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Por Felipe Barbalho — Rio de Janeiro


Desastres abalam quem os cercam, mas geram também um novo começo. Na cidade da ponte que partiu, o goleiro Rafael Cabral reconstrói seu próprio caminho. Contratado pela Sampdoria, de Gênova, palco de tragédia com 43 mortos na semana passada, o sorocabano de 28 anos deixa o drama da falta de visibilidade para trás e vê um novo horizonte para sua carreira na Itália.

Rafael Cabral no treino da Sampdoria — Foto: Reprodução de Instagram

Cinco anos depois de sair do Santos para o Napoli por € 5 milhões, valor recorde na época para goleiros negociados por clubes brasileiros para o exterior (veja a evolução histórica das transferências mais caras no quadro abaixo), confia que terá mais chances de mostrar seu valor. A primeiro passo na trilha é no próximo domingo, na estreia no Campeonato Italiano, contra a Udinese - o jogo da rodada de abertura, diante da Fiorentina, foi adiado do último fim de semana para setembro.

- O meu objetivo é jogar, jogar bem, voltar para a seleção brasileira, que é o meu sonho, e classificar a Sampdoria para a Champions, que é o objetivo do clube. Todos os jogadores que estão vindo para cá estão com isso em mente. A gente sabe que esse ano o Campeonato Italiano vai ser difícil demais. Mas a gente tem que estar na Europa com esse clube - disse Rafael Cabral em entrevista feita em vídeo pela internet.

Transferências de goleiros brasileiros para o exterior

Valor Ano Clubes
Alisson € 8 milhões 2016 Internacional - Roma
Rafael Cabral € 5 milhões 2013 Santos - Napoli
Neto € 3,5 milhões 2011 Atlético-PR - Fiorentina
Diego Alves € 2,5 milhões 2007 Atlético-MG - Almería
Júlio César € 2,45 milhões 2005 Flamengo - Internazionale

Seu propósito é firme. Nem um convite de última hora para permanecer no Napoli na agitada janela europeia de goleiros o fez mudar de ideia. Depois de ficar livre para decidir seu destino por causa do fim do contrato, apostou no que vislumbrou e assinou por quatro temporadas.

"O Napoli me chamou para voltar, antes de acertar com a Sampdoria, porque o goleiro que eles contrataram se machucou"

- Mas eu tinha em mente já que eu queria sair. Creio que cumpri um ciclo no clube, onde vivi momentos especiais. Todas as vezes que tive oportunidade de jogar pude corresponder - disse Rafael Cabral.

Rafael Cabral no treino da Sampdoria — Foto: Reprodução de Instagram

Entre o revezamento com o espanhol Pepe Reina logo na primeira temporada, quando foi campeão da Copa Itália, até a reserva nas últimas três, foi titular absoluto somente na segunda, em 2014/15. Na abertura das competições, pegou pênalti e garantiu o título da Supercopa italiana contra a Juventus. Além das taças, ganhou também o respeito e carinho no Napoli, sendo homenageado com um raro vídeo de despedida.

Agora, espera conquistar os genoveses da Sampdoria. Na rodada seguinte à estreia, tem o reencontro com o Napoli, dia 2 de setembro. Na última rodada do turno, pouco antes da virada do ano, dia 28 de dezembro, encara Cristiano Ronaldo pela primeira vez na carreira no confronto com a Juventus.

- Vai ser uma experiência única. Acho que ele está trazendo muita visibilidade ao Campeonato Italiano. Creio que esse ano vai ser muito difícil, porque todas as equipes se reforçaram muito, o nível subiu.

"Essa também foi uma das minhas vontades de continuar na Itália, porque creio que a visibilidade vai ser muito grande"

- O Italiano é muito competitivo, muito técnico, muito tático. Então, creio que esse ano vai ser ainda mais bonito de assistir e de jogar principalmente - disse.

Rafael Cabral com a bola da Série A: confiança de visibilidade no futebol italiano — Foto: Reprodução de Instagram

Confira outros trechos da entrevista:

PROJETO NA SAMPDORIA

- Eles contrataram dois goleiros. Eu vim, assinei quatro anos de contrato. E contrataram um goleiro que veio da Juventus por empréstimo (Emil Audero). Então, a gente vai brigar por posição. Não tem nada decidido. Vamos ver quem vai jogar. Espero ter as minhas oportunidades, como ele também terá as dele. Até que seja decidido. Vieram atrás de mim, quiseram me contratar, assinei por quatro anos. Isso mostra que o clube tem um projeto comigo, e eu abracei esse projeto.

