferson Bernardes/VIPCOMM)Hernanes no treino da Seleção durante a Copa das Confederações: bom ambiente (Foto: Jefferson Bernardes/VIPCOMM)


Você não foi titular na Copa das Confederações, mas disputou os cinco jogos. O que falta para ser titular?

Tempo. Eu sempre consegui as minhas coisas lentamente, dando passo por passo e acredito que com o tempo consiga atingir mais esse objetivo. Eu demoro, mas eu chego. Grandes jogadores se destacaram em grandes clubes muito cedo. Eu cheguei num grande clube com 28 anos, agora, demorou, mas cheguei. Estou aqui.

Que recordação você lembra com mais carinho do grupo da Copa das Confederações?

Conseguimos criar uma união muito grande e os momentos mais interessantes eram aqueles de confraternização depois do jantar. Nos ficávamos conversando muito tempo na mesa, ríamos muito, era um momento de grande descontração. Foi uma das coisas que mais me marcou, porque terminava o jantar e ninguém queria voltar para o quarto, ficava todo mundo lá conversando. Todos os dias era a mesma coisa, e isso revela o nível de intimidade e união daquele grupo.

Quem era o animador do grupo depois dos jantares?

Marcelo, Fred, Lucas eram sempre bem descontraídos, tinham uma piada e faziam todo mundo rir. Eu também falava bastante e contava as minhas piadas, e o David Luiz, claro, que sempre estava colocando apelidos nos outros.

Sabemos que a Copa do Mundo vale qualquer sacrifício possível. Já estamos mentalizados para enfrentar a ausência da família durante esse mês"
Hernanes

Não desgasta um pouco essas longas concentrações. Para a Copa do Mundo, o Brasil os jogadores vão concentrar mais de um mês antes da Copa e depois durante todo o torneio.

Sim, mas vamos ter alguns dias de folgas em que podemos matar as saudades da família. Sabemos que a Copa do Mundo vale qualquer sacrifício possível. Já estamos mentalizados para enfrentar a ausência da família durante esse mês.

E como é que o Felipão gere o grupo. Ele impõe regras muito diferentes daquelas que você está habituado a lidar aqui na Europa?

É um pouco diferente, porque o Felipão sabe que a seleção não é o dia-a-dia do jogador. Nós nos encontramos de vez em quando, e não dá para estabelecer regras. Ele procura não atrapalhar o que cada um está acostumado a fazer nos seus clubes, procura ouvir e sentir o que cada um precisa e está acostumado a fazer, porque sabe que não há tempo de impor um tipo de regras específicas. O que ele faz questão é de criar um ambiente agradável para trabalhar durante aquele período.

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tempo para lucas e pato


Você antes falou do tempo que levou para alcançar cada objetivo. Você veio para a Europa já com 25 anos, mas muitos jovens brasileiros, como o Pato ou o Lucas, vieram muito mais jovens e atravessaram dificuldades de adaptação. Você acha que é melhor amadurecer no Brasil antes de partir?

Vim para a Europa com 24, mas quase fazendo 25 anos. Mas cada um tem seu tempo, tem o seu objetivo. Eu não queria sair sem ganhar nada com o São Paulo. Eu via os quadros nas paredes com fotos de títulos e triunfos e não queria sair de lá sem colocar um quadro na parede meu e festejar um título. Esse era o meu principal objetivo, mas tem jogadores que não têm esse mesmo pensamento, cada um tem o seu tempo e segue caminhos diferentes.

No caso do Lucas que você destacou como sendo um dos jogadores mais animados dentro do grupo, a sua perda de espaço na seleção coincidiu com o período em que ele se mudou para a Europa. Acha que influenciou?

É difícil avaliar, cada jogador tem o seu espaço dentro da cabeça do selecionador, não é uma questão de mudar de time ou de país, não é isso. É o treinador que, observando o jogador, muda algumas percepções. Eu acredito que algumas percepções do Felipão mudaram e ele preferiu outros jogadores. A concorrência é grande. Se a gente não está sempre evoluindo, corremos risco de sair.

Felipão hernanes brasil treino (Foto: Mowa Press)Hernanes com Felipão no treino da Seleção: entendimento da percepção do treinador (Foto: Mowa Press)


O Pato também passou por dificuldades na Europa e está passando por um momento delicado no Brasil. Como é que você avalia a situação dele?

Para mim, o Pato é um excelente jogador, tem ótimas qualidades, um atacante rápido que finaliza muito bem com as duas pernas e pode perfeitamente se recuperar no São Paulo, que é um clube muito organizado e também reconhecido por recuperar jogadores que passaram por situações difíceis. Acredito que o Pato possa voltar a jogar bem, evoluir e até ter uma chance na Copa do Mundo. Na vida, tudo é possível, e no futebol ainda mais. Está um pouco em cima hora, mas tudo é possível sim.