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Por GloboEsporte.com — Samara, Rússia

O centroavante Tomi Juric veste a tradicional camisa 9, mas está longe de poder ser considerado o grande nome da Austrália para a Copa do Mundo de 2018. Ofuscado por figuras como a do atacante Tim Cahill, do capitão Mile Jedinak, ou da grande revelação Daniel Arzani, Juric tem como grande lance da carreira uma assistência na final da Copa da Ásia de 2015.

Mas se com a bola nos pés Juric não é o maior destaque dos azarões no grupo C, o atacante não deixa de ser um personagem simbólico para a seleção. Nascido na Austrália e de ascendência croata, Juric passou sua infância vivendo "duas vidas", até que o futebol, por duas vezes, o ajudou a fazer as pazes com sua identidade de "cidadão do mundo".

Tomi Juric treina antes da estreia da Austrália na Copa do Mundo de 2018 — Foto: Robert Cianflone/Getty Images

O jovem Tomi Juric vivia nos arredores da cidade de Sydney e cresceu em um lar croata. Mas era só pisar fora de casa que tinha dificuldades para entender qual a sua verdadeira origem.

– A Austrália é um país que não poderia ser mais diferente, pelo menos culturalmente, das nações dos Balcãs (região da Europa onde fica a Croácia). Quando eu saía de casa todos os dias, era como pisar em um outro mundo. Eu tinha que me transformar em uma outra pessoa na escola – diz Juric em entrevista ao site "The Players' Tribune".

Ele admite que sofreu bullying por causa do nome diferente, pouco parecido com os dos colegas que tinham nomes ingleses.

– Eu me lembro de olhar para eles quando diziam coisas e pensar "mas eu sou australiano como vocês, eu nasci aqui" – lembra o atacante.

Juric se emociona ao fim de jogo nas eliminatórias para 2018 — Foto: Michael Dodge/Getty Images

Foi aos 15 anos que Juric começou a entender suas origens, quando viajou à Croácia com a família para passar férias e fazer uma peneira no Dinamo Zagreb.

Lá, viu que ainda tinha muito a evoluir e acabou voltando para a Austrália por um ano, antes de se mudar definitivamente para a Europa e passar pela base de diversos times croatas, sem se firmar em nenhum.

Aos 21 anos, conseguiu um contrato com o Adelaide United, da Austrália, onde se firmou como titular e conseguiu sua primeira chance na seleção do país em que nasceu.

Uma nação de imigrantes

A história de Juric é uma realidade comum entre milhões de imigrantes de todo mundo, mas especialmente presente na Austrália. O país é, historicamente, formado por pessoas que nasceram em outros lugares.

Na década de 1990, por exemplo, a Austrália era o segundo principal destino para os imigrantes que deixavam a Croácia, muitos deles fugindo da guerra que eclodiu com o fim da Iugoslávia.

Milos Degenek é exemplo de australiano nascido fora do país: foi da Sérvia para o país quando criança, fugindo da guerra — Foto: Reuters

A Austrália é um dos países que mais recebem imigrantes. Em 2017, 28% de toda a sua população tinha nascido fora. E uma pesquisa de 2015 ainda apontava que 30% da população achava que o país deveria receber ainda mais gente de fora contra apenas 25% que pensava o contrário.

Crescimento do sentimento anti-imigração

Mas nos últimos anos, por outro lado, o país assiste ao crescimento de movimentos xenófobos que pedem que a Austrália feche suas portas aos refugiados que tentam escapar da guerra ou da perseguição em seus países natais.

A ONG internacional de direitos humanos Human Rights Watch, por exemplo, denuncia as condições degradantes que refugiados são obrigados a enfrentar quando pedem asilo na Austrália.

Eles são mantidos em abrigos semelhantes a prisões, fora do país, em ilhas como Papua Nova Guiné ou Nauru, e passam anos esperando por uma resposta do governo se vão poder ou não viver na Austrália.

Torcedores no Australian Open apoiam refugiados e pedem fim de centro de triagem australiano fora do país — Foto: Quinn Rooney/Getty Images

Com isso, a seleção — um dos grandes orgulhos nacionais e que conta com o apoio fanático da população — se transforma no instrumento ideal para construir ídolos e aceitar o diferente. E foi também o instrumento ideal para Juric se entender como australiano.

– A primeira vez que eu ouvi o hino da Austrália com o uniforme… cara, eu me senti muito bem. E não sei como explicar. Eu me senti propriamente um australiano, finalmente.

Mas ele faz questão de manter suas raízes croatas.

– Eu tenho orgulho de ser australiano porque ser australiano significa aceitar todo mundo, de todos os lugares. Eu sou australiano. Eu sou croata. Eu sou um cidadão do mundo – diz Juric.

Juric comemora gol contra a Tailândia nas eliminatórias — Foto: Scott Barbour/Getty Images

O atacante ainda explica por que a Copa do Mundo é a época perfeita para celebrar suas origens tão diferentes, mas que se completam.

– Às vezes você precisa sair de casa para achar seu lugar. E eu acho que isso é uma coisa importante de se lembrar quando se vai a um campeonato de futebol que trata de celebrar o esporte mundial – finaliza.

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