"O que eu queria era isso, ir para um clube onde tem competitividade, onde quem estiver melhor joga, e não apenas com o nome"

REVEZAMENTO DE GOLEIROS

- Todo atleta quer jogar todos os jogos. Mas aqui na Europa, você tem que vir com cabeça. Eu estou há cinco anos aqui, sei muito bem como funciona. No primeiro ano, revezei muito com o Reina até machucar. Depois, no outro ano, fui titular em quase todos os jogos. Depois, de novo, tendo menos oportunidade.

"A partir do momento que você vem para a Europa tem que entender que essa é a filosofia aqui"

- Tenho que ter humildade de jogar todos os jogos que me derem a oportunidade. Quando não jogar, eu tenho que ajudar o outro goleiro que vai jogar. Muitas vezes os jogadores brasileiros não entendem, que vêm para a Europa, não aceitam. Mas eu creio que isso é fundamental.

Rafael Cabral no treino da Sampdoria — Foto: Reprodução de Instagram

MELHOR GOLEIRO ATUALMENTE

- Tem um goleiro que acho que ele pega demais, o Oblak, do Atlético de Madrid. Acho que ele é o melhor goleiro. Lógico que a gente tem que analisar as características. Se a gente for ver o goleiro mais completo, em geral, é o Lloris, da França, que eu gosto muito, tem o Courtois também. Mas acho que debaixo do gol mesmo é o Oblak. Debaixo da trave, o gol fica pequeninho. Ele é um grande goleiro, é técnico, está sempre bem posicionado.

"Oblak é um goleiro que às vezes não aparece tanto por estar sempre bem posicionado e as defesas parecerem fáceis"

- Não é o mais completo no geral, porque com os pés não acho ele tão bom. Mas, como goleiro mesmo, ele é fenômeno.

Transferências de goleiros agita e valoriza mercado na Europa

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E O BUFFON?

- Um goleiro como ele merece estar nos melhores clubes do mundo. A história que ele fez, o profissionalismo dele de chegar até 40, 40 e poucos anos jogando. Torço de coração para que esse ano o PSG consiga vencer a Champions League, porque ele merece ter esse título pela história que construiu no futebol.

SONHO DE SELEÇÃO

- Tive a oportunidade, 16 convocações, joguei três partidas como titular. Tenho esse desejo e objetivo de voltar à seleção brasileira. Pessoal de lá me conhece. Eu cresci demais aqui na Itália, cresci muito tecnicamente. O que a gente mais evolui quando vem para a Europa é o jogo com os pés. Todas as equipes, principalmente o meu treinador aqui, usa demais o goleiro. Então, jogo muito mais adiantado do no Brasil.

"Hoje eu sou um goleiro muito mais completo"

Rafael Cabral entre Jefferson e Marcelo Grohe com o troféu do Superclássico das Américas de 2014 — Foto: Reprodução de Instagram

MAIOR VIRTUDE E DEFEITO

- Mas é claro que a gente tem que evoluir, treinar e trabalhar todos os dias.

"A minha maior qualidade é esse um contra um, quando o atacante sai no mano a mano, de atacar, de diminuir o espaço do atacante"

- Creio que essa sempre foi a minha maior qualidade. Além de pênaltis, que eu sempre acabei me destacando assim, nessa área.

Rafael Cabral sai nos pés do adversário em amistoso de pré-temporada da Sampdoria — Foto: Reprodução de Instagram

FALHA MEMORÁVEL

- Eu me recordo da final do Campeonato Paulista de 2012: Santos 4 x 2 Guarani. Acabei falhando no primeiro gol. Chutaram cruzado, fui encaixar, a bola bateu, sobrou, o cara fez o gol (confira o lance no vídeo abaixo). Depois eu fiz uma ótima partida, fiz algumas defesas importantes, a gente foi campeão. Graças a Deus, aquela falha não contribuiu, não influenciou no resultado da partida.

Os gols de Santos 4 x 2 Guarani pela final do Campeonato Paulista 2012

Os gols de Santos 4 x 2 Guarani pela final do Campeonato Paulista 2012

GOLEIROS BRASILEIROS VALORIZADOS

- Fico feliz que os goleiros brasileiros estão com esse valor de mercado, porque isso acaba me valorizando e todos os outros. É legal ver que a escola brasileira de goleiro tem sido reconhecida em todos os tipos de campeonato. Se você for ver, na Itália, estou aqui, o Gabriel no Perugia, o Ângelo no Bologna. Na Inglaterra tem o Alisson e o Ederson. Na Espanha, tinha o Diego Alves, agora tem o Neto. Então, tem goleiros brasileiros espalhados aí na Europa. Isso é bom demais para nós que somos brasileiros.

Rafael Cabral na apresentação á Sampdoria — Foto: Reprodução de Instagram

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